31/08/2008

Lições das Missas dominicais pós-Vaticano II – Parte X

O Evangelho deste domingo, 31/08/2008, na Missa de Paulo VI é Mt. 16, 21-27. É a seqüência do Evangelho do domingo anterior. O evangelista diz que “Jesus começou a mostrar a seus discípulos que devia ir a Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, do sumo sacerdotes e dos mestres da lei e que devia ser morto e ressuscitar no terceiro dia”. Pedro, o primeiro papa, diz a Jesus: “Deus não permita tal coisa, Senhor! Que isso nunca aconteça!” Se Jesus fosse aquele pacifista, aquele mestre água-com-açúcar, que tentam nos vender por aí, ele agradeceria muito a preocupação de Pedro e tentaria lhe consolar. Mas Jesus é o Filho de Deus e então diz a Pedro: “Vai para longe satanás! Tu és para mim uma pedra de tropeço, porque não pensas as coisas de Deus, mas, sim, as coisas dos homens!” Na Vulgata de São Jerônimo se lê: “Vade post me Satana scandalum es mihi quia non sapis ea quae Dei sunt sed ea quae hominum”. Depois disso, Jesus nos dá a ordem, seguida por todos os mártires e santos: “Se alguém quiser me seguir, renuncie a si mesmo, tome a cruz e me siga. Pois quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim vai encontrá-la”.

Claro que Pedro não estava entendendo coisíssima alguma. Não estava entendendo que a Paixão significaria nossa Redenção e que qualquer um que desejasse impedi-La só podia estar trabalhando para a perdição das almas, ou seja, para satanás. Daí a repreensão duríssima de Jesus!

A ordem de seguí-Lo, através da renúncia de si mesmo, é claríssima. Devemos renunciar à vida, esta vida que pensamos ter, esta condição que temos agora, estes bens que supomos possuir, esta casa, este carro, esta esposa, estes filhos, esta profissão, estes olhos, estes ouvidos, este paladar, este tato. Tudo enfim, com que nos confundimos e nos iludimos. “Porque o Filho do homem virá na glória do seu Pai, com os seus anjos, e então retribuirá a cada um de acordo com a sua conduta”, nos diz ainda o Evangelho.

O que nos diz então o Semanário Litúrgico-Catequético, de 31/08/2008?

1. Há sempre no folheto uma introdução aos Ritos Iniciais. A deste domingo diz: o Senhor “nos convida a renunciar a tudo o que possa atrapalhar nossa caminhada em sua companhia”. Que linguagem melosa! Jesus não convida! Jesus determina as condições de quem o quiser seguir. Jesus não diz que devemos renunciar a tudo que atrapalha. Jesus diz que temos de renunciar a TUDO. Que diferença, heim! É a diferença entre o todo e a parte. Jesus quer que renunciemos somente tudo, a vida. Que nos entreguemos completamente – não só alguma coisa, alguma parte de nós, algum bem que temos – sem nenhuma restrição. Não há meio termo.

2. Há também, no folheto, uma introdução à Liturgia da Palavra que diz: “Quem busca assumir o projeto de Jesus experimenta na própria pele a incompatibilidade desse projeto com os sistemas do mundo”. Meus Deus! Que projeto é esse? Jesus não veio nos convidar a fazer parte de um projeto. Ele não é um político que tem uma plataforma, uma campanha para um mandato. Ele veio nos informar quais são as condições para que salvemos nossas almas, para SEMPRE. As condições, duríssimas, que devemos cumprir, para que não enfrentemos o inferno, para SEMPRE. Assim, não me venham com essa linguagem melíflua de “projeto”, de “convite”!

3. E há, também, um texto do pe. Nilo Luza, o redator do folheto. Vou citar alguns trechos do artigo do pe. Luza e depois os comento. “No evangelho deste domingo, Jesus anuncia aos discípulos seu destino e censura Pedro, pois este queria impedi-lo (sic!) de realizar o plano do Pai. Após convidá-lo a ‘ficar atrás’, ou ‘longe’ – isto é, a continuar sendo discípulo e não empecilho – apresenta as condições para seu seguimento: renunciar a si mesmo e tomar a cruz. (...) Há muitas renúncias que devem ser feitas para que nossa vida se coadune com a vida e a proposta do Mestre. (...) Tomar a cruz não significa buscar o sofrimento em si. O evangelho não quer justificar o sofrimento humano; ao contrário, manda combatê-lo e eliminá-lo da vida das pessoas. (...) Tomar a cruz significa seguir o caminho de Jesus, ser fiel ao evangelho, dar a vida pelos ideais por ele propostos ...”

Vejam só! Pe. Luza entende de forma originalíssima a fala de Jesus a Pedro. Para esse padre, Jesus “convida” Pedro a “ficar atrás” ou “longe”. O padre é, de fato, candidato ao prêmio “Originalidade Exegética 2008”! Para ele, “Vade post me Satana” soa como um convite. “Vá para longe de mim satanás”, para os modernistas é um convite. Vejam a que nível chegamos para vender a imagem de Jesus como um pacifista banana! Ele está chamando o futuro primeiro papa de satanás, mas isso soa aos ouvidos da Igreja pós-Vaticano II como um convite para “ficar atrás”. Não admira que já não se ouvem mais sermões que mencionem satanás.

Pe. Luza continua ainda com a lenga-lenga da tal “proposta” de Jesus, que já comentei acima. E agora vem o mais interessante. Ele diz que: “Tomar a cruz não significa buscar o sofrimento em si.” Não, claro que não. Todo mundo que medita o quarto mistério dos Mistérios Dolorosos, sabe o quanto foi divertido para Jesus levar sua própria cruz para o Calvário. Foi muito legal, pe. Luza! Quando Jesus fala sobre a cruz, sendo ele um pacifista fenomenal, além de um hedonista contumaz, ele não quer que ninguém entenda sofrimento. Afinal, para Ele, que foi PREGADO no madeiro, a coisa toda foi um prazer imenso. São João da Cruz, da CRUZ, pe. Luza, também escreveu sobre a cruz, mas seus escritos são um “barato” constante para seus leitores.

Pe. Luza diz ainda que: “O evangelho não quer justificar o sofrimento humano; ao contrário, manda combatê-lo e eliminá-lo da vida das pessoas.” Onde, pe. Luza, o evangelho manda combatê-lo e eliminá-lo da vida das pessoas? Onde é que está isso, pe. Luza? Pe. Luza, é possível eliminar o sofrimento da vida das pessoas? Com quê? Com o marxismo, que nos promete um reino de deus na terra? Jesus não ensina que o sofrimento é o caminho? O senhor não está sendo como Pedro, um “scandalum”, uma pedra de tropeço, ao afirmar isso?

Mas, podem acreditar, há mais no folheto de hoje! O assunto agora é São Paulo. Primeiro a epístola da Missa, que passa sem nenhum comentário. Note que até as ausências são significativas no folheto. Paulo diz na Epístola aos Romanos (Rm 12, 2) que: “Não vos conformeis com o mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensa e de julgar, para que possais distinguir o que é da vontade de Deus, isto é, o que é bom, o que lhe (sic!) agrada, o que é perfeito”. Veja que coisa interessante. Ao contrário da Teologia da Libertação, Paulo ordena que não nos conformemos com o mundo, mas não que o transformemos, mas que NOS transformemos. Que bela aula contra a teologia da embromação! Que bela aula contra o marxismo e todos os esquerdismos seus filhos.

Ainda sobre Paulo, e agora para finalizar, pe. José Bortolini nos brinda com fabulosas e originais informações sobre esse apóstolo. Ele diz, logo no início de seu artigo: “Sem ter por trás dos bastidores a comunidade de Antioquia da Síria, Paulo não teria realizado tudo o que sabemos”. Vejam só! Paulo, na verdade, é fruto da comunidade de Antioquia. Aqueles que até hoje pensaram que Paulo tinha por suporte Jesus Cristo, que lhe falou na estrada de Damasco e o guiou na evangelização dos gentios, em todas aquelas suas fenomenais viagens, até seu martírio em Roma, estavam e estão enganados. Quem deu força a Paulo, nos bastidores que só pe. Bortolini conhece, foi a comunidade de Antioquia. Ou seja, a obra de Paulo é obra coletiva. Quando vocês lerem as cartas de Paulo, podem ter certeza de que estão ouvindo a fala da comunidade de Antioquia. Quem morreu na cruz em Roma foi a comunidade de Antioquia. E quando comemoramos, no dia 29 de junho, a festa de São Pedro e de São Paulo, comemoramos a festa de santa Antioquia.

Estas são as lições da Missa de hoje, segundo “O Domingo”.

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28/08/2008

Candidatos, meu voto está à venda!

Como todos sabem, época de eleição é um bom momento para vendermos o voto. Tentando dar um bom exemplo a meus filhos, estou eu aqui a anunciar que meu voto está à venda.

Acautelem-se, contudo, os candidatos afoitos. Meu voto é muito caro. Eu disse muito caro. Não é qualquer depósito em conta no exterior que vai levando meu voto. Não é qualquer mensalão que vai me enganar.

Meu voto irá para o candidato que depositar na Caixa .... de correio lá de casa, uma declaração assinada e com firma reconhecida, com as seguintes afirmações (que devem também constar da propaganda do candidato no rádio e na televisão):

1. O fundamento moral de minhas ações de candidato eleito serão os Dez Mandamentos da Lei de Deus.

2. Caridade é virtude individual. Quando o governo se mete a fazer caridade com o dinheiro público é sinal de vagabundo pondo a mão no salário do trabalhador.

3. Todo cidadão tem o direito de defender a si e a sua família de criminosos e assassinos, inclusive com arma em punho. Porte de arma para o cidadão comum é fundamento da democracia.

4. Todo cidadão tem o direito a educar seus filhos segundo seus próprios valores. Educar o filho em casa é um direito básico da cidadania.

5. A escola, pública ou privada, não tem o direito de doutrinar nossos filhos. Eles têm o direito de receber uma educação baseada na verdade e nos valores da Civilização Ocidental.

6. Lugar de criminoso é na cadeia e cadeia não é colônia de férias.

7. Crimes hediondos devem ser punidos com a pena de morte.

8. ONG significa Organização Não Governamental, portanto nada de dinheiro público financiando esse tipo de organização.

9. Sou a favor de “programas de redução da mortalidade infantil”, por isso sou contra o aborto.

10. Sou favorável à “preservação das espécies em extinção”, por isso sou contra a matança generalizada de cristãos em países comunistas e islâmicos.

Esse é o preço mínimo que estou cobrando dos candidatos que desejarem o meu voto. Se quiserem pagar mais, podem adicionar itens ao decálogo acima. Por exemplo, quem afirmar que existem verdades absolutas, pois ninguém consegue negar isso sem uma afirmação autocontraditória, ganha muitos pontos no meu conceito. Quem fizer algum comentário a respeito da prova tomista, em cinco vias, da existência de Deus, ganha minha mais profunda admiração. Mas basta o decálogo, para ser um candidato de minha predileção.

26/08/2008

Campanha da Fraternidade 2008: observações tardias

Vocês vêem aí ao lado o cartaz da Campanha da Fraternidade 2008 da CNBB. Um velho negro segurando no colo uma criança branca. Nada na foto lembra o tema da campanha. O texto é uma aula de como não ir direto ao ponto. E, sob o ponto de vista católico, aí meu Deus, é lamentável. A palavra pecado não aparece nem mesmo uma vez. Veja aqui o texto de Dom Jacyr Francisco Braido. Procure a palavra pecado e verão que ela não existe.

Mas voltemos ao cartaz. Quando eu o vi, numa missa de domingo, fiquei pensando no que aquilo significava. Cheguei à conclusão que era mais uma dessas peças publicitárias politicamente corretas. Daí para uma profunda indignação foi um pulo. Ora, mas a CNBB, tratando de um tema tão relevante como a defesa da vida, vem se colocar numa posição politicamente correta! Se isso não é vender a alma ao demônio, não sei o que é.

Tão logo me acalmei um pouco, fiquei pensando numa foto que tinha visto num artigo do pe. Lodi no MSM, sobre a menina Marcela, que nasceu sem cérebro e já fazia um ano de idade. Pensei cá comigo, era aquela foto, ou outra parecida, que tinha que se constituir no cartaz da campanha contra o aborto. A menina Marcela foi um sinal de Deus, tanto para os abortistas, quanto para quem defende a vida. Esse sinal significa simplesmente o seguinte: Deus nos está dizendo que Ele é o dono da vida e que Ele a mantém em quem Ele quiser, em qualquer situação, mesmo na falta de um cérebro. Também significa que ninguém tem o direito de imaginar que qualquer quantidade de conhecimento humano será suficiente para que o homem decida quando tirar a vida de um ser humano. Os especialistas sempre afirmaram que casos como o da Marcela são impossíveis.


Pensei em tudo isso e desejei que a CNBB pudesse ter sido um pouco mais católica. Tive a esperança de que num futuro próximo, aquela instituição pudesse fazer justiça ao sinal de Deus e então pudesse exibir um retratinho da Marcela que fosse, no site tão pomposo dessa ONG dos bispos do Brasil. Mas, agora, Deus resolveu chamar a Marcela de volta a Ele. Nesse chamado, mais um sinal foi dado. Ela morreu por um motivo completamente alheio à anencefalia. Qualquer criança com cérebro normal poderia ter morrido pelo mesmo motivo. Aí do lado, está um retratinho de Marcela com sua mãe, santa mãe, quando ela fez um aninho de idade.
A CNBB perdeu definitivamente a oportunidade.

24/08/2008

Lições das Missas dominicais pós-Vaticano II – Parte IX

O Evangelho deste domingo, 24/08/2008, na Missa de Paulo VI é Mt. 16, 13-20. Nesse trecho do Evangelho, Jesus diz a Pedro: “Eu te darei as chaves do reino dos céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus”. Esse poder de ligar e desligar que Jesus transmite a Pedro é conhecido como o “poder das chaves”.

O que nos diz então o Semanário Litúrgico-Catequético, de 24/08/2008, do 21º Domingo Comum sobre o poder das chaves? Num texto inicial da Liturgia da Palavra, o folheto nos ensina que “Deter o ‘poder das chaves’ é ser responsável pela administração de alguma instituição ou organização. Deus pede aos seus representantes seriedade no compromisso de administrar; somente com muito amor podem exercer, com fidelidade, tal missão”.

O que dizer desse trecho do folheto? Vamos admitir a boa vontade de quem o preparou. Vamos admitir que essa pessoa esteja querendo fazer uma analogia que permita às pessoas comuns, talvez sem instrução, compreender o que seja o “poder das chaves”. A comparação é a mais simples possível, o que é bom quando se tenta ensinar algo. Mas há comparações que diminuem tanto a coisa comparada que servem mais para confundir do que para explicar.

É claro que chaves abrem e fecham portas, a questão é saber que portas são essas. Serão portas institucionais? Será a porta do Vaticano? Será a porta da Igreja como instituição? É claro que não! Aliás, é bem ao contrário. A Igreja, como instituição, repousa no “poder das chaves”. É esse poder que faz a Igreja. É a chave que constrói a porta. A Igreja foi constituída sobre Pedro porque a Pedro foi dado o “poder das chaves”.

Esse poder, segundo a longuíssima tradição da Igreja, é o poder de abrir as portas do Céu, que não é instituição, e também de fechar as portas do inferno, que também não é instituição. É por isso que quem se separa da Igreja perde esse poder. Isso é o que nos diz todos os Padres e santos da Igreja. Quem quiser ter uma idéia da Tradição com relação a essa passagem dos Evangelhos, veja a Catena Áurea.

Assim, identificar esse poder apenas como poder institucional é, no mínimo, equivocado. Equivocado quando à natureza do poder e equivocado quanto à natureza do ensino, sobretudo ao ensino catequético. O “poder das chaves” passa dos apóstolos e do primeiro Papa para os bispos e padres, desde então. É preciso que nós leigos católicos compreendamos que isso aconteça, mas é preciso ainda mais que os padres compreendam também. E atenção: o demônio não é funcionário de uma instituição chamada inferno. Não cometamos esse erro fatal!

Na parte essencialmente catequética do folheto, temos um texto do pe. José Bortolini que menciona o fato de que o Messias era esperado como um libertador de Israel do jugo de Roma. Libertador é uma palavra que ele teve o juízo de não usar, pois lembraria uma tal teologia da libertação que espera a mesma coisa de Jesus. Que Ele nos liberte do jugo dos ricos e poderosos desse mundo, via um marxismo chulo. Essa reflexão o padre não fez, claro, sendo ele um modernista empedernido. Mas essa teologia é nada mais nada menos que a herdeira das esperanças de Judas Iscariotes: que Jesus seja o libertador temporal do Israel contemporâneo. Foram as esperanças frustradas de Judas que puseram Jesus no madeiro. É a teologia da libertação que traz tanta devastação à Igreja no Brasil.



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17/08/2008

Assumpta est Maria in coelum

Enciclopédia Católica


A festa da Assunção da Bem-aventurada Virgem Maria em 15 de agosto, também chamada nos livros litúrgicos antigos Pausatio, Nativitas (para o céu), Mors, Depositio, Dormitio S. Marie.

Essa festa tem um duplo objetivo: (1) a alegre partida de Maria dessa vida; (2) a assunção de seu corpo ao céu. É a principal festa da Bem-aventurada Virgem.

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O fato da Assunção

A respeito do dia, ano e forma da morte de Nossa Senhora, nada de certo é conhecido. A referência literária mais antiga da Assunção é encontrada em um trabalho em grego: De Obitu S. Dominae. A fé católica, contudo, tem sempre extraído nosso conhecimento desse mistério da Tradição Apostólica. Epiphanius (403 d.C.) reconhece nada saber sobre o fato (Haer., lxxix, 11). As datas indicadas para a Assunção variam de 3 a 15 anos depois da Ascensão de Cristo. Duas cidades alegam ter sido o lugar da partida de Nossa Senhora: Jerusalém e Éfeso. O consenso parece indicar Jerusalém, onde seu túmulo é exposto; mas alguns argumentam em favor de Éfeso. Os primeiros seis séculos não conheceram seu túmulo em Jerusalém.

A crença na assunção corporal de Maria é baseada no tratado apócrifo De Obitu S. Dominae, que leva o nome de São João como autor, mas que pertence ao quarto ou quinto século. Essa crença é também encontrada no livro De Transitu Virginis, falsamente atribuído a São Melito de Sardis, e numa carta espúria atribuída a São Dionísio, o Areopagita. Se consultamos os escritos genuíno do Oriente, a Assunção é mencionada nos sermões de Santo André de Creta, São João Damasceno, São Modesto de Jerusalém e outros. No Ocidente, São Gregório de Tours (De gloria mart. , 1, iv) a menciona pela primeira vez. Os sermões de São Jerônimo e Santo Agostinho para essa festa, contudo, são espúrios. São João Damasceno (P;G., I, 96) assim formula a tradição da Igreja de Jerusalém:

São Juvenal, Bispo de Jerusalém, no Concílio da Calcedônia (451), fez conhecer ao Imperador Marciano e Pulcheria, que desejava possuir o corpo da Mãe de Deus, que Maria morreu em presença de todos os Apóstolos, mas que seu túmulo, quando aberto, por solicitação de São Tomás, estava vazio; de onde os Apóstolos concluíram que seu corpo foi levado para o céu”.

Hoje, a crença na assunção corporal de Maria é universal no Oriente e no Ocidente; segundo Bento XIV (De Festir B.V.M., I, viii, 18) essa é uma opinião provável, e que sua negação seria impiedosa e blasfema.


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A festa da Assunção

A respeito da origem da festa, não temos também certeza. É mais provável que a festa se originou do aniversário da consagração de alguma igreja do que o aniversário de morte de Nossa Senhora. Que a festa tenha se originado no tempo do Concílio de Éfeso, ou que São Damásio a introduziu em Roma, são apenas hipóteses.

Segundo Santo Teodósio (529 d.C.) a festa era celebrada na Palestina antes do ano 500, provavelmente em agosto (Baeumer, Brevier, 185). No Egito e Arábia, contudo, ela acontecia em janeiro, e como os monges da Gália adotaram muitos costumes dos monges do Egito (Baeumer, Brevier, 163), encontramos essa festa na Gália no século VI, em janeiro [mediante mense undecimo (Greg. Turon., De gloria mart., I, ix)]. A Liturgia Gaulesa comemora a data em 18 de janeiro, sob o título: Depositio, Assumptio, ou Festivitas S. Mariae (cf. a nota de Mabillon sobre a Liturgia Gaulesa, P. L., LXXII, 180). Esse costume foi mantido na Igreja gaulesa até a introdução do Rito Romano. Na Igreja grega, assim parece, alguns mantiveram a festa em janeiro, como os monges do Egito; outros em agosto, como aqueles da Palestina; assim o Imperador Maurice (602 d.C.), se a descrição do Liber Pontificalis (II, 508) estiver correta, determinou a data da festa em 15 de agosto para o Império Grego.

Em Roma (Batiffol, Brev. Rom., 134) a mais antiga e única festa de Nossa Senhora ocorria em 1 de janeiro, na oitava do nascimento de Cristo. Ela era celebrada a princípio na igreja Santa Maria Maggiore e mais tarde na igreja de Santa Maria dos Mártires. As outras festas são de origem bizantina. Duchesne considera (Orígenes du culte chr., 262) que antes do século VII nenhuma festa existia em Roma, e que conseqüentemente a festa da Assunção, encontrada nos sacramentais de Gelásio e Gregório, é uma adição espúria feita no século VII ou VIII. Porbst, contudo (Sacramentarien, 264 ss.), apresenta argumentos para provar que a Missa da Virgem Maria, celebrada em 15 de agosto segundo o Gelasianum, é genuína, pois ela não menciona a assunção corporal de Maria; que, conseqüentemente, a festa era celebrada na igreja de Santa Maria Maggiore em Roma pelo menos no século VI. Ele prova, além disso, que a Missa do Sacramentário Gregoriano é de origem gaulesa (pois a crença da assunção corporal de Maria, sob a influência de escritos apócrifos, é mais antiga na Gália do que em Roma), e que ela suplanta a antiga Missa gelasiana. Ao tempo de Sérgio I (700) essa festa era uma das principais festividades em Roma; a procissão começava na igreja de Santo Adriano. Era sempre uma festa dupla de primeira classe[1] e um dia santo.

A oitava foi adicionada em 847 por Leão IV; na Alemanha essa oitava não era observada em diversas dioceses até o tempo da Reforma. A Igreja de Milão não a aceita até hoje (Ordo Ambros., 1906) A oitava é privilegiada em dioceses das províncias de Siena, Fermo, MIchoacan, etc.

Na Igreja Grega a festa continua até dia 23 de agosto, inclusive, e em alguns monastérios de Monte Athos ela se alongava até dia 29 de agosto (Menaea Graeca, Venice, 1880), pelo menos formalmente. Nas dioceses da Bavária um décimo terceiro dia da Assunção era celebrado durante a Idade Média, em 13 de setembro, com o Ofício da Assunção (duplo); hoje, somente a Diocese de Augsburg retém esse antigo costume.

Algumas das dioceses bávaras e aquelas de Brandenburgo, Mainz, Frankfurt etc., mantinha a festa da “Segunda Assunção” em 23 de setembro, ou o “Quadragésimo dia da Assunção” (duplo) na crença, segundo as revelações de Santa Isabel de Schönau (1165 d.C.) e São Bertrand, O.C. (1170 d.C.), de que a B.V. Maria foi levado aos céus no quadragésimo dia depois de sua morte (Grotefend, Calendaria 2, 136). Os seguidores de Santa Brigita da Suécia mantinha a festa da “Glorificação de Maria” (dupla) em 30 de agosto, depois que a santa disse (Revel., VI, 1) que Maria foi levada ao paraíso quinze dias depois de sua morte (Colvenerius, Cal. Mar., 30 agosto). Na América Central uma festa especial de Coroação de Maria no céu (dupla, primeira classe) é celebrada em 18 de agosto. A cidade de Gerace na Calábria mantém três dias sucessivos com o rito duplo de primeira classe, comemorando: 15 de agosto, a morte de Maria; 16 de agosto, sua Coroação.

Em Piazza, na Sicília, há uma comemoração da Assunção de Maria (dupla de segunda classe) em 20 de fevereiro, o aniversário de terremoto de 1743. Uma festa similar (dupla de primeira classe com oitava) é mantida em Martano, Diocese de Otranto, em Apulia, no dia 19 de novembro.

[Nota: Com a promulgação da Bula Munificentissimus Deus, em 1 de novembro de 1950, o Papa Pio XII declara infalivelmente que a Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria é dogma da Fé Católica.]


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Sobre esse texto

APA citation. Holweck, F. (1907).
A Festa da Assunção. In The Catholic Encyclopedia. New York: Robert Appleton Company. Retrieved August 17, 2008

MLA citation. Holweck, Frederick. "
A Festa da Assunção." The Catholic Encyclopedia. Vol. 2. New York: Robert Appleton Company, 1907. 17 Aug. 2008 .

Aprovação eclesial. Nihil Obstat. 1907. Remy Lafort, S.T.D., Censor. Imprimatur. +John M. Farley, Archbishop of New York.

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[1] Diz-se que um dia é de festa de dupla obrigação quando se deve assistir a missa e não trabalhar. Quando à dignidade uma festa pode ser de primeira e de segunda classe. As festas de primeira classe comemoram os principais mistérios de nossa religião ou a morte de um santo. (N. do T.)

12/08/2008

Nelson Rodrigues é mais católico que a CNBB – Parte II

Nota prévia – Desnecessária qualquer nota prévia. A situação fala por si mesmo. E Nelson fala (escreve) muito bem. Que São José proteja a Igreja de seu Filho adotivo. Ah, sim! O título da crônica de que extraio os trechos abaixo: Quem extravasa ódio?

Em que consiste o Paredão de Manchete? É uma enquête. A revista escolhe uma vítima e chama uma série de personalidades. Faz-se o julgamento ou, melhor do que isso, a execução. As perguntas devem ser mortíferas como balas.

Quando o Zevi fez o convite, a minha modéstia estrebuchou. Aleguei que o Paredão exige os méritos especialíssimos que me faltam. Quem se lembraria de fuzilar um homem secundário como eu? (...)

(...)

(...) Propus ao Zevi: – “Arranja outro nome.” Ele insistiu, quase zangado: – “É você, só serve você.” Tenho comigo a velha pusilanimidade, sim, o velho medo de contrariar os amigos. Disse: – “Vá lá, vá lá.”

(...)

(...) Finalmente, veio trazer as perguntas um rapaz, Buarque de Holanda, talento das novas gerações. Eu tinha que ler e gravar as respostas na hora. (...)

(...)

O momento mais lacinante do Paredão ocorre com a pergunta do jovem ator Paulo José. Excelente menino. Mas diz o seguinte: – “As posições de D. Hélder, autenticamente cristãs, estão apoiadas no pensamento da Igreja de hoje.” E continua: – “Estabelecendo confronto, pergunto: – qual é o outro pensamento da Igreja? Existe outra coisa que mereça ser lida ou vivida?”

Como posso descrever o meu escândalo profundo? Considero invencível um rapaz que chega à boca de cena e anuncia, de fronte alta: – “A Igreja começa e acaba em D. Hélder.” Não lhe apareceu um parente, um contraparente que cochichasse: – “Além de D. Hélder, há pra mais de dois mil anos.” Simplesmente, ele enxota os vinte séculos como quem afasta, com o lado do pé, uma barata seca. Rapaz fortemente atualizado, jamais desconfiou de que tivesse existido, alhures, um Cristo.

Ver também: Nelson Rodrigues “entrevista” D. Hélder Câmara, Nelson Rodrigues “entrevista” D. Hélder Câmara – Parte II, Nelson Rodrigues é mais católico que a CNBB

10/08/2008

Nelson Rodrigues é mais católico que a CNBB

Nota prévia - Num dos meus comentários sobre o folheto das missas dominicais, comentei sobre o que dizia o padre Nilo Luza (redator do folheto) sobre o milagre da multiplicação dos pães. O padre fazia, usando o nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, apologia do “fome zero”. O padre esquecia da dimensão eucarística do pão, de sua função de alimento da alma.

É obvio que o pão sempre tem uma dimensão material, de matar a fome do corpo, apesar de não ser essa a dimensão a ser explorada numa homilia sobre a multiplicação dos pães. Mesmo assim, falar do “fome zero” quando se quer falar da dimensão material do pão é de uma impropriedade extraordinária.

Para falar da miséria, da fome e do pão, convoco um autor (e uma crônica). Não, não é Santo Atanásio, não é Santo Agostinho, não é nem mesmo Santo Tomás de Aquino. Esqueçam Chesterton e Belloc. Esqueçam papas e cardeais. Convoco Nelson Rodrigues, o reacionário. Sua crônica?
Marxismo e asma. Que São José proteja a Igreja de Cristo que hoje se encontra invadida por apóstatas.


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Já lhes falei do meu amigo marxista. Sempre o encontro com a bombinha da asma. Ele próprio declara, com tenebroso humor, que se não fosse a bombinha estaria morto e enterrado desde a Primeira Batalha do Marne. Dizem seus amigos que seu marxismo e todo o seu horror à ordem capitalista são de fundo asmático.

Anteontem procurou-me, irritadíssimo. Chama-me para um canto: – “Preciso falar contigo.” Arquejava, e teve que usar a bomba. Fez tanto “suspense” que pergunto, interessado: – “Mas o que é que há?” Olhou para os lados e então, ainda ofegante, disse: – “Aquele teu artigo está de um reacionarismo!” – pausa, e repetiu, de olho rútilo e lábio trêmulo: – “De um reacionarismo, rapaz!”

Até hoje não sei se a sua irritação era mesmo irritação ou deslumbramento. Ainda perguntei: – “Meu artigo?” Ah, sou um autor sujeito a lapsos fatais. Quantas vezes me esqueço do que escrevi há meia hora? Foi ele quem me alumiou a memória: – “O artigo da fome!” Era verdade. Eu escrevera recentemente artigo sobre a fome de 1917, 18 e 19.

É de caso pensado que ponho as datas. E, com efeito, a fome muda o seu comportamento de época para época. Nos anos citados ela não tinha o apelo, o patético, a promoção dos nossos dias. Bem me lembro dos meus seis, sete anos. De vez em quando vinha gente bater na nossa porta: – “Um pedaço de pão! Um pedaço de pão!” Eis a palavra e a imagem: – pão. Há uns quarenta anos não vejo ninguém pedir pão a ninguém.

Outro dia ocorreu um episódio que me parece singularmente ilustrativo. Uma santa senhora deu pão a um mendigo. O sujeito apanhou o pão e o olhou, esbugalhado, como se não entendesse a esmola. E súbito deu-lhe uma ira, um ódio. Agrediu a senhora, deu-lhe uma surra de pão. A vítima pôs a boca no mundo. Com um rapa fulminante o mendigo a derrubou: e, por cima da senhora, queria enfiar-lhe o pão pela goela abaixo.

Assim se comporta a fome da nossa época. Vive do ódio. Outrora, não. Na Confissão que provocou o divertido horror do marxista asmático eu escrevia, justamente, sobre os famintos da minha infância. Ah, naquele tempo tínhamos por aqui uma fome sem raiva, sem agressividade, dócil, mansa e como que consentida.

Um dia houve um enterro em Aldeia Campista. Salvo engano, o morto era “Seu” Ferreira, português rico, dono de um armazém. Quatro cavalos de crepe e penacho puxavam o carro fúnebre. Na hora certa o enterro vai partir. E então acontece o seguinte: o cocheiro desmaia, simplesmente desmaia (caiu-lhe a cartola).

Corre-corre no portão. Dois ou três agarram o homem; dão-lhe tapinhas na cara. Finalmente, abre os olhos; arquejante, geme: – “Quero comer, quero comer.” E fazia o apelo por entre lágrimas. Foi carregado para o interior da casa enlutada. Lá dentro alguém improvisa um prato fundo de feijão com arroz. O cocheiro começa a comer. Súbito pára e, de boca cheia, pergunta: – “Tem uma pimentinha?”

Aquele homem não comia há dois dias. E não faltou à funerária. Lá estava, de cartola, fazendo o enterro de luxo. E, não fosse derrubado pela inanição, chegaria ao cemitério. Eis o que eu queria dizer: era uma fome sem Ministério do Trabalho, sem greve, sem reivindicações salariais. Ainda garoto, tivemos uma cozinheira que tinha um filho por ano, matematicamente. Chamava-se Hortência. Era uma fecundidade radiante. Dizia, na cozinha, esplêndida de vaidade: – “Tenho os meus filhos em pé.”

E assim chegou aos nove, dez, onze filhos. A fome levou nove. Exatamente nove filhos. Os mais resistentes morriam aos cinco, seis anos. Pois a mãe os enterrava sem pena, nem ressentimentos. Ter os filhos e perdê-los era a sua rotina. Ela própria não odiava a fome, e repito: não havia desespero, nem tristeza, na sua fome.

Muitos anos depois, vou a Caxias e a encontro lá. Já se tinham incorporado à vida brasileira os direitos trabalhistas. Falava-se, na época, que o novo salário-mínimo seria de seis mil cruzeiros antigos. A minha ex-cozinheira, já alquebrada, já avó, ralhava com o genro: – “Sei contos é demais. Onde já se viu? Seis contos é abuso.”

Claro que o marxista queria que eu apresentasse uma cozinheira retórica como “La Passionaria”. E, como não a descrevi derrubando bastilhas e decapitando marias antonietas, o leninista me chamava de reacionário[1]. Curioso é que ele escreve bem. Se deixasse de fazer concessões às esquerdas, seria capaz de obra-prima. Também a asma o prejudica literariamente.

O Brasil de minha infância não tinha assalto por isso mesmo: porque a fome não assaltava e digo mais, a fome ainda não assaltava. O assaltante não quer comer. Mata e fere para ter o supérfluo. Dirá alguém que estou falsificando a verdade. Mas insisto em que só a fome literária do Zola arromba padarias, e só ela pendura o padeiro num pedaço de pau.[2]

Hoje há uma fúria. Quantos vivem da fome? Por exemplo: D. Hélder. Sempre teve gênio promocional e nunca foi um obscuro. Mas faltava ao D. Hélder anterior o dramatismo, a potência, a fama do D. Hélder da fome. A fome tem-no feito. Podíamos apresentar a fome como a autora de D. Hélder. Ele precisava ter, por fundo, a mortalidade infantil. Mas coisa curiosa! Os grandes indignados da fome não são as suas vítimas, mas os que não a tem. Sim, são os bem alimentados que vociferam e dão patadas.

Ainda ontem, uma grã-fina batia o telefone para mim. Reclamava de uma Confissão que tratava, justamente, da fome da Índia. E a excelente senhora agrediu-me como se eu fosse o culpado, da fome do Nordeste, da Índia, Paquistão, Biafra, e de todos as misérias passadas, presentes, e futuras.

Perguntou-me: – “Você acha que a Índia gosta de passar fome? Acha que a Índia gosta de ver as cinzas do próprio cadáver no rio? Sua literatura sobre a fome é desumana.” Eu poderia responder-lhe: – “Meu anjo, por que é que você não asfalta uma favela com seu colar de quinhentos milhões antigos?” Mas sou um tímido e um delicado. E conversei longamente no telefone.

Disse-lhe eu o óbvio total: – a fome é o mais antigo hábito dos hábitos humanos. Ora, um hábito não dói, não faz sofrer. Por exemplo: a Índia. Há seis mil anos que o cadáver é atirado no rio. E o cadáver já não se espanta mais. Lá, milhões de sujeitos não moram. E bebem, a mãos ambas, a água da sarjeta. Do outro lado da linha, a grã-fina esperneava: – “Isso é blague. Não brinque com coisas sérias.” Por fim, como ela tomava a verdade por piada, disse-lhe: – “As vítimas da fome sofrem menos. Quem se descabela, e soluça, e quer chupar a carótida das classes dominantes, são a senhora, D. Hélder e o Dr. Alceu.”[3] Ao ouvir falar no Tristão, pulou: – “Você quer negar a bondade do Alceu?” Com a humildade de um torpe que fala de um santo, desejei que o Mestre tivesse milhares de boas ações, inclusive do Banco do Brasil, da Vale do Rio Doce, Petrobrás e outras. A grã-fina perdeu a paciência. Bateu o telefone.

[1] Nelson vê aqui o óbvio ululante, como ele mesmo gostava de dizer: o marxismo é filho dileto da Revolução Francesa, aquele episódio que, assim se diz, criou o mundo moderno. E a Igreja pós-conciliar optou pela Revolução Francesa, como nos diz candidamente João Paulo II: "Nos documentos do Concílio Vaticano II pode-se encontrar uma sugestiva síntese da relação entre o cristianismo e o iluminismo" (João Paulo II, Memória e Identidade, Rio de Janeiro, Editora Objetiva, 2005, pg 126). (Nota do blogueiro)

[2] Quem quiser saber quais são as raízes da violência no Brasil, o texto fundamental, para mim, é o de Olavo de Carvalho: Bandidos e letrados. Olavo e Nelson diagnosticam certeiramente o problema. (Nota do blogueiro)

[3] E a CNBB. (Nota do blogueiro)

03/08/2008

Lições das Missas dominicais pós-Vaticano II – Parte VIII

Avertántur retrórsum et erubéscant: qui cógitant mihi mala.”

Volto a comentar, com muita tristeza, as imposturas do Semanário Litúrgico-Catequético, de 03/08/2008, sobre “O projeto ‘fome zero’”. Desta vez é o Pe. Nilo Luza que nos oferece o espetáculo nojento da subserviência da Igreja ao partido mais corrupto que já assumiu o governo do Brasil.

Esse padre nos diz que o projeto “fome zero” é na verdade um projeto de Jesus. Ele comenta o milagre da multiplicação dos pães como sendo o fundamento do projeto. Vale para o Pe. Nilo Luza o versículo do Salmo 69, do Introitus da Missa Tridentina do XII Domingo Depois de Pentecostes, reproduzido acima: Voltem para trás e fiquem envergonhados os que me querem mal.

Vamos a alguns trechos. Que Deus nos ajude a ler tantas heresias. “A proposta do evangelho de hoje é ‘fome zero’ para a humanidade. Jesus, quando viu a multidão faminta, convocou seu grupo e mandou-o dar um jeito. Seu gesto mostra que a Igreja não pode se isentar do problema.” Assim como Lenine tinha um grupo, Mao tinha um grupo, Fidel tinha um grupo, Jesus tinha também o seu grupo. E vejam que ele mandou o grupo resolver o problema: de alimentar 5000 pessoas com cinco pães e dois peixes. Notem, ainda mais, que, segundo esse padre, é uma das funções da Igreja a alimentação dos povos. Não, ele não está dizendo que a Igreja tem, diretamente, de alimentar os povos. Ele candidamente diz: “Claro que ela não tem condições de alimentar todos os famintos, mas pode ser solidária com eles, fazendo parcerias com outros segmentos da sociedade.” Viram só? A Igreja agora é uma ONG em parceria com a ONU, com o PT, com o PC do B etc.

Mas o que dizer do “grupo de Jesus”? Ele resolveu o problema? Ele multiplicou os pães? Claro que não! Quem o fez foi Jesus, o Cristo. Que importância teve o “grupo de Jesus” nesse caso? Claro que nenhuma. O centro de toda a história do milagre é que Jesus pode multiplicar os pães e entregá-los a nós. Não o grupo. Mas isso o padre não fala. Ele procura torcer a história ao máximo, mesmo que tenha de assassinar a lógica.

Mas, perguntarão os leitores, o padre não fez nenhuma alusão ao significado eucarístico do pão, ao significado de uma outra alimentação, a da alma? Não disse ele nada em relação a: “Não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus?” Não. Padre Nilo Luza foi absolutamente silencioso ao significado maior do pão. Ou seja, foi incapaz de chegar ao inteligível a partir das coisas sensíveis. Esse padre deve ter faltado às aulas sobre Santo Tomás quando estava no seminário, se é que se ensina Santo Tomás nos seminários hoje em dia.

Enquanto escrevo, noto uma observação em letras pequenas ao pé da última página de O Domingo: “Texto litúrgico publicado com a autorização da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).” Pergunto-me: devo ficar aliviado? Devo considerar que os outros textos, os não-litúrgicos, como os que tenho comentado aqui, não são do conhecimento da CNBB? Será que eles não têm o Nihil Obstat? Queira Deus que isso aconteça. Queira Deus que a apostasia não tenha chegado tão alto.

Para quem queira ler algo muitíssimo mais elevado sobre a multiplicação dos pães, sugiro Santo Agostinho e Orígenes.

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