Diz a primeira frase da Metafísica de Aristóteles: todos os
homens têm, por natureza, o desejo de conhecer. Santo Tomás de Aquino explica,
em seu Comentário à Metafísica, esta primeira frase de Aristóteles.
Há três razões para isso. A primeira é que
cada coisa naturalmente deseja sua própria perfeição. Assim, a matéria deseja a
forma, como todas as coisas imperfeitas desejam sua perfeição. Portanto, como o
intelecto, pelo qual o homem é o que é, considerado em si mesmo é todas as
coisas potencialmente, transforma-se realmente nelas somente por meio do conhecimento.
Então, cada homem deseja o conhecimento tão como a matéria deseja a forma.
A segunda razão é que cada coisa tem uma inclinação
natural à desempenhar sua própria operação, como algo quente se inclina
naturalmente a aquecer, e algo pesado a ser movido para baixo. Ora, a operação própria
do homem como homem é compreender, e por isso ele difere de todas as outras coisas.
A terceira razão é que é desejável por todas
as coisas estarem unidas às suas fontes. (...) Ora, é somente por seu intelecto
que o homem se torna unido às substâncias separadas, que são a fonte do
intelecto humano e com as quais o intelecto humano se relaciona como algo
imperfeito a algo perfeito. É por essa razão, também, que a felicidade última
do homem consiste nessa união.
Mas já dizia São Paulo (1 Cor 8,1): “a ciência infla de
orgulho”. Então, como lutar contra o orgulho, que é o dever de todo cristão, se
possuímos esse desejo natural de conhecer? A resposta está na Imitação de Cristo, e é a única resposta
que nos afasta de uma das três concupiscências, a concupiscência dos olhos. No
capítulo “Do humilde pensar de si mesmo”, de Kempis nos ensina:
1.
Todo homem tem desejo natural de saber; mas que
aproveitará a ciência, sem o temo de Deus? Melhor é, por certo, o humilde
camponês que serve a Deus, do que o filósofo soberbo que observa o curso dos
astros, mas se descuida de si mesmo. Aquele que se conhece bem despreza-se e
não se compraz em humanos louvores. Se eu soubesse quanto há no mundo, porém me
faltasse a caridade, de que me serviria perante Deus, que me há de julgar
segundo minhas obras?
2.
Renuncia ao desordenado desejo de saber, porque
nele há muita distração e ilusão. Os letrados gostam de ser vistos e tidos como
sábios. Muitas coisas há cujo conhecimento pouco ou nada aproveita à alma. E
mui insensato é quem de outras coisas se ocupa e não das que tocam à sua
salvação. As muitas palavras não satisfazem à alma, mas uma palavra boa
refrigera o espírito e uma consciência pura inspira grande confiança em Deus.
Temos o desejo natural de saber para nos aproximarmos de
Deus. Se o operar desse desejo, pela desordem do Pecado Original, nos afasta d’Ele,
que nos aproveita a ciência? Essa é uma boa meditação quaresmal.