O texto que segue abaixo
é do extraordinário livro Witness
(Testemunho), de Whittaker Chambers, que denunciou e provou que um alto
funcionário do governo americano, Alger Hiss (lotado na Secretaria de Estado)
era simplesmente um dos maiores espiões soviéticos de todos os tempos. Este
salafrário participou de todas as decisões mais importantes do governo
americano em relação aos soviéticos, antes, durante e depois da II Grande
Guerra. Causou um estrago que não tem tamanho e é um dos responsáveis pela
expansão soviética no pós-guerra. Chambers era comunista e participava de um,
dos muitos, aparelhos comunistas estabelecidos nos USA. Conseguiu sair do
inferno comunista e nos relatar como é o fogo deste inferno.
Na introdução do livro,
ele uma “Carta a meus filhos”, e desta introdução eu traduzi o trecho que vocês
lerão. Peço para que leem o texto com quatro coisas em mente, principalmente os
leitores católicos:
1. O poeminha
infame de Marx que traduzi recentemente;
2. O que diz Belloc em As
Grandes Heresias: “Mas comunismo é
escravidão integral. É o inimigo moderno trabalhando a céu aberto, sem
disfarces, e a toda pressão. O comunismo nega a existência de Deus, nega a
dignidade e, portanto, a liberdade da alma humana e, abertamente, escraviza os
homens ao que chama de ‘o Estado’ – mas que é, na prática, um corpo de
autoridades privilegiadas.”
3. O que disse Nossa
Senhora em Fátima, em 1917: que se o Papa com todos os bispos não consagrassem
a Rússia ao seu Imaculado Coração, os males do comunismo se espalhariam pelo
mundo;
4. Que o Concílio
Vaticano II se negou a condenar o comunismo, por um acordo demoníaco feito pelo
Papa com o Kremlin.
ATENÇÃO EDITORAS
BRASILEIRAS! É preciso traduzir e publicar este livro por aqui, para
entendermos direitinho sob que tacão nos encontramos atualmente! Este modesto
tradutor que vos fala está disponível para a tradução.
O coração revolucionário
do comunismo não está no apelo teatral: "Trabalhadores do mundo, uni-vos, vós não
tendes nada a perder a não ser vossos grilhões". Esta
é uma simples expressão de Karl Marx, mais tarde simplificada para uso mais
útil: “Até o momento, os filósofos apenas interpretaram o mundo; o fundamental
agora é transformá-lo.” Comunistas não estão unidos por um juramento secreto. O
que os une acima das fronteiras das nações, acima da barreira das línguas e
diferenças de classes, em desafio à religião, moralidade, verdade, lei, honra,
fraqueza do corpo e irresoluções da mente, mesmo em desafio à morte, é uma
simples convicção: é fundamental transformar o mundo. O poder dos comunistas,
cuja natureza desconcerta o resto do mundo – porque, em grande medida o resto
do mundo perdeu esse poder – é o poder de ter convicções e agir de acordo. É o
mesmo poder que move montanhas; é também um infalível poder que move os homens.
Os comunistas são aquela parte da humanidade que recuperou o poder de viver e
morrer – testemunhar – por sua fé. E é uma fé simples e racional que os inspira
a viver e morrer por ela.
Ela não
é nova. É, de fato, a segunda fé humana mais antiga. Sua promessa foi
sussurrada nos primeiros dias da Criação, sob a Árvore do Conhecimento do Bem e
do Mal: “E sereis como deuses.” É a grande fé alternativa da humanidade. Como
todas as grandes fés, sua força deriva de uma visão simples. Outras épocas
tiveram grandes visões. Foram sempre diferentes versões da mesma visão: a visão
de Deus e o Seu relacionamento com o homem. A visão comunista é a visão do
Homem sem Deus.
É a visão da mente do
homem desalojando Deus como a inteligência criativa do mundo. É a visão da
mente liberada do homem, pela força única de sua inteligência racional,
redirecionando o destino, e reorganizando a vida, do homem e do mundo. É a
visão do homem, uma vez mais a figura central da Criação, não porque Deus o fez
à Sua imagem, mas porque a mente do homem o fez o mais inteligente dos animais.
Copérnico e seus sucessores desalojaram o homem como o fato central do universo
ao provarem que a terra não era a estrela central do universo. O comunismo
restaura o homem à sua soberania pelo simples método de negar Deus.
A visão é um desafio e comporta
uma ameaça. Ela desafia o homem a provar por seus atos que ele é a obra mestra
da Criação – tornando pensamento e ato uma só coisa. Desafia-o a provar isso
usando a força de sua mente racional para pôr fim ao despropósito da história
humana – emprestando-lhe um propósito e um projeto. Desafia-o a provar isso
reduzindo o caos sem sentido da natureza, impondo sobre ela sua vontade
racional para criar ordem, abundância, segurança e paz. É a visão do
materialismo. Mas tal visão também contém a ameaça de que o homem se afundará
de volta na selvageria (as bombas A e H levantaram a questão de formas
explosivas), até que a natureza o substitua por uma forma de vida mais
inteligente.
É uma visão intensamente
prática. As ferramentas para transformá-la em realidade estão à mão – ciência e
tecnologia, cujo método tradicional, a rigorosa exclusão de todos os fatores
sobrenaturais na solução de problemas, têm contribuído para o clima intelectual
em que a visão floresce, do mesmo modo que têm contribuído para a crise em que
o comunismo prospera. Pois a visão é compartilhada por milhões que não são
comunistas (são parte da força secreta do comunismo). Seu primeiro mandamento é
encontrado, não no Manifesto Comunista, mas na primeira sentença dos livros
introdutórios de física: “todo o progresso do homem até hoje resulta da
capacidade de realizar cuidadosas medições.” Mas o comunismo, pela primeira vez
na história, tornou essa visão a fé de um grande movimento político moderno.
Assim, o Partido
Comunista está bem fundamento ao chamar a si do partido mais revolucionário da
história. Ele propôs, de forma prática, a mais revolucionária questão
histórica: Deus ou o Homem? Ele deu o próximo passo lógico que trezentos anos
de racionalismo hesitou em dar, e disse o que milhões de mentes modernas
pensam, mas não ousam ou se interessam em dizer: se a mente humana é a força
decisiva no mundo, qual a necessidade de Deus? De agora em diante, a mente do
homem é o seu destino.
Essa visão é a revolução comunista que, como todas
as grandes revoluções, ocorre na mente do homem antes de tomar forma nos atos
humanos. Insurreição e conspiração são meramente métodos de realizar a visão;
são meramente parte da política do comunismo. Sem essa visão, eles, tal como o
comunismo, não teriam sentido e não poderiam reunir sequer um grupo de
batedores de carteira. O comunismo não convoca os homens ao crime ou à utopia,
como seus críticos superficiais gostam de pensar. No plano da fé, ele convoca a
humanidade a voltar sua visão à realidade prática. No plano das ações, ele
convoca os homens a lutar contra a inércia do passado que, personificada nas
formas sociais, políticas e econômicas, alega o comunismo, está bloqueando a
vontade da raça humana em dar seu próximo grande passo adiante. Convoca os
homens a superar a crise que, o comunismo alega, é de fato uma crise de lacerante
frustação, diante de um mundo incapaz de quedar-se, mas relutante de avançar
pelo caminho que a lógica de uma civilização tecnológica indica – o comunismo.
Esta é a sanção
comunista, que possui dois aspectos. Sua visão aponta o caminho para o futuro;
sua fé trabalha para transformar o futuro na realidade presente. Ela diz a todo
homem que a subscreve: a visão é um problema prático da história; o caminho a
atingir é um problema prático da política, que é o tempo presente da história. Terá
você a força moral de assumir os crimes da história de modo a que todo homem,
finalmente, possa concluir sua crônica de sofrimento milenar e estúpido, e o
substituir por um propósito e um plano? A resposta que um homem dê a essa questão
será a diferença entre o comunista e aqueles socialistas variados,
esquerdistas, companheiros de viagem, progressistas sem denominações e homens
de boa vontade, os quais compartilham a mesma visão, mas não compartilham a fé,
porque não assumirão as penas da fé. A resposta é a raiz daquele senso de
superioridade moral que faz com que comunistas, embora flagrados no crime,
repreendem seus oponentes com fulminante hipocrisia.
A visão comunista tem um poderoso
agitador e um poderoso propagandista. Eles são a crise. O agitador não precisa
de retórica de baixo nível. Sua fala atinge insistentemente um ponto da mente
humana em que se esconde o desespero. O propagandista não escreve contrassenso.
Sua fala atinge insistentemente um ponto em que a esperança e a energia humanas
se fundem.
A visão inspira. A crise
impele. O trabalhador é principalmente movido pela crise. O homem instruído é
principalmente movido pela visão. O trabalhador, vivendo no limiar da sobrevivência,
pode se permitir poucas visões – mesmo visões práticas. Um homem instruído, contemplando
dos jardins de Harvard, ou de qualquer outro campus universitário, o caos do
mundo, encontra na visão duas certezas que a mente humana busca incansavelmente:
a razão para viver e a razão para morrer. Nenhuma outra fé de nosso tempo as
apresenta com a mesma intensidade prática. Esta é a razão de o comunismo ser a
experiência central da primeira metade do século XX, e talvez sua experiência
final – e será, a menos que o mundo livre, em agonia em sua luta contra o
comunismo, sobrepuje sua crise pela descoberta, por meio do sofrimento e da
dor, de um poder de fé que proverá à mente humana, na mesma intensidade, as
mesmas duas certezas: a razão para viver e a razão para morrer.