08/06/2009

Lições das Missas dominicais pós-Vaticano II– Parte XIX

Comento aqui o texto de Pe. Paulo Bazaglia n’O Domingo de 7 de junho de 2009, Missa da Santíssima Trindade. O título do texto é “Trindade, Comunidade de Amor”.

Uma coisinha (que é muito importante) chama a atenção no texto. Comentando o Evangelho de Mateus – onde Jesus diz: “Ide, pois, ensinai a todos os povos, e batizai-os em Nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; e ensinai-lhes a observar tudo o que vos mandei.” – Pe. Bazaglia nos diz que é a força do Espírito “que nos permite recordar e atualizar hoje o que Jesus fez e falou há 2 mil anos .” Note a palavrinha atualizar que ele usa. Vamos a ela.

Jesus ordena aos discípulos que eles ensinem aos povos a observar tudo o que Ele mandou e os batizem. Note que Jesus não diz: “Ensinem os povos, e com o passar do tempo, à medida que vocês se tornem mais espertinhos, vocês podem inclusive atualizar o que eu ensinei para vocês. Como nós estamos aqui em Israel, sob o Império Romano e somos completamente ignorantes das coisas que virão, meu ensinamento poderá, no futuro, sofrer evolução. Faça isso sobretudo depois que um sujeito chamado Karl Marx viver. Ele trará importantes atualizações à minha doutrina.”

Bem, ainda bem que Pe. Bazaglia admite francamente que é necessário atualizações no que Jesus nos ensinou. Ele nos diz que até que é o Espírito “que nos permite atualizar o que Jesus falou há dois mil anos”.

E o que seria essa atualização? Bem, através dos comentários que tenho feito ao folheto Domingo, fica muito claro o que esses padres modernistas consideram como atualização das palavras de Jesus. Atualizar Jesus é vê-lo como um marxista avant la lettre.

Um padre que ao falar da Trindade tenta nos impingir seu submarxismo de ocasião é, no mínimo, dispensável. Para não perder a viagem, vejamos o que Santo Agostinho nos tem a dizer sobre a Trindade. Tomo aqui um texto curto do santo, que escreveu um longo tratado sobre a Trindade. Tomo-o de sua obra A Doutrina Cristã, seção B, Capítulo 5, Síntese Dogmática.

O Pai, o Filho e o Espírito Santo, isto é, a própria Trindade, una e suprema realidade, é a única Coisa a ser fruída, bem comum de todos.[1] Se é que pode ser chamada Coisa e não, de preferência, a causa de todas as coisas – se também puder ser chamada causa. Não é fácil encontrar um nome que possa convir a tanta grandeza e servir para denominar de maneira adequada a Trindade. A não ser que se diga que é um só Deus, de quem, por que e para quem existem todas as coisas (Rm 11,36) Assim, o Pai, o Filho e o Espírito Santo são, cada um deles, Deus. E os três são um só Deus. Para si próprio, cada um deles é substância completa e, os três juntos, uma só substância. O Pai não é o Filho, nem o Espírito Santo. O Filho não é o Pai, nem o Espírito Santo. E o Espírito Santo não é o Pai nem o Filho. O Pai é só Pai, o Filho unicamente Filho, e o Espírito Santo unicamente Espírito Santo. Os três possuem a mesma eternidade, a mesma imutabilidade, a mesma majestade, o mesmo poder. No Pai está a unidade, no Filho está a igualdade e no Espírito Santo a harmonia entre a unidade e a igualdade. Esses três atributos são um só, por causa do Pai, todos iguais por causa do Filho e todos conexos por causa do Espírito Santo.”

Podemos ainda lembrar aqui do belíssimo Símbolo Quicumque, chamado de pseudo-atanasiano. Neste Símbolo há tudo em que se deve crer, mas há também uma extraordinária doutrina da Trindade, que é sobre o que Pe. Bazaglia nos tenta ensinar. Vamos ao Símbolo.

Quem quer salvar-se, deve antes de tudo, professor a fé católica:

Pois se alguém a não professar; integral e inviolavelmente, é certo que se perderá por toda a eternidade.

I. A fé católica consiste, porém, em venerar um só Deus na Trindade, e a Trindade na unidade, sem confundir as pessoas, nem separar a substância; Pois uma é a pessoa do Pai, outra a do Filho, outra a do Espírito Santo; Mas uma é a divindade, igual a glória, co-eterna a majestade do Pai, e do Filho e do Espírito Santo.

Qual o Pai, tal o Filho, tal o Espírito Santo; incriado é o Pai, incriado o Filho, incriado o Espírito Santo; imenso é o Pai, imenso o Filho, imenso o Espírito Santo; Eterno é o Pai, eterno o Filho, eterno o Espírito Santo.

E, no entanto, não há três eternos, mas um só eterno; Como não há três incriados, nem três imensos, mas um só incriado, e um só imenso; Assim também o Pai é onipotente, o Filho é onipotente, o Espírito Santo é onipotente; E, no entanto, não há três onipotentes, mas um só onipotente.

Como o Pai é Deus, assim o Filho é Deus, [e] o Espírito Santo é Deus; E, no entanto não há três deuses, mas um só Deus.

Como o Pai é Senhor, assim o Filho é Senhor, o Espírito Santo é Senhor; E, no entanto não há três senhores, mas um só Senhor.

Porquanto, assim como a verdade cristã nos manda confessar que cada pessoa, tomada separadamente, é Deus e Senhor; assim também nos proíbe a religião católica dizer que são três deuses ou três senhores.

II. O Pai não foi feito por ninguém, nem criado, nem gerado.

O Filho é só do Pai; não feito, não criado, mas gerado.

O Espírito Santo é do Pai e do Filho; não feito, não criado, não gerado, mas procedente.

Há, pois, um só Pai, não três Pais; um só Filho, não três Filhos; um só Espírito Santo, não três Espíritos Santos.

E nesta Trindade nada existe de anterior ou posterior, nada de maior ou menor; mas todas as três pessoas são co-eternas e iguais, umas às outras; De sorte que, em tudo, como acima ficou dite, deve ser venerada a unidade na Trindade, e a Trindade na unidade.

Quem quer, portanto, salvar-se, assim deve crer a respeito da Santíssima Trindade.

III. Mas ainda é necessário, para a eterna salvação, crer fielmente na Encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo.

A retidão da fé consiste, pois, em crermos e confessarmos que Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, é Deus e homem.

É Deus, porquanto gerado da substância do Pai antes dos séculos; homem, porquanto no tempo nasceu da substância de sua Mãe.

É Deus perfeito, e perfeito homem, por subsistir de alma racional e de carne humana;É igual ao Pai segundo a divindade, e menor que o Pai, segundo a humanidade.

Ainda que seja Deus e homem, todavia não há dois, mas um só Cristo; É um, não porque a Divindade se converta em carne, mas porque a humanidade foi recebida em Deus; É totalmente um, não por se confundir a substância, mas pela unidade de pessoa.

Assim como a alma racional e o corpo formam um só homem, assim Deus e homem é um só Cristo,

O qual sofreu pela nossa salvação, desceu aos infernos, ao terceiro dia ressuscitou dos mortos, e à cuja chegada todos os homens devem ressuscitar com seus corpos, para dar contas de suas próprias ações; E aqueles que tiverem praticado o bem, irão para a vida eterna; mas os que tiverem feito o mal, irão para o fogo eterno.

Esta é a fé católica, e todo aquele que a não professar, com fidelidade e firmeza, não poderá salvar-se.


Isso, condensadamente, é o que poderia nos ter ensinado o Pe. Bazaglia. Mas, suspeito, de que esse padre nunca tenha lido Santo Agostinho ou o Símbolo Quicumque. Ele parou ali no Capital de Marx e achou que isso bastava para ser católico.

____________
Compre agora o livro, com este e todos os outros comentários, além de alguns apêndices complementares, clicando aqui. Se você quiser ler mais sobre este livro, clique aqui.
____________




___________________________________________________________________
[1] Fruir, para Santo Agostinho, é “aderir a alguma coisa por amor a ela própria.” Utilizar ou usar se contrapõe a fruir, na concepção do santo, pois este termo significa “orientar o objeto de que se faz uso para obter o objeto ao qual se ama, caso tal objeto mereça ser amado.”

Para ver outros comentários sobre a Missa nova, clique: Parte I, Parte II, Parte III, Parte IV, Parte V, Parte VI, Parte VII, Parte VIII, Parte IX, Parte X, Parte XI, Parte XII, Parte XIII, Parte XIV, Parte XV, Parte XVI, Parte XVII, Adendo III, Parte XVIII

Nenhum comentário: