24/11/2010

Por que a academia adota a Evolução?

Em fevereiro deste ano a revista Whistleblower publica uma edição dedicada à fraude científica, ao uso da ciência como autoridade pública na deformação mental de milhões, na implantação de políticas mundiais completamente irreais; o título da edição é Hijacking Science [Seqüestrando a Ciência].

O título do post é o de um artigo, escrito por Marylou Barry, nesta edição. O subtítulo do artigo diz: “Grandes cientistas e intelectuais admitem a verdade: ‘Eu não quero acreditar em Deus’”.

É espantoso, inacreditável, lamentável, estarrecedor e nojento ler os depoimentos de homens ligados à ciência e à cultura sobre seus sentimentos mais mesquinhos e dá-los como argumentos para não acreditar em Deus.

A teoria da Evolução é uma desculpa esfarrapada para aqueles que não QUEREM acreditar em Deus. Porque eles “temem que voltemos a acreditar num plano divino”, segundo Gordon Rattray Taylor, ex-consultor científico da BBC. “Porque ela [a Evolução] supostamente exclui um criador”, como diz Dr. Michael Walker, ex-professor de Antropologia da Universidade de Sidney.

A evolução não é adotada por ser um fato científico comprovado, “Não porque ela seja provada por evidência logicamente coerente, mas porque a única alternativa a ela, a criação, é claramente inacreditável,” como afirma D.M.S. Watson, professor de Evolução na Universidade de Londres.

Sir Arthur Keith, falecido antropologista físico e chefe do Departamento de Anatomia do Hospital de Londres diz: “A Evolução é não provada e improvável, acreditamos nela porque a única alternativa é a criação, que é impensável.”

Materialismo é uma verdade absoluta, assim não podemos permitir um Pé Divino na soleira da porta,” diz Richard Lewontin, ex-professor de genética da Universidade de Harvard.

Dr. George Wald, Prêmio Nobel e professor emérito de biologia da Universidade de Harvard abre o jogo: “Eu não quero acreditar em Deus. Assim, escolho acreditar no que sei ser cientificamente impossível, geração espontânea e evolução.” Notem que o indivíduo é Prêmio Nobel e professor emérito de uma das mais famosas universidades do mundo. Imaginem quantos autores de livros escolares este cretino influenciou, livros estes de onde nossos filhos aprendem essa doença mental travestida de teoria científica.

Há mais depoimentos no artigo, mas termino com o depoimento do neto de Thomas Huxley, colega de Darwin, Sir Julian Huxley, ex-presidente da UNESCO: “Suponho que a razão de termos nos lançado sobre a Origem das Espécies foi que a idéia de Deus interferia com nossos hábitos sexuais.” Nobre razão!

Aí está, a teoria da Evolução tem como fundamento não dados experimentais, não coerência lógica, mas vontade de negar a existência de Deus e desejos sexuais irrefreáveis. Ela é filha de intelectuais moral e intelectualmente pervertidos. Mostrem estes depoimentos a seus filhos quando eles estiverem lendo, nos livros escolares, sobre esta tal “teoria”.

21/11/2010

O Papa podia, pela graça de Deus, ter ficado calado. Agora é tarde!

Mais um episódio do sofrimento da Igreja na atualidade. O mundo adorará as palavras do Papa e seu príncipe exultará de alegria.

Ver os links (ênfase no segundo link):

O que o Papa realmente disse

A camisinha do "prostituto" e o Papa.

Santa Catarina de Sena, rogai por nós. Santíssima Virgem, Senhora Nossa, rogai por nós.

19/11/2010

Um ateu religioso, ou um ignorante atrevido à beira de um ataque de nervos?

Um sujeito estranho, talvez ateu, talvez um anti-religioso, certamente um perturbado, escreve ao blog, cheio de uma ignorância atrevida, para protestar contra um texto de Michael Novak que traduzi tempos atrás: Ateus solitários da aldeia global – Parte I. Começo pelo seu “P.S.”: “Espero que a democracia impere e você nao seja parcial, deixando que seja publicado apenas o que te convem, pois se assim for, apenas estaria confirmando o radicalismo religioso.” Caro rapaz, de nome Ademir, isto aqui não é um espaço democrático, aqui não impera a democracia. No meu blog só é publicado o que me convém; foi por isso que eu o criei. E sim, eu sou um religioso radical, pois religião tem a ver com a Verdade e com ela não há relativismo.

Há frases memoráveis no comentário idiota do ateu, como esta: “A humildade começa por aí, o divino está dentro de você, basta você abrir as portas da percepção.” Puxa!, que humildade achar que o divino está dentro de você, à sua disposição.

Há também exortações ao blogueiro: “Repense sua posição, não castre sua razão, nao tenha preguiça intelectual, nao tenha vergonha de admitir que nao tem todas as respostas”; e “Leia um pouco dos filosofos gregos, eles conviviam com esta problematica religiosa que hoje foi substituida por outras crenças.” A primeira exortação é puríssima ignorância, falta de educação e um atrevimento de dar dó. A segunda é nonsense em estado sólido. Este infeliz nunca deve ter passado perto de um livro de Platão ou Aristóteles – Ademir, estes dois que citei são filósofos gregos, tá bom?

Começamos a duvidar do equilíbrio mental do infeliz leitor quando lemos: “Sei que é desesperador acreditar que nao existe ceu, nem inferno, nem recopensas, que a vida é uma descontinuidade da nao existencia. Mas se esforce, tvz assim, acreditamos que esta vida é a unica podemos fazer este mundo um lugar melhor para nossos filhos e nao um altar de intolerancias.” A situação do indivíduo é calamitosa. Ele não sabe escrever e nem pensar; acredita no divino em nós e, ao mesmo tempo, que a vida é uma descontinuidade.

Ele termina seu comentário (que não será publicado na íntegra, porque aqui só acontece o que eu quero, viu Ademir?), antes do “P.S.”, com “Um abraço”. Um abraço a você também, Ademir. Quando você escrever algo menos desequilibrado, talvez eu publique.

15/11/2010

Santo Tomás e Aristóteles superados – o ponto alto do CVII

Descobri, no livro História da Filosofia, de Giovanni Reale, que o suporte de Santo Tomás - Aristóteles - foi superado. O momento da superação, em termos teóricos, se deu com Ockham. As consequência: ciência mais refinada, com Galileu Galileu e Newton, levando a Einstein.

Em termos teológicos, o resultado foi a rreafirmação da fé na Revelação e afirmação do poder da Igreja sobre o Papa e até mesmo sobre os Concílios. O CVII, portanto, foi inevitável. A Igreja não pode mais voltar atras, a não ser que se torne Igreja Católica Protestante.

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Este foi um comentário que recebi a propósito do post Mais um fruto do Concílio Vaticano II. O valente prefere falar besteira anonimamente, claro!

Veja que o rapaz descobriu que Tomás de Aquino e Aristóteles estão superados e quem o informou disto foi Giovanni Reale, aquele mesmo que escreveu uma obra só de comentários sobre a Metafísica de Aristóteles. Claro que Reale, tendo tempo a perder, escreveu a obra, que é extraordinária, sobre alguém que já foi superado, só para se divertir e nos enganar.

É tamanha a confusão na cabeça do leitor que dá até dó. Ele lê uma descrição histórica das conseqüências das idéias de Ockham, feita por Reale, e toma aquilo como verdade absoluta. Ele toma história da filosofia como filosofia e esta como ciência. Ele considera que porque Ockham disse isto ou aquilo sobre a filosofia de Santo Tomás, pronto!, Santo Tomás está superado.

Caro leitor, no texto que você leu tem um parágrafo que parece ter-lhe escapado: “Tais são as conseqüências últimas da tese fundamental da separação entre razão e fé, entre a ordem espiritual e a ordem mundana, resultando sobretudo no primado do indivíduo sobre qualquer universal.” Você entende agora que Reale está descrevendo todas as conseqüências das idéias de Ockham em todos os planos, sem subscrevê-las e/ou afirmá-las verdadeiras?

É claro que o CVII é filho de Ockham, é claro que a Reforma é filha de Ockham, é claro que a ciência é filha de Ockham, e é claro que você é filho de Ockham.

Aos leitores interessados neste assunto, incluindo meu infeliz leitor, sugiro a leitura do livro “Ideas have consequences”, de Richard Weaver, cuja introdução eu traduzi no post A dissolução do Ocidente: uma introdução.

Só para terminar, informo ao leitor que a Igreja fez um Concílio Ecumênico onde ela respondeu a todas as estocadas dos seguidores de Ockham: foi o Concílio de Trento. Informo isto porque parece que os católicos protestantóides pós-conciliares imaginam que nada houve na Igreja antes do CVII.

13/11/2010

Mais um fruto do Concílio Vaticano II

Outro dia, publiquei um post, Frutos do Concílio Vaticano II, sobre um padre herege vociferando contra a Tradição da Igreja. As eleições no Brasil mostraram muito bem o quanto a heresia já penetrou no conjunto de padres e bispos brasileiros, de forma que talvez possamos concordar com Chesterton quando ele diz: “No passado, o herege se orgulhava de não ser herege. (...) O homem orgulhava-se de ser ortodoxo, orgulhava-se de estar certo. (...) Mas umas poucas frases modernas o fizeram vangloriar-se disso. Ele diz, com um sorriso consciente, “Acho que sou muito herético”, e olha para os lados à procura de aplauso. A palavra “heresia” não somente significa não estar errado; praticamente significa ser inteligente e corajoso.” É claro que a eleição só deixou a situação mais clara para quem não acompanha mais de perto a crise da Igreja depois do CVII.

Agora, um leitor, de nome Ricardo, me envia um comentário, com várias perguntas, no post A Igreja primitiva, uma vez mais. Ele começa o comentário com essas afirmações: “Angueth, sou católico-romano, mas faço uma pergunta aos leitores do blog: em que podemos basear essa exclusividade da Igreja Católica Romana? Muitos talvez pensem que, por eu estar fazendo este questionamento, não sou mais católico-romano. Pode ser, mas a pergunta continua: qual o fundamento desse exclusivismo?

Muitas coisas ocorrem a quem lê tais afirmativas. Primeiramente, ele admite que talvez não seja católico – “pode ser, mas a pergunta continua”. De outro lado, vemos que está disposto a deixar de ser católico por não saber responder a si mesmo a razão de a Igreja ser verdadeira e seus inimigos, falsos. Um católico assim é de fato um ser muito estranho.

Mas como condenar nosso pobre leitor, que é um fruto maduro do CVII? Como condenar seu protestantismo que já aparece bem nítido, quando tudo isso era previsível já logo depois do Concílio? De fato, os cardeais Ottaviani e Bacci escreveram ao Papa Paulo VI, dizendo sobre a nova liturgia (Novus Ordo): “Quiseram passar uma esponja em toda a teologia da Missa. Terminou como algo muito próximo da teologia protestante que destruiu o sacrifício da Missa”. Vários eminentes teólogos e observadores protestantes comemoravam o Concílio como uma capitulação da Igreja ao protestantismo, como o fim da era tridentina, como a negação do Concílio de Trento. Michael Davies cita vários destes depoimentos em seu livro “Pope John’s Council”. Por exemplo, Oscar Cullman, importante teólogo suíço, declarou: “As esperanças dos protestantes com relação ao Vaticano II não só foram cumpridas, mas as realizações do Concílio foram muito além do que se acreditava possível”.

Quem frequenta as missas modernas e principalmente lê o folheto O DOMINGO, tem uma grande chance de se tornar protestante, ou algo parecido ao leitor Ricardo. Sugiro a todos que lêem meus comentários a este famigerado folheto nos links aqui do lado direto. Daí vem a segunda forte impressão das frases inicias do comentário do Ricardo: o que ele pensará da Sagrada Comunhão? Como ele a recebe, todas as vezes que ele comunga? Será que ele relativiza a Eucaristia da mesma forma que ele relativiza a verdade? É muito possível que sim. Mas, de novo, como condená-lo? Como condená-lo, quando os próprios padres não respeitam a Presença Real na Hóstia Consagrada? Como condená-lo, se todos recebem a Comunhão na mão?

A situação terrível em que se encontra o leitor Ricardo é a da maioria dos católicos de hoje. É a situação terrível da crise monumental da Igreja. Neste ambiente, de que adianta dizer ao Ricardo que a Igreja é o único verdadeiro depósito da Fé, em contraposição com as mais de 30.000 denominações protestantes espalhadas pelo mundo? De que adianta dizer-lhe que a Presença Real, assim como todos os outros Sacramentos, está SOMENTE, na Santa Igreja Católica? Os católicos já não têm capacidade de acreditar, não na Igreja, não no Poder das Chaves, mas que existe verdade. Pois a mais poderosa arma contra o catolicismo não é a destruição da Fé em si, mas a destruição da Razão. Com a destruição da Razão, que foi promovida pelo Racionalismo, filho da Reforma, destruiu-se, na mente de todos, o conceito de Verdade. Sem este conceito, não há como ascender do imanente ao transcendente, da matéria ao espírito, do natural ao sobrenatural. O homem é assim desligado de sua essência transcendente e então, só então, todas as religiões podem ser comparáveis.

Quem tem a razão destruída pelo racionalismo não percebe as mínimas contradições lógicas das várias doutrinas e é incapaz de contemplar com admiração a extraordinária coesão lógica do edifício da Igreja Católica Apostólica Romana. Por exemplo, o leitor cita, de passagem, a doutrina da “sola scriptura”. Esta doutrina é logicamente auto-contraditória. Alguém que afirme que só acredita doutrinariamente no que está literalmente dito na Bíblia e em nada mais, desconhecendo como ilegítimo tudo o que a Tradição da Igreja declara, não percebe que para fazer isto sem contradição, seria preciso que a doutrina da “sola scriptura” estivesse expressa literalmente na Bíblia, o que não é verdade. Ou seja, ele acredita, em termos doutrinários, em algo externo à Bíblia, o que contraria sua afirmação inicial. Não é surpresa que o racionalismo trouxe uma era de misticismo irracional sem precedentes. Todas as mais loucas crenças orientais e também ocidentais invadiram nossa civilização, depois do ataque do racionalismo.

A confusão mental que se instalou transparece claramente no comentário do leitor, que depois de fazer uma quase declaração protestante, critica, ao final de seu comentário, os modernistas e liberais católicos, não percebendo que o modernismo (se é que ele está falando de modernismo na concepção de São Pio X) entrou na Igreja justamente por meio daqueles que subscreviam a heresia protestante, via doutrina do liberalismo. Ele não percebe que é MODERNISTA, até a medula.

Que dizer ao leitor, exceto sugerir-lhe que reze a Nossa Senhora para que ela lhe ilumine com a Graça da Santíssima Trindade, que cuide para que sua Razão não seja tragada pelo liberalismo protestante, que cuide para que sua Fé não seja destruída pelos padres modernistas e pela Missa Nova, para que ele perceba que antes de doutrina, antes de teoria, o catolicismo é uma PRESENÇA, que se atualiza em cada HÓSTIA SAGRADA e que garante que a Igreja Católica é a ÚNICA verdadeira, por onde, através dos Sacramentos, flui a graça de Deus?

08/11/2010

A Igreja Primitiva, uma vez mais

Os protestantes e católicos protestantóides, nunca conseguem esquecer a Igreja Primitiva, aquela que era totalmente diferente da atual, onde tudo era maravilhoso. Agora que tudo se perverteu – quem sabe não foi Constantino? – temos a Igreja atual.

Um anônimo, sempre um anônimo, que parece católico, escreve um comentário ao post Efeitos colaterais de Chesterton dizendo: “A Igreja Primitiva não era nem protestante nem católica. Ela protestava contra o judaísmo e o Império Romano, e continha o germe da Igreja Católica.”

Ora!, quando então a Igreja Católica Apostólica Romana se formou. Quando aquele germe brotou? Se Pedro não foi o primeiro papa da Igreja Católica, quem o foi? Onde ela começou? É curioso que o comentarista que fala uma tolice desta é o mesmo que termina seu comentário dizendo: “Analisemos, pois, a História da Igreja do Nosso Senhor Jesus Cristo como uma das fontes de conhecimento sobre a verdadeira Igreja.” Que história da Igreja você anda lendo, caro leitor? Se você ler os Atos e depois a História Eclesiástica de Eusébio de Cesaréia, verá a Igreja Católica a existir desde aproximadamente o ano 33. A Igreja Primitiva era a Igreja Católica, que se mantém até hoje. Talvez seja interessante ler este post.

Mas, o leitor anônimo, descamba para o nonsense quando diz: “O protestantismo, sob essa perspectiva, também sempre esteve no cerne da Igreja Católica Apostólica Romana como potencial a ser atualizado mediante as circunstâncias.” Isso é simplesmente heresia, das mais explícitas. Mas os católicos hoje em dia (se é que o leitor anônimo é mesmo católico) parecem não entender o que é heresia, acham que podem ter opinião própria sobre tudo, é a tal da liberdade.

O leitor confunde lutar contra heresias, desde dentro da Igreja, e lutar contra a Igreja em seu interior. Neste sentido, ele acena com a possibilidade de Santo Agostinho ser um protestante, assim como Lutero. Sim, ele não diz isto explicitamente, e até diz que Lutero foi um idiota e analfabeto, mas não é difícil tirar esta conclusão do que ele escreve. E ainda diz que Lutero deu um sobre-fôlego ao cristianismo quando protestou contra a situação então vigente. 

Bem, aqui eu jogo a toalha. O leitor fala da Igreja Primitiva, da Igreja de Cristo, da Igreja Católica, diz que Lutero foi um idiota, mas deu fôlego ao cristianismo que, neste ponto, já não sei mais o que é. Acho mesmo que o leitor é protestante e ainda não descobriu isso.

Fico aqui com Belloc que dizia que não existe e nunca existiu uma religião chamada cristianismo. Existiram e sempre existirão a Igreja e seus inimigos.

07/11/2010

O diabo rodeia-vos como um leão a rugir (1 Ped 5:8)

Nota do blog: trecho do sermão XXXV.
O demônio gosta muito de enganar as pessoas com uma exagerada melancolia. Quando vemos quão fracos e inclinados ao pecado somos por natureza, como dissemos, ficamos tristes e miseráveis. Aí se aproxima o leão, o diabo, e sussurra: “Você vai gastar toda a sua vida em tristeza e penitência? Você seria um tolo! Divirta-se como os outros fazem. Tenha algum prazer na vida. Deus cuidará de que você se arrependa em seu leito de morte. Faça o que quiser e aproveite a vida enquanto você é jovem; haverá tempo suficiente para ser santo na sua velhice.” Oh, crianças, tomem muito cuidado enquanto há luz, para que a escuridão não lhes peguem despreparadas! Sede sóbrias, vigiai, e tomai muito cuidado. Vocês viverão a vida apenas uma vez; e quando morrerem, será que encontrarão em vocês “as plantas que Meu Pai no céu não plantou,” das quais o próprio Nosso Senhor disse que “deviam ser arrancadas pelas raízes”? Crianças, sejam sábias e considerem estas questões cuidadosamente.
O demônio pode nos causar todos os tipos de problemas. “Oh,” dizem as pessoas, “se ao menos eu tivesse um diretor espiritual com quem conversar! Tenho as mais temerosas idéias e estou num estado terrível.” Bem, minha querida criança, eu conheço muito as idéias que o demônio pode colocar em nossas cabeças, e meu conselho é este: o que o demônio coloca em sua cabeça, você retira de lá; esteja em paz e entregue seu coração a Deus. Não preste atenção a tais idéias, não deixe seus pensamentos se fixarem nelas, deixe-as simplesmente passar pela sua mente. Vocês sofrerão frequentemente tais experiências dolorosas; isto é obra do demônio e surge da melancolia exagerada. Ele acabará levando-a ao desespero. “Nada tem valor,” você dirá. O que fazer, então? Deposite a carga de todas as suas preocupações em Deus, ancore-se n’Ele. Quando os marinheiros estão em perigo e pensam que vão encalhar nas pedras, lançam sua âncora e ela afunda no fundo do Reno, e isto os salvam. Devemos fazer o mesmo; quando o demônio nos ataca com tentações horríveis, da mente ou do corpo, nada há a fazer exceto lançar nossa âncora, a âncora da perfeita confiança e esperança em Deus. Não importam os remos e o leme, a âncora é tudo que precisamos; e isto é o que você deve fazer em cada sofrimento da alma ou do corpo.

04/11/2010

Efeitos colaterais de Chesterton

Meus trechos favoritos do texto de Chesterton, Educação por Meio dos Contos de Fadas, são dois. O primeiro é:

A educação real consiste no fato de que vemos além de símbolos e de meros mecanismos da época em que nos encontramos: a educação consiste precisamente na percepção de uma simplicidade permanente que sobrevive por trás de todas as civilizações; a vida que é mais que alimento; o corpo que é mais que vestuário. O único objetivo da educação é fazer-nos ignorar os meros esquemas de educação. Sem educação estamos num perigo horrível e mortal de levar a sério as pessoas instruídas. A última das modas da cultura, o último dos sofismas do anarquismo, nos arrebatarão se não formos educados: não saberemos quão antigas são as novas idéias.

E o segundo é assustador: “Um dragão de sete cabeças é, talvez, um monstro muito assustador. Mas uma criança que nunca ouviu falar dele é um monstro muito mais assustador.

Não é que eu descobri tal monstro, quer dizer, tal criança, que não leu contos de fada! Ele escreve para o blog dizendo candidamente: “Obrigado, professor, precisava mesmo de algo pra dormir...zzzzz.” Este é o efeito que tem Chesterton se lido por idiotas. O cérebro, não agüentando a carga de senso comum que nos cabe a todos como seres humanos, fecha para balanço. E o indivíduo não tem nem vergonha de se declarar imbecil publicamente; faz isso desabridamente!

Já vi Chesterton enraivecer as pessoas, já o vi diverti-las, já o vi convertê-las, já o vi enternecê-las, mas nunca o tinha visto adormecê-las. Acho que se contassem para ele o caso deste meu infeliz leitor, ele soltaria uma sonora gargalhada! Foi o que eu fiz, quando li o comentário.

01/11/2010

Educação por Meio dos Contos de Fadas

Gilbert Keith Chesterton
The Illustrated London News, 2/12/1905

Nota introdutória do blog: Neste artigo de jornal, nos deparamos com a defesa intransigente de Chesterton do senso comum; da racionalidade do comportamento da grande maioria das pessoas, em grande parte da existência do homem na terra. Ele defendia permanentemente este senso-comum contra as excentricidades do mundo moderno, excentricidades estas que surgiam, e ainda surgem, revestidas das credenciais das novidades avassaladoras, mas que são apenas velhas idéias fracassadas. Isso valeu a Chesterton o título de “apóstolo do senso comum”.

As pessoas que mais falam em “mudança” e “progresso” são as que menos conseguem imaginar, realmente, qualquer alteração nos atuais testes e métodos de vida. Por exemplo, elas fazem do “ler e escrever” um teste para todas as idades e todas as civilizações. Ler e escrever são em si meras realizações, realizações deliciosas e empolgantes, como tocar o bandolim ou andar de montanha russa. Algumas realizações estão na moda num momento, outras noutro. Em nossa civilização, quase todos podem ler. Na civilização sarracena, quase todos podiam cavalgar. Mas as pessoas aplicam os três “R’s”[1] a toda a história humana. Elas dizem, num tom de voz de quem está chocado: “Você sabia que na Idade Média não se conseguia encontrar um cavalheiro em dez que soubesse assinar o próprio nome?” Isto é análogo a um cavalheiro medieval ter dito horrorizado: “Você sabia que no reino de Eduardo VII, sequer um em dez cavalheiros sabia como usar um falcão mensageiro?” Ou, falando mais precisamente, seria como se um cavalheiro medieval expressasse perplexidade porque um moderno cavalheiro não consegue adornar seu brasão de armas. O alfabeto é um conjunto de símbolos arbitrários. No século XIV, todo cavalheiro conhecia um; no século XX, todo cavalheiro conhece outro. O primeiro cavalheiro é precisamente tão ignorante por não saber que “gato” se soletra g-a-t-o, quanto é o segundo cavalheiro por não saber que a Cruz de Santo André é chamada de santor, ou que verde e escarlate não combinam em heráldica.

Falamos, com típico fanatismo e estreiteza, do Alfabeto. Mas há, na verdade, um grande número de alfabetos, além do alfabeto de letras. O alfabeto de letras era pouco usado na Idade Média: esses outros alfabetos são pouco usados agora. Certo número de soldados aprendem a transmitir suas mensagens acenando abruptamente pequenas bandeiras. Outros conversam entre si de um modo íntimo e loquaz por meio de reflexos da luz do sol em espelhos. Esses alfabetos são agora realizações tão peculiares e restritas quanto a escrita era na Idade das Trevas. Eles podem se tornar algum dia um hábito tão difundido e universal quanto a escrita é agora. Em alguma era futura poderemos ver uma dama e um cavalheiro, um de cada lado da mesa, discutindo de forma animada acenando bandeirinhas um para o outro. Poderemos ver distintas senhoras nas janelas de seus aposentos, com seus espelhos de maquiagem voltados para a rua, agitando-os violentamente a fim de se comunicarem como uma amiga a alguns quilômetros de distância. Isto será especialmente satisfatório, pois lhes proporcionará um uso para seus espelhos, artigos que elas, no presente, consideram inteiramente sem raison d’être.

Quão estranho é, então, que tão constantemente pensemos que a educação tenha algo a ver com tais coisas como ler e escrever! Ora!, educação real consiste em não ter nada a ver com coisas como ler e escrever. Ela consiste, no mínino, em ser independente delas. A educação real consiste no fato de que vemos além de símbolos e de meros mecanismos da época em que nos encontramos: a educação consiste precisamente na percepção de uma simplicidade permanente que sobrevive por trás de todas as civilizações; a vida que é mais que alimento; o corpo que é mais que vestuário. O único objetivo da educação é fazer-nos ignorar os meros esquemas de educação. Sem educação estamos num perigo horrível e mortal de levar a sério as pessoas instruídas. A última das modas da cultura, o último dos sofismas do anarquismo nos arrebatarão se não formos educados: não saberemos quão antigas são as novas idéias. Pensaremos que a Ciência Cristã[2] é realmente todo o cristianismo e toda a ciência. Pensaremos que as cores artísticas são apenas as cores da arte. O homem deseducado sempre se importará excessivamente com complicações, com novidades, com a moda, com a coisa mais recente. O homem deseducado será sempre um dândi intelectual. Mas o negócio da educação é nos contar a respeito de todas as diversas complicações, de toda a estonteante beleza do passado. A educação impõe-nos conhecer, como disse Arnold,[3] todas as melhores literaturas, todas as mais belas artes, todas as melhores filosofias nacionais. A educação nos impõe conhecê-las todas para que possamos passar sem todas elas.

Outro dia, vi num jornal um surpreendente exemplo de tudo isso. Parece que a Duquesa de Somerset visitou uma escola pública em algum lugar em que as crianças aprendiam contos de fadas, e em seguida ela visitou um orfanato em algum outro lugar e disse que contos de fadas estão repletos de “contra-sensos”, e que seria muito melhor ensinar às crianças sobre Júlio César “ou outros grandes homens”. Aqui temos uma completa incapacidade de distinguir entre o normal e eterno, e o anormal ou acidental. Orfanatos são acidentais e anormais; eles serão todos consumidos pela ira de Deus. Escolas públicas são anormais; encontraremos afinal, espero, algum tipo mais razoável de educação democrática. Duquesas são anormais; elas são um produto peculiar da combinação da velha aristocracia com a nova mulher. Mas o conto de fadas é normal como pão e leite. A civilização muda; mas o conto de fadas nunca muda. Alguns dos detalhes do conto de fadas podem nos parecer estranhos; mas seu espírito é o espírito do folclore; e folclore é, em tradução precisa, a expressão alemã para senso-comum. A ficção, a moderna fantasia e todo aquele mundo excêntrico em que vive a Duquesa de Somerset podem ser descritos em uma frase. A filosofia deles significa coisas ordinárias vistas por pessoas extraordinárias. O conto de fadas significa coisas extraordinárias vistas por pessoas ordinárias. O conto de fadas está repleto de saúde mental. O conto de fadas consegue ser mais são a respeito de um dragão de sete cabeças que a Duquesa de Somerset sobre a escola pública.

Pois todo o negócio dos contos de fadas é simplesmente o antigo e duradouro sistema da educação humana. Um dragão de sete cabeças é, talvez, um monstro muito assustador. Mas uma criança que nunca ouviu falar dele é um monstro muito mais assustador. O mais louco grifo ou quimera não é uma suposição tão extravagante quanto uma escola sem contos de fadas. Através dos comentários superficialmente registrados da Duquesa de Somerset pode-se ler a obscura e extraordinária opinião de que um conto de fadas é algo fantástico, algo artificial, algo da natureza de uma pilhéria. É claro que o diametralmente oposto é verdadeiro. Os contos de fadas são a mais antiga, a mais séria e a mais universal forma de literatura humana. É a escola pública que é fantástica. É o orfanato que é artificial. É a Duquesa de Somerset que é uma pilhéria. Toda a raça humana que vemos andar por todos os lugares é uma raça mentalmente alimentada com contos de fadas tão certamente quanto é uma raça fisicamente alimentada com leite. Se você abolisse os dragões de sete cabeças, você simplesmente aboliria as crianças. Alguns pequenos girinos desumanizados e de cabeças inchadas poderiam permanecer, representando uma lasciva pretensão de infância; mas eles provavelmente morreriam cedo, especialmente se tivessem sido criados à base de Júlio César e sua vida. Algumas partes da vida de Júlio César, se você contasse cada detalhe delas, pareceriam ser um pouco inadequadas para a edificação de crianças; especialmente suas primeiras aventuras. Mas se cada detalhe de sua vida fosse contado, a história começaria com uma vívida descrição do quanto ele gostava de contos de fadas. De alguns dos contos de fadas ele continuou gostando até o fim de sua vida, pois ele era excessivamente supersticioso, como o são todos os homens de grande intelecto que não encontraram uma religião.

Temos aqui, então, um curioso exemplo de uma pessoa tomando erradamente uma atmosfera social temporária como se fosse a eterna sanidade. Pois, para começar, mesmo na simples questão do fato físico, os contos de fadas são um quadro da vida permanente da grande massa da espécie humana muito mais realista que a mais realista ficção. A maior parte da ficção realista trata das modernas cidades – isto é, de um curto período de transição, no menor recanto do menor dos quatro continentes. Os contos de fadas tratam daquela vida do campo, do casebre e do palácio, daquelas relações simples com a raposa e com o rei, que são realmente a experiência do maior número de homens durante o maior número de séculos. O fazendeiro real, na maior parte dos lugares reais, manda seus três filhos procurarem a própria sorte; ele sabe excepcionalmente bem que eles não a encontrarão com ele. O rei real, da maioria das casas reais da terra, está realmente pronto a oferecer a algum excêntrico aventureiro “a metade de seu reino”. Seu reino é, para começar, tão excepcionalmente pequeno que a divisão não parece anormal. Mesmo nestas questões físicas, o conto de fadas parece incrível apenas porque estamos numa posição algo excepcional. Parece-nos incrível porque a grande civilização que construímos é uma coisa especialista, singular e algo mórbida. Em resumo, ele nos parece incrível porque nós próprios logo nos tornaremos incríveis.

No mesmo jornal, ou em algum outro similar, deparo-me com outro exemplo da mesmíssima falta de educação ampla e de senso de proporção histórico. Outra senhora, de análoga posição social, escreveu, no Daily Telegraph, sugerindo que as crianças das escolas públicas deveriam ser desencorajadas a se vestirem – ou melhor, que seus pais deveriam ser desencorajados a vesti-las – de modo sofisticamente extravagante, com laços, veludos e fitas. Ela insistia que os garotos de Eton ou Harrow[4] deviam se vestir com sobriedade, de preto e branco, ou cinza. Mas ela não percebe que isso acontece apenas porque, neste momento, a moda da aristocracia é se vestir com sobriedade, de preto e branco, ou cinza. Um garoto de Eton se veste sobriamente, não porque isto seja viril, mas porque está na moda. E ela não parece ter consciência de que, há não mais de um século, toda a aristocracia se vestia com laços, veludos e fitas. Os pais de crianças pobres estão novamente fazendo a coisa humana normal. Estão vestindo suas crianças como os cavalheiros se vestiam ontem, e como podem estar se vestindo amanhã.


[1] Os três erres se referem às palavras, em inglês, relativas às supostas três habilidades básicas de uma educação orientada: reading [leitura], writing [escrita], arithmetic [aritmética]. As palavras, embora não comecem todas com “r”, têm um fonema forte que envolve esta letra. (N. do T.)
[2] Religião fundada em 1866 por Mary Baker Eddy. Seus adeptos acreditam que o homem e o universo são coisas espirituais em si e que o mal e o erro são produtos da existência material. Ver Chesterton e a Ciência Cristã. (N. do T.)
[3] Matthew Arnold foi escritor e crítico cultural inglês. Foi um dos mais influentes escritores ingleses do século XIX. (N. do T.)
[4] Escolas particulares da alta nobreza inglesa. Eton foi fundada no século XV e Harrow no século XVI. (N. do T.)