11/11/2011

Pensamentos esparsos de um católico perplexo II: a convidada de Bento XVI.

Leio no Fratres que Julia Kristeva foi convidada pelo Papa para participar do encontro de Assis como representante dos “não-crentes”.  Se há momentos em que a desesperança quase nos inunda o coração, este é um deles. Desespero é pecado grave e aí nos colocamos aos pés da Virgem Santíssima e pedimos a proteção de seu Manto.

Kristeva pode ser caracterizada como impostora, como o fazem Sokal e Bricmont (Imposturas Intelectuais, Record, 1999), ou charlatã, como a chama Olavo de Carvalho.

Alguns trechos da obra de Kristeva vão abaixo, extraídos do livro de Sokal e Bricmont. Julguem os leitores se vocês fariam uma consulta com essa psicanalista aloprada, ou mesmo a contratariam para tomar conta de duas tartarugas.

“Nessa ‘potência do continuum’ do zero ao dobro especificamente poético, percebe-se que ‘a proibição’ [interdit] (lingüística, psíquica e social) é o 1 (Deus, a lei, a definição), e que a única prática lingüística que ‘escapa’ a esta proibição é o discurso poético”. OBS: Queria saber a marca da cachaça que a moça tomou. Deve ser de primeira!

“Para nós a linguagem poética não é um código englobando os outros, mas uma classe A que tem a mesma potência que a função f(x1...x2) do infinito do código lingüístico e todas as ‘outras linguagens’ são quocientes de A sobre extensões mais restritas, e dissimulando, em decorrência dessa limitação, a morfologia da função f(x1...x2).” OBS: Sokal e Bricmont dizem simplesmente que isso não tem sentido.

“O desejo de constituir o conjunto de todos os conjuntos finitos põe o infinito em cena e vice-versa. Marx, que constatou a ilusão de o Estado ser o conjunto de todos os conjuntos, viu na unidade social, tal com mostrada pela República burguesa, uma coleção que forma, por si só, um conjunto ao qual algo está faltando.” OBS: 1. adorei o vice-versa; 2. O que está faltando na res publica é lugar para encarceramento de impostores e charlatães.

O Papa deu a essa senhora a honra de discursar em Assis como representante dos ateus. Para mim todo ateu deve ser levado a sério somente se impugnar a Prova da Existência de Deus em Cinco Vias de Santo Tomás de Aquino. Ateísmo é, antes que desvio religioso, fraude intelectual, ou coisa pior. Querem um exemplo de coisa pior? Num post anterior, cito um depoimento do neto de Thomas Huxley, colega de Darwin, Sir Julian Huxley, ex-presidente da UNESCO, sobre sua crença no dogma da evolução: “Suponho que a razão de termos nos lançado sobre a Origem das Espécies foi que a idéia de Deus interferia com nossos hábitos sexuais.” Suspeito ser esta a razão, nobre razão, de muitos ateus continuarem ateus. Ou seja, ateísmo não pode ser respeitado como uma posição intelectual séria, pois é impostura, leviandade, hedonismo. E é justamente por isso que lamento o convite de Bento XVI e incluo este ato como um dos mais lastimáveis dentre os ocorridos em Assis.

8 comentários:

Anônimo disse...

Naquele livro recomendado por vc "Nao tenho fé para ser ateu" há uma estória semelhante. O apologista protestante participa de um debate com um ateu. Após o evento saem para jantar e o autor pergunta o que o ateu achou de suas afirmações. sobre Deus. A resposta foi: "Muito boas, mas nada vai me deixar de sair com a mulherada no fim de semana". è por aí o ateísmo

Anônimo disse...

É em um momento como esse que eu digo:

Por que eu vou criticar os sedevacantistas?

Renato Lima

Antonio Emilio Angueth de Araujo disse...

Caro Renato,

Eu entendo bem seu estado d'alma quando você faz tal comentário. Mas o sedevacantismo é condenável por várias razões. O orgulho sedevacantista é o orgulho de Adão.

Pense apenas no seguinte: se você for para o lado de lá, como você voltará para o lado de cá. Quando e como o grupo de sedevacantistas vai concordar que a sede não está mais vacante? Leia um pouco sobre o Grande Cisma do Ocidente para você perceber toda a problemática que envolve desafiar a autoridade papal.

Na atual calamidade da Igreja, declarar a sede vacante é a posição mais cômoda.

Em JMJ.

Anônimo disse...

De tudo e por muito mais o que a história comprova com relação a comportamentos até muitíssimo mais graves, indago: como e quando reconhecer como dogma a Infabilidade Papal?

Antonio Emilio Angueth de Araujo disse...

Caro anônimo,
Salve Maria!

A infalibilidade papal é o dogma que afirma que o Papa, em comunhão com o Sagrado Magistério, quando delibera e define (clarifica) solenemente algo em matéria de fé ou moral (os costumes), ex cathedra,está sempre correcto. Isto porque ele goza de assistência sobrenatural do Espírito Santo, que o preserva de todo o erro.

Em JMJ.

Anônimo disse...

Caro Angueth,

Primeiramente gostaria de parabenizá-lo pelo ótimo blog com informações excelentes.

Não considero esse convite algo lamentável, Kristeva é uma intelectual de peso atualmente e por mais que discordemos de suas posições ela é parte de uma mentalidade que precisa ser combatida. Não estaremos combatendo esse tipo de intelectuais como Zizek, Critchley et cetera, se nos fecharmos aos debates e classificarmos suas ideias como simples fraude intelectual. Por mais estapafurdias que as teses de Kristeva possam parecer, refutações simplistas (quero dizer, refutações que não se apoiem em uma compreensão clara dos conceitos que ela utiliza. O que é dificil já que muitos são propositalmente obscuros, e esse seria um ponto a ressaltar num debate com a mesma.) não ajudarão a desfazer o prestígio intelectual que esses gurus tem, mas um enfrentamento cara a cara com os mesmos talvez tenha mais efeito, não sei.

Swytz Tavares disse...
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Antonio Emilio Angueth de Araujo disse...

Caro anônimo,

Obrigado pelo seu comentário e suas palavras. O problema é que o Papa não convidou Kristeva para um diálogo, ao qual eu também me oporia. Ele simplesmente abriu um espaço para ela. O fato de ela ser uma intelectual de respeito não a credencia a nada, em matéria religiosa. Não estamos num debate acadêmico, ou coisa parecida. Mesmo aí, acho que a impostura deveria ser punida firmemente.

Uma observação: Kristeva não é obscura porque está tratando de coisas profundas. Ele é deliberadamente aloprada para parecer estar tratando de coisas profundas.

Um abraço.