O texto que vai abaixo me parece útil como marco referencial às discussões que andam ocorrendo no blog, entre o blogueiro e leitores protestantes, protestantes quase-católicos, católicos quase-protestantes, católicos modernistas, padres modernistas, etc. O blogueiro, como todos sabem é, com a graça de Deus, apenas um católico imerso numa crise monumental da Igreja, que se agarra firmemente à Doutrina Tradicional e imutável da Santa Igreja de Roma e que tem sempre na ponta da língua a regra de São Vicente de Lerins: “Quod ubique, quod semper, quod ab omnibus.” O texto é também útil a todo católico que, por diversas razões, ainda não teve acesso a textos teológicos mais profundos. A fonte do texto não poderia ser mais ortodoxa: Tratado de Teologia Ascética e Mística, de Pe. Adolph Tanquerey.
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A vida divina na sua fonte é a Santíssima Trindade. Deus, que é a plenitude do ser e da caridade, contempla-se desde toda a eternidade; contemplando-se, produz o seu Verbo, este Verbo é seu Filho, distinto d’Ele e, contudo, perfeitamente a Ele igual, a sua imagem viva e substancial. Ele ama a este Filho e é por Ele amado; deste amor mútuo procede o Espírito Santo, distinto do Pai e do Filho, e perfeitamente igual a um e a outro. E é esta a vida de que nós participamos!
Por ser infinitamente bom, quer Deus comunicar-se a outros seres: fá-lo pela criação e, sobretudo, pela santificação. Pela criação somos servos de Deus, o que é já para nós uma grande honra. E na verdade, que Deus tenha pensado em mim desde toda a eternidade, que me tenha escolhido entre milhões e milhões de possibilidades, para me dar a existência, a vida, a inteligência, que motivo de admiração, reconhecimento e amor! Mas que Ele me tenha chamado a participar da sua vida divina, que me tenha adotado por filho e que me destine à visão intuitiva da sua essência e a um amor sem restrição, não é isto o apogeu da caridade? E não é também um poderoso motivo de O amar sem reserva?
Havíamos perdido, pelo pecado do nosso primeiro pai, os direitos à vida divina e éramos incapazes de os recuperar por nós mesmos. Mas eis que o Filho de Deus, vendo a nossa miséria, faz-se homem como nós, torna-se desse modo cabeça dum corpo místico, cujos membros somos nós, expia os nossos pecados pela sua dolorosa Paixão e morte de Cruz, reconcilia-nos com Deus e faz circular de novo em nossos almas uma participação dessa vida que Ele hauriu no seu do Pai. Há algo mais próprio para nos fazer amar o Verbo Encarnado, para nos unir estreitamente com Ele, e por Ele, com o Pai?
Para facilitar esta união, fica Jesus entre nós; fica pela sua Igreja, que nos transmite e explica sua doutrina. Fica pelos seus Sacramentos, canais misteriosos da graça, que nos comunicam a vida divina. Fica, sobretudo, pela Santíssima Eucaristia, em que perpetua a um tempo sua presença, a sua ação benfazeja e o seu sacrifício: o seu sacrifício pela Santa Missa, onde renova de modo misterioso a sua imolação, a sua ação benfazeja pela Comunhão, aonde vem, com todos os tesouros da graça, aperfeiçoar a nossa alma e comunicar-lhe a suas virtudes; a sua presença permanente, encerrando-se voluntariamente como prisioneiro, dia e noite, no sacrário, onde O podemos visitar, conversar com Ele, glorificar com Ele a adorável Trindade, encontrar n’Ele a cura das nossas feridas espirituais e a consolação das nossas tristezas e desalentos: “Venite ad me omnes qui laboratis et onerati estis, et ego reficiam vos”.
E tudo isto não é mais que o prelúdio dessa vida consumada em Deus, que gozaremos por toda a eternidade; vê-Lo-emos com amor perfeito; n’Ele veremos e amaremos tudo quanto há de grande e nobre. Saídos de Deus pela criação, voltamos a Ele pela glorificação, e, glorificando-O, encontramos a felicidade perfeita.