03/04/2015

A Cruz de Nosso Senhor e as nossas.

Os católicos estamos, hoje, mais que em qualquer outro dia do ano, sob o peso da Cruz e das cruzes. Mas não apenas nós católicos carregamos cruzes. Todos que nasceram neste mundo carregam suas cruzes, quer estejam ou não conscientes disso. Quando Jesus foi crucificado, Ele teve dois companheiros: o bom e o mau ladrão. No Calvário, nos foi apresentado a cena da realidade da vida; todos carregamos nossas cruzes. Uns as carregam tendo a consciência plena de sua presença, de seu peso e de sua razão de ser. Estes, como o bom ladrão, admitem suas culpas, percebem que as cruzes que carregamos são muito mais leves que a de Nosso Senhor e, mais importante ainda, que a d’Ele foi carregada e sofrida por nós e por causa de nós. Estes, pedem perdão a Ele e pedem a salvação ao Pai, em nome d’Ele. Os outros, como o mau ladrão, sentem o peso de suas cruzes, reclamam do excesso de vicissitudes, procuram se desvencilhar delas, procurando os prazeres do mundo e, mais importante, imprecam contra Nosso Senhor. Criam um mundo artificial, pleno de gozo, na esperança de aliviar o peso. O peso só aumenta, à medida que aumenta a fome de prazer.

As cruzes dos católicos têm dimensões variadas. Há aquelas pessoais e intransferíveis; são as doenças, os problemas familiares, as deficiências pessoais que limitam, de uma forma ou de outra, o “sucesso” de nossas vidas, as pequenas contrariedades diárias, as coisas que, embora querendo, não conseguimos fazer, as pessoas desagradáveis que se nos são apresentadas em nossos afazeres, etc. Mas há cruzes, digamos, comunitárias, que carregamos com e para os outros. São as cruzes que nos são impostas pelo sistema social e político a que estamos sujeitos: a imoralidade e a irreligiosidade generalizada, a crueldade crescente, a escravidão da mulher que é vendida como liberdade feminina, a crise apocalítica da Igreja, a insegurança pessoal que nos amedronta a cada passo que damos, etc.

Somos responsáveis por todas essas cruzes, tanto as pessoais como as demais. Como o bom ladrão, devemos reconhecer nossas culpas por todas elas; mas, mais importante ainda, devemos pedir perdão Àquele que, sem culpa alguma, carrega a sua, pesadíssima, por nós e por causa de nós. Ele carregou todas as culpas, passadas e futuras, e nos garantiu, como ao bom ladrão, que, hoje mesmo, estaremos com Ele no reino dos céus. O nosso “hoje mesmo” ainda está por vir e não chegará enquanto vivermos. Mas é exatamente a esse “hoje mesmo” que devemos orientar nossas vidas, para que essa garantia nos alcance.

O caráter cíclico do calendário litúrgico nos oferece, todo ano, o espetáculo do Calvário, tanto para os católicos como para os demais. Todo ano, temos a oportunidade de, junto com o bom ladrão, reconhecer a divindade e a realeza d’Aquele flagelado, coroado com espinhos, escarrado pelos soldados e cruelmente crucificado. Temos também, como o mau ladrão, a oportunidade de desconhecer Nosso Senhor, de fazer um churrasquinho e beber uma cervejinha nesse feriado. Temos a oportunidade de viajar para descansar, ter um pouco de prazer. Temos a oportunidade de simplesmente desconhecer aquele momento, o mais crucial desde a Criação, em que Jesus exala o último suspiro, às três horas da tarde.

Que todos nós escolhamos a atitude do bom ladrão; neste mundo não aspiramos mais que isso, sermos o bom ladrão!