03/08/2008

Lições das Missas dominicais pós-Vaticano II – Parte VIII

Avertántur retrórsum et erubéscant: qui cógitant mihi mala.”

Volto a comentar, com muita tristeza, as imposturas do Semanário Litúrgico-Catequético, de 03/08/2008, sobre “O projeto ‘fome zero’”. Desta vez é o Pe. Nilo Luza que nos oferece o espetáculo nojento da subserviência da Igreja ao partido mais corrupto que já assumiu o governo do Brasil.

Esse padre nos diz que o projeto “fome zero” é na verdade um projeto de Jesus. Ele comenta o milagre da multiplicação dos pães como sendo o fundamento do projeto. Vale para o Pe. Nilo Luza o versículo do Salmo 69, do Introitus da Missa Tridentina do XII Domingo Depois de Pentecostes, reproduzido acima: Voltem para trás e fiquem envergonhados os que me querem mal.

Vamos a alguns trechos. Que Deus nos ajude a ler tantas heresias. “A proposta do evangelho de hoje é ‘fome zero’ para a humanidade. Jesus, quando viu a multidão faminta, convocou seu grupo e mandou-o dar um jeito. Seu gesto mostra que a Igreja não pode se isentar do problema.” Assim como Lenine tinha um grupo, Mao tinha um grupo, Fidel tinha um grupo, Jesus tinha também o seu grupo. E vejam que ele mandou o grupo resolver o problema: de alimentar 5000 pessoas com cinco pães e dois peixes. Notem, ainda mais, que, segundo esse padre, é uma das funções da Igreja a alimentação dos povos. Não, ele não está dizendo que a Igreja tem, diretamente, de alimentar os povos. Ele candidamente diz: “Claro que ela não tem condições de alimentar todos os famintos, mas pode ser solidária com eles, fazendo parcerias com outros segmentos da sociedade.” Viram só? A Igreja agora é uma ONG em parceria com a ONU, com o PT, com o PC do B etc.

Mas o que dizer do “grupo de Jesus”? Ele resolveu o problema? Ele multiplicou os pães? Claro que não! Quem o fez foi Jesus, o Cristo. Que importância teve o “grupo de Jesus” nesse caso? Claro que nenhuma. O centro de toda a história do milagre é que Jesus pode multiplicar os pães e entregá-los a nós. Não o grupo. Mas isso o padre não fala. Ele procura torcer a história ao máximo, mesmo que tenha de assassinar a lógica.

Mas, perguntarão os leitores, o padre não fez nenhuma alusão ao significado eucarístico do pão, ao significado de uma outra alimentação, a da alma? Não disse ele nada em relação a: “Não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus?” Não. Padre Nilo Luza foi absolutamente silencioso ao significado maior do pão. Ou seja, foi incapaz de chegar ao inteligível a partir das coisas sensíveis. Esse padre deve ter faltado às aulas sobre Santo Tomás quando estava no seminário, se é que se ensina Santo Tomás nos seminários hoje em dia.

Enquanto escrevo, noto uma observação em letras pequenas ao pé da última página de O Domingo: “Texto litúrgico publicado com a autorização da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).” Pergunto-me: devo ficar aliviado? Devo considerar que os outros textos, os não-litúrgicos, como os que tenho comentado aqui, não são do conhecimento da CNBB? Será que eles não têm o Nihil Obstat? Queira Deus que isso aconteça. Queira Deus que a apostasia não tenha chegado tão alto.

Para quem queira ler algo muitíssimo mais elevado sobre a multiplicação dos pães, sugiro Santo Agostinho e Orígenes.

Para ver outros comentários, clique: Parte I, Parte II, Parte III, Parte IV, Parte V, Parte VI, Parte VII

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3 comentários:

David disse...

Sr. Angueth,

Sou um admirador do seu trabalho neste blog, muito embora não concorde consigo no que diz respeito ao Conc. Vat. II.
Queria neste comentário apenas manifestar meu repúdio à ligação entre o folheto "O Domingo" ao citado concílio. Os infelizes comentários que nele lemos não refletem os documentos do concílio e nem manifestam seu "espírito", por assim dizer. A escolha do título, portanto ("Lições das Missas..."), em minha opinião induz ao erro o leitor não conhecedor dos documentos conciliares.
Esclareço que eu, admirador do concílio e papista até o último fio de cabelo, considero os comentários do referido folheto horríveis, superficiais e frequentemente mentirosos. E justamente por isso repudio a sugestão de ligação com o referido concílio.
Abraço fraterno.

Antonio Emilio Angueth de Araujo disse...

Caro David,

Salve Maria!

Obrigado pelos comentários sobre o blog.

A ligação do folheto "O Domingo" com o Concílio Vaticano II é muitíssimo clara. A Missa de Paulo VI, que já é liturgicamente muito inferior à Missa de Pio V, mesmo em sua versão original em latim e com o padre celebrando-a de frente para o Altar, foi, no mundo todo, degradada pela maliciosa tradução vernacular. Depois disso, valendo qualquer coisa na Missa, "O Domingo" é apenas uma conseqüência lógica da catástrofe que atingiu a Igreja.

Ao contrário do que você diz, os textos que comento estão todos de acordo com o "espírito do concílio". Esta expressão é curiosa, pois não se escuta dizer que outros concílios tiveram "espírito", mas letra. A letra do Concílio de Trento, a letra do Concílio de Nicéia, não o espírito de Trento ou o espírito de Nicéia. Este termo é puríssima malícia e já demonstra que o relativismo filosófico foi um dos fundamentos deste infeliz concílio. Os textos são uma mistura de teologia da embromação, relativismo filosófico, gnose etc.

A situação da Igreja é tão grave que se esse lamentável folheto que comento aqui no blog fosse seguido em todas as Igrejas, as missas, em média, seriam até melhores do que são.

O papa Bento XVI tem dado mostras de que enxerga bem todos os problemas criados pelo CVII e que ele pretende começar a corrigi-los. Rezo diariamente por ele, para que NSJC lhe dê força, coragem e determinação.

Caso você queira ler alguma coisa sobre essa catástrofe, sugiro: Do Liberalismo à Apostasia, de Dom Lefebvre. Um livro clássico sobre o CVII é o Iota Unum, de Romano Amério. Outro, que ainda não li, mas há muitas referências elogiosas é O Reno se Lança sobre o Tibre, de Ralph Witgen.

Um abraço.


Antônio Emílio Angueth de Araújo

David disse...

Sr. Angueth,

Ora, escrevi "espírito" entre aspas, e com o complemento "por assim dizer", justamente para evitar uma má interpretação, pois quis apenas referir-me ao conteúdo propriamente dito do concílio, em contraposição às tolices escritas no referido folheto.
Mas não quero absolutamente entrar numa discussão sobre o Vat. II.
Anyway, não lhe causa estranheza que tanto você quanto eu, que conheço os documentos do Vat. II e os aprovo, repudiemos o tal folheto?
Em minha opinião, pois, tal ligação de modo algum existe, e se é verdade que se em alguns lugares "vale tudo na missa", isso de modo algum reflete o concílio. Há muitos outros lugares onde se celebra a Santa Missa com extremo zelo e devoção, sem nenhum oba-oba e sem qualquer viés esquerdista na homilia.
Abraços.