Fica difícil fazer a devoção em lugares como
aquele onde moro que não possuem padre da Tradição todos os dias (só uma vez
por mês) e quando apelar à Igreja conciliar para receber a comunhão está fora
de opção (pela incerteza na validade da transubstanciação).
Respondi o comentário brevemente, mas desejo fazer alguns comentários
mais gerais.
Em primeiro lugar, todo católico consciente está perplexo com tudo o que
está ocorrendo com a Igreja. Os católicos antigos contavam com a lentidão ou a
inexistência da tecnologia para desconhecerem muito do que estava acontecendo
em Roma. As crises chegavam ao conhecimento muito lentamente, quando chegavam
e, às vezes, num momento em que já estavam resolvidas. Os fiéis leigos
continuavam sua vida de fé, de oração, de devoção, sem saberem o que estava acontecendo nas altas esferas eclesiásticas. Hoje,
infelizmente, isso não é mais possível. Qualquer respiro papal nos é informado
imediatamente. O espírito católico nos recomenda nunca sermos rápidos em nossas
respostas a qualquer estímulo externo, sobretudo no que diz respeito à doutrina
e fé católicas. É São Tiago que nos recomenda: Sit autem omnis homo velox ad
audiendum, tardus autem ad loquendum et tardus ad iram. Devemos ser rápidos no ouvir, mas lentos
no falar e no reagir com ira.
Então, quando
falamos do Sacramento da Ordem e de tudo que ouvimos acerca do que está
acontecendo nos seminários católicos, devemos ser cautelosos. Não podemos ser
rápidos ao afirmar, o que seria uma temeridade, que tal Sacramento é inválido.
Quem somos nós para afirmar isso? A invalidade ou validade de um Sacramento é
assunto que está fora da esfera de decisão de qualquer leigo e só os mais
experientes devem entreter alguma pretensão até mesmo de discutir o assunto. O
mesmo, e em nível muito superior, se deve dizer da validade ou não da
Consagração da Hóstia. Não seremos nós, leigos, que iremos supor, sem
conhecimento algum, que tal ou qual Consagração seja inválida. Isso é assunto
de uma complexidade teológica que foge completamente da esfera dos leigos e não
devemos tratar desse assunto com leviandade, quanto mais tomar decisões baseadas
em fofoca. É bastante conhecida a técnica do demônio de nos afastar dos
Sacramentos, colocando em nossas cabeças dúvidas sobre eles. Os escrúpulos, que
ocuparam tantos santos e diretores espirituais, não são nada mais que técnicas
demoníacas para afastar católicos da Comunhão. Lembremos que a crise atual é de
natureza demoníaca e é o príncipe do mundo que está no comando. Não nos
deixemos cair em suas redes!
Fala-se muito
atualmente sobre um possível cisma na Igreja, com o Sínodo da Família. O que
devemos pensar sobre isso. Ora, nada. Primeiro porque cisma se dá na esfera
eclesiástica, não na massa dos leigos. Em segundo lugar, o que podemos fazer na
situação de cisma? Exatamente nada! Devemos nos manter católicos, com nossas
orações, com nossas devoções. Como será resolvido, no futuro, tal cisma, se
ocorrer? Não sabemos, não temos como saber. Vale a pena colocar em risco a
salvação de nossas almas tentando tomar posições que não nos competem?
Outro assunto que
reverbera nos meios católicos são as recentes canonizações. O que dizer? Nada,
exceto que devoções particulares a qualquer santo não é obrigatória. A única
devoção obrigatória é a Nossa Senhora. Ah, mas e se determinado canonizado o
tiver sido de modo inválido? Se tiver sido o caso, nada podemos fazer, exceto,
em particular, recusar a devoção a tal santo. No futuro, se tal assunto tiver
solução, esta virá das autoridades eclesiásticas, de Roma, do Papa.
Ah, na minha cidade
não tem Missa Antiga! Então vá na Missa Nova e escolha a menos barulhenta, o
padre mais piedoso. Não duvide dos Sacramentos, pois Nosso Senhor está no
comando dessa área; a distribuição de Suas graças é tarefa d’Ele e de Nossa
Senhora. Nunca deixe de rezar, inclusive e principalmente, pelo clero.
Tardus ad loquendum, tardus ad iram! São
Tiago está falando para nós, católicos do século XX, mergulhados em toda a
atual crise da Igreja. Não esqueçamos desse conselho do grande Apóstolo.
Rezemos pelo clero, rezemos pelo Papa!