27/09/2008

O diabo da Veja e o nosso

A revista Veja, em sua edição 2078, de 17 de setembro de 2008, publica uma resenha de dois livros que tratam do tema do diabo, Anjos Caídos e Satã. O resenhista é Jerônimo Teixeira.

Não li nenhum dos dois livros e nem irei lê-los, pois tenho mais o que fazer. Mas chamam a atenção na resenha algumas afirmações. Se elas são do sr. Jerônimo ou dos autores dos livros, não fica claro no texto.

Uma observação inicial é a de que há uma superficialidade insuportável na resenha. Tal como em outra resenha que comentei aqui (O mal, os católicos e a Veja), parece que atualmente os resenhistas têm muito pouco interesse em se aprofundar no tema do livro que eles comentam. As obras que o sr. Jerônimo cita, além da que ele comenta, para dar um sabor de erudição ao seu texto são “Legenda Áurea” e “Fausto”. A referência à “Legenda Áurea” mostra que tipo de conhecimento tem o resenhista, pois qualquer católico minimamente informado sabe que a obra é totalmente condenável por ser inverídica[1]. Ele ainda cita uma referência de Charles Baudelaire ao diabo. No mais, o sr. Jerônimo tenta fazer o diabo parecer um ser absolutamente ridículo.

Aqui lembro-me de Bernanos em seu “Diário de um Pároco de Aldeia”, quando o pároco diz: “Pois Satã é um amo muito rígido: ele não ordenaria, como o Outro, com sua simplicidade divina: ‘Imitem-me!’ Ele não suporta que suas vítimas se assemelhem a ele, permite-lhes apenas uma caricatura grosseira, impotente, com a qual deve se deliciar, sem jamais se saciar, a feroz ironia do abismo.” Lembro também da advertência inicial que C.S. Lewis faz em seu “Cartas de um Diabo a seu Aprendiz”: “Há dois erros semelhantes mas opostos que os seres humanos podem cometer quanto aos demônios. Um é não acreditar em sua existência. O outro é acreditar que eles existem e sentir um interesse excessivo e pouco saudável por eles. Os próprios demônios ficam igualmente satisfeitos com ambos os erros, e saúdam o materialista e o mago com a mesma alegria.” Faria muito bem ao sr. Jerônimo ler tanto o livro de Bernanos quanto o de Lewis.

Comentemos pois a resenha, no que ela tem de mais significativo. A primeira frase que chama a atenção é: “No cômputo final, Satanás é quase como um figurante na Bíblia. Sua aparição”. A outra, semelhante a essa é: “A narrativa cristã da perdição e da redenção do homem quase poderia prescindir do Coisa-Ruim.” Notem, primeiramente, que satanás e coisa-ruim são escritos com letra maiúscula e redenção com minúscula. Daí se vê que o sr. Jerônimo não entende bem as coisas que comenta. Não entende que a Redenção só foi necessária por causa da Queda, que teve participação direta da serpente, que outra coisa não é que satanás.

Com relação à posição bíblica de figurante de satanás, vamos clarear um pouco as coisas. Primeiramente, nós católicos, somos os primeiros a admitir que as referências bíblicas a satanás não são numerosas. Mas elas são muito significativas. Vejamos algumas:

“Como caíste do céu,
ó astro brilhante, que, ao nascer
do dia, brilhavas?
Como caíste por terra, tu que ferias as nações?
Que dizias no teu coração: Subirei
ao céu,
estabelecerei o meu trono acima dos astros de Deus,
sentar-me-ei sobre o monte da aliança,
(situado) aos lados do aquilão.
Sobrepujarei a altura das nuvens,
Serei semelhante ao Altíssimo.
E contudo foste precipitado no inferno,
Até ao mais profundo dos abismos.” (Is 14:12-15)

“Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, que foi preparado para o demônio e para os seus anjos”. (Mt 25:41)

“Eu via satanás cair do céu como um raio.”(Lc 10:18)

“Houve no céu uma grande batalha: Miguel e os seus anjos pelejavam contra o dragão, e o dragão com os seus anjos pelejava contra ele; porém estes não prevaleceram, nem o seu lugar se encontrou mais no céu. Foi precipitado aquele grande dragão, aquela antiga serpente, que se chama demônio e satanás, que seduz todo o mundo, foi precipitado na terra, e foram precipitados como ele os seus anjos.” (Ap 12:7-9)

Somam-se a essas, as narrativas dos três Evangelhos sinóticos sobre as tentações de Nosso Senhor Jesus Cristo pelo demônio. Sobre elas há um comentário belíssimo de Bento XVI em seu livro “Jesus de Nazaré”.

Essas (e outras) poucas referências bíblicas são a palavra da Sagradas Escrituras. Para nós, católicos, além das Sagradas Escrituras, há também a Tradição da Igreja. E aí há muitíssimas referências ao diabo, da Patrística latina e grega, de vários grandes teólogos, dos Concílios e dos Papas.

Há assim uma riqueza imensa de comentários sobre a natureza do pecado dos anjos rebeldes e de sua rebelião contra Deus.

O Concílio que definiu o dogma referente ao demônio foi o IV Concílio Laterano de 1215: “Diabolus enim et alii dæmones a Deo quidem naturâ creati sunt boni, sed ipsi per se facti sunt mali.” [O diabo e os outros demônios foram criados por Deus naturalmente bons, mas por si mesmos se tornaram maus.]

Que o diabo tenha a natureza angélica, que ele tenha sido criado bom e se rebelado por orgulho encerra um grande ensinamento para nós católicos: o grande pecado contra Deus é o orgulho ou soberba. É ele que pode nos levar aos infernos e é em direção a ele que o demônio nos empurra. Por isso, a primeira das bem-aventuranças é: “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus”. Os ricos de espírito são os orgulhosos e: “Ai de vós ricos, porque recebestes já a consolação.”

Depois de tudo isso, o sr. Jerônimo termina sua resenha, dando razão a Baudelaire “que observou que o maior truque do Diabo é nos convencer de que ele não existe.” O resenhista conclui: “Faz sentido: é só dar-lhe um pouco de atenção, para o Diabo se tornar uma figurinha ridícula.” Quem escreve diabo com letra maiúscula, protocolando-o o maior respeito, e depois o chama de figurinha ridícula ou perdeu o juízo ou quer brincar com fogo.

Nós católicos queremos a maior distância do diabo, pois sabemos que ele é mau e muito mais poderoso que nós humanos. Por isso rezamos pedindo a proteção dos santos, da Virgem Maria, nossa grande protetora contra o demônio e do Altíssimo Jesus Cristo que, quando entre nós, expulsou muitos demônios que atentavam os seres humanos e em nome de quem é feito o exorcismo católico.

Quem se interessar pelo assunto “demônio” pode consultar a Enciclopédia Católica sobre Demônio e Demonologia.

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[1] Ver, por exemplo, o verbete Beato Jacopo de Veragine, da Enciclopédia Católica.

07/09/2008

Teresa de Frei Beto, não Santa Teresa de Ávila

Frei Beto, em artigo de jornal semana passada (tive o desprazer de ler o artigo no Estado de Minas de 04/09/2008), cria um personagem chamado Teresa que ele tenta fazer parecer com a grande santa e doutora da Igreja.

A personagem é uma revolucionária anti-paulina. Afrontou e venceu a maldosa inquisição e finalmente deixou um legado de libertação. Isso tudo ele descobriu em Bananeiras (PB), num convento das Carmelitas Descalças, que teve a desventura de receber esse herege para pregar um retiro.

Ele comenta que “Entre 1558 e 1560 seis teólogos a mantiveram sob observação, prontos a desmascarar o demônio que estaria por trás da espiritualidade dela ...” Isso é verdade e demonstra todo o cuidado que a Igreja tinha em se certificar da procedência dos fenômenos espirituais. Isso se chama exercitar o “discernimento dos espíritos”, conceito, por ironia, paulino e que é uma das coisas preciosas que a Igreja mantém. Aliás, para os leitores desse blog, vai aí uma sugestão de leitura muito interessante sobre assunto: Mystical Phenomena Compared with Their Human and Diabolical Counterfeits. Desnecessário dizer que esse frei nunca leu tal livro. Se ele o tivesse lido, veria que era obrigação da Igreja ter o cuidado que teve com Teresa.

Mas notemos as reticências ao final da frase de frei Beto. Não posso deixar de escutar o riso de sarcasmo desse frei: “esses teólogos medievais que ainda acreditavam no demônio! Que coisa mais ultrapassada!” Claro, os modernistas hereges não acreditam no demônio ou, no máximo, acham que isso é apenas uma metáfora.

O frei cita também várias passagens do livro “Vida” da santa Teresa de Ávila, onde ela comenta sobre as suspeitas da Igreja a respeito de seus relatos espirituais. Esse livro foi escrito por imposição da Igreja e se destinava somente aos teólogos que estavam analisando o “caso” de Teresa. Daí se vê, de antemão, como era revolucionária essa santa: a Igreja mandava e ela ... obedecia!!!!

Mas será que a grande santa e doutora da Igreja obedecia cegamente, como aqueles medievais retrógrados? Vejamos o que diz santa Teresa sobre suas experiências místicas:
“Pois em começando a fugir das ocasiões e a dar-me mais à oração, começou o Senhor a fazer-me as mercês como quem desejava – segundo parecia – que eu as quisesse receber. Começou Sua Majestade a dar-me, muito de ordinário, oração de quietude e muitas vezes a de união que durava muito tempo. Como nesses tempos tinha acontecido haver grandes ilusões em mulheres e enganos a que as tinha levado o demônio, comecei a temer, pois era tão grande o deleite e a suavidade que sentia, e muitas vezes sem o poder evitar, ainda que por outra parte, visse em mim uma grande segurança de que aquilo era Deus, em especial quando estava em oração, e que saía dela muito melhorada e com mais fortaleza. Mas, em me distraindo um pouco, tornava a temer e a pensar se o demônio quereria – fazendo entender que aquilo era bom – suspender-me o entendimento para me tirar a oração mental e não pudesse pensar na Paixão nem me aproveitar do entendimento. Isto me parecia a mim maior perda, pois não o compreendia.” (Vida, XXIII, 2)

A grande santa acreditava no demônio, ao contrário dos modernistas. A grande santa tinha também dúvidas. Mas, quem não as teria? Maria, quando ouviu as palavras do anjo na Anunciação “perturbou-se e discorria pensativa que saudação seria esta.” (Lc. 1, 29.) Se mesmo a Virgem Santíssima, ao ver o anjo, perturbou-se, quem ao ter as experiências que teve Teresa não duvidaria? Mas o que fez Teresa, então? Vamos deixar que ela nos conte: “Mas como sua Majestade já me queria dar luz para que não O ofendesse e conhecesse o muito que Lhe devia, cresceu este medo de tal sorte que me fez buscar com diligência pessoas espirituais com quem tratar.” (Vida, XXIII, 3) Vê-se então que Teresa procurou ajuda, porque o Senhor fez o medo dela crescer! E ela procurou ajuda na Companhia de Jesus, como ela narra no livro.

Contada assim, a história fica sendo bem outra. A Igreja se preocupou com a experiência mística de Teresa tanto quanto ela própria se preocupou. Teresa morreu em 1582 e foi canonizada em 1614. Um tempo relativamente curto para a época. Isso mostra o reconhecimento da Igreja, depois de muito analisar, sobre a origem divina da experiência de Teresa. A propósito, o frei diz, no artigo, que Teresa “transvivenciou” em 1582. A morte para o frei é “transvivenciar”. O meu Word está reclamando dessa palavra e meu Aurélio não registra tal verbete. Isso é coisa de revolucionário que tem medo da morte! E deve tê-lo mesmo! Vocês já imaginaram a expressão: Jesus transvivenciou na cruz!

A Teresa de Ávila foi, ao longo de sua vida, completamente submissa à Igreja, obediente em tudo à Esposa de Cristo. A Teresa do frei era revolucionária. E mais, anti-paulina. São Paulo, em (1Cor. 14, 34-35), diz (cito como aparece no artigo): “As vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa seus próprios maridos; porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja”. Daí o frei diz “que Paulo VI [o grande papa dos modernistas] ousou discordar do apóstolo e proclamar Teresa ‘doutora da Igreja’. Militante da fé, reformadora e fundadora, ela não se calou na Igreja e lutou em prol da liberdade religiosa das contemplativas e se assumiu com mestra espiritual.”

Quem lê isso pode pensar que Teresa de Ávila celebrava missa, ou fazia leituras lá do altar, como fazem os atuais “ministros da eucaristia”. Nada disso aconteceu! Ela foi muitíssimo paulina. Citava o apóstolo constantemente em seus escritos. Quanto a ser uma lutadora pela liberdade religiosa, isso ela foi: liberdade de ser católica, de ser enclausurada, de ser monja carmelita! Lutar pela liberdade religiosa naquela época, na acepção modernista do frei, teria sido ser ecumênica, ou seja, dizer, como dizem os modernistas, que há salvação fora da Igreja católica. Se Teresa tivesse dito isso ela não teria sido santa, mas sim herege.

O frei deixa o melhor para o final do artigo, quando diz: “A grande revolução operada por Teresa na espiritualidade foi justamente inverter os pólos: não são os nossos méritos que nos tornam mais próximos de Deus, e sim nossa capacidade de nos fazer mais próximos de nossos semelhantes e nos abrir ao amor gratuito de Deus.”

O frei não se satisfaz com a revolução marxista que ele ajudou a fazer em Cuba e com a que ele está ajudando a fazer aqui no Brasil. Ele quer mais; ele quer uma revolução na espiritualidade também! Quanto aos pólos que foram supostamente invertidos, que católico antes de Teresa afirmava que nossos méritos é que nos tornam mais próximos de Deus? Que católico antes e depois de Teresa, católico digno do nome, não acredita que a Graça de Deus sopra onde quer? Meu Deus! De que catolicismo esse frei está nos falando? Para citar só um exemplo anterior a Teresa, e só para ficar com outra doutora da Igreja, santa com a Graça dos estigmas, que também tinha experiências místicas fenomenais, vou citar Santa Catarina de Sena. Ela diz ter ouvido de Deus o seguinte (O Diálogo, 2.5): “Vou explicar-lhe agora que toda virtude se realiza no próximo, bem com todo o pecado. (...) Todo e qualquer auxílio prestado ao próximo deve provir do amor que se tem por aquela pessoa, mas como conseqüência do amor que se tem por mim. Da mesma forma, todo mal se realiza no próximo, e quem não me ama, também não tem amor pelos outros.” O inferno PODE ser os outros, como não disse Sartre!!!!

Para terminar vou contar a esse frei enganador quem é que fez a tal revolução espiritual que ele procura em Santa Teresa. Ele ainda não percebeu quem foi o grande revolucionário espiritual, para usar as palavras dele. Isso acontece porque ele não é católico, porque se afastou de Deus. E quem se afasta de Deus, perde, pouco a pouco, as faculdades da alma, que, segundo Santa Catarina de Sena, são a memória, a inteligência e a vontade. Mas o revolucionário espiritual procurado foi Jesus de Nazaré. E qual sua credencial de revolucionário? Obediência ao Pai até a Sua morte no madeiro, por amor a nós. Nos amou por causa do Pai e em obediência a Ele!

05/09/2008

Ann Coulter sobre Sarah Palin: O melhor deles era uma mulher

Ann Coulter em seu artigo no Townhall é como sempre brilhante nos comentários sobre a vice na chapa de John McCain. O título se refere ao fato de que a lista de candidatos a candidato a vice de McCain era composta principalmente de homens.

Não tenho autorização para traduzir o artigo, por isso não vou fazê-lo, mas traduzo duas pérolas.

Primeira frase do artigo: “A escolha de Sarah Palin, governadora do Alaska, por John McCain finalmente deu motivos aos republicanos para votarem nele – isto é, uma razão além de B. Hussein Obama.” Note como Ann Coulter se refere a Obama!

Sobre as críticas dos esquerdistas a respeito de uma mulher com cinco filhos concorrer à vice-presidência e também sobre sua filha de 17 anos estar grávida e não ser casada: “Quando os esquerdistas começam a agir como se eles se opusessem ao sexo antes do casamento e que mães tenham suas próprias carreiras, tem-se logo a certeza que a escolha de McCain foi um chute na canela deles. Mas, pelo menos, os jornalistas esquerdistas acharam alguém do tamanho deles para brigar: uma garota de 17 anos.”