29/03/2011

Um decreto que convida?

Leio no FratresInUnun uma intervenção de Frei Charles Morerod, pela foto um sujeito muito simpático, sobre o recente decreto da Santa Sé sobre a reforma dos estudos filosóficos em instituições eclesiásticas. Notícia alvissareira, dadas as informações que temos do nível destes estudos nos seminários espalhados pelo mundo. 

Frei Morerod analisa, em sua intervenção, a importância da filosofia para o estudo da teologia. Não sou filósofo e não li o decreto, mas algumas coisas me parecem merecer um comentário.

A primeira delas é que, segundo Frei Morerod: “O Decreto de Reforma dos estudos eclesiásticos de Filosofia convida os filósofos a ‘recuperar com força a vocação original da filosofia: a busca do verdadeiro e sua dimensão sapiencial e metafísica” (§ 3).’” Duas observações são oportunas: um decreto não convida, decreta, senão não seria um decreto e sim um convite. Além disso, do jeito que estão as coisas, como convencer os filósofos modernos de que existe o verdadeiro? Aqui não basta um convite, mesmo que seja da Santa Sé.

No final da intervenção, Frei Morerod parece mudar de assunto: da teologia para a catequese e aí as coisas se complicam enormemente. Ele diz: “Por exemplo, a catequese é frequentemente confrontada com perguntas sobre a relação entre a evolução das espécies e a estória bíblica da criação. As tentativas de passar diretamente da teologia à biologia são pouco frutuosas. É necessária uma mediação filosófica.” Duas observações se impõem. A primeira delas é que a evolução das espécies não pode se confrontar com a catequese, pois esta teoria não passa de um “wishfull thinking”. Esta teoria é apenas especulação e não ciência (Ver aqui, aqui e aqui). Assim, toda vez que ela tentar se confrontar com a catequese, o catequista tem de solicitar provas desta teoria e só depois discutir alguma coisa.[1] A segunda observação a ser feita é que se fatos – fatos reais e não ciência podre – se contrapusessem à catequese não haveria mediação filosófica que resolvesse a questão. Ocorre que nenhum fato científico verdadeiro, nestes dois milênios de catolicismo, se contrapôs à catequese católica. Na verdade, o que se precisa são de exegetas muito bem preparados para nos orientar – a nós pobres católicos leigos – em como interpretar as passagens bíblicas segundo a Tradição da Igreja. Ou seja, a Igreja não pode cair nesta esparrela do cientificismo moderno (sobre cientificismo ver aqui); para lutar contra isto temos a Tradição.

Frei Morerod se equivoca ainda em dizer: “O catequista que trata da evolução é tentado a desqualificar a Bíblia como Palavra de Deus, ou a fechar-se num fundamentalismo que nega a verdade das descobertas científicas.” O Frei coloca a teoria da evolução como descoberta científica e isto ela nunca foi. Além do mais, a evolução não deve ser tema de catequese, a meu ver. Tenho aqui em mãos o Catecismo Maior de São Pio X e não vejo nada nele que toca na questão da evolução. Ou seja, não podemos admitir que uma conjectura científica muito pouco lógica possa se confrontar com verdades eternas da Doutrina Católica.

A parte filosófica da intervenção do Frei Morerod parece-me fraca. Dou um exemplo apenas, já que meus conhecimentos filosóficos são muito modestos. O frei diz a certa altura: “Um problema crucial para a teologia é a possibilidade de falar de Deus por meio de palavras plasmadas para descrever o mundo: não temos outras expressões à nossa disposição.” Aqui, sinto o (mau) cheiro de Wittgenstein e outros filósofos da linguagem, que chegaram à brilhante conclusão de que as palavras não servem para nada. Eles não notaram, claro, que para chegarem a esta conclusão usaram as famigeradas ... palavras. Ora, se Deus mesmo feito homem, se a Segunda Pessoa da Trindade, quando na terra, se o Logos Divino, usou exatamente “as palavras plasmadas para descrever o mundo” para nos ensinar tudo sobre Seu Pai, sobre a relação de Deus com o homem e, sobretudo, sobre a relação do homem com Deus, por que então o homem moderno acha que as palavras já não são suficientes para a teologia, que é o discurso sobre Deus? Se Deus as considera suficiente, não seria um orgulho extremo achá-las algo defeituosas? Todavia, deixo este assunto para gente mais competente que eu, gente do talante do tomista Sidney Silveira do ContraImpugnantes.

Como última observação, fico a imaginar se não seria importante a Santa Sé se lembrar – não sei se o novo decreto faz menção a isto – da monumental encíclica de Leão XIII,  Aeterni Patris, sobre o estudo da filosofia tomista nos seminários de então. Desta encíclica retiro o trecho que encerrará este post: “Se refletirmos sobre a maldade de nossos tempos e entendermos bem a razão do que acontece em campo público e privado, descobriremos certamente que a causa geradora dos males que nos afligem e nos ameaçam está nas doutrinas culpadas que foram ensinadas sobre as realidades divinas e humanas, primeiramente pelas escolas filosóficas e, depois, se infiltraram em todas as camadas da sociedade e foram geralmente acolhidas.” (Grifo meu)

[1] Lembro-me aqui de uma passagem de Três Alqueires e Uma Vaca, de Gustavo Corção: “O evolucionismo é uma doutrina pela qual o universo irá até as últimas conseqüências, obstinadamente, como o esquartejador. Os gênios das espécies vivem a esquartejar porcos e cavalos, e os praticantes dessa esquisita religião são indivíduos que estão impacientes por serem também esquartejados.” (Grifo meu)

28/03/2011

Mais uma repercussão do livro que escrevi

O livro que escrevi tem nova repercussão (ver outras repercussões aqui). Agora é na revista Literatura: Conhecimento Prático. Ao pessoal da revista meu muito obrigado.

25/03/2011

Hereges à venda

O blog está fechando, com este lançamento, um ciclo. Não, o lançamento não é do blog, é da Editora Ecclesiae. Mas o blog começou com um texto, que é o último parágrafo da Introdução a Hereges. Isto foi em 12 de agosto de 2005. Com este pequeno trecho começou também meu interesse mais profundo por Chesterton, o que, em última análise, me levou a traduzir o grande escritor inglês. O trecho continua sendo para mim um dos que mais me impactaram em tudo que já li de Chesterton. “Então, gradualmente, hoje, amanhã, ou depois de amanhã, forma-se a convicção de que o monge estava certo, afinal, e que tudo depende de qual é a filosofia da Luz. Mas o que podíamos discutir sob a lâmpada a gás temos, agora, de discutir no escuro.” O monge estava certo; ele sempre esteve. É o espírito da Idade Média julgando os tempos modernos.

Hereges teve para mim mais impacto que Ortodoxia. O combate travado em Hereges é o nosso combate, o combate atual, o combate eterno que um católico terá de enfrentar. Hereges é a luta de um cruzado moderno contra as profanações da Terra Santa.

Estou feliz por fechar um ciclo de quase 6 anos do blog com tal lançamento. Agradeço à Editora Ecclesiae por ter se aventurado a publicar Chesterton no Brasil. Não deixem de comprar o livro. Ele é excepcional!

23/03/2011

Que bom!

Que bom ser budista, e meditar serenamente, a fim de se sentir bem!
Que bom ser ambientalista new age, abraçar árvores, nadar em cachoeiras maravilhosas para descarregar as energias negativas!
Que bom ser espírita e acreditar que voltaremos por aqui várias vezes, de forma que agora podemos viver uma vida cheia de prazeres!
Que bom ser ateu, pois devemos aproveitar a vida ao máximo; nada teremos depois!
Que bom não acreditar no Inferno, e confiar que um Deus banana vai nos perdoar de tudo que fizemos e nos mandar logo para o paraíso!
Que bom acreditar que a Queda é apenas metafórica, apenas uma historinha de criança, sem consequências práticas!
Que bom ser pagão cientificista e acreditar que a Ciência vai nos salvar!
Que bom ser relativista e acreditar que as verdades são criações de nossa imaginação!
Que bom ser protestante e interpretar as Escrituras segundo nossas paixões!

“Duro” mesmo é ser católico, pela graça de Deus, e ter de sofrer tudo isto, pelo amor que Nosso Senhor teve por nós. Peço-Te, meu Deus, que eu possa estar à altura deste amor. Faça-me, Deus, capaz de passar por tudo isto, por amor a Seu Filho, que morreu na cruz por nós!

22/03/2011

Leituras Quaresmais: A prática da mortificação cristã

Nota: Todas as práticas de mortificação que reunimos aqui são recolhidas dos exemplos dos santos, especialmente Santo Agostinho, Santo Tomás de Aquino, Santa Teresa, São Francisco de Sales, São João Berchmans, ou são recomendadas por reconhecidos mestres da vida espiritual, como o Venerável Louis de Blois, Rodriguez, Scaramelli, Abade Allemand, Abade Hamon, Abade Dubois, etc.

Artigo 1 – Objeto da mortificação cristã

A mortificação cristã tem por fim neutralizar as influências malignas que o pecado original ainda exerce nas nossas almas, inclusive depois que o batismo as regenerou. Nossa regeneração em Cristo, ainda que tenha anulado completamente o pecado em nós, nos deixa sem embargo muito longe da retidão e da paz originais. O Concílio de Trento reconhece que a concupiscência, ou seja, o triplo apetite da carne, dos olhos e do orgulho, se deixa sentir em nós, inclusive depois do batismo, a fim de excitar-nos às gloriosas lutas da vida cristã (Conc. Trid., Sess. 5, Decretum de pecc. orig.).

A Escritura logo chama esta tripla concupiscência de “homem velho“, oposto ao “homem novo” que é Jesus que vive em nós e nós mesmos que vivemos em Jesus, como “carne” ou natureza caída, oposta ao “espírito” ou natureza regenerada pela graça sobrenatural. Este velho homem ou esta carne, ou seja, o homem inteiro com sua dupla vida moral e física, deve ser, não digo aniquilado, porque é coisa impossível enquanto dure a vida presente, mas sim mortificado, ou seja, reduzido praticamente à impotência, à inércia e à esterilidade de um morto; há que impedir-lhe que dê seu fruto, que é o pecado, e anular sua ação em toda a nossa vida moral.

A mortificação cristã deve, portanto, abraçar o homem inteiro, estender-se a todas as esferas de atividade nas quais a natureza é capaz de mover-se. Tal é o objeto da virtude de mortificação. Vamos indicar sua prática, recorrendo sucessivamente às manifestações múltiplas de atividade em que se traduz em nós:

I) A atividade orgânica ou a vida corporal;

II) A atividade sensível, que se exerce seja sob a forma do conhecimento sensível pelos sentidos exteriores ou pela imaginação, seja sob a forma de apetite sensível ou de paixão;

III) A atividade racional e livre, princípio de nossos pensamentos e de nossos juízos, e das determinações de nossa vontade;

IV) Consideraremos a manifestação exterior da vida de nossa alma, ou nossas ações exteriores;

V) E, finalmente, o intercâmbio de nossas relações com o próximo.

Artigo 2 – Exercício da mortificação cristã

A. Mortificação do corpo

1º Limite-se, tanto quanto possa, em matéria de alimentos, ao estritamente necessário. Medite estas palavras que Santo Agostinho dirigia a Deus: “Me ensinastes, oh meu Deus, a pegar os alimentos somente como remédios. Ah, Senhor!, aqui quem dentre nós não vai além do limite? Se há um só, declaro que este homem é grande e que deve grandemente glorificar vosso nome” (Confissões, liv. X, cap. 31);

2º Roga a Deus com freqüência, roga-lhe a cada dia que lhe impeça, com Sua graça, de transpassar os limites da necessidade, ou deixar-se levar pelo atrativo do prazer;

3º Não pegue nada entre as refeições, a menos que haja alguma necessidade ou razões de conveniência;

4º Pratique a abstinência e o jejum, mas pratique-os somente sob obediência e com discrição;

5º Não lhe está proibido saborear alguma satisfação corporal, mas faça-o com uma intenção pura e bendizendo a Deus;

6º Regule seu sono, evitando nisto toda relaxação ou molície, sobretudo pela manhã. Se pode, fixe-se uma hora para deitar-se e levantar-se, e obrigue-se a ela energicamente;

7º Em geral, não descanse senão na medida do necessário; entregue-se generosamente ao trabalho, e não meça esforços e penas. Tenha cuidado para não extenuar seu corpo, mas guarde-se também de agradá-lo: quando sentir que ele está disposto a rebelar-se, por pouco que seja, trate-o como a um escravo;

8º Se sente alguma ligeira indisposição, evite irritar-se com os demais por seu mau humor; deixe aos seus irmãos o cuidado de queixar-se; pelo que lhe cabe, seja paciente e mudo como o divino Cordeiro que levou verdadeiramente todas as nossas enfermidades;

9º Guarde-se de pedir uma dispensa ou revogação à sua ordem do dia pelo mínimo mal-estar. “Há que fugir como da peste de toda dispensa em matéria de regras“, escrevia São João Berchmans;

10º Receba docilmente, e suporte humilde, paciente e perseverantemente a mortificação penosa que se chama doença.

B. Mortificação dos sentidos, da imaginação e das paixões

1º Feche seus olhos, diante de tudo e sempre, a todo espetáculo perigoso, e inclusive tenha a valentia de fechá-los a todo espetáculo vão e inútil. Veja sem olhar; não se fixe em ninguém para discernir sua beleza ou feiúra;

2º Tenha seus ouvidos fechados às palavras bajuladoras, aos louvores, às seduções, aos maus conselhos, às maledicências, às zombarias que ferem, às indiscrições, à crítica malévola, às suspeitas comunicadas, a toda palavra que possa causar o menor esfriamento entre duas almas;

3º Se o sentido do olfato tem que sofrer algo por conseqüência de certas doenças ou debilidades do próximo, longe de queixar-se disso, suporte-o com uma santa alegria;

4º No que concerne à qualidade dos alimentos, seja muito respeitoso do conselho de Nosso Senhor: “Comei o que vos for apresentado”. “Comer o que é bom sem comprazer-se nisto, o que é mau sem mostrar aversão, e mostrar-se indiferente tanto em um como no outro, esta é a verdadeira mortificação”, dizia São Francisco de Sales;

5º Ofereça a Deus suas comidas, imponha-se na mesa uma pequena privação: por exemplo, negue-se um grão de sal, um copo de vinho, uma guloseima, etc.; os demais não o perceberão, mas Deus o terá em conta;

6º Se o que lhe apresentam excita vivamente seu atrativo, pense no fel e no vinagre que apresentaram a Nosso Senhor na cruz: isto não lhe impedirá de saborear o manjar, mas servirá de contrapeso ao prazer;

7º Há que evitar todo contato sensual, toda carícia em que se poria certa paixão, em que se buscaria ou onde se teria um gozo principalmente sensível;

8º Prescinda de ir aquecer-se, a menos que lhe seja necessário para evitar-lhe uma indisposição;

9º Suporte tudo o que aflige naturalmente a carne; especialmente o frio do inverno, o calor do verão, a dureza da cama e todas as incomodidades do gênero. Faça boa cara em todos os tempos, sorria a todas as temperaturas. Diga com o profeta: “Frio, calor, chuva, bendizei ao Senhor“. Felizes somos se podemos chegar a dizer com gosto esta frase tão familiar a São Francisco de Sales: “Nunca estou melhor do que quando não estou bem”;

10º Mortifique sua imaginação quando lhe seduz com a isca de um posto brilhante, quando se entristece com a perspectiva de um futuro sombrio, quando se irrita com a recordação de uma palavra ou de um ato que o ofendeu;

11º Se sente em você a necessidade de sonhar, mortifique-a sem piedade;

12º Mortifique-se com o maior cuidado sobre o ponto da impaciência, da irritação ou da ira;

13º Examine a fundo seus desejos, e submeta-os ao controle da razão e da fé: você não deseja mais uma vida longa que uma vida santa? prazer e bem-estar sem tristeza nem dores, vitórias sem combates, êxitos sem contrariedades, aplausos sem críticas, uma vida cômoda e tranquila sem cruzes de nenhum tipo, ou seja, uma vida completamente oposta à de nosso divino Salvador?

14º Tenha cuidado de não contrair certos costumes que, sem ser positivamente maus, podem chegar a ser funestos, tais como o costume de leituras frívolas, dos jogos de azar, etc.;

15º Trate de conhecer seu defeito dominante, e quando o tiver conhecido, persiga-o até suas últimas pregas. Por isso, submeta-se com boa vontade ao que poderia ter de monótono e de entediado na prática do exame particular;

16º Não lhe está proibido ter bom coração e mostrá-lo, mas fique atento para o perigo de exceder o justo meio. Combata energicamente os afetos demasiado naturais, as amizades particulares, e todas as sensibilidades moles do coração.

C. Mortificação do espírito e da vontade

1º Mortifique seu espírito proibindo-lhe todas as imaginações vãs, todos os pensamentos inúteis ou alheios que fazem perder o tempo, dissipam a alma, e provocam o desgosto do trabalho e das coisas sérias;

2º Deve distanciar de seu espírito todo pensamento de tristeza e de inquietude. O pensamento do que poderá suceder no futuro não deve preocupá-lo. Quanto aos maus pensamentos que o molestam, deve fazer deles, distanciando-os, matéria para exercer a paciência. Se são involuntários, não serão para você senão uma ocasião de méritos;

3º Evite a teimosia em suas idéias, e a obstinação em seus sentimentos. Deixe prevalecer de boa vontade o juízo dos demais, salvo quando se trate de matérias em que você tem o dever de pronunciar-se e falar;

4º Mortifique o órgão natural de seu espírito, ou seja, a língua. Exerça-se de boa vontade no silêncio, seja porque sua Regra o prescreve, seja porque você o impõe espontaneamente;

5º Prefira escutar os demais do que falar você mesmo; mas, sem embargo, fale quando convenha, evitando tanto o excesso de falar demasiado, que impede os demais de expressar seus pensamentos, como o de falar demasiado pouco, que denota indiferença, que fere ao que dizem os demais;

6º Não interrompa nunca quem fala, e não corte com uma resposta precipitada quem lhe pergunta;

7º Tenha um tom de voz sempre moderado, nunca brusco nem cortante. Evite os “muito”, os “extremamente”, os “horrivelmente”, etc.: não seja exagerado em seu falar;

8º Ame a simplicidade e a retidão. A simulação, os rodeios, os equívocos calculados que certas pessoas piedosas se permitem sem escrúpulo, desacreditam muito a piedade;

9º Abstenha-se cuidadosamente de toda palavra grosseira, trivial ou inclusive ociosa, pois Nosso Senhor nos adverte que nos pedirá conta delas no dia do Juízo;

10º Acima de tudo, mortifique sua vontade; é o ponto decisivo. Adapte-a constantemente ao que sabe ser do beneplácito divino e da ordem da Providência, sem ter nenhuma conta nem de seus gostos nem de suas aversões. Submeta-se inclusive a seus inferiores nas coisas que não interessam para a glória de Deus e os deveres de seu cargo;

11º Considere a menor desobediência às ordens, inclusive aos desejos de seus Superiores, como dirigida a Deus;

12º Lembre-se de que praticará a maior de todas as mortificações quando amar ser humilhado e quando tiver a mais perfeita obediência àqueles a quem Deus quer que se submeta;

13º Ame ser esquecido e ser tido por nada: é o conselho de São João da Cruz, é o conselho da Imitação: não fale apenas de si mesmo nem para bem nem para mal, mas busque pelo silêncio fazer-se esquecer;

14º Diante de uma humilhação ou repreensão, se sente tentado a murmurar? Diga como Davi: “Melhor assim! É-me bom ser humilhado!”;

15º Não entretenha desejos frívolos: “Desejo poucas coisas, e o pouco que desejo, o desejo pouco”, dizia São Francisco;

16º Aceite com a mais perfeita resignação as mortificações chamadas de Providência, as cruzes e os trabalhos unidos ao estado em que a Providência o pôs. “Quanto menos há de nossa eleição, mais há de beneplácito divino“, dizia São Francisco de Sales. Queríamos escolher nossas cruzes, ter outra distinta da nossa, levar uma cruz pesada que tivesse ao menos algum brilho, antes que uma cruz ligeira que cansa por sua continuidade: Ilusão! Devemos levar nossa cruz, e não outra, e o mérito disto não se encontra em sua qualidade, mas na perfeição com que a levamos;

17º Não se deixe turbar pelas tentações, pelos escrúpulos, pelas aridezes espirituais: “o que se faz durante a sequidão é mais meritório diante de Deus do que o que se faz durante a consolação”, dizia o santo bispo de Genebra;

18º Não devemos entristecer-nos demasiado por nossas misérias, senão mais bem humilhar-nos. Humilhar-se é uma coisa boa, que poucas pessoas compreendem; inquietar-se e impacientar-se é uma coisa que todo o mundo conhece e que é má, porque nesta espécie de inquietude e de despeito o amor próprio tem sempre a maior parte;

19º Desconfiemos igualmente da timidez e do desânimo, que fazem perder as energias, e da presunção, que nada mais é do que o orgulho em ação. Trabalhemos como se tudo dependesse de nossos esforços, mas permaneçamos humildes como se nosso trabalho fosse inútil.

D. Mortificações que há de se praticar em nossas ações exteriores

1º Deve ser o mais exato possível em observar todos os pontos de sua regra de vida, obedecer sem demora, lembrando-se de São João Berchmans, que dizia: “Minha maior penitência é seguir a vida comum”; “Fazer o maior caso das menores coisas, tal é o meu lema”; “Antes morrer que violar uma só de minhas regras!”;

2º No exercício de seus deveres de estado, trate de estar muito contente com tudo o que parece feito de propósito para desagradá-lo e molestá-lo, lembrando-se também aqui da frase de São Francisco de Sales: “Nunca estou melhor do que quando não estou bem”;

3º Não conceda jamais um momento à preguiça; da manhã à noite, esteja ocupado sem descanso;

4º Se sua vida se passa dedicada, ao menos em partes, ao estudo, aplique os seguintes conselhos de Santo Tomás de Aquino aos seus alunos: “Não se contentem em receber superficialmente o que lêem ou escutam, mas tratem de penetrar e aprofundar seu sentido. – Não fiquem nunca com dúvidas sobre o que podem saber com certeza. – Trabalhem com uma santa avidez em enriquecer seu espírito; classifiquem com ordem em sua memória todos os conhecimentos que possam adquirir. – Sem embargo, não tratem de penetrar os mistérios que estão acima de sua inteligência”;

5º Ocupe-se unicamente da ação presente, sem voltar-se ao que precedeu nem adiantar-se pelo pensamento ao que vem a seguir; diga com São Francisco: “Enquanto faço isto, não estou obrigado a fazer outra coisa”; “Apressemo-nos com bondade: será tão logo tanto quanto esteja bom”;

6º Seja modesto em sua compostura. Nenhum porte era tão perfeito como o de São Francisco; tinha sempre a cabeça direita, evitando igualmente a ligeireza que a gira em todos os sentidos, a negligência que a inclina adiante e o humor orgulhoso e altivo que a levanta para trás. Seu rosto estava sempre tranqüilo, livre de toda preocupação, sempre alegre, sereno e aberto, sem ter, sem embargo, uma jovialidade indiscreta, sem risadas ruidosas, imoderadas ou demasiado freqüentes. Quando se encontrava só mantinha-se em tão boa compostura como diante de uma grande assembléia. Não cruzava as pernas, não apoiava a cabeça no encosto. Quando rezava, ficava imóvel como uma coluna. Quando a natureza lhe sugeria seus gostos, não a escutava em absoluto;

7º Considere a limpeza e a ordem como uma virtude, e a sujeira e a desordem como um vício: evite os vestidos sujos, manchados ou rasgados. Por outra parte, considere como um vício ainda maior o luxo e o mundanismo. Faça de modo que ao ver sua vestimenta e adereços, ninguém diga: está desarrumado; nem: está elegante; mas que todo o mundo possa dizer: está decente.

E. Mortificações para praticar em nossas relações com o próximo

1º Suporte os defeitos do próximo: faltas de educação, de espírito, de caráter. Suporte tudo o que nele lhe desagrada: seu modo de andar, sua atitude, seu tom de voz, seu sotaque, e todo o resto;

2º Suporte tudo a todos e suporte até o fim e cristãmente. Não se deixe levar jamais por essas impaciências tão orgulhosas que fazem dizer: Que posso fazer de tal ou qual? Em que me concerne o que diz? Para que preciso o afeto, a benevolência ou a cortesia de uma criatura qualquer, e desta em particular? Nada é menos segundo Deus que estes desprendimentos altaneiros e estas indiferenças depreciativas; melhor seria, certamente, uma impaciência;

3º Encontra-se tentado a irar-se? Pelo amor a Jesus, seja manso. De vingar-se? Devolva bem ao mal. Diz-se que o segredo de chegar ao coração de Santa Teresa, era fazer-lhe algum mal. De mostrar a alguém uma cara má? Sorria com bondade. De evitar seu encontro? Busque-o por virtude. De falar mal dele? Fale bem. De falar-lhe com dureza? Fale doce e cordialmente;

4º Ame fazer o elogio de seus irmãos, sobretudo daqueles a quem sua inveja se dirige mais naturalmente;

5º Não diga acuidades em detrimento da caridade;

6º Se alguém se permite em sua presença palavras pouco convenientes, ou mantém conversações próprias para danificar a reputação do próximo, poderá às vezes repreender com doçura a quem fala, mas mais freqüentemente será melhor distanciar habilmente a conversação ou manifestar por um gesto de descontentamento ou de desatenção querida que o que se está dizendo o desagrada;

7º Quando lhe custar fazer um favor, ofereça-se a fazê-lo: terá duplo mérito;

8º Tenha horror de apresentar-se diante de si mesmo ou dos demais como uma vítima. Longe de exagerar suas cargas, esforce-se em encontrá-las leves. O são em realidade muito mais freqüentemente do que parece, e o seriam sempre se tivesse um pouco mais de virtude.

Conclusão

Em geral, saiba negar à natureza o que ela pede sem necessidade.

Saiba fazê-la dar o que ela nega sem razão. Seus progressos na virtude, disse o autor da Imitação de Cristo, serão proporcionais à violência que saiba fazer-se.

Dizia o santo Bispo de Genebra: “Há que morrer a fim de que Deus viva em nós: porque é impossível chegar à união da alma com Deus por outro caminho que não o da mortificação. Estas palavras: Há que morrer! são duras, mas serão seguidas de uma grande doçura, porque não se morre a si mesmo senão para unir-se a Deus por esta morte”.

Quisera Deus que pudéssemos aplicar-nos com pleno direito as seguintes palavras de São Paulo: “Em todas as coisas sofremos a tribulação… Trazemos sempre em nosso corpo a morte de Jesus, a fim de que a vida de Jesus se manifeste também em nossos corpos” (2 Cor. 4, 10).

Livre-tradução do Artigo “La mortificación cristiana” do Cardeal Desidério José Mercier (1851-1926) publicado em “Cuadernos de La Reja” número 2 do Seminário Internacional Nossa Senhora Corredentora da FSSPX. Publicado em: Fraternidade Sacerdotal São Pio X.

19/03/2011

A vida de São José

Rev. Alban Butler (1711-73) – Vol. III – Março – A Vida dos Santos, 1866.

O GLORIOSO São José era descendente direto dos grandes reis da tribo de Judá, e dos mais ilustres patriarcas; mas sua verdadeira glória consistiu em sua humildade e virtude. A história de sua vida não foi escrita por homens, mas suas ações principais foram registradas pelo próprio Espírito Santo. Deus delegou-lhe a educação de seu divino Filho, manifestado na carne. Para este fim, ele esposou a Virgem Maria. É um erro evidente de alguns autores considerar que, de uma ex-mulher, ele fosse pai de São Tiago Menor, e de outros que nos evangelhos são referidos como irmãos do Senhor: pois havia apenas primos-primeiros de Cristo, os filhos de Maria, irmã da Virgem Santíssima, esposa de Alfeu, que ainda vivia no tempo da crucificação do Redentor. São Jerônimo assegura-nos[1] que São José sempre preservou sua castidade virginal; e é de fé que nada contrário a isto jamais ocorreu em relação à sua casta esposa, a Virgem Maria Santíssima. Ele lhe foi dado pelo céu para ser o protetor de sua castidade, para defendê-la de calúnias na ocasião do nascimento do Filho de Deus, e para assisti-la na educação d’Ele, em sua caminhada, fatigas e perseguições. Quão imensa foi a pureza e santidade daquele que foi escolhido como guardião da mais imaculada Virgem! Este homem santo parece ter desconhecido, por tempo considerável, o grande mistério da Encarnação, que fora nela forjado pelo Espírito Santo. Consciente, contudo, de seu próprio comportamento casto em relação a ela, era natural que uma grande preocupação surgisse em seu interior, ao descobrir que, não obstante a santidade do comportamento dela, com toda a certeza ela estava grávida. Mas sendo um homem justo, como as Escrituras o chamam, e conseqüentemente possuidor de todas as virtudes, especialmente a caridade e a mansidão em relação ao próximo, ele estava determinado a deixá-la em segredo, sem condená-la ou acusá-la, entregando tudo a Deus. Estas suas perfeitas disposições foram tão aceitáveis a Deus, o amante da justiça, caridade e paz, que antes que ele executasse o planejado, Ele enviou um anjo do céu, não para repreender qualquer coisa de sua santa conduta, mas para dissipar todas as suas dúvidas e temores, revelando-lhe o adorável mistério. Quão felizes seríamos se fossemos tão delicados em tudo que se relacionasse à reputação do próximo; tão livres de maus pensamentos ou suspeições, qualquer que fosse a certeza que fundamentasse nossas conjecturas ou nossos sentidos; tão controlados em usar nossa língua! Cometemos estas faltas somente porque, em nossos corações, somos desprovidos daquela verdadeira caridade e simplicidade da qual São José nos deu tão eminente exemplo naquela ocasião.

Podemos admirar em secreta contemplação, com que devoção, respeito e delicadeza ele contemplava e adorava o primeiro de todos os homens, o recém-nascido Salvador do mundo, e com que fidelidade ele se desincumbia de suas duas responsabilidades, a educação de Jesus e a guarda de sua santa mãe. “Ele foi verdadeiramente o servo fiel e prudente,” diz São Bernardo,[2] “a quem nosso Senhor nomeou para o chefe do lar, o conforto e apoio de Sua mãe, Seu padrasto, e o mais fiel colaborador na execução de seus mais profundos conselhos na terra.” “Que felicidade,” diz o mesmo padre, “não somente ver Jesus Cristo, mas também ouvi-Lo, carregá-Lo em seus braços, levá-Lo a lugares, abraçá-Lo e acariciá-Lo, alimentá-Lo, compartilhar todos os grandes segredos que eram ocultados dos príncipes deste mundo.”

“Oh, assombrosa elevação! Oh, incomparável dignidade!” clama o piedoso Gerson,[3] numa devota alocução a São José, “que a mãe de Deus, rainha dos céus, o chame de senhor; que o próprio Deus feito homem o chame de pai e obedeça suas ordens. Oh, gloriosa Tríade na terra, Jesus, Maria e José, que família mais querida à gloriosa Trindade nos céus, Pai, Filho e Espírito Santo! Nada é tão grande na terra, tão bom, tão excelente.” Em meio a estas graças extraordinárias, que coisa há mais maravilhosa que sua humildade! Ele oculta seus privilégios, vive como um homem obscuro, não escreve nada acerca dos grandes mistérios de Deus, não indaga mais nada sobre os mistérios de Deus, deixando a Deus a decisão de manifestá-los em Seu próprio tempo, procura cumprir a ordem da providência a seu respeito, sem interferir com qualquer coisa, exceto a que lhe diz respeito. Embora descendente da família real que tivera uma longa possessão do trono da Judéia, ele se contenta com sua condição de mecânico e artesão,[4] de cujo trabalho tira o sustento para manter a si próprio, a sua esposa e a seu divino filho.

Seríamos ingratos a este grande santo se não lembrássemos que é a ele, como instrumento de Deus, que devemos a preservação do menino Jesus do ciúme e da malícia de Herodes, manifestada na matança dos Inocentes. Um anjo, que lhe apareceu em sonho, ordenou-lhe que levantasse, tomasse o menino Jesus, fugisse com ele para o Egito e ficasse lá até que lhe fosse ordenado que voltasse. Esta repentina e inesperada fuga deve ter causado muitos inconvenientes e sofrimentos a José, numa viagem tão longa, com uma criança pequena e uma virgem delicada, grande parte do caminho sendo através de desertos e em meio a estranhos; mesmo assim, ele não alegou nenhuma desculpa, nada perguntando acerca do momento do retorno. S. Crisóstomo observa que Deus trata assim todos os seus servos, enviando-lhes freqüentes provas, para livrar seus corações da ferrugem do amor-próprio, mas entremeando períodos de consolação.[5] “José”, diz ele, “está ansioso ao ver a Virgem com o filho; um anjo remove o temor; ele regozija-se com o nascimento da criança, mas um grande temor sucede; o rei furioso procura destruir a criança e toda a cidade está em alvoroço para tirar sua vida. Isto é seguido por uma nova alegria, a adoração dos Magos: uma nova tristeza então surge; ele recebe a ordem de fugir para um país estrangeiro e desconhecido, sem auxílio ou alguém conhecido.” É a opinião dos Padres da Igreja, que com a presença do menino Jesus, todos os oráculos daquele país supersticioso ficaram mudos, e as estátuas de seus deuses estremeceram e, em muitos lugares, caíram por terra, de acordo com Isaías 19: E as estátuas egípcias estremecerão diante d’Ele.[6] Os Padres também atribuem a esta divina visita as graças derramadas naquele país, que fez dele, por muitos anos, um campo fértil de santos.[7]

Depois da morte do rei Herodes, que foi informada a São José por meio de uma visão, Deus ordenou-lhe o retorno, com a criança e a mãe, para a terra de Israel, ordem que nosso santo prontamente obedeceu. Mas quando ele chegou à Judéia, sabendo que Arquelau sucedera Herodes naquela parte do país, temendo que ele tivesse sido infectado pelos vícios de seu pai – crueldade e ambição – ele temeu, por isso, lá se estabelecer, como ele teria, de resto, feito, pelas facilidades de educação da criança. E assim, sendo orientado por Deus em nova visão, ele se fixou nos domínios do irmão de Arquelau, Herodes Antipas, na Galiléia, em sua residência anterior, em Nazaré, onde as maravilhosas ocorrências do nascimento de Nosso Senhor eram menos conhecidas. São José, sendo um austero observante da Lei Mosaica, em conformidade com ela, anualmente visitava Jerusalém para celebrar a páscoa. Arquelau, tendo sido banido por Augusto, e a Judéia tendo se tornado uma província romana, José não tinha, agora, nada a temer em Jerusalém. Nosso Salvador, tendo completado doze anos de idade, acompanhou seus pais até lá; os quais, tendo realizado as cerimônias usuais da celebração, estavam agora retornando, com muitos de seus vizinhos e conhecidos, para a Galiléia. Sem nunca duvidarem que Jesus se unira ao grupo com algum amigo, viajaram durante todo dia sem procurar por Ele, antes que descobrissem que Ele não viajara com eles. Mas quando caiu a noite e eles não conseguiram obter nenhuma notícia d’Ele entre parentes e conhecidos, eles, na mais profunda aflição, retornaram com a máxima urgência a Jerusalém; onde, depois de uma busca ansiosa de três dias, eles O encontraram no templo, entre doutores da lei, ouvindo seus discursos e argüindo-os de forma a causar grande admiração a todos que O ouviam, deixando-os impressionados com a maturidade de Sua compreensão: tampouco seus pais ficaram menos surpresos na ocasião. E quando sua mãe contou-lhe a aflição e o afinco com que Lhe procuraram, e para expressar sua tristeza por aquela privação, embora de curta duração, de sua presença, disse a Ele: “Filho, por que procedestes assim conosco? Eis que seu pai e eu andávamos angustiados à tua procura;” ela recebeu como resposta que, sendo o Messias e Filho de Deus, enviado por seu Pai ao mundo para redimi-lo, Ele deve cuidar das coisas do Pai, as mesmas pelas quais Ele fora enviado ao mundo; e portanto, era muito provável que eles O encontrassem na casa de Seu Pai: dando a entender que sua aparição em público naquela ocasião era para manifestar a honra de Seu Pai, e para preparar os príncipes dos judeus para recebê-lo como seu Messias; advertindo-os, a partir dos profetas, acerca do tempo de Sua vinda. Mas, embora permanecendo assim no templo sem o conhecimento de seus pais, Ele tenha feito algo sem a permissão deles, em obediência ao Seu Pai celeste, em todas as outras coisas, Ele lhes foi obediente, retornando com eles para Nazaré, e lá vivendo numa obediente sujeição a eles.

Aelred, nosso compatriota, abade de Rieval, em seu sermão sobre a perda do menino Jesus no templo, observa que essa Sua conduta em relação a Seus pais é uma verdadeira representação do que ele nos mostra, quando ele, não raro, se afasta de nós por um curto período para nos fazer procurá-Lo com mais afinco. Ele assim descreve os sentimentos de Seus santos pais naquela ocasião:[8] “Consideremos o que era a felicidade daquele abençoado grupo, no caminho de Jerusalém, a quem foi dado contemplar Sua face, ouvir Suas doces palavras, ver n’Ele os sinais da sabedoria e virtude divinas; e em suas conversações receber a influência de Suas verdades que salvam e de Seus exemplos. Os velhos e os jovens O admiravam. Creio que os meninos de Sua idade ficavam atônitos com a gravidade de suas maneiras e palavras. Creio que tais raios de graça lançados de Seu abençoado semblante atraiam os olhos, ouvidos e corações de todos. E quantas lágrimas eles não derramavam quando estavam longe d’Ele?” Ele continua, considerando qual deve ter sido o desconsolo dos pais quando eles O perderam; quais foram seus sentimentos e quão veemente fora sua procura: mas que alegria quando eles O encontraram novamente! “Revela-me”, diz ele, “Oh, minha Senhora. Oh, Mãe de meu Deus, quais foram seus sentimentos, seu assombro e sua alegria quando a senhora O viu novamente, sentado, não entre meninos, mas no meio de doutores da lei: quando a senhora viu os olhos de todos fixados n’Ele, os ouvidos de todos O escutando, grandes e pequenos, instruídos ou não, atentos somente em suas palavras e movimentos. A senhora diz então: encontrei Quem eu amo. Eu O abraçarei e não O deixarei mais se afastar de mim. Abrace-O, doce Senhora, segure-O firme; lance-se ao Seu pescoço, demore em seu peito, e compense os três dias de ausência multiplicando os gozos de vosso atual desfrute d’Ele. Diga-Lhe que a senhora e Seu pai o procuraram em aflição. Por que se afligiram?, não por temor que Ele ficasse com fome ou necessitasse de algo, pois vocês sabiam que Ele era Deus: mas creio que vocês se afligiram por se verem privados dos gozos de Sua presença, mesmo por um curto período; pois o Senhor Jesus é tão doce para aqueles que O experimentam, que a mais mínima ausência é um motivo da maior aflição para eles.” Esse mistério é um emblema da alma devota, que Jesus por vezes se afastando e deixando-a na secura, a faça procurá-Lo com mais fervor. Mas, acima de tudo, quão fervorosamente não deve a alma que perdeu a Deus pelo pecado procurá-Lo novamente, e quão amargamente ela não deve deplorar sua extrema infelicidade!

Como nenhuma outra menção é feita a São José, ele deve ter morrido antes das bodas de Caná e do começo do ministério de nosso divino Salvador. Não podemos duvidar que ele tenha tido a felicidade da presença de Jesus e Maria em sua morte, rezando ao seu lado, assistindo-o e confortando-o nos seus últimos momentos. Por isso, ele é particularmente invocado pela grande graça de uma morte feliz e pela presença de Jesus nesta hora tremenda. A Igreja lê a história do patriarca José no seu dia, este que era chamado o salvador do Egito, que ele livrou de uma fome fatal; e foi nomeado o mestre fiel da casa de Putephar, do faraó e seu reino. Mas nosso grande santo foi escolhido por Deus como o salvador da vida do verdadeiro Salvador das almas dos homens, resgatando-O da tirania de Herodes. Ele está agora glorificado nos céus, como o guardião e mantenedor de seu Senhor na terra. Como o faraó dizia aos egípcios em suas tribulações: “Ide a José;” que nós confiantemente nos dirijamos à mediação dele, a quem Deus, feito homem, esteve sujeito e obediente na terra.

O devoto Gerson expressou a mais calorosa devoção a São José, que ele empenhou-se em promover por cartas e sermões. Ele compôs um ofício em sua honra, e escreveu sua vida em doze poemas, chamados Josefina. Ele engrandeceu todas as circunstâncias de sua vida através de piedosas afeições e meditações. Santa Teresa o escolheu o principal patrono de sua ordem. No sexto capítulo de sua vida, ela escreveu assim: “Escolhi o glorioso São José para meu patrono, e me recomendo singularmente a sua intercessão em todas as coisas. Não me lembro de ter suplicado a Deus alguma coisa por seu intermédio que eu não tivesse conseguido. Nunca conheci alguém que, por sua invocação, não tenha muito avançado na virtude: pois ele assiste de uma forma maravilhosa todos que se dirigem a ele.” São Francisco de Sales, ao longo de seus “dezenove entretenimentos”, recomendava grandemente a devoção a São José, e exaltava seus méritos, principalmente sua virgindade, humildade, constância e coragem. Os sírios e outras igrejas orientais celebram sua festa em 20 de julho; a Igreja ocidental, em 19 de março. O papa Gregório XV, em 1621, e Urbano VIII, em 1642, ordenou manter esta data como feriado de guarda.

A Sagrada Família de Jesus, Maria e José, nos apresenta o mais perfeito modelo de convivência na terra. Como aqueles dois serafins, Maria e José, viviam em sua pobre casa! Eles sempre desfrutavam da presença de Jesus, sempre se abrasando no mais ardente amor por Ele, inviolavelmente ligados à Sua sagrada Pessoa, sempre ocupados e vivendo apenas por Ele. Quantos foram seus êxtases em contemplá-Lo, qual foi sua devoção em ouvi-Lo, e seu gozo em possuí-Lo! Oh, vida celestial! Oh, antecipação da beatitude celestial! Oh, convívio divino! Podemos imitá-los, e compartilhar algum grau dessas vantagens, ao conversar freqüentemente com Jesus, e ao contemplar sua mais amigável bondade, acendendo o fogo de Seu divino amor em nosso peito. Os efeitos desse amor, se ele for sincero, aparecerá necessariamente na adoção de Seu espírito, na imitação de Seu exemplo e virtudes; e em nosso esforço em caminhar continuamente na presença divina, encontrando Deus em todos os lugares, e na consideração de todo o tempo perdido que não dedicamos a Deus, ou à Sua honra.

[1] L. adv. Helvid. c. 9.
[2] Hom. 2. super missus est, n. 16. p. 742.
[3] Serm de Nativ.
[4] Isto aparece em: Mat 23:55; S. Justino (Dial. n. 89. ed. Ben. p. 186.); S. Ambrósio (in Luc. p. 3.). Theodoreto (b. 3. Hist. c. 18.) diz que ele trabalhou em madeira, como carpinteiro. S. Hilário (in Matt. c. 14. p. 17.) e S. Pedro Chrisólogo (Serm. 48.) dizem que ele trabalhava em ferro como ferreiro; provavelmente ele trabalhou tanto em ferro quanto em madeira; opinião esposada por S. Justino, que diz: “Ele e Jesus fabricavam arados e parelhas de bois”.
[5] Hom. 8. in Matt. t. 7. p. 123. ed. Ben.
[6] Isto é afirmado por: S. Atanásio (1. de Incarn.); Eusébio (Demonstrat. Evang. l. 6. c. 20.); S. Cirilo (Cat. 10.); S. Ambrósio (in Ps. 118. Octon. 5.); S. Jerônimo (in Isai. 19.); S. Crisóstomo e St. Cyril of Alexandria, (in Isai.); Sozomeno, (l. 5. c. 20.); etc.
[7] Ver, Vidas dos Santos Padres do Deserto.
[8] Bibl. Patr. t. 13.

18/03/2011

Vingança da natureza ou Castigo de Deus?

Nestes tempos de culto panteísta da natureza (quando até a CNBB se converte ao panteísmo globalista new age), fala-se de vingança da natureza, como se ela fosse uma pessoa e tivesse a capacidade de vingar dos maldosos poluidores e cortadores de árvores. Esquece-se da Pessoa que a criou e a todos nós (ver Gênesis, capítulos 1 e 2).  

Em dois artigos muito bons, D. Tomás de Aquino, do Mosteiro da Santa Cruz, e o Pe. Nicolas Pinaud nos ensina a verdadeira interpretação católica dessas lamentáveis ocorrência "naturais". Sobre os eventos no Japão, ver ainda, no FratresInUnun, post sobre as aparições de Nossa Senhora em Akita.

12/03/2011

CNBB, aprenda com o Cardeal Piacenza o que é Quaresma!

Caríssimos Irmãos,

O tempo de graça, que nos é dado a viver em conjunto, chama-nos a uma conversão renovada, da mesma forma como sempre é novo o Dom do Sacerdócio ministerial, através do qual o Senhor Jesus torna-se presente nas nossas existências e, através delas, na vida de todos os homens. Conversão, para nós, Sacerdotes, significa, antes de tudo, adequar sempre mais a nossa vida à pregação, que cotidianamente nos é dado oferecer aos fiéis, tornando-nos, desse modo, “trechos do Evangelho vivente”, que todos podem ler e acolher.


Fundamento de uma tal atitude é, sem dúvida, a conversão à própria identidade: devemos converter-nos àquilo que somos! A identidade, recebida sacramentalmente e acolhida pela nossa humanidade ferida, demanda a progressiva conformação do nosso coração, da nossa mente, das nossas atitudes, de tudo quanto nós somos à imagem de Cristo Bom pastor, que, em nós, foi sacramentalmente impressa.

Devemos entrar nos Mistérios que celebramos, especialmente na Santíssima Eucaristia, e deixarmo-nos plasmar por eles; é na Eucaristia que o Sacerdote redescobre a própria identidade! É na celebração dos Divinos Mistérios que se pode perceber o “como” ser pastores e o “que” seja necessário fazer para sê-lo verdadeiramente ao serviço dos irmãos.


Um mundo descristianizado requer uma nova evangelização, mas uma nova evangelização reclama Sacerdotes “novos”, não certamente no sentido do impulso superficial de toda a efêmera moda passageira, mas naquele de um coração profundamente renovado por cada Santa Missa; renovado segundo a medida da caridade do Sacratíssimo Coração de Jesus, Sacerdote e Bom Pastor. Particularmente urgente é a conversão do rumor ao silêncio, do preocupar-nos com o “fazer” para o “estar” com Jesus, participando sempre mais conscientemente do Seu ser. Cada agir pastoral deve ser sempre eco e dilatação daquilo que o Sacerdote é!

Devemos converter-nos à comunhão, redescobrindo o que ela realmente é: comunhão com Deus e com a Igreja, e, nessa, com os irmãos. A comunhão eclesial caracteriza-se fundamentalmente pela consciência renovada e vivida de viver e anunciar a mesma Doutrina, a mesma tradição, a mesma história de santidade e, por isso, a mesma Igreja. Somos chamados a viver a Quaresma com profundo sentido eclesial, redescobrindo a beleza de estar em um êxodo do povo, que inclui toda a Ordem Sacerdotal e todo o nosso povo, que aos seus Pastores olha como a um modelo de segura referência e, desses, espera renovado e luminoso testemunho.

Devemos converter-nos à participação cotidiana no Sacrifício de Cristo sobre a Cruz. Como Ele disse e realizou perfeitamente aquela substituição vicária, que tornou possível e eficaz a nossa Salvação, assim cada sacerdote, alter Christus, é chamado, como os grandes santos, a viver em primeira pessoa o mistério de tal substituição, ao serviço dos irmãos, sobretudo na fiel celebração do Sacramento da Reconciliação, procurado para si mesmos e generosamente oferecido aos irmãos, em união à direção espiritual, e na cotidiana oferta da própria vida em reparação dos pecados do mundo. Sacerdotes serenamente penitentes diante do Santíssimo Sacramento, capazes de levar a luz da sabedoria evangélica e eclesial nas circunstâncias contemporâneas, que parecem desafiar a nossa fé, tornando-se na realidade autênticos profetas, capazes, por sua vez, de lançar ao mundo o único desafio autêntico: aquele do Evangelho, que chama à conversão.


Às vezes, o cansaço é muito grande e fazemos e experiência de sermos poucos, frente às necessidades da Igreja. Mas, se não nos convertemos, seremos sempre menos, porque somente um sacerdote renovado, convertido, “novo” torna-se instrumento através do qual o Espírito chama a novos sacerdotes.

À Beata Virgem Maria, Rainha dos Apóstolos, confiamos esse caminho quaresmal, implorando da Divina Misericórdia que, a partir do modelo da Mãe celeste, também o nosso coração sacerdotal torne-se “Refugium peccatorum”.

Cardeal Mauro Piacenza

PUBLICADA EM: http://missatridentinaemportugal.blogspot.com/

11/03/2011

Rom 8:22 – A Campanha da Fraternidade do sindicato panteísta dos bispos do triste Brasil

Que péssima lembrança a da CNBB, tomando como mote da CF2011 um versículo da Epístola aos Romanos! É nela que Paulo fala ferozmente o que se aplica muito bem aos senhores bispos: “Vangloriando-se, embora sábios, tornaram-se estultos, e trocaram a glória de Deus indefectível pela reprodução em imagens do homem corruptível, de aves de quadrúpedes e de répteis.” (Rom 1:22-23) Começaram, em síntese a adorar a natureza. Abraçando a falácia do aquecimento global, que é apenas a última moda dos comunistas, “new agers” e internacionalistas de plantão, os bispos do Brasil se tornam como estes “estultos” panteístas adoradores de ídolos, “Por isso é que Deus os abandonou, em poder da concupiscência dos seus corações” (Rom 1:24).

Mas vejamos se o versículo escolhido pela CNBB condiz com o que este sindicato de bispos quer que nós católicos acreditemos. Testemos o conhecimento exegético de nossos bispos. Reproduzamos um trecho um pouco maior (Rom 8:19-23): “Portanto, a criação atende ansiosamente a revelação dos filhos de Deus. De fato, a criação foi submetida à caducidade, não por sua inclinação, mas por vontade daquele que a submeteu, na esperança, porém, de que as próprias criaturas serão libertadas da escravatura da corrupção, para participarem da gloriosa liberdade dos filhos de Deus. Sabemos, com efeito, que a criação inteira geme e sofre em conjunto, as dores do parto, até ao presente. E não só ela: também nós próprios, que possuímos as primícias do Espírito, gememos igualmente em nós mesmos, anelando a adoção filial, a redenção do nosso corpo.”

Será que o gemido da criação inteira, suas dores de parto, se refere aos maus tratos que o homem dá à natureza? Será que Paulo está dizendo que os homens é que fazem a natureza gemer? Será a interpretação da CNBB das palavras de Paulo corresponde minimamente ao que diz a Tradição?

Sobre esse trecho, reproduzo um comentário do extraordinário livro de Josef Holzner, Paulo de Tarso (Editora Quadrante, 2008) que se encontra em sua página 411.

“Paulo nos sugere a imagem, cheia de melancolia e de poesia, da Criação que sofre ‘dores do parto’ e anseia por uma transfiguração. A história da humanidade e da Criação é um mistério, e não encontra qualquer explicação em si própria; não existe nenhum sentido imanente na História, como pretende o panteísmo [ouviram, senhores bispos!]. Em sim mesma, a História é um monstro, uma esfinge cujo enigma a humanidade tenta em vão decifrar desde os dias de Jó, e nem a Revelação nem a Redenção ergueram esse véu que oculta o destino. Pelo contrário, abriram-nos os olhos e fizeram-nos tomar consciência dos abismos à beira dos quais nos movemos, apesar de também nos assegurarem que todas as dissonâncias se reabsorverão finalmente na harmonia eterna. Se Virgílio ouve chorar as coisas (sunt lacrmae rerum, diz: ‘há lágrimas nas coisas’), o Apóstolo vê as criaturas elevarem as mãos ao Criador, num gesto de súplica, procurando ser libertadas da servidão do Maligno, ‘da sujeição à corrupção’ (Rom 8:21). [atenção bispos: a criação sente dores de parto porque está sujeita à lei da corrupção!] Os santos souberam captar esse mudo olhar da criatura maltratada [maltrata pela corrupção, senhores bispos!], e São Francisco de Assis ficou de tal modo impressionado como esse olhar que estreitou contra o seu coração todas as coisas criadas.”

Não conheço outro texto tão conciso quanto este para explicar o que os bispos parecem não compreender. A criação toda, incluindo os seres humanos chora e sente as dores do parto por causa da Queda (A Vós suspiramos gemendo e chorando neste vale de lágrimas!). A lei da corrupção é a lei de nosso estado.

Portanto, parem de tentar enganar os católicos do Brasil, senhores bispos da CNBB. O que vocês querem com esta CF2011 é pregar o panteísmo “new age”, usando para isto uma “ciência” vagabunda e de quebra achincalhando a verdadeira Doutrina Católica. Vocês já leram Ap 21:8?

10/03/2011

Obrigado, Olavo de Carvalho!

Nos últimos tempos, tem sido tão difícil nos orgulharmos de nosso país que eu já tinha até esquecido deste sentimento. Nosso país mergulhou num abismo tão profundo, aparentemente sem fundo, que toda a minha energia tem sido usada para não ser levado pelo redemoinho. Tenho tentado ficar, com a ajuda de Deus, na superfície e segurar, neste nível, o máximo de pessoas possíveis.

Tendo dedicado minha vida aos estudos, sou naturalmente propenso a admirar os feitos intelectuais de meus compatriotas. Estes feitos estão ausentes há algum tempo no Brasil, salvo raríssimas exceções. A universidade brasileira foi tomada por uma casta que não produz nada de que se orgulhar. O campo intelectual está devastado e a mediocridade é a lei da terra. Assim, “orgulho de ser brasileiro”, passou a ser uma expressão vazia para mim.

Recentemente, fui visitado por este sentimento, que trouxe à minha alma a brisa de tempos passados. É que temos um nosso compatriota, intelectual brasileiro com sotaque paulista, atualmente participando de um debate em que poucos intelectuais do mundo conseguiriam se inserir; suspeito que muito poucos intelectuais brasileiros atuais conseguiriam entender. Falo, claro, do debate que Olavo de Carvalho está tendo com Alexandr Dugin, grande mentor do Movimento Eurasiano e estrategista de Putin. O debate ainda está no início, mas o texto de abertura do filósofo brasileiro já traz coisas jamais ouvidas neste país de Lulas e Dilmas.

Orgulho-me porque, de qualquer forma, mesmo tendo se educado a despeito de viver no Brasil, Olavo é um brasileiro que conseguiu se elevar além da superfície do abismo que tenta nos engolfar, ao nível da comunidade dos grandes intelectuais do mundo. Orgulho-me porque ele está mostrando, dentro de suas possibilidades limitadas (uma andorinha só não faz verão), que alguma coisa valorosa resta do desastre intelectual de nosso país. Orgulho-me porque ele está mostrando que é possível lutar contra a mediocridade e a malícia intelectual tupiniquim. Orgulho-me, finalmente, porque a vitória intelectual de Olavo se torna, um pouco, a dos brasileiros que conseguem, pelo menos, acompanhar sua trajetória e entender seus escritos.

Quem quiser aprender algo sobre política, sobre poder mundial, sobre como está a luta para dominar o mundo, para dominar nossas consciências, não deixe de visitar a página do debate.

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P.S. Permitam-me, aproveitando o tema do post, compartilhar com todos uma passagem de Hereges, de Chesterton, sobre o orgulho: "O orgulho que, proporcionalmente falando, não fere o caráter, é o orgulho de coisas que não envolvem nenhum crédito pessoal. Assim, não faz nenhum mal se orgulhar de seu país, e faz comparativamente pouco mal se orgulhar de ancestrais remotos. Faz mais mal se orgulhar de ter ganhado dinheiro, porque nisso se tem um pouco mais de razão para se orgulhar. Faz ainda mais mal se orgulhar do que é mais nobre que dinheiro – o intelecto. E faz um mal extremo se orgulhar da coisa mais valiosa da terra – a bondade. O homem que se orgulha dos seus reais predicados é um fariseu, homem que o próprio Cristo nunca pôde abster-se de atacar."

09/03/2011

Quaresma 2011: sugestões de práticas e de leituras

Nunca é demais lembrar que a Quaresma, sendo um tempo de conversão, é tempo propício para a prática das Obras de Misericórdia que a Igreja sempre sugere. São elas as Obras de Misericórdia Corporais e as Obras de Misericórdia Espirituais. Abaixo as trancrevo por completo.

OBRAS DE MISERICÓRDIA CORPORAIS
1. Dar de comer a quem tem fome.
2. Dar de beber a quem tem sede.
3. Vestir os nus.
4. Dar pousada aos peregrinos
5. Visitar os enfermos e os encarcerados.
6. Remir os cativos.
7. Enterrar os mortos.

OBRAS DE MISERICÓRDIA ESPIRITUAIS
1. Dar bom conselho.
2. Instruir os menos esclarecidos
3. Corrigir os que erram.
4. Consolar os aflitos.
5. Perdoar as injúrias.
6. Suportar pacientemente as fraquezas do próximo.
7. Rezar pelos vivos e falecidos.

As leituras que sugiro são:
Que Nosso Senhor nos dê, nesta Quaresma, a graça de nos aproximarmos d'Ele ainda mais, nunca esquecendo que esta aproximação nos granjeará a inimizade do mundo. Lembrem-se: "Bem-aventurados sois vós, quando, por minha causa, vos injuriarem e perseguirem e disserem, falsamente, contra vós toda a espécie de mal. Alegrai-vos e exultai, porque será grande nos céus a vossa recompensa. Foi assim que perseguiram os profetas que viveram antes de vós."

07/03/2011

A sola scriptura levada às últimas conseqüências

Atenção! O texto que vai abaixo é de um escritor protestante (David Kupelian), um sujeito importante, colunista do WorldNetDaily. O trecho está em seu livro The Marketing of Evil (algo como O Comércio do Mal). Depois de 400 anos, a sola scriptura luterana dá seus mais suculentos frutos: denominações protestantes que se adequam ao gosto do freguês. Há denominações prostestantes para abortistas, prostitutas, roqueiros, gays, etc. Estão todos calvinisticamente salvos, claro. É o mal se espalhando pelo mundo!
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Apesar dos incansáveis ataques a nossa base moral e espiritual, os EUA têm se mantido majoritariamente cristão. Pelos menos nossa liderança política e a freqüência às nossas igrejas dão esta impressão. Enquanto muitos de nós alegamos ser cristãos, a cultura popular americana tem nos seduzido e temos nos tornado progressivamente não cristãos. Nossas igrejas são nossa última esperança no renascimento da cultura judaico-cristã ocidental, razão pela qual elas são o alvo principal dos propagadores do mal.

Uma forma de “cristianismo para todos” desenvolveu-se. Quer você seja esquerdista ou conservador, goste de música eletrônica, seja racista ou gay, há uma forma de cristianismo que lhe dá apoio e acolhe suas prioridades. Muitos americanos procuram uma religião que seja compatível com suas atitudes. Os propagadores do mal trabalharam duro para se infiltrarem em todos os níveis de religião e espalharem seu “evangelho”. Temos até as principais denominações religiosas, tais como a Igreja Episcopal, apoiando um clero homossexual.

Algumas religiões tentam assumir a imagem do mundo secular para atrair as pessoas, especialmente jovens, e têm gradualmente assumido muito mais características e atitudes do inimigo que elas conseguem perceber. Isto tudo leva a uma experiência religiosa falsificada, em que muitos cristãos aprendem que eles estão “salvos”, que eles estão seguros, não importando como eles vivem suas vidas.

01/03/2011