Os historiadores normalmente consideram que a pseudo-reforma
de Lutero foi a origem da Revolução Francesa. Hilaire Belloc também considera
que o comunismo é filho de Lutero. Abaixo transcrevo dois trechos da introdução
da obra de Jules Michelet, o grande historiador francês, sobre Lutero: Mémoires de Luther, écrits par lui-même,
traduits et mis en ordre par M. Michelet.
Michelet é descendente de huguenotes e seu credo ético,
político e religioso, chamado de curioso, é descrito pela Wikipedia (até por
ela, meu Deus!) como: uma mistura de sentimentalismo, de comunismo, de anti-sacerdotalismo,
apoiado pelos argumentos mais excêntricos e de uma boa parte de eloquência.
No primeiro trecho abaixo, Michelet confirma que Lutero é
pai da Revolução e do liberalismo. Vejamos.
Não é então inexato
dizer que Lutero foi o restaurador da liberdade para os séculos seguintes. Se a negou em teoria, ele a fundou na
prática. Se ele não a fez, pelo menos marcou corajosamente seu nome na grande revolução que legaliza, na Europa,
o direito do livre-exame. Este é o
primeiro direito da inteligência humana, ao qual todos os outros estão
ligados. Se os exercemos hoje em tal plenitude, é a ele, em grande parte, que
devemos. Não podemos pensar, falar, escrever sem que esse imenso benefício de libertação
intelectual se renove a cada instante. As linhas mesmas que aqui escrevo, a
quem devo o poder de publicá-las, senão ao libertador do pensamento moderno?
[Negritos meus]
No segundo trecho, que é anterior ao primeiro, ele diz o
seguinte.
Qualquer simpatia que
possa inspirar essa amável e poderosa personalidade de Lutero, ela não deve
influenciar nosso julgamento sobre a doutrina que ensina, sobre as consequências
que dela se extrai necessariamente. Esse homem que fez da liberdade um uso tão
enérgico, ressuscitou a teoria agostiniana do aniquilamento da liberdade. Ele imolou o livre arbítrio à graça, o
homem a Deus, a moral a um tipo de fatalidade providencial.[Negritos
meus]
Meu Deus! Se a teoria é tão condenável, como a prática pode
ser tão recomendável. Se com essa teoria, que nega o livro arbítrio, se funda “o
primeiro direito da inteligência humana”, que direito é esse? Infelizmente,
toda a loucura moderna deriva dessa e de outras contradições que já estão
arraigadas na mentalidade do mundo.