28/10/2019

Papa Francisco e a Nova Religião II


A nova religião que nasceu com o Concílio Vaticano II e agora é apresentada explicitamente pelo Papa Francisco (ver post do blog) tem origem muito antiga e apareceu, ao longo da história, em vários movimentos heréticos. A nova religião, e com ela todos os heresiarcas de todos os tempos, procura e tenta implantar uma nova cosmovisão, diferente da cosmovisão católica. Para isso, há que se modificar, suplantar, substituir três aspectos da cosmovisão católica, a saber: a cosmogonia católica, a criação da Terra e de tudo que está sobre ela, a criação do homem e sua relação com Deus. 

A cosmovisão católica está assim baseada nos três primeiros capítulos do livro do Gênesis. Por isso, para modificar essa cosmovisão será preciso atacar, modificar, desmoralizar, a interpretação que a Igreja dá a esses três capítulos do primeiro livro da Bíblia. Aí se concentraram todos os nossos inimigos. Não à toa, a Pontifícia Comissão Bíblica, em 1909 sob o papado de São Pio X, emitiu um documento, ratificado e mandado publicar pelo Papa sobre a historicidade e literalidade desses capítulos ( abaixo um tradução livre do documento em italiano). 

A desmoralização da Queda veio de vários lados, da teoria do "bom selvagem" de Rousseau, do lado político-social, da psicanálise de Freud, do lado "científico", por exemplo. Nascemos bom, segundo Rousseau. Tudo que fazemos é originado em pulsões internas incontroláveis, das quais não temos culpa e que não podemos reprimir sob pena de tornarmo-nos neuróticos.

A desmoralização da criação do homem e dos animais vem da teoria de Darwin. Embora o Gênesis use o termo "segundo sua espécie" para criação dos animais e vegetais inúmeras vezes, nos dizem hoje que as espécies são criadas de maneira dinâmica, por processos que envolve o acaso e o tempo (muito tempo). O homem seria apenas o ápice desse processo cego que mistura tempo e acaso. Ou seja, o tempo e o acaso substitui Deus no processo de criação.

A desmoralização da cosmogonia bíblica vem da teoria do Big Bang, que é a mais moderna teoria da criação do Universo. Correlata a essa teoria está o conceito de expansão do Universo e os tais 15 bilhões de anos de existência do mesmo. Aqui Deus é substituído por uma misteriosa explosão ocorrida a bilhões de anos atrás que ninguém é capaz de descrever. 

Dois grandes cientistas evolucionistas resumem bem todo o programa da ciência moderna, não só da teoria da evolução. Copio um trecho de outro post Por que a academia adota a Evolução.

"A evolução não é adotada por ser um fato científico comprovado, 'Não porque ela seja provada por evidência logicamente coerente, mas porque a única alternativa a ela, a criação, é claramente inacreditável,' como afirma D.M.S. Watson, professor de Evolução na Universidade de Londres.

"Sir Arthur Keith, falecido antropologista físico e chefe do Departamento de Anatomia do Hospital de Londres diz: 'A Evolução é não provada e improvável, acreditamos nela porque a única alternativa é a criação, que é impensável.'"

Desacreditar os três primeiros capítulos da Gênesis é muito eficiente, se não houve a Queda, se o Universo foi criado por um processo de acaso e tempo (Big Bang é a mais moderna tentativa), e se as espécies evoluem, não há o menor sentido nos Evangelhos, não há o menor sentido na Cruz e na Igreja. Assim, podemos fazer o que quisermos, inclusive adorar todas as religiões.

Não é preciso dizer que todas as tentativas ditas científicas para desacreditar os três primeiros capítulos do Gênesis não são ciência, mas elucubrações; não há prova científica para nenhuma das tentativas de desmoralizar o Gênesis

Mas a Igreja, ao longo do tempo, começando no século XIX, passou a absorver pouco a pouco essas ideias malucas. Com medo de confrontar o mundo moderno, no que ele tinha de mais "sofisticado", que era a sua ciência, a Igreja, por meio de sua alta cúpula, sucumbiu e tentou logo modificar sua religião para uma que se adaptasse sem muitas arestas aos ditames científicos modernos.

São estas as raízes mais profundas da nova religião que desponta diretamente do Vaticano. Pois o paganismo da Pachamama não se atrita com a ciência moderna. Aliás, os cientistas modernos são capazes de participar de ritos pagãos com a consciência mais tranquila possível. 

O que eles não suportam é a Cruz de Nosso Senhor. Ah, isso não!


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PONTIFÍCIA COMISSÃO BÍBLICA

SOBRE O CARÁTER HISTÓRICO
DOS PRIMEIROS TRÊS CAPÍTULOS DA GÊNESE

I. Os vários sistemas exegéticos que foram concebidos e apoiados por uma natureza científica aparente para excluir o sentido histórico literal dos três primeiros capítulos do livro de Gênesis, são solidamente fundados?

Resposta: Não.

II. Apesar do caráter e do gênero histórico do livro de Gênesis, o vínculo particular dos três primeiros capítulos entre eles e com os capítulos seguintes, o testemunho múltiplo das Escrituras, tanto do Antigo como do Novo Testamento, o pensamento quase unânime dos Padres da Igreja e a opinião tradicional, transmitida pelo povo de Israel e sempre mantida pela Igreja, podemos ensinar que esses três primeiros capítulos do Gênesis contêm não narrativas de eventos que realmente aconteceram, isto é, respondendo à realidade objetiva e à verdade histórica, mas contêm ou fábulas retiradas das mitologias e cosmogonias dos povos antigos e adaptadas pelo autor sagrado à doutrina monoteísta graças à eliminação de todos os erros politeístas, ou alegorias e símbolos, sem qualquer base na realidade objetiva.

Resposta: Não para ambas as partes.

III. Pode-se, em particular, questionar o sentido histórico literal daqueles capítulos nos quais é uma questão de fatos que tocam os fundamentos da religião cristã: tais são, entre outros, a criação de todas as coisas operadas por Deus no início de tempo; a criação particular do homem; a formação da primeira mulher do primeiro homem; a unidade da raça humana; a felicidade original dos progenitores no estado de justiça, integridade e imortalidade; a ordem dada por Deus ao homem para testar sua obediência; a transgressão da ordem divina por instigação do diabo sob a aparência de uma cobra; a perda dos ancestrais daquele estado primitivo de inocência; e a promessa de um futuro Redentor?

Resposta: Não.

IV. Na interpretação daqueles capítulos que os Padres e Doutores da Igreja interpretaram de maneira diferente, sem deixar nada certo e definido, a analogia da fé é permitida, sem prejuízo do julgamento da Igreja e de seguir e defender a opinião que cada um julga mais prudente?

Respostas: Sim.

V. Deve-se sempre e necessariamente tomar no sentido próprio todas as palavras e frases únicas encontradas nos capítulos acima mencionados, para que nunca seja permitido afastá-las, mesmo quando as mesmas expressões parecerem ser usadas no sentido manifestamente impróprio, metafórico ou antropomórfico quando a razão nos impede de apoiar o bom senso ou a necessidade obriga a abandoná-lo?

Resposta: Não.

VI. Dado o sentido literal e histórico, pode uma interpretação alegórica e profética ser usada de maneira inteligente e útil em algumas passagens desses capítulos, de acordo com o exemplo ilustre dos Santos Padres e da própria Igreja?

Resposta: Sim.

VII. Desde que escreveu o primeiro capítulo de Gênesis, o autor sagrado não tinha a intenção de ensinar cientificamente a constituição íntima das coisas visíveis e a ordem completa da criação, mas queria dar a seu povo um conto popular conforme a linguagem comum de seus contemporâneos, e adaptado aos sentimentos e habilidades dos homens, é necessário procurar escrupulosamente e sempre a propriedade da linguagem científica?

Resposta: Não.

VIII. Na denominação e distinção dos seis dias de que o Gênesis fala no primeiro capítulo, pode-se usar a palavra Yom (dia) tanto no sentido apropriado de um dia natural, quanto no impróprio de um certo espaço de tempo, e é legítimo para exegetas contestar esta questão livremente?

Resposta: Sim.

Em 30 de junho de 1909, na audiência graciosamente concedida aos dois Reverendos Consultores de Secretariado, Sua Santidade [Papa Pio X] ratificou as respostas acima mencionadas e ordenou que fossem publicadas .

Roma, 30 de junho de 1909.


20/10/2019

Papa Francisco e a Nova Religião

O Papa Franciso afirma a um jornalista que não acredita na divindade de Nosso Senhor. O jornalista publica e a resposta do Vaticano não desmente a afirmativa. Há dois anos, o mesmo jornalista publicou que o Papa Francisco não acredita no Inferno. O Vaticano reagiu de modo semelhante.

Imaginem uma situação hipotética de um filho que lê num jornal que seu pai teria assassinado quatro pessoas em um bar. O filho pergunta: "Pai, acabo de ler que o senhor assassinou quatro pessoas num bar". O pai responde ao filho: "Filho, o repórter distorce as coisas, esse pessoal sempre é assim." O filho certamente sairia atordoado com esse diálogo. "Meu pai matou ou não matou quatro pessoas num bar?", seria a reação mais saudável do pobre filho.

Penso que há muita coerência interna nas duas "não-crenças" do Papa Francisco. Coerência também com a religião do Concílio Vaticano II e com a Missa Nova.

Raciocinemos. Se Nosso Senhor não é Deus, sua morte não é Redentora. Além disso, a instituição da Missa, na quinta-feira Santa, é apenas uma festa de rememoração da morte de uma pessoa ilustre de quem os apóstolos gostavam muito. Depois de sua morte, eles, os apóstolos, resolveram se reunir e repetir os gestos desse grande homem (o tal Jesus de Nazaré) só para lembrar os bons tempos que eles passaram juntos; uma espécie de festa comemorativa, com comes e bebes. A Presença Real é uma crença sem sentido. A Missa Nova é uma festa, um memorial daquele evento, daquele grande homem, o tal Jesus de Nazaré. Assim, a comunhão na mão, de pé, é bastante razoável; as músicas populares na Missa coadunam bem com uma festa.

A inexistência do Inferno também é coerente, não havendo Redenção é uma baita sacanagem de Deus nos mandar para o Inferno. Que pai bondoso faria isso com os filhos? Assim, o Inferno não é mais mencionado nos sermões da Missa Nova.

Sim, caem por terra também os milagres daquele homem extraoridário, o tal de Jesus de Nazaré. É que os apóstolos, vocês sabem, gostavam muito dele e exageraram em situações puramente naturais. Por exemplo, Jesus não expulsou demônios dos possuídos. É que vocês, católicos tradicionais, não entendem metáforas. Jesus, com sua bondade, com seu carisma de homem generoso, apenas acolheu esses indivíduos, bateu um papinho com eles e eles saíram aliviados. Foi uma espécie de consulta psicanalítica avant la lettre. Isso tudo ouvimos nos sermões modernos.

Outra consequência disso é que os dogmas marianos são todos falsos, pura crendice popular. O dogma da Mãe de Deus, o da Virgindade Perpétua, o da Imaculada Conceição e do da Assunção. O quinto dogma, que todos esperavam ser proclamado no Concílio Vaticano II, o da Medianeira de Todas as Graças, não tem o menor sentido e nisso o CVII foi coerente. 

O Concílio Vaticano II e a Missa Nova já prepararam todo mundo para aceitar as "não-crenças" do Papa Francisco. Estamos surfando nas ondas da nova religião, sem precisar entrar nas complicações teológicas que só esse pessoal retrógrado, esses católicos tradicionais, teimam em trazer à tona. A face da nova religião é essa: sem Redenção, sem Presença Real, sem a Intercessão da Virgem Santíssima e, finalmente, sem Inferno. 

Carpe diem, quam minimum credula postero! 

12/10/2019

Católicos e cristãos


O termo cristão foi criado pelos católicos, logo depois da Redenção, para aqueles que eram seguidores de Cristo. Até a revolta de Lutero, nunca houve nenhuma diferença entre os termos cristão e católico; eram sinônimos. Mas depois de 1517, há diferenças abissais entre os dois termos. Cristão foi apropriado pelos protestadores da autoridade Papal; como se fosse possível ser cristão sem a autoridade do Papa.

Hoje, no Brasil, há uma espécie de aliança política entre cristãos e católicos, pelo "bem do Brasil". Essa aliança não significa mais que um ajuntamento político de pessoas, ditas de direita, que entraram na luta pelos corações dos brasileiros. Essa aliança, embora apenas de cunho político imediato, é vendida como uma espécie de reconstrução da Civilização Ocidental. É vendida também como um resgate do destino do povo brasileiro que sempre, supostamente, teria sido cristão. 

Ora, o brasileiro é obra do catolicismo. Não foram protestantes que fundaram o Brasil; foi o reino católico de Portugal. Quem nos educou e converteu foi a Companhia de Jesus; não foram Calvino e Lutero, não foram pastores protestantes. Aliás, quem criou a tal Civilização Ocidental foi a Igreja Católica. Se fosse para apontar um indivíduo, uma ordem monástica, que realizou tal criação, não hesitaria em apontar São Bento, o Patrono da Europa, e sua ordem como os criadores de tal civilização. Quem regulou a criação da Civilização Ocidental foi a Regra Monástica de São Bento, suas 73 regras. Mas hoje, no Brasil, fazem sucesso as 12 regras para a vida, de um certo Jordan Peterson. 

Hoje vemos católicos e protestantes de mãos dadas para o "bem do Brasil". O bem maior de Brasil é permanecer (voltar a ser) tão católico quanto foi no início. Voltar à devoção de seus patronos; primeiro São Pedro de Alcântara, depois Nossa Senhora Aparecida. O bem maior do Brasil é deixar de ser cristão e se tornar (voltar a ser) católico, sob o papado da Igreja, sob o Reinado de Nosso Senhor Jesus Cristo, e não sob qualquer pastorzinho de YouTube ou do Congresso Nacional. 

Lembremos da máxima de Hilaire Belloc: não existe cristianismo, só existem a Igreja e seus inimigos. 

Que Nossa Senhora Aparecida, em seu dia de festa, nos proteja a todos!

06/10/2019

São João e Bolsonaro


Votei em Bolsonaro, sugeri voto em Bolsonaro e votaria de novo em Bolsonaro. Dito isto, passo a tecer algumas considerações sobre nosso presidente.

Em recente discurso na ONU, além de muitas coisas boas que ele disse, Bolsonaro lembrou, como desde a campanha, o versículo 32, do capítulo 8, do Evangelho de São João: "conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres". Isto dito na ONU, na ONU globalista, ateia, na ONU anti-pessoa, como diria Nelson Rodrigues, lava a nossa alma. Um católico que assiste à Missa de Sempre sabe a centralidade do Evangelho de São João, já que em toda Missa ele ouve o Evangelho final, que são os 14 primeiros versículos desse Evangelho. 

Alguns dias antes do discurso da ONU, Bolsonaro apareceu num templo protestante sendo abençoado por Edir Macedo. Alguns católicos se indignaram publicamente, em canais do YouTube. A meu ver, se indignaram por razões erradas. Indignaram-se por Macedo ter sido admirador da Dilma, que na mesma ONU propusera a estocagem de vento. Indignaram-se pelo aparente comunismo de Edir Macedo. Indignaram-se porque Bolsonaro se diz católico. 

Ora, há duas ordens de considerações a serem feitas em relação ao evento. Primeiramente, o ato de Bolsonaro está completamente de acordo com a prática do catolicismo modernista adotado pela Igreja pós-Concílio Vaticano II. Beijar o Corão, prestar homenagens a ídolos pagãos, instalar a estátua de Lutero no Vaticano, emitir selo comemorativo dos 500 anos da Reforma Protestante que mostra Lutero e Melachton ao pé da Cruz de Nosso Senhor nos lugares de São João (ele de novo) e Nossa Senhora, etc., são práticas comuns na Igreja atual. Não seria impensável um alto dignatário da Igreja receber a benção de Edir Macedo. Não crucifiquemos Bolsonaro por isto. Se ele for realmente católico como afirma, isso não está em desacordo com a Igreja de hoje, que Corção chamava de a Outra. 

Em segundo lugar, busquemos no próprio Evangelho de São João uma significativa passagem que pode nos orientar em toda essa discussão. Jesus diz: "Eu sou o pão da vida. Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram. Este é o pão que desceu do céu, para que aquele que dele comer não morra. Eu sou o pão vivo, que desceu do céu. Quem comer desse pão, viverá eternamente; e o pão que eu darei é a minha carne para a salvação do mundo" (Jo. 6:48-52). Mais adiante, Nosso Senhor continua: "Em verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós." (Jo. 6:54). Depois disso, o Evangelho nos informa que muitos discípulos que O estavam ouvido disseram que "dura é essa linguagem e quem a pode ouvir?". E estes, nos informa São João, "tornaram atrás e já não andavam com Ele." Nesta passagem há uma claríssima distinção entre o maná do deserto, que alimentou fisicamente o povo judeu e que era proveniente de Deus e o novo alimento anunciado por Nosso Senhor: Seu próprio Sangue e Sua própria Carne. Este alimento não era para o alimento físico, não era para a manutenção da vida biológica; era alimento espiritual, garantia de vida eterna. Isso horrorizou os discípulos e eles O abandonaram. Quem eram tais discípulos? Ora, eram os protestantes, eram os ancestrais de Lutero, Melachton e Calvino; eram, enfim, os agora homenageados pela Igreja com estátuas, selos e demais honrarias. Eram, em última análise, os ancestrais dessa repugnante figura chamada Edir Macedo. 

O escândalo do ato de Bolsonaro, um auto-proclamado católico, nada tem a ver com o suposto comunismo de Edir Macedo. Não. O escândalo tem a ver com Macedo se recusar a comer a carne do Filho do Homem e beber o Seu Sangue. Macedo é um daqueles que abandonaram Nosso Senhor que "tornou atrás e já não anda com Ele". 

Alguém tem de sugerir a Bolsonaro a leitura atenta de todo o Evangelho de São João e escolher de que lado ele vai ficar. Não para que ele faça um governo melhor ou pior, pois Deus tira sempre o bem de quaisquer males. Ele precisa disso para salvar sua alma.