28/11/2011

50 anos de Vaticano II: Dom Mayer nos ajuda a entender a confusão.

Muitos, mais jovens, talvez nunca tenham ouvido um bispo de verdade, um bispo falando “sim sim não não” (Mt.5,37), um bispo que fosse um digno sucessor dos apóstolos, um bispo que não dissesse por exemplo: “A gente não pode dizer que só se salvam aqueles que são católicos”. Ou, se quiserem mais um exemplo, este do Arcebispo de Belo Horizonte, vejam este artigo. Pode haver coisa mais dúbia, mais “talvez talvez”? Uma frase apenas: “Ser bom é ser honesto. É alavancar projetos que produzem vida e fecundam a cidadania com valores, que não se reduzem às posses.”

Bem, esta é a fala atual de nossos bispos; quando não pastosa, francamente herética. Não assim com Dom Antônio Castro Mayer, bispo de Campos e um grande homem de Deus. Nas décadas de 1970 e 1980, o pastor procurou ensinar suas ovelhas tudo sobre a crise conciliar e sobre a sua dimensão. Ensinar de modo simples, de modo claro, de modo preciso; estes os objetivos de Dom Mayer. Abaixo transcrevo um de seus textos em que ele explica a relação do Papa com a Igreja. Faço isso em conexão com recentes discussões no blog a respeito do assunto.

Insisto com os leitores que a crise é grande, complexa e de difícil compreensão, pois envolve discussões doutrinárias e teológicas de peso. Já comentei uma lista de livros que dá ao leitor a correta compreensão da crise. Aos pouquinhos, vou publicando alguns artigos de Dom Mayer para clarear a confusão na cabeça de muitos.

Note, sobre o artigo que vai abaixo, que ele é anterior ao famigerado Encontro de Assis de 1986, que tanto escândalo provocou na Igreja, mas menciona o já então evidente “interconfessionalismo” de João Paulo II.

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Papa-Igreja
Monitor Campista, 22/07/1984
O Pensamento de Dom Antônio Castro Mayer: textos selecionados (1972-1989)
Editora Permanência, 2010.
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Os aforismos são uma espécie de comprimidos. Concentram numa frase curta todo um corpo de doutrina. Mas, por seu próprio laconismo, podem dar margem a concepções errôneas. Em Eclesiologia, é conhecido o adágio ubi Petrus ibi Ecclesia – onde Pedro, aí a Igreja – que se completa com outro, ubi Papa, Petrus – onde o Papa, aí Pedro. Estas duas simples expressões compendiam a Revelação sobre a Igreja de Deus, constante das palavras proferidas por Jesus Cristo, em Cesaréia de Felipe: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” acrescidas destas outras ditas pelo Salvador, ao se despedir dos apóstolos: “Eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos” (Mt. 28, 30).

Nem sempre se atenta para o significado preciso dos termos Pedro e Papa. Esta negligência pode levar a conclusões absurdas. Se, sem atenuante alguma, identifica-se a pessoa física de Pedro com a rocha, sobre a qual Jesus edificou a sua Igreja, de maneira que sempre onde se tivesse a pessoa física do Príncipe dos Apóstolos aí estivesse a Igreja, chegar-se-ia à conclusão que, já no seu nascedouro, a Igreja teria apostatado de sua pedra angular, Cristo Jesus. Pois foi, conforme narra São Marcos (14, 71), o que fez São Pedro, amedrontado pela porteira do Sinédrio quando ali compareceu o Divino Mestre, preso diante de Anás e Caifás. E São Pedro apostatou de maneira solene: com juramentos e anátemas!

A conclusão semelhante se chega, se se admite, de modo absoluto, que onde está o Papa, aí está Pedro, aí está a Igreja. A grande prerrogativa do Papa, como chefe da Igreja, é a infalibilidade. Ora, a infalibilidade não torna o Papa impecável, e ela está sujeita a umas condições que, uma vez não verificadas, deixam o Sumo Pontífice sujeito aos azares da fragilidade humana; de maneira que, mesmo agindo como Papa, pode enganar-se e levar outros ao erro. Cita-se, neste ponto, a atitude de São Pedro, repreendido publicamente por São Paulo, porque Antioquia, então, era a sede primacial da Igreja (daí é que ela passou para Roma). Mais concludente é o exemplo de Honório I, Papa de 625 a 638, que foi censurado pelo Terceiro Concílio de Constantinopla (DS. 552) e pelo Papa São Leão II porque “(...) permitiu, por uma profana traição, que se maculasse a imaculada Fé desta Igreja apostólica” (DS. 563 [grifo nosso]).

Estas reflexões, tenha-as o fiel presentes, especialmente nos dias que correm, em que o Concílio Vaticano II teria aberto uma “nova etapa” para a Igreja, do conúbio amigável com a heresia! Servem também para elidir as acusações, fruto da ignorância ou má fé, ou de ambas, contra os que rejeitam o interconfessionalismo de João Paulo II, porque crêem no dogma da Fé: fora da Igreja não há salvação (Conc. Latrão IV, DS. 802).

27/11/2011

Medalha Milagrosa


 Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós.

23/11/2011

Santo Agostinho e Bernanos: a terrível presença de Deus.

Colho, embevecido, no ContraImpugnantes, uma frase do grande Bispo de Hipona, nosso Santo Agostinho – quanta honra ser membro da Igreja da qual ele foi bispo, a Igreja de Nosso Senhor! – em que ele observa que “a alma [humana], ávida de eternidade porém sobressaltada pela fugacidade da existência, luta contra o sublime esplendor da autoridade divina.” (Epistulæ ad Volusianus, 137, 4, 16 ss)

A tradução é bela, não sei se de Sidney ou se de Nougué, e nos toca fundo. Torna-nos compassivos para com os pecadores. Pois, quem já não ficou soterrado com o esplendor da autoridade divina? Quem não exclamaria com Bernanos: “Mas qual é o peso de nossas chances, para nós que aceitamos, de uma vez por todas, a assustadora presença do divino em cada instante de nossas pobres vidas?” Sim, quais são as nossas chances?

A Igreja não nos deixa de consolar, nos lembrando as palavras de Nosso Senhor: “Vinde a mim todos os que estais afatigados e sobrecarregados e eu vos aliviarei. (...) pois meu jugo é suave e meu peso é leve.” (Mt. 11, 28-30)

O Sacramento da Penitência é o meio que temos de nos aproximar de Nosso Senhor quando estamos afatigados e sobrecarregados. É o meio que Ele usa para nos aliviar, nos aliviar do sobressalto ante o esplendor da autoridade divina. Com a Confissão, tal sublime esplendor deixa de nos cegar e sentimos o quanto Seu jugo é suave, sentimos a suavíssima misericórdia de Deus.

O Pe. Gabriele Amorth nos lembra, em seu “Um Exorcista Conta-nos”, quanto o demônio fica contrariado quando nos confessamos, pois ele sabe que estamos nos aproximando do sublime esplendor da autoridade divina, onde ele não nos pode alcançar.

Por isso, a alegria do católico não tem comparação com as alegrias do mundo. E é por isso também que a tristeza (acídia) é um pecado, é uma revolta contra os bens espirituais, que contrariando nossos desejos carnais, nos parecem males. Ao invés de nos sobressaltar, entristecer, com o esplendor da autoridade divina, com a assustadora presença do divino em nossas pobres vidas, devemos nos alegrar com a leveza de Seu peso e de Sua suavíssima compaixão para com nossa miséria.

Façamos coro a Bernanos: “Eis-me despojado, Senhor, como somente vós sabeis despojar, pois nada escapa à vossa temível solicitude, ao vosso temível amor.”

22/11/2011

Comentário de um anônimo para divertir os leitores do blog.

Publico abaixo um comentário ao post Por que a academia adota a Evolução. O valentão não se identificou, pois ficou com vergonha do tanto de besteira que falou. 

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Olá, Prof. Angueth.

Primeiramente. Há provas da teoria da evolução. E você, por não querer saber, provavelmente não sabe que A GERAÇÃO ESPONTÂNEA EXISTE. Você saberia disso se soubesse um mínimo de física quântica. Recentemente, foi provado que as leis que regem as partículas quânticas se aplicam a todas as coisas, mas é mais difícil perceber e estudar seus efeitos.

Outra coisa: Você diz que as pessoas tentaram achar uma saída por causa da filosofia da igreja católica sobre relações sexuais. Gostaria de lembrá-lo de que sem estas relações, não há reprodução. Resumindo em outros termos: Se só existissem no mundo católicos realmente fiéis, a raça humana estaria extinta.
Obrigado aos que leram, e peço que abram sua mente a todas as possibilidades.

PS:Engraçado, eu nunca vi um texto criticando as teorias muçulmanas,   hindus ou budistas. Por que será que sempre criticam a ciência? Pense nisso.

18/11/2011

Palestra no próximo domingo, 20 de novembro.

Proferirei, dia 20 de novembro, no Colégio Monte Calvário, após Missa Tridentina na capela do colégio, uma palestra sobre o Santo Alberto Magno. Estão todos convidados. 

O vídeo da palestra será depois aqui disponibilizado.

17/11/2011

Palestra sobre São Pedro de Alcântara

Proferi, dia 23 de outubro, no Colégio Monte Calvário, após Missa Tridentina na capela do colégio, uma palestra sobre o Padroeiro do Brasil. Espero que gostem.

Sobre a vida de São Pedro, vejam aqui.



14/11/2011

Leitor mal preparado e bem intencionado esbraveja: blog responde.

Recebo no post Pensamentos esparsos de um católico perplexo II: a convidada de Bento XVI. um comentário, que não será publicado, dizendo uma série de tolices que passam pela cabeça de muitos católicos e que talvez seja bom esclarecer. Ele começa assim (sic): “Leigos com capacidade de condenar um PAPA, justamente aquele teve peito, por exemplo, a lançar uma Carta Apóstolica colocando acesso dos fiéis a Missa na Forma Extraordinária do Rito Romano.” O post em tela critica e discorda de uma ação do Papa Bento XVI, apenas isso. A frase faz menção, inexplicavelmente, ao Motu Proprio Summorum Pontificum. Meu post não se relaciona ao Motu Proprio e nada afirma sobre a Missa. Mas o leitor quer mostrar quão bonzinho foi o Papa e porque não devemos criticá-lo. Nisto ele desconhece toda a história recente da Igreja e o quanto devemos este “movimento próprio” do Papa ao excomungado Dom Lefebvre e à Fraternidade São Pio X. Não houvesse a resistência heróica de Dom Lefebvre e a contínua luta da FSSPX, não haveria o Summorum Pontificum. Tudo para ser movido precisa de um movedor, dizia Aristóteles; se quiserem descobrir o movedor do “movimento próprio” do Papa Bento XVI, olhem para Dom Lefebvre.

 

O leitor segue em seu comentário dizendo: “Não vi ninguém neste BLOG contactar (de coração aberto) o vaticano e pedir explicações como cristãos, e enfim podermos entender as suas ações. Acho que assim este BLOG pretaria uma ação coerente.” Deixemos o português de lado e concentremos no essencial. Aqui, neste modestíssimo blog, só há o blogueiro, que conta com a ajuda eventual de seus dois filhos. Não somos uma multidão. Não contatei o Vaticano para pedir explicações sobre Assis e particularmente sobre Kristeva, porque não me ocorreu nenhuma dúvida a este respeito. Eu não tenho dúvida que foi pelo espírito de ecumenismo do CVII que Bento XVI convidou Kristeva; este mesmo espírito ao qual todo verdadeiro católico tem o dever de se opor. O leitor fala ainda de um conceito de obediência e respeito que é completamente equivocado. Nosso respeito e dever de obediência não devem ultrapassar o limite das leis de Deus e da Igreja. Veja o que Dom Antônio Castro Mayer dizia sobre isso; os negritos são meus.

“‘O que pode dar-se, é normal que, por vezes, aconteça’, comentava Santo Tomás. O Vaticano II exemplifica o aforismo. Concílio ecumênico, sem dúvida, mas que, por determinação de seus próprios autores, exclui de seus decretos qualquer definição nova, qualquer dogma novo. Por isso seu magistério – como o de todos os concílios ecumênicos – é oficial, não, porém, infalível. Prestou-se à possibilidade de carrear, para os fiéis, declarações ou afirmações destoantes do conteúdo revelado tradicional.

“E assim se passou. Ninguém, com efeito, que tenha cabeça no lugar, poderá dizer que a liberdade assegurada pelo Concílio, de cada qual seguir sua religião, não contradiz o dogma de que fora da Igreja não há salvação. Com efeito, este dogma, sancionado pelo IV Concílio de Latrão, obriga-se a ser Católico Romano e isso sob pena de condenação eterna nas chamas do inferno. Conclui-se que, quem segue conscientemente tudo quanto o Vaticano II propugna, desconhece dogmas revelados, colocando-se fora da Igreja de Cristo, pois basta recusar pertinazmente uma só verdade revelada para se perder a fé.”

Então, caro leitor, se for para respeitar um bispo da Igreja nesta matéria, prefiro respeitar Dom Mayer. Suas críticas, tais como as de Dom Lefebvre, nestas e noutras questões acerca do Concílio Vaticano II nunca, repito nunca, foram respondidas pelo Vaticano, apesar das várias comunicações que foram feitas entre eles e os vários Papas. Seria inútil o modesto blogueiro perguntar algo ao Vaticano sobre isso.

Mas o leitor fala de obediência e respeito (certamente respeito humano, que é condenado por todos os santos da Igreja) para com padres, bispos e Papa. Este leitor certamente seria ariano no tempo do arianismo e teria enlouquecido no tempo do grande Cisma do Ocidente. No arianismo, ele teria aderido às idéias de quase todos os bispos que se tornaram hereges juntamente com Ário; por obediência, é claro. Ele teria apoiado os vários exílios a que foi submetido Santo Atanásio, quase o único bispo que se opunha ao arianismo. No grande Cisma ele teria enlouquecido ao ver, de um lado Santa Catarina de Sena apoiando Urbano VI, e de outro São Vicente Ferrer apoiando Clemente VII. De fato, muita gente enlouqueceu, figurativamente, e este cisma preparou, juntamente com outras circunstâncias, a Reforma Protestante do século XVI. Santa Catarina chama Clemente VII de anticristo e seus seguidores – padres, bispos, cardeais – de hereges. Veja o que ela fala a três cardeais italianos: “Essa heresia não é cegueira de ignorância, ou seja, efeito da falta de conhecimento. Convosco não aconteceu que outras pessoas vos dissessem algo de diferente. Não. Vós conheceis a verdade, vós a tínheis anunciado a nós. Não fomos nós que comunicamos a vós a fé. Como sois loucos! Destes a nós a verdade e ficastes com a mentira.”

Você cita, caro leitor, justamente Santa Catarina como um exemplo de obediência cega a todo padre. Veja o quanto está enganado.

Você diz ainda, muito equivocadamente: “Não estou discutindo se o que é certo é certo, ou o que se o que está errado, se é errado? Trata-se de ocupar nosso lugar como leigos, com HUMILDADE?” O quanto seu conceito acerca da humildade e do papel dos fiéis leigos está errado! Se o ser humano não está sempre preocupado com o certo e o errado, ou seja, com a verdade, ele abre mão justamente daquilo que o torna humano. Eu estou preocupado, preocupadíssimo, com o que está certo e errado, sempre; rezo por isso, peço a Deus que eu não perca nunca a capacidade de discernimento.

Você ainda mostra todo o seu equívoco quando lembra a aceitação de Nossa Senhora da suprema graça de ser Mãe de Deus: “Eis aqui a serva do Senhor”. E você pergunta: “um ESCRAVO tem direito a opinião????” Meus Deus, quanta ignorância! O ato da Virgem Santíssima só teve mérito porque ela poderia ter dito não, porque ela poderia ter exercido seu livre arbítrio. O que ela fez foi entregar sua vontade, sua opinião, todo o seu ser aos desígnios de Deus! E só faz isso quem tem vontade, opinião e possibilidade de exercê-las.

Termino esse post contando ao leitor indignado um caso que ilustra bem o que os leigos católicos têm feito ao longo da história da Igreja. Quando Santo Atanásio foi exilado pela segunda vez (de um total de cinco), Gregório da Capadócia assumiu a diocese de Alexandria, a diocese do santo. Gregório se comportou mais como gangster do que como bispo. Ele assistia passivamente a monges serem martirizados, virgens serem violentadas, tudo pela implantação do arianismo em sua diocese. Os leigos, estes que o leitor acha que não têm direito a opinião, que devem ser humildes, vendo que o Imperador não ia tomar nenhuma providência, simplesmente assassinaram Gregório! Logo depois, por várias pressões, o Imperador permite que Atanásio reassuma triunfalmente sua diocese. Isto deve horrorizar meu pobre leitor.

11/11/2011

Pensamentos esparsos de um católico perplexo II: a convidada de Bento XVI.

Leio no Fratres que Julia Kristeva foi convidada pelo Papa para participar do encontro de Assis como representante dos “não-crentes”.  Se há momentos em que a desesperança quase nos inunda o coração, este é um deles. Desespero é pecado grave e aí nos colocamos aos pés da Virgem Santíssima e pedimos a proteção de seu Manto.

Kristeva pode ser caracterizada como impostora, como o fazem Sokal e Bricmont (Imposturas Intelectuais, Record, 1999), ou charlatã, como a chama Olavo de Carvalho.

Alguns trechos da obra de Kristeva vão abaixo, extraídos do livro de Sokal e Bricmont. Julguem os leitores se vocês fariam uma consulta com essa psicanalista aloprada, ou mesmo a contratariam para tomar conta de duas tartarugas.

“Nessa ‘potência do continuum’ do zero ao dobro especificamente poético, percebe-se que ‘a proibição’ [interdit] (lingüística, psíquica e social) é o 1 (Deus, a lei, a definição), e que a única prática lingüística que ‘escapa’ a esta proibição é o discurso poético”. OBS: Queria saber a marca da cachaça que a moça tomou. Deve ser de primeira!

“Para nós a linguagem poética não é um código englobando os outros, mas uma classe A que tem a mesma potência que a função f(x1...x2) do infinito do código lingüístico e todas as ‘outras linguagens’ são quocientes de A sobre extensões mais restritas, e dissimulando, em decorrência dessa limitação, a morfologia da função f(x1...x2).” OBS: Sokal e Bricmont dizem simplesmente que isso não tem sentido.

“O desejo de constituir o conjunto de todos os conjuntos finitos põe o infinito em cena e vice-versa. Marx, que constatou a ilusão de o Estado ser o conjunto de todos os conjuntos, viu na unidade social, tal com mostrada pela República burguesa, uma coleção que forma, por si só, um conjunto ao qual algo está faltando.” OBS: 1. adorei o vice-versa; 2. O que está faltando na res publica é lugar para encarceramento de impostores e charlatães.

O Papa deu a essa senhora a honra de discursar em Assis como representante dos ateus. Para mim todo ateu deve ser levado a sério somente se impugnar a Prova da Existência de Deus em Cinco Vias de Santo Tomás de Aquino. Ateísmo é, antes que desvio religioso, fraude intelectual, ou coisa pior. Querem um exemplo de coisa pior? Num post anterior, cito um depoimento do neto de Thomas Huxley, colega de Darwin, Sir Julian Huxley, ex-presidente da UNESCO, sobre sua crença no dogma da evolução: “Suponho que a razão de termos nos lançado sobre a Origem das Espécies foi que a idéia de Deus interferia com nossos hábitos sexuais.” Suspeito ser esta a razão, nobre razão, de muitos ateus continuarem ateus. Ou seja, ateísmo não pode ser respeitado como uma posição intelectual séria, pois é impostura, leviandade, hedonismo. E é justamente por isso que lamento o convite de Bento XVI e incluo este ato como um dos mais lastimáveis dentre os ocorridos em Assis.

08/11/2011

De Imitatione Christi: as lições de um acadêmico do século XXI.

Pois é. Eu renovo toda vez minha disposição de não ler prefácios e introduções de obras religiosas antigas editadas pela Vozes, Paulus, Loyola, etc. (Vejam aqui um dos comentários que fiz sobre isso.) Nunca tenho a disciplina para cumprir o meu objetivo inicial. Aconteceu de novo. Comprei Imitação de Cristo com os comentários e orações de São Francisco de Sales, Editora Vozes, 2ª edição, 2011. Herdei um exemplar deste livro de meu pai; Editora Paulinas, 1958, tradução, da década de 1930, de Pe. José Maria Cabral. Comprei a edição moderna pelos comentários do santo.

Não li o livro ainda, nem sequer o folheei, porque cometi o erro de ler a Apresentação da obra, de autoria de Faustino Teixeira. O Sr. Faustino, devo dizer Dr. Faustino, é professor da UFJF e está ligado ao PPCIR. Também não sabia o que era PPCIR e olhei no Google: Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião. A área do professor é teologia das religiões, diálogo inter-religioso e mística comparada. Suspeito que ele faça parte da linha de pesquisa Religião e Diálogo, que possui os seguintes projetos: Pluralismo e diálogo, Ecumenismo, Buscadores do diálogo, Estudos de mística cristã e islâmica, Religião e laicidade, Religiões e filosofias da Índia. Achei charmosíssimo o projeto “buscadores de diálogo”; que coisa mais moderna, mais século XXI!

Mas, vamos em frente! O que nos diz o Dr. Faustino na sua peça de apresentação do extraordinário livro de Kempis. O leitor fica informado de várias coisas surpreendentes ao ler as três páginas da apresentação. Por exemplo, o doutor nos conta que o livro Imitação de Cristo é obra da Idade Média. Ai, meu Jesus Cristo! Toda vez que leio o que dizem da Idade Média, fico com urticária. Os povos de tal época, segundo Dr. Faustino e “grandes historiadores” que ele cita, cultivavam grandes medos: medo da miséria, do além, do outro, da violência e das catástrofes. Ele nos diz ainda que “a questão da morte dominava as consciências, e junto a ela a consciência da impotência da consciência humana. Como desembaraçar-se de sua terrível situação sem a ajuda de Deus?” O que nos faz responder com um suspiro: é mesmo, como? Mas esses medievais, como eram primitivos esses povos! Nós, por exemplo, não temos mais medo da miséria, do além, do outro, da violência e das catástrofes. Não, nós somos seres do século XXI; onde já se viu? Hoje, temos medos muito mais sofisticados: da AIDS, do aquecimento global, do colesterol, do triglicérides, de comer gordura, de comer açúcar, de não freqüentar uma academia (que hoje, no ilustrado século XXI, significa uma sala com um punhado de aparelhos de ginástica), de fumar, de tomar cerveja, de ser politicamente incorreto, da água do mundo acabar (ela vai evaporar um dia e não vai voltar mais!), das sacolas plásticas de supermercado, de ficar velho e não poder fazer uma cirurgia plástica, de... Mas, medo da morte? Quem tem medo da morte? Hoje, não se fala mais nisso; é assunto proibido. Isso era importante só na Idade Média. Hum, aqueles medievais!

Hoje nós temos opções: podemos ser espíritas e acreditar que quando morrermos, vamos para um lugar lindo, uma cidade ou uma fazenda, ficaremos vivendo lá até reencarnarmos de novo. De vez em quando, damos uma fugidinha e visitamos alguns que estão ainda vivos. Podemos ser budistas e teremos o objetivo de, depois de muitas encarnações, entrarmos no Nivarna, que é literalmente NADA. Não teremos o medo da morte e almejaremos o NADA; não é muito mais ilustrado que a atitude medieval de temer a morte? Poderemos nos converter ao Islã e ter um Deus irracional, que nos subjugará para sempre. Hoje temos opções, somos homens do diálogo.

Mas, vamos em frente, guiados por Dr. Faustino. Ele nos diz que a respostas desses traumas, desses medos medievais foi a busca da interioridade e que a Imitação de Cristo expressa isso. Resumindo: Kempis era um medroso e por isso se recolheu e escreveu o livro.

Dr. Faustino ainda nos alerta para uma coisa que ninguém deve ter percebido antes: o acentuado traço cristocêntrico da obra. Uau! É de tirar o fôlego! Então a Imitação de Cristo é uma obra cristocêntrica!? Ele diz: “no Livro II vem reforçada a piedade cristocêntrica...” É incrível.

Mas não é só. O doutor nos informa: “a espiritualidade presente na obra Imitação de Cristo é a expressão de uma época, tendo iluminado a dinâmica litúrgica de um tempo que sofreu inúmeras modificações.” Esta frase vem terminada com uma nota de rodapé que nos informa que as orações diversas contidas na edição francesa da obra com os comentários de São Francisco de Sales são mantidas “com o intuito de conservar uma memória, ainda que o seu conteúdo seja próprio de uma época anterior ao Vaticano II.”

Bem, vamos por partes. Kempis viveu nos Países Baixos sob a influência de um misticismo proveniente da Alemanha, principalmente de Mestre Eckhart, João Tauler e Henrique Suso. As idéias de Eckhart foram condenadas por João XXII, dois anos após sua morte. Há traços de panteísmo e gnose nas idéias de Eckhart, principalmente sua idéia de uma centelha divina habitando no interior do homem.[1] Será então que é possível afirmar que De Imitatione Christi é caudatária desse caldo cultural. A julgar pelas evidências históricas e pela opinião de grandes historiadores, um dos quais citados pelo Dr. Faustino, isto é exatamente o que esse livro não é. Um dos historiadores citados na apresentação em tela é Johan Huizinga e sua obra O Outono da Idade Média. Vamos ver o que Huizinga tem a dizer do livro (pag. 369-370, Ed. Cosacnaify, 2010).

“Porém é desses círculos que provém a obra mais forte e bela dessa época, a Imitatio Christi. Trata-se do homem que não era teólogo nem humanista, não era filósofo nem poeta, e na verdade nem mesmo místico, e que escreveu esse livro, que por séculos haveria de servir de consolo para as almas. Tomás de Kempis, o homem quieto, introvertido, cheio de ternura pelo milagre da missa e com a concepção mais estreita sobre a orientação divina, (...). E o seu livro de sabedoria simples sobre a vida e a morte, endereçado às almas resignadas, transformou-se num livro atemporal. Nele, todo o misticismo neoplatônico fora deixado de lado, baseando-se unicamente na voz do amado mestre Bernardo de Claraval.”

Caem por terra algumas coisas ditas pelo Dr. Faustino. Que o livro seja “datado”, pois ele se elevou acima e além de sua época; é atemporal. Que ele esteja numa linha direta com certa “nova espiritualidade” vinda dos Países Baixos. Que há influências agostinianas no livro – Kempis era monge agostiniano. Onde ele vê influências de Santo Agostinho deve-se procurar a influência de São Bernardo de Claraval.

Huizinga continua: no livro “tudo é constante e melancólico, tudo é mantido em um tom menor: há somente paz, calma, a espera tranqüila, resignada e a consolação. (...) E mesmo assim as palavras desse homem apartado do mundo, como as de nenhum outro, conseguem nos fortalecer diante da vida.” Que belas palavras que não foram ditas pelo Dr. Faustino!

Voltemos ao comentário sobre a espiritualidade do livro de Kempis. Fala-se de espiritualidade como uma expressão de época, não como algo real, verdadeiro enquanto tal; espiritualidade seria algo construído pelo ser humano, diferente em cada época. No caso, esta espiritualidade do livro de Kempis foi uma reação aos medos medievais. Ou seja, a dimensão espiritual do homem é algo criado pelo homem. Mas o melhor de tudo é que as duas primeiras frases da apresentação do Dr. Faustino são: “A Imitação de Cristo é uma das obras mais difundidas da espiritualidade cristã, e sua popularidade é impressionante, só sendo ultrapassada pela Bíblia. É o livro que vem alimentando o mundo cristão há muitos séculos, enquanto expressão da devoção moderna.” Ou bem o livro é uma expressão de uma espiritualidade verdadeira e por isso eterna, ou bem é uma obra datada. Há que se decidir. Huizinga e a história já se decidiram. Falta apenas o Dr. Faustino.

Mas o que dizer da referência ao Concílio Vaticano II; “uma época anterior ao Vaticano II.” Vocês sabem, não é mesmo?, o CVII mudou tudo; antes está a coisa primitiva, depois a modernidade. Antigamente os santos diziam assim: “meu Deus, eu sou um miserável pecador e só vou me salvar se o Senhor tiver misericórdia de mim. Como sou pecador, vou procurar, através de penitências e mortificações, pagar um pouco de minha dívida. Esta é impagável, eu sei, mas aceite, meu Deus, eu suplico, estes pequenos sacrifícios. Vou ainda, com sua graça, procurar imitar seu Filho dileto. Livre-me, eu suplico, do Inferno.” Hoje, depois do CVII, isso é interioridade, é ser cristocêntrico e, sobretudo, é produto de vários medos. Todo católico teme a morte, não porque não exista nada do lado de lá, mas porque do lado de lá existe a Justiça Divina e nunca estamos seguros de nos salvar. Isto é o temor de Deus, que é o pré-requisito de toda a sabedoria, segundo Santo Agostinho. Os medievais temiam a morte porque eram racionais; nós tememos o aquecimento global porque somos irracionais. Escolha logo o seu temor, caro leitor, enquanto é tempo.


[1] Para os mais observadores, é interessante um trecho do livro que talvez revele uma possível influência verbal de Eckhart sobre Kempis, que obviamente não mancha a obra com nenhuma suspeita de heresia. Aliás, a publicação desta obra, na maioria das suas edições, possui tanto o IMPRIMATUR, quanto o NIHIL OBSTAT. Por acaso, a edição em tela, não possui nenhuma das duas declarações eclesiásticas. Mas, vamos ao trecho em questão, que se encontra no Livro III, Cap. LV Em latim, temos: Nam modica vis, quæ remansit, est tamquam scintilla quædam latens in cinere. Hæc est ipsa caro naturalis, circumfusa magna caligine, adhuc judicium habens boni et mali, veri falsique distantiam, licet impotens sit adimplere omne quod probat, nec pleno jam lumine veritatis, nec sanitate affectionem suarum potiatur. Em português (Edições Paulinas, trad. Pe. J. Cabral, 1958): Na verdade, a pouca força, que lhe ficou, é como uma centelha (scintilla) coberta de cinzas (cinere). É a mesma razão natural envolta em densas trevas, possuindo ainda o discernimento do bem e do mal, e fazendo a distinção do verdadeiro e do falso; todavia sente-se incapaz de cumprir o que aprova, pois já não possui a plena luz da verdade, nem a pureza dos seus afetos.

03/11/2011

Deo Gratias! Missa Tridentina em Contagem, MG.


Rafael Horta

 Hoje, 02 de novembro de 2.011, dia dos fiéis defuntos, é uma data que vai ficar na história da cidade de Contagem. Depois de mais de 40 anos, o Santo Sacrifício da Missa, segundo o rito de São Pio V, rito que tinha sido esquecido, abandonado depois da reforma litúrgica do Concílio Vaticano II foi magnificamente celebrado na Capela de São Geraldo, pertencente à Paróquia Santo Antônio Maria Claret.

Rito maravilhoso, que enche os olhos e, sobretudo a alma; pleno de piedade e respeito, que enternece os fiéis; cheio de veneração e adoração à Nosso Senhor Jesus Cristo. Mistério insondável que manifesta plenamente a fé católica.

Durante anos de destruição do sagrado, do venerável, por vezes consciente e proposital, por meio de teatro e danças obscenas, por “encheções de lingüiça”, músicas e músicas sem fim... rock, rap, funk, caipira, protestantismo, comunismo e toda sorte de doutrina anti-católica... de tudo um pouco, menos gregoriano. Destruições levadas a cabo por padres e leigos cheios de criatividades e “gambiarras” litúrgicas.

Mas hoje, um padre e um grupo de fiéis, trazem de volta para a vida da paróquia, aquilo que nunca deveria ter saído dela. Todo o sagrado e sobrenatural da Missa de Sempre, a liturgia bi-milenar que tantos santos celebraram e que por meio dela se santificaram veio-nos hoje por graça Divina e nos encheram de ardor.

Antes do início pede-se silêncio. Reza-se o terço em sufrágio dos padecentes no purgatório. Prepara-se o corpo pelo silêncio e a alma pela oração para participar da renovação do Santo Sacrifício de Nosso Senhor e receber seu divino Corpo no Banquete Sagrado.

Desde a procissão de entrada à procissão final, o que se via eram olhares atentos, alguns curiosos, outros admirados pelo encanto dos paramentos do padre, as vestes dos acólitos, a disposição e beleza do santo altar, a santa cruz em seu centro, acrescenta-se a isso a suave melodia do gregoriano.

Os gestos, as orações do padre e dos fiéis, tudo se faz com muito respeito e dignidade. Gestos e orações feitos com muita devoção, sem pressa nem improviso.

A igreja cheia, estima-se mais de trezentos fiéis, muito mais do que esperávamos, muitas rostos que já conhecíamos; vários da paróquia e capelas vizinhas; além de fiéis de Belo Horizonte e Betim, todos presentes para testemunhar este momento histórico.

Senhores e senhoras, rapazes e moças, dignamente vestidos para tão grande festa. Senhores e rapazes vestidos socialmente, alguns mesmo de terno e gravata. Senhoras e moças de saias longas e algumas com véus. Tudo como pede a santa modéstia católica para a Casa de Deus.

Todos ouvem atentos o sermão do padre. Famintos para receber o alimento da Palavra divina e não um blá-blá-blá sem fim que não leva a nada e não sacia ninguém.

No momento da consagração, todos de joelhos, adoração devida à Nosso Deus que se digna descer sobre nossos altares. O padre, profundamente inclinado presta adoração Àquele que nos salva de nossos pecados; em seguida os fiéis adoram Deus, Nosso Senhor, tudo no mais profundo e sereno silêncio.

Mais uma vez Nosso Senhor se deu a seus fiéis, pelas mãos do sacerdote. Na procissão de Comunhão se via olhares sedentos de Deus que para muitos parecia ser a primeira Comunhão. Todos em fila, aguardando sua vez. Chegado o momento, se colocavam de joelhos e recebiam Nosso divino Redentor diretamente na boca e voltavam plenos de comoção em silêncio.

No fim da Missa várias pessoas vieram cumprimentar o padre e lhe agradecer a grande graça de devolver aos fiéis a Santa Missa de sempre. Olhos cheios de lágrimas de senhoras e senhores que, outrora foram espoliados de seu maior bem, de seu maior tesouro, mas que a partir desse momento sentiram-se na posse de Tudo Aquilo que era deles.

Enquanto eu estava na sacristia, guardando os paramentos do padre, uma senhora com os olhos rasos d’água, me diz de repente: “ Que Missa linda! Muito solene! Digna da Majestade de Nosso Senhor!”. Ela resumiu todo o meu comentário de modo simples e humilde, com um coração de criança que agrada infinitamente a Nosso Senhor.

No dia dos fiéis defuntos, a Missa no rito de sempre, que antes parecia morta em nossa cidade, volta a ter vida. Cumpre-se mais uma vez o Santo Evangelho: “Ela não está morta. Apenas dorme.”[1]

Glórias sejam dadas a Deus que jamais abandona sua Igreja e seus filhos conforme Nosso Senhor prometeu.

Graças sejam dadas a Maria Santíssima que nos concede, sempre, imensas graças e à Ela somos eternamente gratos.

Obrigado ao Santo Padre Bento XVI que nos concedeu a graça de podermos ter, novamente, em nossas paróquias a Missa no rito de São Pio V.

Obrigado ao padre Jair Gonçalves, CMF, que desde o princípio se mostrou verdadeiro pai para os paroquianos e todos os amantes da Santa Missa. Agradecemos ainda pela disponibilidade de levar a Santa Missa à cidade de Betim em breve e a todos quanto precisarem.


[1] cf. Mt 9, 24

02/11/2011

Festas dos Santos de novembro

Dia           Santo

1       Festa de Todos os Santos
2       Dia de Finados
3       Santo Umberto, Bispo
4       São Carlos Borromeu, Bispo
5       Santa Bertila, Abadessa
6       São Leonardo, Eremita
7       Santo Engelberto, Arcebispo
8      São Godofredo, Bispo
9      São Teodoro, Mártir
10    Santo André Avelino
11    São Martinho, Bispo de Tours
12    Santo Homobonus
        São Martinho I, Papa e Mártir
13    Santo Estanislau Kostka
        S. Diogo, Confessor
14    S. Josafá, Bispo e Mártir
15    Santo Alberto Magno, Doutor da Igreja
        São Leopoldo da Áustria
16    Santa Gertrudes
        Santo Edmundo
17    São Gregório, o Taumaturgo
18    São Dionísio, Bispo
19    Santa Isabel da Turingia
20    São Félix de Valois
21    Apresentação de Nossa Senhora
22    Santa Cecília, Mártir
23    São Clemente, Papa e Mártir
24    São João da Cruz, Carmelita e Doutor da Igreja
25    Santa Catarina de Alexandria, Virgem e Mártir
26    São Pedro de Alexandria
27    São Tiago, o Mutilado, Mártir
28    São Leonardo de Porto Maurício, O. F. M.
29    São Saturnino, Mártir
30    Santo André, Apóstolo

Requiem aeternam dona eis. Domine.

Se observades, Senhor, as nossas iniquidades, 
Senhor, quem subsistirá? (Sl. 129)

A Maria perdoando
E ao bom ladrão escutando,
Esperança vós me destes. 
(Sequentia, 1a. Missae de Requiem)


Descanso eterno dai-lhes, Senhor.
E a luz perpétua os ilumine. (Sl. 129)

01/11/2011

Festa de Todos os Santos

Pe. João Batista Lehmann
Na Luz Perpétua


A Festa de Todos os Santos é uma das mais importantes do ano eclesiástico. É por assim dizer a festa da família da Igreja. Ela, a mãe dos fiéis, veste gala e entoa cânticos de alegria: “regozijemo-nos no Senhor, hoje, por causa da festa de Todos os Santos”, é o convite que faz no Introito da Missa. O ofício desta festa principia com as palavras: “Adoremos ao Rei, ao Senhor dos senhores, que é a coroa de Todos os Santos”. O dia de Todos os Santos convida-nos para lançarmos um olhar às magníficas habitações celestes e contemplarmos as multidões dos Santos, aqueles benditos do Pai, que se acham no reino que lhes foi preparado desde o princípio dos tempos. (Mt. 25,334). “Tédio tenho da terra, quando olho para o céu”, dizia Santo Inácio de Loiola. Não há espetáculo aqui na terra, por mais belo, por mais atraente que seja, que se possa comparar com a magnificência do céu, que hoje se abre à nossa vista. Um dia nos tabernáculos do Senhor, vale mais que mil dias nas tendas dos pecadores. Os nossos olhos encantados vêm os anciãos levantar-se dos tronos e depositar as coroas aos pés do Cordeiro. Exércitos intérminos de Anjos e Arcanjos rodeiam o trono do Altíssimo e entoam cânticos de louvor e de adoração, de uma beleza tal, como os nossos ouvidos jamais perceberam iguais aqui na terra. Milhares e milhares de Santos de todos os povos, de todas as nações, aparecem em vestes imaculadas, com palmas nas mãos e, dobrando os joelhos diante do trono do Altíssimo, em profunda adoração, exclamam: “Assim seja! Louvor e glória, sabedoria e ação de graças, honra e poder... ao nosso Deus em todos os séculos.”

É o grande banquete que o Filho do Rei preparou para os eleitos. Hoje o vemos rodeado dos filhos. Pois todos são filhos, regatados pelo preço do seu sangue. Todos são herdeiros, chamados para com ele reinarem eternamente.

Hoje os vemos na glória, fulgurantes como as estrelas do céu.

A pátria orgulha-se dos seus filhos, dos grandes políticos, dos gloriosos generais, dos imortais cientistas, poetas e artistas. Com justo entusiasmo lhe declina os nomes, e ergue monumentos de granito e bronze à sua memória. À mocidade são apresentados como modelos, dignos de imitação. A Igreja, com muito mais razão que a pátria, se orgulha dos seus filhos, não porque foram grandes só na vida, mas porque receberam o prêmio da vitória, não de mãos humanas, mas das próprias mãos de Deus, e gozam de uma felicidade, que poder nenhum lhes pode arrebatar.

São João Evangelista, a quem foi dado ver a glória do céu, disse: “Eu vi uma grande multidão de todos os povos.” Não compartilharmos da felicidade invejável de S. João, mas com os olhos da fé podemos ver muita coisa que nos encanta, que nos consola e anima. As multidões, que se nos apresentam, quem são? São as almas glorificadas de homens, que, como nós, aqui lutaram e sofreram. A fé apresenta-nos os Santos todos como nossos irmãos, como membros da mesma família, à qual todos nós pertencemos. Como membros desta família, devemo-nos encher de alegria e congratular-nos como os nossos irmãos, que já venceram o mundo, a carne e o demônio, e se acham no lugar onde não há mais lágrimas, tristezas e dor.

Não é só a alegria de que se enche nossa alma: a lembrança do doce mistério da comunhão dos Santos dá-nos coragem e ânimo, para continuar sem desfalecimento na luta, que nos acompanha até a morte. Se a nossa consciência nos dá o consolo de uma vida pura, felizes de nós, porque o lugar nos fica reservado, entre as gloriosas virgens, para cantar a glória do Cordeiro. Se, porém, penosamente nos arrastamos pelo caminho da dor, do arrependimento e da penitência, Santos há, nossos irmãos, que nos acenam animadamente e vem-nos à memória a bela palavra de Santo Agostinho: o que ele conseguiram, será para mim coisa impossível? Os Santos e justos regojizam-se ao verem seus modelos e protótipos como seja: S. João Evangelista, as Santas Inês, Cecília, Catarina, S. Luiz Gonzaga, S. João Berchmans e outros, ao passo que os pobres pecadores se animam e se consolam, vendo as figuras dos grandes penitentes: S. Davi, Santa Maria Madalena, O Bom Ladrão, Santo Agostinho e milhares de outros.

Os Santos orientam-nos na penosa viagem ao céu. Não desdizendo a palavra de Jesus Cristo: “o reino dos céus padece força”, indicam-nos os meios que devemos aplicar para chegar ao porto da salvação. São os mesmos que eles usaram, a saber: a observação dos mandamentos da lei de Deus, a observação da lei da caridade para com o próximo, os mandamentos da lei da Igreja, trabalho, oração, sofrimentos e mortificação. “Tende coragem!” – assim os ouvimos dizer – “o céu é vosso, o céu está perto, vos está garantido.”

Desta maneira, a festa de Todos os Santos é para nós um dia de alegria, de consolo e de animação. Os Santos foram o que somos: lutadores e muitos entre eles, pecadores. Seremos o que eles são: “Benditos do Pai.” Guardemos a esperança dos céus. “Quem tem esta esperança, santifica-se.” (Jo. 3,3) “Creio na vida eterna.” Na luta, na dor, no desanimo e na tribulação, lembremo-nos da glória que nos espera. Daqui há pouco tudo está acabado e poderemos praticamente, em nós mesmos, experimentar a verdade da palavra de São Paulo, quando disse: “olho algum viu, ouvido algum ouviu, nem jamais veio à mente do homem o que Deus preparou para aqueles que o amam.” (1Cor. 2,9)