Está encerrada a primeira parte do Ano eclesiástico, o Ciclo de Natal, em que se relembra o Mistério da Encarnação do Verbo Divino. O Salvador veio ao mundo, e alegres, nós O saudámos como Rei e Lhe rendemos a nossa homenagem.
Sua missão é remir a humanidade. Eis o sentido da segunda parte do Ano eclesiástico: a celebração do Mistério da Redenção. Assim como o Natal teve a sua preparação: o Advento, a sua celebração: Natal até Epifania, e o seu prolongamento: o Tempo depois da Epifania, igualmente a Páscoa tem a sua preparação: a Setuagésima, a Quaresma e o Tempo da Paixão, a sua celebração: a Páscoa até Pentecostes, e o seu prolongamento: o Tempo depois de Pentecostes.
I. TEMPO DE PREPARAÇÃO
Nós nos preparamos com Jesus Cristo para receber a Vida divina
Três degraus subimos para celebrar a Ressurreição de Jesus Cristo e também para ressurgirmos com Ele: 1. o Tempo da Setuagésima: 2. o Tempo da Quaresma; 3. o Tempo da Paixão.
1. O TEMPO DA SETUAGÉSIMA
1. Significação deste Tempo. A Setuagésima é a primeira parte da preparação para a Páscoa e abrange as três semanas anteriores à Quaresma. Embora não fossem exatamente 70, 60 e 50 dias antes da festa da Ressurreição, em imitação, talvez, ao domingo seguinte, Quadragésima, foram estes domingos denominados: Setuagésima, Sexagésima e Quinquagésima.
A mobilidade da festa da Páscoa faz também variar a data da Setuagésima, que, todavia, ordinariamente se abeira do dia 2 de fevereiro, conclusão do Tempo de Natal.
O Domingo da Setuagésima e os dois seguintes são, pois, uma preparação para a Quaresma, tempo de penitência propriamente dito.
2. Nossos sentimentos durante este Tempo. Devem conformar-se com o espírito do Tempo, que é expresso pelos textos das Missas e do Ofício divino que os Sacerdotes rezam. A lembrança da criação do mundo, da queda no pecado e de todas as suas consequências como sejam: a luta do bem contra o mal, da luz contra as trevas, a dor, o sofrimento, eis os assuntos que devem ocupar nosso pensamento durante estas semanas. Começou a luta contra o pecado, contra o mundo e contra a carne. Pelo combate, para a vitória. Pela cruz, para a luz. Pela morte, para a vida. Pelo sepulcro, para a Ressurreição com o Cristo!
Jesus Cristo mesmo nos ensina nos Evangelhos destes domingos estas verdades, e S. Paulo, lutador corajoso, anima-nos por seu exemplo e por sua palavra. Animam-nos ainda os Santos em cujas igrejas nos reunimos.
3. Particularidades deste Tempo. Os Sacerdotes usam paramentos roxos em sinal de penitência. O Gloria in excelsis, que se entoava alegremente desde o Natal, não mais é ouvido, exceto nas festas dos Santos. Igualmente desaparece o Aleluia do Ofício e das Missas ate o Sábado Santo. Nota-se ainda que depois do Gradual, em vez., do Aleluia e seu Versículo, reza-se o Trato, salmo de penitência.
In Missal Quotidiano, D. Beda Keckeisen, O.S.B., Tipografia Beneditina,
LTDA, Bahia, junho de 1957.