17/08/2011

O homem que foi quinta-feira; um vídeo imperdível.



No vídeo abaixo, vocês encontrarão um trecho de um dos mais interessantes livros de Chesterton. É de se perguntar qual de seus livros não é interessante? O policial filósofo fala por Chesterton desde um ponto de vista tomista, analisando o poder destrutivo da filosofia moderna, que é muito mais deletéria que o crime com que os policiais normais se defrontam diariamente, e muitas vezes a origem destes. Note que Chesterton dá à filosofia uma organização de sociedade secreta, com um círculo externo e um círculo interno. Esta alusão é prenhe de significados e uma verdade quase sempre ocultada, escamoteada, ou simplesmente desconhecida de muitos. Chesterton claramente estava consciente do poder das organizações secretas nas origens das idéias filosóficas modernas. 

A tradução das falas foi feita pelo leitor do blog e meu amigo Wendy; sim, o protestador (protestante?) Wendy, que é um rapaz cujo futuro é clara e inexoravelmente o catolicismo. O blog agradece penhoradamente!






Assistam outros vídeos legendados dentro do projeto do blog.

12/08/2011

Crônicas de Gustavo Corção em pleno século XXI! Quem diria!?

Surpresa agradabilíssima ver um livro de crônicas do grande Corção publicado em pleno 2010 (Coleção Melhores Crônicas: Gustavo Corção, Editora Global). A seleção das crônicas e o prefácio da edição foram feitos por Luiz Paulo Horta, que desde 2008, leio em sua biografia no final do livro, é membro da ABL. 

No livro, (re)encontramos crônicas que são verdadeiras aulas de catecismo e doutrina católica: Advento, A Primazia do Espiritual, Quaresma, As Duas Vontades, Ressuscitou!, Precisa-se de uma Catarina de Sena, Rue du Bac, A Civilização do Prazer, Quinta-Feira Santa, Marcos de Eternidade, De Profundis, Credo in unum Deum, Morte e Mortificação, E Nós nos Gloriamos na Cruz. Há algumas crônicas que poderíamos classificar como chestertonianas, como Vênus e Natal Interior. Há crônicas de muito lirismo, algumas de crítica literária e musical; há algumas extraídas do grande livro de Corção, O Desconcerto do Mundo, que Manuel Bandeira saudou como digno de Prêmio Nobel, como o texto Machado de Assis e o Eclesiastes (aqui e aqui).

O livro ganharia muito se o Sr. Horta o tivesse acrescido de informações bibliográficas e de um pequeno estudo crítico do Corção cronista. A maioria das crônicas vem sem data e local da publicação original, o que dificulta, para o leitor recente de Corção, a apreensão das circunstâncias sob as quais o cronista escrevia. 

No prefácio, o Sr. Horta não consegue esconder sua admiração pelo grande lutador católico e pelo grande escritor, mesmo que esta admiração venha mitigada por críticas às suas posições políticas pós-64 e às sua posições teológico-doutrinais pós-CVII. Já o título do prefácio revela, talvez, o elevado lugar que o Sr. Horta reserva para Corção; Sinal de Contradição. 

Mas é exatamente no pequeno texto do prefácio, que o selecionador, e prefaciador, se mostra em confusão, ou mesmo em contradição. Não sei se o Sr. Horta é católico, mas suponho que sim. Sendo católico e um intelectual, membro da mais alta academia literária do país, ele nos surpreende por sua ingenuidade, na melhor das hipóteses, e aparente desconhecimento da gravíssima crise atual da Igreja, que já era anunciada e profundamente sentida por Corção. Ele diz, por exemplo: “João XXIII queria o aggiornamento da Igreja, uma Igreja que prestasse mais atenção aos ventos da modernidade, que se inserisse na vida de todos os dias. E isso de fato aconteceu; já não conseguimos pensar a Igreja sem o Vaticano II, com a sua valorização dos leigos, a reforma da liturgia que acabou com a missa em latim, e assim por diante.” Alguém que conhece minimamente o pensamento de Corção, não consegue deixar de imaginar o que ele diria acerca de tal comentário. O Sr. Horta subscreve certamente as idéias modernistas, condenadas pelo Papa São Pio X como a síntese de todas as heresias. Se ele não consegue pensar a Igreja sem o Vaticano II, é porque ele não consegue pensar a Igreja de forma nenhuma, pois há uma notícia que tem de ser dada ao prefaciador: a Igreja começou uns dois milênios antes desse concílio. Ora, dizer que o concílio “acabou com a missa em latim”, sem dizer, no mínimo, algo sobre o Summorum Pontificum, em pleno ano de 2010, é, desculpem-me a expressão, de lascar! Suponho também que a valorização dos leigos seja o aparecimento dos famigerados ministros da Eucaristia, da Comunhão da mão e de pé, das leituras feitas por leigos e leigas, etc. Isto não tem nada de catolicismo verdadeiro, é preciso dizer. 

O Sr. Horta continua: “No nosso cenário brasileiro, Alceu Amoroso Lima empunhou decididamente a bandeira dos ‘otimistas’, E, desde então, é difícil achar quem ainda sustente a tese de que o Vaticano II foi uma ameaça aos alicerces da Igreja.” É de se perguntar como um “imortal” pode ser tão ... (estou procurando uma palavra mais cordial) ... tão ... vá lá! desconhecedor de uma Fé que ele parece professar? Onde vive o Sr. Horta? Que paróquia freqüenta? Meu Deus! Será que ele já ouviu falar de Michael Davies, de Romano Amério, do cardeal Ottaviani, de Gherardini? Será que ele tem acompanhado as declarações atuais, ao menos, do episcopado brasileiro? (Vejam aqui e aqui, por exemplo.) Não sabe ele que mesmo Roma admite haver muitos, muitos bispos hereges? (Vejam aqui). Não terá o Sr. Horta lido Nelson Rodrigues, outro grande cronistas brasileiro, sobre Alceu Amoroso Lima, D. Hélder Câmara e os padres de passeata, que poucos anos depois do concílio já surgiam no cenário eclesiástico? Será que o Sr. Horta nunca leu Mt 7, 15-20? De um simples leigo católico pode-se desculpar um desconhecimento deste; não de uma intelectual, membro da Academia Brasileira de Letras. 

De qualquer forma, o livro com as crônicas de Corção vale pela lembrança do grande católico, do grande escritor e do grande chestertoniano brasileiro. O Sr. Horta e a Editora Global prestam, neste sentido, um serviço à memória do grande cronista e aos seus leitores, já antigos e os mais recentes.

09/08/2011

Resposta Católica colhe mais uma homenagem: padre comunista não gosta do site!

Um padre, de nome Frans Verhelle, escreve para o Resposta Católica o seguinte: “Os textos sobre a Teologia da Libertação ofendem muito. Esta "resposta católica" continua dividir nossa igreja. Falta de objetividade e ética. O site não é a resposta dos católicos mas de alguns católicos que negam a reforma do Concilio Vaticano II.” 

Coitadinho do padre, ele ficou ofendidinho. Quer dizer, ele, que subscreve a teologia da embromação, pode ofender Nosso Senhor Jesus Cristo permanentemente, mais ai de quem atacar esse câncer espiritual! O administrador do site, e meu amigo, respondeu muito bem ao padre comunista, dizendo: “Desnecessário dizer que discordamos radicalmente. A Teologia da Libertação foi condenada pela Igreja. Mais: está excomungado o católico que for comunista. Há um decreto da Santa Sé expresso nesse sentido.” O padre ainda, em sua tréplica, afirmou que não era comunista. 

Ora, comunista é o que ele é, e quem diz isto é o Papa Bento XVI, em seu livro Introdução ao Cristianismo. Ele diz, no prefácio da obra, que a teologia da libertação adotou Marx como guia. E diz ainda: “Quem aceita Marx como o representante de uma razão universal não adota simplesmente uma filosofia, uma visão da origem e do sentido da existência, assume sobretudo uma prática.” Bento XVI ainda diz que não é que a teologia da libertação negue a existência de Deus, mas que ela O torna dispensável, e acrescenta: “Quando Deus é deixado de lado, tudo parece inicialmente continuar como antes. (...) Mas tudo muda no momento em que a mensagem de que Deus estaria morto passa a ser realmente percebida.” Leia mais sobre o que o papa disse aqui

O padre ainda fala em ética, querendo dizer certamente ética marxista, aquela que matou 100 milhões de pessoas no mundo, EM TEMPO DE PAZ. Esta ética, nós negamos sim senhor. Mas veja, padre, que nós não negamos a reforma do CVII, como o senhor afirma. Nós vemos todos os dias seus resultados: bispos hereges afirmando que fora da Igreja há salvação, negando a Presença Real Eucarística; bispos e padres subscrevendo totalmente as lutas dos gaysistas, dos comunistas sem-isso, sem-aquilo; padres e bispos apoiando a agenda comunista geral de partidos e governo; padres e bispos promovendo, enfim, a descatolização do Brasil e do mundo. Isto tudo é fruto do CVII, e infelizmente nós acompanhamos tudo isso, com o coração mortificado.  

É completamente compreensível que o senhor não tenha gostado do Resposta Católica, pois lá se encontram obras que aludem, que se referem, que defendem o repositório da verdadeira doutrina da Igreja de Sempre e o senhor está do outro lado, subscrevendo uma ou várias heresias ao mesmo tempo. É claro que o senhor não apreciará os livros de Santo Afonso Maria de Ligório, sobre o que é ser padre, sobre a devoção a Mãe Santíssima; tampouco apreciará São Francisco de Sales tratar da Introdução à Vida Devota, porque sua devoção é a Marx, e seu livro de cabeceira é o Capital. O senhor não apreciará a Imitação de Cristo, pois Marx O substituiu em sua alma corrompida pelo comunismo. Que dirá de Santa Teresa D’Ávila, Santa Catarina de Sena, São João da Cruz, para citar alguns, que se mortificavam diariamente até tirar sangue de seus corpos, por amor a Jesus Cristo? Isto deve ser nojento, primitivo, medieval, para o senhor tão moderno, tão CVII, tão comunista! Afinal, estamos aqui na Terra para nos sentirmos bem, para "experenciarmos" Jesus, para sermos bem tratados, para evitarmos a todo custo o sofrimento. Depois que nós morrermos, como não existe Inferno, outra invenção medieval muito antipática, iremos todos banquetear no Céu, porque Deus é um “banana” que vai perdoar todas as nossas faltas. 

Penso que o administrador do Resposta Católica deve se orgulhar do repúdio recebido do senhor. Afinal, Nosso Senhor prometeu algo relativo a um prêmio para os que sofrerem em Sua defesa.

04/08/2011

Há 80 anos, Chesterton “picava” Clarence Darrow em mil pedaços num debate atualíssimo.

O debate que vocês assistirão abaixo é a reconstrução de um que realmente aconteceu em Nova York, em 1931. A reconstrução foi feita por Dale Ahlquist a partir de relatos do mesmo (não há dele transcrição conhecida) e de textos de Chesterton que tratam dos mesmos assuntos que animaram o debate. Ele é atual porque o agnosticismo é o mesmo – e tem muitos representantes na intelectualidade atual – a doutrina católica é a mesma e, sobretudo, porque “o elo perdido de Darwin continua perdido”, como nos lembra o grande escritor inglês.

Clarence Seward Darrow (1857 – 1938) foi um advogado americano, eminente membro a ACLU (American Civil Liberty Union) – organização esquerdista, pró-gaysista, anti-religiosa e principalmente anti-católica – conhecido por sua espirituosidade e agnosticismo. Darrow era, então, muito famoso por ter sido o advogado de defesa de John Thomas Scopes, um professor secundário de biologia do estado de Tennessee, estado que o processou, em 1925, por ensinar a Teoria da Evolução, violando a Lei Butler, válida para aquele estado. O caso foi um evento rumoroso, pois proporcionou uma discussão pública sobre os limites da ciência na controvérsia criação-evolução. O julgamento ocorreu numa pequena cidade, Dayton, que teve seus 15 minutos de glória. Scopes foi considerado culpado, mas o veredito foi derrubado baseado em questões técnicas. Darrow estava então na crista da onda!

Chesterton, em seus vários textos jornalísticos e em seus ensaios, fala muito sobre os eventos de Dayton. Veja, por exemplo, Por que sou católico, QUEM SÃO OS CONSPIRADORES?, O objetivo religioso da educação.

Hoje, podemos imaginar um debate destes entre Chesterton e um Richard Dawkins, um Daniel Dennet (estes são de nível intelectual muito inferior ao de Darrow). O picadinho seria o mesmo.






Vejam outros vídeos legendados de Chesterton aqui.

02/08/2011

Nunca é demais lembrar o que é ser católico! Pe. Faber nos ajuda.

"Convém acostumar-vos a considerar o Evangelho sob o seu verdadeiro ponto de vista e saber que a nossa religião é toda de sofrimento, de mortificação, de sacrifício, de amor consumidor, de zelo que se esquece a si mesmo, e de união que se crucifica. Numa palavra, é a religião da Cruz e do Crucificado. Compenetrai-vos bem dessa verdade, que tanto repugna à natureza, de que a abnegação lhe constitui a essência, e que a abnegação deve ser diária, não somente para que possamos ser perfeitos, mas ainda para que possamos ser discípulos de nosso amado Senhor."

31/07/2011

Surge, pela graça de Deus, mais um tradutor de Chesterton

Estou em falta com os leitores do blog, e com o prof. Carlos Ramalhete, o mais novo tradutor de Chesterton; mais novo é modo de dizer, pois em termos de competência o bebê sou eu. Em meados de julho, recebi a auspiciosa notícia, que fiquei de repercutir aqui neste modesto espaço. Diz o prof. Carlos:

Então segue o aviso: a Sandra Katzman, que é quem toma conta da casa em www.hsjonline.com , já recebeu a versão preliminar dos dois primeiros artigos da Superstition of Divorce, e vai postá-los na página só para as traduções do Chesterton que ela abriu no blogue, em http://www.hsjonline.com/p/lingua-e-literatura.html . Pelo que eu vi, já está lá o primeiro artigo, em http://www.hsjonline.com/2011/07/i-supersticao-do-divorcio-1.html ; imagino que talvez ela vá colocar o segundo artigo do livro amanhã ou depois, quando conseguir se organizar no meio da tralha toda que enviei.

O projeto do prof. Carlos é traduzir Supertition of Divorce e Outline of Sanity. Que Deus lhe pague, prof. Carlos, pela iniciativa.

26/07/2011

Livros, ensaios e artigos; ao todo, 393 documentos da mais alta importância!

Vejam abaixo apenas uma pequena amostra do que vocês podem encontrar no Resposta Católica. São livros e documentos sobre a Igreja, sua história, sua doutrina, sua teologia e filosofia, seus santos e santas, sua crise, sobre Nossa Mãe Santíssima, e muito mais. E notem: tudo para download imediato do 4Shared. O construtor do site, que prefere permanecer anônimo, presta um inestimável serviço a todos nós católicos. Que Deus lhe abençoe por isso!


Arte e Cultura






Bíblia










22/07/2011

Chesterton e as Cruzadas

Chesterton foi, em certo sentido, um cruzado moderno, lutando contra os infiéis, pagãos, hereges do seu tempo. Eis algumas poucas idéias suas sobre este movimento extraordinário da cristandade.

Leia a respeito do projeto do blog de lengendar mais vídeos de Chesterton. Veja aqui outros vídeos legendados.


20/07/2011

Em breve, mais dois livros de Chesterton em português.

Assinei, semana passada, um contrato de tradução de dois livros de Chesterton. O que deve ser publicado primeiro é uma coletânea de ensaios escritos logo após a conversão do escritor, em 1922. O título provisório é "Aonde Levam Todos os Caminhos". Seguem dois pequenos trechos dele para o deleite dos leitores do blog.

"Quanto às razões fundamentais para um homem fazê-lo [se converter], há apenas duas que são realmente fundamentais. Uma é que ele acredite que a Igreja seja a verdade sólida e irremovível ― que é verdade, quer ele queira, quer ele não queira; a outra, que ele busque o perdão de seus pecados. Se houver um homem para quem estes não sejam os principais motivos, é ocioso investigar quais foram suas razões filosóficas, históricas ou emocionais para ingressar na antiga religião; pois ele nela não ingressou em absoluto."

"E, enquanto isso, qualquer camponês católico, ao segurar uma pequena conta do Rosário em seus dedos, pode estar consciente, não de uma eternidade, mas de um complexo, quase um conflito, de eternidades; como, por exemplo, nas relações de Nosso Senhor e Nossa Senhora, da paternidade e da infância de Deus, da maternidade e da infância de Maria. Pensamentos desse tipo têm, num sentido sobrenatural, algo análogo ao sexo; eles dão cria. São férteis e se multiplicam; e não há fim para eles."

O segundo é "A Coisa", que de acordo com Hilaire Belloc é um dos livros mais importantes de Chesterton. A tal Coisa é a Igreja que, por ser católica, tem relação com todas as outras coisas. Este livro será publicado ano que vem, segundo me informaram.

Peço a oração de todos, para o bom andamento do trabalho.

15/07/2011

Chesterton e o Concílio Vaticano II

Leio e, até certo ponto, me divirto com uma afirmação de Andrew Greeley – na Introdução à nova edição de Gilbert Keith Chesterton, de Maise Ward, Rowman & Littlefield Publishers, Inc., 2006 – que diz: “G.K.C. teria amado as energias repletas de esperança geradas pelo Vaticano II, embora tivesse se chocado pelo irrefletido entusiasmo de alguns daqueles cuja imaturidade foi liberada por excessivos goles do inebriante vinho da mudança.” De certo, o Sr. Greely pensa que os problemas do Vaticano II estão na excessiva sede com que se foi ao pote. Aparentemente, não há problemas com o pote em si.

Concedo que Chesterton inicialmente pudesse ter ficado um pouco aturdido. Conheço três exemplos de proeminentes católicos que não conseguiram de pronto ter a dimensão do desastre. Michael Davies conta no Pope John’s Council, que ainda em 1972, “eu, como Dr. Von Hildebrand, mantinha a opinião de que os documentos do Concílio eram impecáveis e que o caos atual era o resultado de eles estarem sendo negados ou ignorados”. Davies candidamente admite que só depois de ter lido O Reno se lança no Tibre, isto em 1973, é que “um claro padrão começou a emergir” em sua mente. Ou seja, depois de quase 10 anos de promulgado o Concílio dois grandes católicos ainda estavam iludidos sobre o Concílio.

O terceiro exemplo é Gustavo Corção, que em Dois Amores, Duas Cidades, de 1967, diz: “Não creio, sinceramente, que o principal desse Concílio foi a renovação que trouxe, e que a Igreja sempre procura de tempos em tempos; creio antes que a magnífica, a principal mensagem do Concílio foi a da continuidade, da afirmação da identidade da Igreja consigo mesma, ou da maior consciência dessa identidade que resiste a todos os solavancos do século.”

Davies, von Hildebrand e Corção se recuperaram do torpor inicial e viram a verdadeira face do Concílio e o desastre que ele semeou na Igreja. Numa carta a Michael Davies, em 1976, von Hildebrand, por exemplo, já com as idéias no lugar diz: “Enfatizo sempre em minhas conferências e artigos que felizmente nenhuma palavra do Concílio – a menos que seja uma repetição de definições de fide anteriores – nos obriga de fide. Não precisamos aprovar – ao contrário, devemos desaprovar.”

Assim também Chesterton, se vivo fosse, talvez se enganasse inicialmente também. Mas depois ...

Fico pensando qual teria sido a reação de Chesterton, um tomista de quatro costados, com a atitude quase anti-metafísica e humanista do Concílio. Fico pensando o que o grande escritor inglês teria a dizer sobre as seguintes palavras:

“... A Igreja do Concílio [Vaticano II] se ocupou bastante do homem, do homem tal qual ele se apresenta em nossa época, o homem vivo, o homem todo ocupado consigo mesmo, o homem que se faz centro de tudo aquilo que o interessa, mas que ousa ser o princípio e a razão última de toda a realidade... O humanismo laico e profano, enfim, apareceu na sua terrível estatura, e, em certo sentido, desafiou o Concílio. A religião de Deus que se fez homem encontrou-se com a religião do homem que se fez Deus. Que aconteceu? Um choque, uma luta, um anátema? Isso poderia ter acontecido, mas isso não aconteceu. A antiga história do samaritano foi o modelo da espiritualidade do Concílio. Uma imensa simpatia o [o Concílio] investiu inteiramente. A descoberta das necessidades humanas absorveu a atenção deste Concílio. Reconhecei-lhe ao menos este mérito, ó vós humanistas modernos, que haveis renunciado à transcendência das coisas supremas, que saibais reconhecer o nosso novo humanismo: também nós, Nós, mais que qualquer outro, nós temos o culto do homem.” (Paulo VI, Discurso de Encerramento do Vaticano II, 7 de Dezembro de 1965).

Fico pensando o que Chesterton diria e penso que sei o que ele teria dito exatamente; teria dito o que disse em seu ensaio Será o humanismo uma religião?, do livro “A Coisa”, que ele escreveu depois de sua conversão. Aqui ele diz: a questão “é se o que ele (Norman Foerster) chama de humanismo pode satisfazer a humanidade. (...) Temo que respondê-la seriamente deva significar respondê-la pessoalmente. A questão é realmente se o humanismo pode desempenhar todas as funções da religião; e não posso evitar considerá-la em relação à minha própria religião. (...) Todavia, minha primeira obrigação é responder à questão a mim colocada; e eu a devo responder negativamente.”

O que dizer da reação do escritor ao ato de devolução, aos turcos, das bandeiras gloriosamente conquistadas por combatentes católicos em Lepanto, sob a proteção de Nossa Senhora, invocada na oração do Rosário pelo grande Papa São Pio V. Lepanto, não por coincidência, é o título de um poema de Chesterton, que Belloc considerava um dos mais belos jamais escritos.

Entretenho ainda o pensamento do grande escritor tendo a notícia acerca da Teologia da Libertação, filha dileta do Vaticano II. Diriam a ele que hordas de bispos e padres consideravam Cristo um Marx avant la lettre; que finalmente havia um sistema político-econômico-religioso que implementava todas as virtudes pregadas por Cristo: era o comunismo tornado doutrina religiosa. Como ficaria o pequeno coração do imenso Chesterton? Como ele ficaria ao saber do famigerado acordo de Metz, em que Papa Paulo VI se comprometeu a não condenar o comunismo para que a União Soviética permitisse a presença, no Concílio, de uns poucos ortodoxos russos?

Lamento informar, mas não concordo nem um pouco com o Sr. Greely. Penso que Chesterton deploraria os acontecimentos, as energias e grande parte dos documentos do Vaticano II. Penso que ele escreveria um livro da espécie que Michael Davies escreveu: Apologia Pro Marcel Lefebvre. Penso que ele faria a mesma comparação que Michael Davies faz, no prefácio de seu Saint Athanasius: Defender of the Faith, entre Dom Lefebvre e Santo Atanásio: “Ambos, o santo e o arcebispo, agiram do lado de fora das estruturas hierárquicas normais a fim de sustentar o que afirmavam ser a tradição católica verdadeira, ambos encontraram apoio em fiéis leigos remanescentes, ambos fossem repudiados por quase todos os seus companheiros bispos, e ambos sofressem a agonia de terem sido excomungados pelo papa de seus dias.”

Penso que ele concordaria com a análise de von Hildebrand sobre o Concílio. Penso que ele concordaria com Marcel de Corte em seu “A Inteligência em Perigo de Morte”: “Jamais se poderão medir as conseqüências para a Igreja e a humanidade dessa catástrofe provocada por uma gangue de Padres conciliares que tinham uma inteligência sem bússola.”

Penso que ele concordaria com Gustavo Corção: “Bem sei que nesse período conturbado continua a existir, na terra, a Igreja Católica dita militante. Ora, minha sofrida e firme convicção, tantas vezes sustentada aqui, ali e acolá é que existe, entre a Religião Católica professada em todo o mundo católico até poucos anos atrás e a religião ostensivamente apresentada como "nova", "progressista", "evoluída", uma diferença de espécie ou diferença por alteridade. São portanto duas as Igrejas atualmente governadas e servidas pela mesma hierarquia: a Igreja Católica de sempre, e a Outra.”

Lembro, para finalizar, uma frase de Chesterton que mostra um aspecto às vezes oculto da crise da Igreja: “Muitos são os convertidos que chegaram a um estágio em que nenhuma palavra vinda de protestantes ou pagãos pode contê-los mais. Somente a palavra de um católico pode afastá-los do catolicismo. Uma única palavra estúpida vinda desde dentro pode causar mais dano do que centenas de milhares vindas desde fora.”

Não, Chesterton não cerraria fileiras com os modernistas!

12/07/2011

50 anos de Vaticano II: teologia escrita em gelatina.

Stanford Nutting nos ensina o que é a teologia moderna, ele que foi seminarista nos anos 1970. Os mandamentos modernos são escritos em gelatina, não na pedra, como os Mandamentos de Lei de Deus. E em gelatina ainda líquida, para nos dar mais liberdade de fazer "não importa o quê". Divirtam-se!





09/07/2011

A Virgem Santíssima: a dúvida (?) de um leitor.

Wendy, um dos leitores mais assíduos do blog, colocou um comentário – não postado lá, mas comentado aqui – ao post Atenção: a devoção a Nossa Senhora não é opcional! Bastante curto foi o comentário: “Angueth, isso é tradicional ou bíblico?” Eis aí todo o espírito protestante! 

Ora, é bíblico que a Revelação não está toda na Bíblia; por isso, a importância da Tradição. Vemos isto em pelo menos três passagens do Novo Testamento. 

Muitas coisas, porém, há ainda, que fez Jesus, as quais se se escrevessem uma por uma, creio que nem no mundo todo poderiam caber os livros que delas se houvessem de escrever. (Jo XXI, 25)  

Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas vós não as podeis compreender agora. Quando vier, porém, o Espírito de verdade, ele vos guiará no caminho da verdade integral, porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e anunciar-vos-á as coisas que estão para vir. (Jo XVI, 12-13) 

Na primeira narração, ó Teófilo, falei de todas as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar até o dia em que, tendo dado as suas instruções por meio do Espírito Santo, foi arrebatado ao céu; aos quais também se manifestou vivo, depois de suas paixão, com muitas provas, aparecendo-lhes por quarenta dias e falando do reino de Deus. (Atos I, 1-3) 

Agora, sobre ser Maria Santíssima a medianeira de TODAS AS GRAÇAS, isto também é bíblico, e obviamente tradicional. É bíblico primeiro por ela ser CHEIA DE GRAÇAS: Salve, ó cheia de graça, o Senhor é contigo (Lc 1, 28). Cheia de graças significa COM TODAS AS GRAÇAS, inclusive a de nos trazê-las, as poucas que recebemos, não por merecimento próprio, ao longo da vida. 

É bíblico porque por meio dela veio o primeiro milagre na ordem sobrenatural – a santificação de São João. É bíblico porque por meio dela veio o primeiro milagre na ordem natural – o vinho das bodas de Caná. Assim, por meio dela vêm todas as graças. 

Isto é tão simples de entender que só mesmo o espírito protestante pode evitar que o intelecto de alguém fique fechado a receber tal verdade. Este espírito, sendo anti-tomista é também anti-aristotélico, é ilógico, daí esta aparente contradição que um jovem tão interessado e inteligente em outras áreas, seja tão resistente à pura lógica neste que é um assunto simplesmente fundamental para esta vida e para outra vida. 

A devoção de Maria está na Tradição desde os primeiros Padres, mas este não é nosso assunto aqui. 

Sugiro ao Wendy, e a todos os leitores, a leitura de duas cartas respondidas pelo Prof. Orlando Fedeli a respeito de Maria; elas são extraordinárias: Imagens, ídolos, veneração, adoração e Virgem Maria, Mãe de Deus. Nelas me baseei para escrever este post.

07/07/2011

Ajoelhem-se diante de Dele! Um equívoco do blog!

Este foi o texto do meu post original: Uma praça na cidade de Preston, Inglaterra; um país dos menos católicos do mundo ocidental; um continente que, embora tenha sido concebido e viabilizado pela Igreja, se descristianiza (e se islamiza) a grande velocidade. O Santíssimo é erguido, por um Capuchinho Fransciscano da Consolação, e o que se segue é momentoso. Assistam o vídeo, com legendas em português que são um presente de um grande amigo para os leitores do blog. Deus lhe pague!

Eu estava enganado sobre esta exposição do Santíssimo e o que vai abaixo é um alerta de uma leitora sobre o evento, que na verdade foi só um teatrinho, coisa gravíssima. Peço desculpas aos leitores do blog pelo equívoco e pela falta de uma verificação mais abrangente da coisa. Agradeço à Patrícia pelos esclarecimentos (que estão também nos comentários do post).





Infelizmente, professor, o evento foi  no estilo "flash mob" e foi mais uma peça de teatro, por assim dizer. De acordo com o frei que organizou o evento, somente 4 pessoas ajoelharam para o Santíssimo de improviso. O resto foi combinado. Cerca de 30 pessoas participaram como "atores". A chegada era combinada, foi cronometrada minuto a minuto e foi feito para parecer que as pessoas se impressionavam e ajoelhavam diante de Jesus Hóstia.





Cito: Recruiting people for a novel event like this was difficult, not least because we wanted to keep the details from public circulation, and we were hampered by the fact that most Catholics hadn’t even heard of ‘flash mobs’.

E mais adiante: At the preparatory meeting and briefing we split people into 5 groups, with instructions to arrive on the scene at different times (watches/phones had to be synchronised). The first group had to be the bravest, being the first to kneel down. I was to arrive at exactly1.15pm, and the first ‘kneelers’ 30 seconds after, once I’d elevated the monstrance. Others were to come on the scene at 1.16pm, and then at 1-minute intervals after that, so that the ‘congregation’ would slowly grow. The flash-mobbers were asked to start clapping and cheering at a certain point towards the end of Br. Loarne’s litany. Once again, the idea was to have something that seemed spontaneous, and which others could join in.

Abs,
em Cristo,
Patricia

06/07/2011

Atenção: a devoção a Nossa Senhora não é opcional!

Nota do blog Isto é o que nos avisa Pe. Frederico Faber (oratoriano, originalmente anglicano, nasceu e viveu na Inglaterra de 1814 a 1863)num texto belíssimo e terrível. Ele o inicia dizendo: “Concluo que os nossos obstáculos (à vida espiritual) secretos se baseiam em cinco erros”. Um deles é o relacionado à devoção a Santíssima Virgem. Vejamos então o que nos ensina Pe. Faber no capítulo 5 do seu livro “Progresso na Vida Espiritual”, Editora Vozez, trad. Mariana Nabuco, 1954.

É bem possível que o empecilho (à vida espiritual) seja a falta de devoção a nossa Senhora. Sem esta devoção a vida interior é impossível, porque não é conforme a vontade de Deus. E esta reside sobretudo em nossa Senhora. 

Ela é a solidez da devoção, e não nos lembramos bastante disso. Os principiantes estão com freqüência tão ocupados com a parte metafísica da vida espiritual, que não dão a esta devoção a necessária importância. Mencionarei aqui alguns pontos que eles não parecem ter a peito. 

A devoção à Mãe de nosso Senhor não é um ornamento do sistema católico, uma beleza supérflua, nem mesmo um auxílio, dentre os muitos que podemos ou não empregar, mas é parte integral do cristianismo, e, sem ela, nossa religião não é, estritamente falando, cristã. Seria uma religião diferente da que Deus revelou. Nossa Senhora é uma lei distinta de Deus, um meio especial de graça, cuja importância ressalta do ódio instintivo que lhe tem a heresia. 

Maria é o pescoço do corpo místico unindo portanto todos os membros à Cabeça, e sendo o canal e o instrumento que dispensa todas as graças. A devoção a nossa Senhor é a verdadeira imitação de Jesus, porque, após a glória do Pai, foi a devoção mais ligada e mais cara ao sagrado Coração. É de uma solidez a toda prova, porque está perpetuamente ocupada como o ódio do pecado e a aquisição de virtudes substanciais. Descuidar-nos dela é desprezar a Deus, pois ela é a sua lei; é ferir a Jesus em sua Mãe. 

Deus mesmo a colocou na Igreja, como um poder distinto, e, portanto, o seu culto é eficaz, é fonte de milagres, é parte da nossa religião, que de modo algum podemos pôr de lado. A espiritualidade é necessariamente ortodoxa. Isto é evidente. Ora, a doutrina não seria ortodoxa, se preterisse o ofício e as prerrogativas da Mãe de Deus. Assim, também a espiritualidade não é ortodoxa, em se desviando ou separando duma devoção tão generosa quão justa. Com efeito, um erro de doutrina é duplamente perigoso quando se relaciona com a vida espiritual. Envenena a tudo, e não há prejuízo que não se possa prever para a infortunada alma que lhe é sujeita. 

Se, então, tendes os sintomas que indicam algo de errado, algo que vos retarda, verificai primeiro se vossa devoção a nossa Senhora é o que devia ser, em qualidade e grau, em fé e confiança, em amor e lealdade. A perfeição está sob a sua proteção particular, porque é uma das especiais prerrogativas de que goza como rainha dos santos.

02/07/2011

Chesterton e a Nova Teologia

Stanford Nutting (brincadeira fonética com "stand for nothing", ou seja, "apoiador de coisa nenhuma") compele Chesterton a falar sobre a Nova Teologia, aquela que nos impingiram depois do Concílio Vaticano II. Chesterton não deixa por menos: desaprova todas as novas teologias que pululam por aí!

Este vídeo faz parte de um projeto do Blog do Angueth.


30/06/2011

50 anos de Vaticano II: os livros que temos e os que ainda nos faltam.

Depois de 50 anos de crise, muita gente já escreveu sobre ela. Grandes livros já foram traduzidos para o português e estão à nossa disposição. Da Editora Permanência, temos O Reno se lança no Tibre e Do liberalismo à Apostasia: a Tragédia Conciliar. Temos um estudo inicial, do Cardeal Alfredo Ottaviani, sobre a Missa Nova. Temos, da Editora Sétimo Selo, A Candeia Debaixo do Alqueire, que se encontra esgotado. Temos ainda o impressionante O Derradeiro Combate do Demônio,  do Padre John Kramer.

Mas nos faltam, em vernáculo, alguns importantes livros, que as editoras brasileiras bem poderiam pensar em editar até 2012, nos 50 anos de Vaticano II. 

Refiro-me primeiramente ao magistral Iota Unum, de Romano Amério. Esta obra de Amerio é fundamental para o entendimento dos frutos do Concílio. Está tudo lá, muito bem explicado, com os fundamentos filosóficos, teológicos e doutrinários de todas as mudanças ocorridas na Igreja depois do Concílio. Não há livro mais necessário para o entendimento da crise que este.

Depois temos a trilogia de Michael Davies: Cranmer’s Godly Order, Pope John’s Council e Pope Paul’s New Mass.

Esta trilogia é obra fundamental sobre a revolução litúrgica proporcionada pelo Vaticano II.  Esta trilogia ainda está em edição, pela Angelus Press.

Michael Davies, segundo depoimento de seu próprio filho, Adrian Davies, considerava esta trilogia como seu principal trabalho, dentre uma infinidade de outros. Certa vez, ano passado, entrei em contato com Adrian, por meio da Angelus Press, e ele me disse que os direitos autorais para o português estão disponíveis. Disse-me ainda que Michael Davies, se estivesse vivo, ficaria muito feliz por suas obras aparecerem em português, pelo carinho que ele tinha com Portugal. Na época, não consegui editora interessada na compra dos direitos e na tradução da trilogia.

Há ainda o grande livro de Marcel de Corte, A Inteligência em Perigo de Morte. Alguns trechos deste livro apareceram no jornal SIM SIM NÃO NÃO. Alguns textos de de Corte podem ser encontrados no sítio da Permanência. Mas é fundamental a tradução do livro!

Rezemos para que alguma editora católica brasileira se anime agora a empreender a tradução e edição destas obras indispensáveis sobre a crise da Igreja.

28/06/2011

Blog é acusado e se defende

Um leitor deixa o seguinte comentário ao post Chesterton versus Blatchford: a irracionalidade do racionalismo (comentário não publicado no post): Muito bom. Como sou fã de Chesterton, vou colocar em meu blog. Pena que não possa citar esse blog sem ressalvas, por causa da sua heresia tradicionalista. Como um comentário tão curto pode ser tão revelador de quem o faz! Aliás, o nome de seu blog – conforme seu perfil, blog aparentemente abandonado – já diz tudo; ele é liberal! 

Vê-se logo que ele não sabe nem o que é heresia, nem o que é Tradição. É de suspeitar que seja um católico, e um católico moderno (liberal!), que pensa que tudo tem de evoluir, inclusive a Teologia e a Liturgia. O próximo vídeo de Chesterton que o blog irá legendar o decepcionará; depois dele, o leitor também não irá citar Chesterton sem ressalvas. 

Aguarde, caro leitor, o vídeo em que Stanfod Nutting pergunta a Chesterton o que ele pensa da Nova Teologia, uma destas (porque elas são muitas) a que o senhor subscreve. Preste bem atenção na resposta de Chesterton; o senhor não perde por esperar. 

O senhor não sabe o que é heresia, portanto, recomendo-lhe o livro que traduzi: As Grandes Heresias, de Hilaire Belloc, um grande amigo de Chesterton. Aí do lado, o senhor encontrará um link para a compra do livro. 

Que o senhor acuse um católico de herético por ser tradicionalista – suponho que o senhor queira designar por este termo, um católico que defende a Tradição da Igreja contra os ataques que ela sofre desde dentro da própria Igreja – não me surpreende nem um pouco. A crise da Igreja produz tal sentimento em católicos criados pela cantilena do Vaticano II; a Tradição, para estes católicos, parece heresia e o modernismo, no qual eles estão inseridos até a alma, lhes parece a mais pura doutrina católica. Este é um dos aspectos mais cruéis da crise da Igreja.

Uma boa referência sobre o que é Tradição e como diferenciá-la de outras doutrinas heréticas é o livro de São Vicente de Lerins, Comonitório

Antes de finalizar, sendo o leitor um liberal, nada como ler “Liberalismo É Pecado”, de Dom Felix Sarda y Salvani (versão em espanhol aqui). 

Agora finalizando: este blog é mantido por um Católico Apostólico Romano, sem mais adjetivos. Isto já é por demais trabalhoso, para um pecador tão contumaz.

24/06/2011

50 anos de Vaticano II: Roma sabe que há muitos bispos hereges.

Alguns amigos me perguntaram, depois do post sobre o Arcebispo de Maringá, se não se devia escrever algo e enviar a Roma. Eu me mostrei um pouco desanimado e sugeri que rezássemos à Santíssima Virgem. 

Agora, D. Fellay confirma que Roma sabe que há bispos e padres hereges; e aos borbotões. Ele diz, em artigo do Fratres: “E eis as palavras que ouvimos da boca do Secretário da Congregação para a Fé [Arcebispo Luis Francisco Ladaria Ferrer, SJ]: ‘O senhor sabe, são os padres, os bispos, as Universidades Católicas que estão repletos de heresias!’ Aí está o que nos disse, em junho de 2009, o Secretário da Congregação para a [Doutrina da] Fé!Notem a expressão: repletos de heresias! 

Um leitor me enviou, em comentário já publicado, um vídeo (http://www.youtube.com/watch?v=Lf40OrusE-U&t=2m23s) de Dom Anuar Battisti, de Maringá, em que ele nega deslavadamente o dogma Extra Ecclesiam nulla sallus. 

E a CNBB vai comemorar 50 anos de abertura do Concílio Vaticano II. Será temerário dizer, 50 anos de heresia?

23/06/2011

50 anos de Vaticano II: Bispo nega o dogma Extra Ecclesiam nulla sallus.

Ainda com as palavras da maravilhosa Sequentia da Missa de Corpus Christi nos meus ouvidos (Lauda, Sion, Salvatorem, ... Laudis thema specialis/Panis vivus et vitalis/Hódie proponitur ...), composta por Santo Tomás de Aquino, fico sabendo, por minha amiga Ana Maria (que já noticiou em seu blog), que Dom Luiz Bergozini, em palestra no dia 20 próximo passado, negou o dogma EXTRA ECCLESIAM NULLA SALLUS, promulgado pelo IV Concílio de Latrão, em 1215.

Por volta dos 16 min. da palestra o bispo afirma: “A gente não pode dizer que só se salvam aqueles que são católicos”.

Como já fez com Dom Anuar, este blog vai ajudar Dom Bergozini e lembrar-lhe as determinações do IV Concílio de Latrão, em relação ao dogma por ele “esquecido”.

Diz o texto do Concílio, primeiro em latim e depois em português:
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Una vero est fidelium universalis Ecclesia, extra quam nullus omnino salvatur, in qua idem ipse sacerdos est sacrificium Iesus Christus, cuius corpus et sanguis in sacramento altaris sub speciebus panis et vini veraciter continentur, transubstantiatis pane in corpus, et vino in sanguinem potestate divina: ut ad perficiendum mysterium unitatis accipiamus ipsi de suo, quod accepit ipse de nostro.

Ora, existe uma Igreja universal dos fiéis, fora da qual absolutamente ninguém se salva, e na qual o mesmo Jesus Cristo é sacerdote e sacrifício, cujo corpo e sangue são contidos verdadeiramente no sacramento do altar, sob as espécies do pão e do vinho, pois que, pelo poder divino, o pão é transubstanciado no corpo e o vinho no sangue; de modo que, para realizar plenamente o mistério da unidade, nós recebemos dele o que ele recebeu de nós.
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Portanto, o texto do Concílio coloca magistralmente em relevo a estreitíssima ligação entre o dogma da salvação e o sacramento da Eucaristia. Vejam onde tocam as afirmações do bispo Bergozini, vejam a gravidade de suas palavras.

Que Nossa Senhora olhe por todos nós!

22/06/2011

Arcebispo de Maringá se desculpa por Brasil ser católico: vamos ajudá-lo

Dom Anuar Battist declara “que não nos cabe culpa pelo fato histórico de ser o povo brasileiro majoritariamente católico”. Achei a declaração muito limitada e resolvi ajudar o arcebispo a pedir desculpas direito; não fiquemos limitados ao Brasil, peçamos desculpas ao mundo pelo que fizeram nossos irmãos católicos ao longo do tempo.

Peçamos desculpas, em primeiro lugar, pelo Sangue de Nosso Senhor ter sujado os pátios e ruas de Jerusalém; pelo trabalho que demos aos flageladores de Jesus, que arrancaram pedaços de Sua Carne e acabaram com Seu Sangue. Desculpas pedimos a Pilatos, que tanto matutou, para depois trocar Jesus por Barrabás. Que problema de consciência lhe causamos!

Pedimos desculpas, a seguir, por sujar as ruas de Roma com o sangue daqueles que não aceitavam renegar Cristo. E olha que isto durou uns 300 anos e deve ter causado muita dor de cabeça para os garis da cidade; limpar todo aquele sangue!, que nojo! Houve o aspecto positivo, deve-se destacar, pois alimentamos muitos leões no Coliseu. Sem nossa carne os bichinhos dariam mais despesas ao Império e menos diversão aos pagãos.

Depois, temos de pedir desculpas por estabilizarmos as sociedades, quando o Império Romano ruiu. Quando as instituições desapareceram, só a Igreja sobrou para fazer todo o tipo de serviço; por isso pedimos desculpas. Aqueles bárbaros sanguinários que nossos santos converteram; por isso também pedimos desculpas. Pedimos desculpas também por preservar os costumes e os registros culturais da humanidade, quando ninguém dava a mínima para isso. Aqueles monges copistas ... Por falar em monge, pedimos desculpas para preservarmos todos os fundamentos da civilização nos mosteiros, fundamentos estes que iriam depois servir para construir o que chamamos de Civilização Ocidental.

Pedimos desculpas por criarmos as universidades, que nasceram das escolas paroquiais. Pedimos desculpas por criarmos a Ciência, por criarmos os hospitais e por lutarmos contra os mulçumanos, que hoje parecem estar conseguindo, finalmente, invadir e dominar a Europa, que não conta mais com nossa proteção, a proteção da Igreja. Pedimos desculpas por isso também.

Pedimos desculpas por esmagarmos os cátaros que, se tivessem dominado o sul da França, dominariam a França e o mundo e o destruiria em seguida.

Pedimos desculpas por criarmos toda a arte que vale este nome. Lembremos apenas do gótico que ainda nos tira o fôlego quando o contemplamos; e do canto gregoriano que nos eleva, até hoje, a uma atmosfera realmente espiritual.

Peçamos desculpas, para finalizar, pois a lista do mal que fizemos à humanidade não tem fim, pela filosofia tomista que, todos sabem, continua a ser a coisa mais terrível para a mente de quem a estuda!

Desculpa gente! Da próxima vez que vocês entrarem num hospital ou numa universidade, lembrem-se de nós, a culpa é nossa!

21/06/2011

Leitor insinua e blog responde

Um leitor me escreve para perguntar algumas coisas sobre Chesterton, mas começa com a seguinte insinuação: Sou um "herege" protestante, que crê que fora de Cristo não há salvação, esteja tal pessoa na Igreja Católica Romana ou numa denominação protestante. Mas meu ponto não é este. Veja o comentário completo, e parte de minha resposta, no post Leitor pergunta: Por que, Angueth, você é católico? 


Comento agora a frase inicial, que é antes uma insinuação, que não é “o ponto” que o protestante desejava enfatizar, mas que é exatamente O PONTO que mais me interessou no seu comentário. Meu ponto é justamente aquilo que não é o seu ponto, caro leitor.
Há algo em torno de 30.000 denominações protestantes no mundo, algumas das quais, apóiam o aborto, a eutanásia, o milenarismo profético que nos brinda a todo instante com datas do fim do mundo. Há denominações para todos os gostos. Creio que você admitiria que todos estes estivessem salvos.


Há os espíritas, que não são protestantes, mas também dizem acreditar em Jesus Cristo. Assim, também eles devem se salvar, segundo sua concepção. 

Há os budistas, que pregam o desapego do mundo, que também é uma doutrina da Igreja de Cristo, a única que salva, e que o protestantismo, em algumas denominações, ainda mantém. Assim, quem sabe Cristo não abre uma brechinha e salva este pessoal também?
Há também os ateus bem intencionados, que até admiram o Jesus histórico, e o consideram um grande homem; um cara bacana. Será que Deus, tão bom, deixaria estes simpáticos ateus do lado de fora

Dentre os ateus, há os ambientalistas, que são panteístas, que dizem que a natureza “é tudo de bom!”. Que a natureza é tudo de bom, nós também católicos dizemos sempre; está na Bíblia e na Tradição da Igreja; vocês protestantes não devem discordar disto. Então, quem sabe, estes ambientalistas não mereceriam um lugar no céu, um lugarzinho na beira de um rio, ao lado de uma cachoeira?  

Puxa!, acabo de concluir que TODOS JÁ ESTAMOS SALVOS, pela graça de Deus. Que bom ser protestante

Esta Igreja Católica é mesmo muito MEDIEVAL!

16/06/2011

Chesterton versus Blatchford: a irracionalidade do racionalismo

O debate que vai encenado abaixo jamais ocorreu face a face, mas se desenvolveu nas páginas do jornal Clarion, de Robert Blatchford, um comunista ateu muito influente em Londres no tempo de Chesterton. Chesterton escreveu quatro artigos, dos quais dois estão traduzidos neste blog (aqui e aqui), em resposta aos argumento de Blatchford. 

A essência dos argumentos de ambos os lados aparece na ótima encenação que legendamos abaixo. Divirtam-se!


14/06/2011

75 anos da morte de Chesterton

Hoje, há 75 anos, morria Chesterton. Maise Ward em seu Gilbert Keith Chesterton, conta-nos os últimos momentos. 

“Monsenhor Smith o ungiu (...) [Padre Vicente] foi levado ao quarto do doente e cantou sobre o moribundo a Salve Regina. Este hino a Nossa Senhora é cantado na Ordem Dominicana sobre todo frade moribundo e foi certamente apropriado ao biógrafo de Santo Tomás e um ardente devoto de Nossa Senhora: ‘Salve Regina, mater misericordiae, vita dulcedo e spes nostra salve (...) E Jesum bendictum fructum ventris tui nobis post hoc exsilium ostende (...)’ 

“A caneta de Gilbert jazia sobre a mesa ao lado de sua cama e padre Vicente a tomou e a beijou. 

“Era 14 de junho de 1936, o Domingo dentro da oitava de Corpus Christi, a Festa na qual ele fora recebido na Igreja, 14 anos antes.” 

O que se seguiu foi então uma manifestação mundial de pesar. Não só seus amigos íntimos, mas muitos desconhecidos se lamentaram nas ruas de Londres. Conta-se que um homem nos escritórios do Times teria exclamado, quando soube da morte de Chesterton: “Meu Deus! Mas este não é o nosso Chesterton, é?” Um policial, no seu funeral, teria confidenciado: “Todos nós teríamos vindo, se tivéssemos podido nos afastar de nossas obrigações. Ele era um grande homem.” 

Cardeal Pacelli (depois Pio XII) enviou telegrama ao Cardeal Hynsley, em nome de Pio XI: “Santo Padre profundamente contristado pela morte do Sr. Gilbert Keith Chesterton, devotado filho da Igreja, dotado defensor da Fé Católica. Sua Santidade oferece paternal simpatia ao povo da Inglaterra assegura orações para o querido falecido, concede Benção Apostólica.” 

Fiquemos aqui, para terminar esta singela homenagem que este blog presta ao grande escritor inglês, com o último parágrafo de sua Autobiografia, livro que ele terminou de escrever poucos meses antes de morrer. 

“Esta história, portanto, só pode terminar como qualquer história de detetive deve terminar, com suas questões particulares respondidas e com seu problema principal resolvido. Milhares de histórias totalmente diferentes, com problemas totalmente diferentes terminaram com seus problemas resolvidos. Mas para mim, meu fim é meu início, segundo citação de Mary Stuart feita por Maurice Baring, e esta irresistível convicção de que há uma chave que consegue abrir todas as portas me traz de volta à memória o primeiro vislumbre do glorioso dom dos sentidos; e a sensacional experiência da sensação. E levanta-se de súbito à minha frente, com a forma clara e definida de antigamente, a figura de um homem que atravessa uma ponte e leva uma chave; da mesma forma que o vi quando, pela primeira vez, olhei para o país das fadas através do visor do peep-show[1] de meu pai. Mas eu sei que aquele que é chamado Pontifex, o Construtor da Ponte, é também chamado Porteiro, o Portador da Chave; e que tais chaves lhe foram dadas para ligar e desligar quando ele era um pobre pescador de uma província distante, às margens de um mar quase secreto.”


[1] Caixinha cheia de figurinhas que são vistas através de um visor. (N. do T.)

08/06/2011

Blog recomenda Resposta Católica

Um amigo e irmão católico, que prefere não se identicar, criou um sítio que este blog recomenda: Resposta Católica.

05/06/2011

50 anos de Vaticano II: uma visão bem humorada da teologia conciliar

Já disse aqui que vou me preparar para os 50 anos do Vaticano II, lembrando seus frutos, que são, segundo o Nosso Senhor, o modo de discernir o bem e o mal. Hoje, temos um vídeo bem humorado, mas tristemente verdadeiro sobre a teologia conciliar e até da liturgira conciliar.

Uma nota prévia ao vídeo: note que a editora que publica o compêndio teológico pós-moderno é a Agnatius, em contraposição à editora Ignatius, que publica obras católicas de peso e que é também mencionada. Note também a referência a um compositor, Marty Haugen, de músicas litúrgicas pastosas, características da Missa Nova.


03/06/2011

Carlos Nougué mata a cobra e mostra o pau

Nougué comenta sobre a reforma ortográfica que nos foi imposta. Uma frase no início dá o tom da coisa toda:

(...) a língua seria como a realidade-rio de Heráclito: seria puro fluxo, a ponto de não se poder falar duas vezes a mesma língua... (...)

Acessem  A Reforma Ortográfica — um Acinte à Sensatez (I). É imperdível!

01/06/2011

Leitora discorda, blog explica

Acerca de meu post O Papa podia, pela graça de Deus, ter ficado calado. Agora é tarde!, uma leitora me envia um comentário que me parece merecer outro post. Ela me escreve dizendo, entre outras coisas (o comentário dela está publicado na íntegra no referido post): Seu post me pareceu mto presunçoso

A presunção, suspeito, deve se referir a um pobre católico ousar discordar do Papa. Bem, nisso eu estou bem acompanhado, pois foram muitos os católicos (muito mais importantes que eu) que discordaram do Sumo Pontífice. Aliás, não há proibição alguma em se fazer isso, quando um Papa emite uma opinião puramente pessoal; e neste caso, cara leitora, uma opinião que fere, muito lamentavelmente, a Doutrina de Sempre da Igreja. 

A leitora ainda diz: O papa não fez mais do que externar o que qualquer católico de bom senso é capaz de concluir analisando a lei de Deus. Sinto muitíssimo em discordar. Pois a lei de Deus diz justo o contrário. 

O Papa diz: “Pode haver casos pontuais, justificados, como por exemplo a utilização do preservativo POR UM PROSTITUTO, em que a utilização do preservativo possa ser um primeiro passo para a moralização, uma primeira parcela de responsabilidade para voltar a desenvolver a consciência de que nem tudo é permitido e que não se pode fazer tudo o que se quer”. 

O que faz meu amigo Sidney Silveira concluir, num excelente post A camisinha do ‘prostituto’ e o Papa, o que TODO CATÓLICO DE BOM SENSO há de concluir: Ninguém dá o primeiro passo para moralizar-se pecando, mas sim arrependendo-se do pecado. Isso deveria ser o feijão-com-arroz do mais fundamental catolicismo, e mesmo do mais fundamental bom senso. 

A leitora faz ainda uma defesa do “mal menor”; o Papa estaria defendendo um mal menor. Ora, só pensa isso quem se esquece ou não conhece os NOVÍSSIMOS, quem pensa que esse papo de INFERNO é baboseira dos medievais. Para quem está rumando para o abismo, tanto faz correr (sem camisinha), como andar (com camisinha). O abismo chegará e a alma se perderá. 

A leitora aduz: Comentários como o desse post, no limite da argumentação, levam a conclusões absurdas... Como "seria melhor, então que a prostituta transmitisse hiv". Não, cara leitora, seria melhor que a (o) prostituta (o) não o fosse. Não, cara leitora, seria melhor que o Papa tivesse dito que prostituição é pecado mortal que levará quem a pratica, com ou sem camisinha, para o INFERNO. E perante a consideração acerca do INFERNO qualquer discussão sobre o uso da camisinha é, permita-me dizer, lamentável. 

A leitora termina com a lembrança do infinito: Prostitutas aidéticas existirão por mto tempo e tantas outras situações em que usar camisinha será infinitamente melhor do que não usar. Com ou sem manifestações do papa. Infinitamente melhor para quem, cara pálida? O INFERNO existe e se alguém morrer em pecado mortal é para lá que vai, com AIDS ou sem AIDS. Como escolher um mal menor numa situação como esta

Por isso eu desejei que o Papa não tivesse dito nada.