31/07/2013

29/07/2013

Blog entrevista Hilaire Belloc sobre a crise atual da Igreja – Parte II.

 
Blog – Depois do ataque à organização social e política, à moral e à inteligência, se vê que este ataque é realmente descomunal. Surge, então, quase naturalmente, a pergunta: a Igreja resistirá a este ataque? 
 
Belloc - Podemos fazer a esse respeito, de forma clara, uma afirmação de fundamental importância: uma de duas coisas deve acontecer, um de dois resultados deve se tornar definitivo e generalizado no mundo moderno. Ou a Igreja Católica (agora, rapidamente se tornando o único lugar onde as tradições da civilização são compreendidas e defendidas) será reduzida por seus inimigos modernos à impotência política, à insignificância numérica, e, sob o ponto de vista da apreciação pública, ao silêncio; ou a Igreja Católica reagirá, neste caso como no passado, mais fortemente contra seus inimigos do que estes são capazes de reagir contra ela; recuperará e estenderá sua autoridade, e reassumirá, uma vez mais, a liderança da civilização que ela construiu, e assim recuperará e resgatará o mundo. Numa palavra, ou nós (do lado da Fé) nos tornamos uma ilha pequena e perseguida da humanidade, ou seremos capazes de clamar, ao final da luta, o antigo grito Christus Imperat
 
Blog – Mas este primeiro cenário não significará a destruição da Igreja? 
 
Belloc – Muito se pode dizer deste primeiro cenário. A Igreja não desaparecerá, pois a Igreja não é uma coisa mortal; é tão somente uma instituição entre os homens que não está sujeita à lei universal da mortalidade. Portanto, dizemos, não que a Igreja possa ser varrida da face da terra, mas que pode ser reduzida a um pequeno grupo, quase esquecido em meio a um vasto número de seus oponentes, e desprezada como uma coisa vencida. 
 
Blog – O senhor pode avançar um pouco a análise do primeiro cenário, em que a Igreja será, então, reduzida a um pequeno número? 
 
Belloc – Com o risco de me alongar um pouco na descrição, quanto ao primeiro cenário (o definhamento da influência católica, a redução de nosso número e valor político ao nível da extinção) há de ser notada uma crescente ignorância do mundo a nosso respeito, além da perda daquelas faculdades pelas quais os homens poderiam apreciar o que significa o catolicismo e se servir disto para a própria salvação. O nível cultural, inclusive o sentido de passado, afunda visivelmente. A cada década o nível está mais baixo do que na precedente. Com esse declínio, a tradição está se rompendo e derretendo como neve ao final do inverno. Grandes blocos se desprendem vez por outra, derretem e desaparecem. Em nossa própria geração, a supremacia dos clássicos se foi. Encontramos homens de influência, de todas as tendências, que esqueceram de onde viemos; homens para quem o grego e o latim, as línguas fundamentais de nossa civilização, são incompreensíveis, ou, na melhor das hipóteses, curiosidades. 
 
Blog – Perdemos a possibilidade de resgatar nossa herança cultural... 
 
Belloc – Sim, exatamente. E com isso, o espírito da fé ancestral foi, em grande parte arruinado. Arruinado certamente para grande parte dos homens, todos admitirão. Isto é tão verdadeiro que uma maioria (devo dizer uma ampla maioria) já não sabe mais o que significa a palavra fé. Para a maioria dos homens que a ouvem (em conexão com a religião), ela significa ou aceitação cega, ou afirmações irracionais, de lendas que a experiência comum rejeita, ou um hábito meramente herdado de imagens mentais que nunca foram testadas e que ao primeiro toque de realidade se dissolvem como sonhos que são. Todo o vasto corpo de apologética, toda a ciência da Teologia (a rainha exaltada acima de qualquer outra ciência) cessaram de existir, para a massa dos homens modernos. A simples menção dos títulos das várias obras que tratam desses assuntos causa um efeito de irrealidade e insignificância.  Chegamos já a este estranho estágio – em que o corpo católico entende seus oponentes, mas seus oponentes não entendem a Igreja Católica. 
 
Blog – A Igreja já passou por algo parecido... 
 
Belloc – Sim, foi no quarto ou quinto século. Os pagãos, especialmente os educados e instruídos, cujo número então diminuía permanentemente, conheciam muito bem as altas tradições a que se ligavam e compreendiam (apesar de odiarem) aquela nova coisa, a Igreja, que crescera no meio deles e estava prestes a descartá-los. Mas os católicos, que estavam para suplantar os pagãos, entendiam cada vez menos a mente pagã, negligenciavam suas grandes obras artísticas e consideravam demônios seus deuses. Assim hoje, a antiga religião é respeitada, mas ignorada. 
 
Blog – Poderíamos dizer então que estamos sendo sobrepujados por um novo paganismo. 
 
Belloc – Sim. O futuro provável é um futuro pagão, e um futuro pagão com uma nova e repulsiva forma de paganismo: poderoso e onipresente com toda a sua repulsividade. 
 
Blog – Sobre o segundo cenário: a Igreja reagirá?  
 
Belloc - A Igreja sempre reagiu fortemente no sentido de sua própria ressurreição nos momentos dos mais profundos perigos. A luta contra o Islam chegou muito perto; ela quase nos afundou. Somente a reação armada na Espanha, seguida pelas Cruzadas, impediu a completo triunfo dos muçulmanos. O ataque violento dos bárbaros, os piratas do norte, as hordas de mongóis, trouxe a cristandade para muito próximo da destruição. Mesmo assim, os piratas do norte foram expulsos, derrotados e batizados a força. O barbarismo dos nômades orientais foi derrotado finalmente; muito tardiamente, mas não tarde demais para salvar o que pudesse ser salvo. O movimento chamado Contra-Reforma se contrapôs ao até então triunfante avanço dos hereges do século XVI. Mesmo o racionalismo do século XVIII foi, em seu próprio terreno e em sua própria época, enfrentado e repelido. É verdade que ele alimentou algo pior que si mesmo; algo do que agora sofremos. Mas houve reação; e aquela reação foi suficiente para manter a Igreja viva e mesmo para restabelecer para si elementos do poder que fora perdido para sempre. Reação sempre haverá; e há a respeito da reação católica certa vitalidade, um certo modo de aparecimento com uma força inesperada, através de novos homens e novas instituições. A história e a lei geral do surgimento e do declínio orgânico levam, em suas linhas mais gerais, à primeira conclusão, ao rápido fenecimento do catolicismo no mundo; mas a observação do caso particular da Igreja Católica não leva a tal conclusão. A Igreja parece ter uma vida orgânica, nativa, muito incomum: um modo de ser único, e poderes de recrudescência a ela peculiares. 
 
Blog – Então estamos agora num momento grandioso? 
 
Belloc - Estamos agora na presença da questão mais momentosa que já se apresentou à mente do homem. Assim, estamos numa encruzilhada, da qual o futuro de nossa raça dependerá.
 
Blog – O blog agradece vossa disponibilidade e esta longa entrevista. 
 
Belloc – You are welcome!

22/07/2013

No início da JMJ, é bom lembrar a Ira de Deus.

Nota: Eu sei que é muito desagradável, numa semana que promete tanta festa, tanta dança, tantas Ivetes e Telós, lembrarmos da Ira de Deus. Mas ela existe, e o Povo de Deus sempre a sentiu em sua pele; e não será diferente agora. No que se segue, os negritos são meus.


Filhos de Israel, escutai o que diz o Senhor. Ele vai iniciar o julgamento dos habitantes da terra, desta terra que desconhece a verdade, a misericórdia e o temor de Deus; desta terra onde transbordam, como as águas duma inundação, a injustiça, a mentira, a violência, o roubo, o adultério, o homicídio e a vingança. Israel será devastada; os seus filhos chorarão a sua impotência. Tu, povo infiel, cairás e contigo cairão os teus Profetas. Porque repudiaste a minha doutrina, repudiar-te-ei a ti e deixarás de ser a minha nação sacerdotal. Esqueceste a lei do teu Deus, também Eu Me esquecerei dos teus filhos.” (Os 4, 1-6) 
 
“Príncipes de Israel e vós sacerdotes infiéis, e vós filhos dos reis, escutai: Sobre vós vai cair o julgamento do Senhor, porque vos tornaste um laço para a sentinela. Desviastes para os altares dos falsos deuses os sacrifícios de expiação e agora o meu povo não se voltará para Mim porque o dominou o espírito imundo dos cultos impuros. Israel criou uma máscara que definitivamente o impede de se envergonhar. Mas Eu vi os vossos crimes e chegou o dia da minha vingança. Os príncipes de Judá imitaram-vos e todos agiram como esses insensatos que a si mesmos se privarão da sua herança. Derramarei sobre eles, como uma torrente, o meu furor. Tal como a leoa do deserto devora a sua presa, também assim devorarei Israel; como o leãozinho brinca com a sua vítima, também assim torturarei Judá. Perseguirei, apanharei a minha presa, e ninguém ma arrancará. Irei e regressarei à minha morada, até que tenham expiado os seus pecados e procurem a minha face. Na sua angústia voltarão os olhos para Mim.” (Os 5, 1-15)

17/07/2013

Olavo de Carvalho (o gnóstico!) defende magistralmente a Igreja Católica da ignorância quase invencível.

Nota: Não costumo transcrever artigos de Olavo de Carvalho aqui no blog. Contento-me em indicar os links dos mais importantes. Mas este eu não resisti. É ignorância demais do tal intelectual e é admirável a calma e caridade do filósofo.
 
 
Pelo seu currículo de cientista político membro de não sei quantas associações e outras tantas comissões, o sr. Alberto Carlos Almeida é um típico representante da classe de consultores iluminados a que as nossas elites políticas e empresariais concedem atenção reverente e sólida remuneração. 
 
Tão típico que, em entrevista ao programa Marília Gabriela, ele mostrou mais uma vez que o exercício de tão altas funções, neste país, independe de qualquer domínio das matérias sobre as quais se opina. 
 
Não digo que todos os seus pareceres sobre o que quer que seja ilustrem esse fenômeno. Não li, por exemplo, o seu livro “A Cabeça do Brasileiro”, que juram que é bom, coisa em que vou continuar acreditando sob palavra até que um exemplar dessa obra me caia nas mãos e mostre se ela é, ou não, capaz de se defender sem apoio externo.
 
Mas, quando um cidadão investido de autoridade científica, consultado em público nessa qualidade, emite sobre matéria grave uma opinião que ameaça lançar o descrédito sobre uma instituição milenar e todas as pessoas que a representam, espera-se que o faça, pelo menos, com algum senso de responsabilidade e conhecimento de causa. Se ele falha a esse dever elementar em circunstância tão exigente, não é demasiado supor que o fará mais ainda em assuntos de menor conseqüência, como, por exemplo, “a cabeça do brasileiro”.
 
Perguntado pela entrevistadora sobre quais as causas do atraso brasileiro, e em especial do desprezo do nosso povo pela educação, o distinto não hesitou em lançar todas as culpas sobre um único suspeito: a Igreja Católica. E fez isso não no tom de quem arriscasse um palpite informal, mas de quem transmitisse a platéia uma certeza científica bem provada.
 
Sua tese, em resumidas contas, foi esta: a Igreja Católica, ao longo da História européia, e também nas Américas desde a descoberta, só se ocupou da educação da elite, da aristocracia, deixando o povo na ignorância. Foi a Reforma protestante que inaugurou a educação popular, datando daí o progresso com que as nações assim beneficiadas sobrepujaram suas concorrentes católicas. No Brasil em especial, os grandes malvados foram os jesuítas, que só davam instrução às elites e nada para o povo.
 
O sr. Almeida, com toda a evidência, jamais leu uma história da educação. Eis aqui algumas coisinhas que ele teria a obrigação de saber para poder opinar a respeito:
 
1. Ao longo de toda a História medieval, a Igreja não educou aristocracia nenhuma. Os nobres, os barões, consideravam que só a guerra era atividade à sua altura, o estudo sendo bom apenas para as mulheres, os futuros padres e alguns empregados subalternos.
 
2. Desde o começo da Idade Média até épocas bastante avançadas para dentro da modernidade, as escolas elementares fundadas pela Igreja funcionavam ou nas catedrais, ou nos templos paroquiais, ou nos monastérios. O sr. Almeida acredita realmente que os nobres, abandonando seus palácios, iam freqüentá-las, submetendo-se ao vexame de nivelar-se aos padrecos e escreventes?
 
3. Quanto às universidades, elas não formavam os nobres e sim médicos, advogados, professores, funcionários: eram uma via de ascensão social para quem vinha de baixo. A aristocracia reinante só passou a se interessar por elas quando se tornaram centros de uma influência política independente. Começou então, entre os governos monárquicos e a Igreja, a disputa pelo domínio sobre a massa universitária. Como a Igreja levou a melhor, o que se seguiu foi um dos fenômenos mais característicos da modernidade: a criação de uma nova  intelectualidade composta quase que inteiramente de nobres, alheia e não raro hostil às universidades. Os nomes de Descartes, Bacon, Montaigne e Newton representam-na exemplarmente, assim como a criação da Royal Society. A história real é exatamente inversa à história imaginária do sr. Almeida.
 
4. Em meados do século XVIII, decorridos nada menos que dois séculos da Reforma protestante, a França católica ainda era o país mais próspero e culto da Europa, enquanto a Alemanha, berço de Lutero, jazia no atraso econômico e cultural mais abjeto, ao ponto de que o alemão não tinha sequer se consolidado como língua de alta cultura (os intelectuais escreviam em francês ou latim). Ainda em meados do século XIX, foi em Paris que pela primeira vez um governante alemão, Otto von Bismarck, percebeu que era importante para cada nação ter uma classe média educada, modelo que ele então procurou implantar no seu país, apenas com signo religioso invertido, perseguindo os católicos e fomentando a educação protestante. 
 
5. Porém o mais bonito na entrevista foi o que o sr. Almeida disse dos jesuítas. Quem quer que tenha estudado um pouquinho a história deles sabe que seu principal esforço foi educar índios, que estavam no fundo do poço social.[1] Nas Missões, os nativos brasileiros receberam educação muito superior àquela de que dispunha, nas capitais, uma classe alta notabilizada pela mais acachapante indolência intelectual e que, quando desejava educar seus filhos, os enviava à Europa e não aos jesuítas.
 
6. Desde a Independência até o advento da República, a Igreja esteve proibida de abrir escolas, de modo que a população urbana em expansão se viu cada vez mais privada de uma instrução comparável, pelo menos, àquela que os índios haviam recebido nas Missões. A incultura popular no Brasil não resultou da educação católica, mas do estrangulamento dela ao longo de quase um século.
 
O sr. Almeida jura que o problema do Brasil é a educação. É sim. A começar pela dele próprio. E pela dos consultores iluminados em geral.
 
 
 
________________________________
[1] Imagina Pe. Antônio Vieira educando a nobreza brasileira lá no Maranhão ou mesmo na Bahia!?

12/07/2013

Missa Tridentina em BH, amanhã (13 de julho).

     Padre Tarciso celebrará a Santa Missa segundo o Rito de São Pio V, como ela sempre foi celebrada por 1500 anos em todo o mundo, amanhã, 12 de julho de 2013, às 16h30, na Capela Nossa Senhora da Sabedoria, que fica à rua Diabase 320, no Prado.
     Padre Tarciso é um padre muito piedoso, que segue todas as rubricas da Missa no Rito de São Pio V. Recomendo muitíssimo suas Missas. São Missas tradicionais bem rezadas, com sermões que nos inflamam!

11/07/2013

A volta do Contra Impugnantes, pela graça de Deus.

http://contraimpugnantes.blogspot.com.br/2013/07/quem-secou-o-pranto-pode-novamente-amar.html

Blog entrevista Hilaire Belloc sobre a crise atual da Igreja – Parte I.

Blog – Muito obrigado Sr. Belloc por nos receber e nos conceder esta entrevista.
Belloc – Em tempos de crise, não podemos nos furtar a trocarmos impressões sobre a Igreja e o mundo, estes dois opositores eternos.
Blog – É verdade. Pois é exatamente sobre isto que gostaríamos de ouvir-lhe. O senhor tem feito muitas antecipações (diríamos profecias?) histórias importantes, justamente por sua precisa análise do momento presente. O que o senhor pode nos dizer da Igreja?
Belloc - Aproximamo-nos do maior de todos os momentos. A Fé está agora na presença, não de uma particular heresia como no passado – a ariana, a maniqueísta, a albigense, a dos muçulmanos – nem tampouco na presença de certa heresia generalizada, como foi a revolução protestante de três ou quatro séculos atrás. O inimigo que a Fé tem agora de enfrentar, é um assalto integral aos fundamentos da Fé – à existência mesma da Fé. E o inimigo que agora avança contra nós está cada vez mais consciente do fato de que não pode haver neutralidade na luta. As forças agora se opõem à Fé para destruí-la. A batalha se dá, daqui em diante, segundo uma linha de clivagem bem definida, envolvendo a sobrevivência ou a destruição da Igreja Católica. E toda – não apenas uma parte – de sua filosofia.
Blog – Muitos dizem que o cristianismo como um todo está sendo perseguido pelo mundo.
Belloc – Ora, não me fale de cristianismo! Não há uma religião chamada “cristianismo” – nunca houve tal religião. Há e sempre houve a Igreja e várias heresias surgidas da rejeição de algumas das doutrinas da Igreja por homens que ainda desejam reter o resto de seu ensinamento e de sua moral. Mas nunca houve e nunca haverá uma religião geral cristã, professada por homens que aceitam algumas doutrinas centrais, ao mesmo tempo em que diferem a respeito de outras. Sempre houve, desde o começo, e sempre haverá, a Igreja, e diversas heresias destinadas ao declínio, ou, como o islamismo, a crescer como uma religião diversa. De um cristianismo comum, nunca houve e nem nunca poderá haver uma definição, pois isso nunca existiu. Não há nenhuma doutrina essencial sobre que podemos concordar e então discordar do resto: como por exemplo, aceitar a imortalidade e negar a Trindade; um homem considerar-se um cristão, apesar de negar a unidade da Igreja cristã; considerar-se cristão, apesar de negar a presença de Jesus Cristo no Santíssimo Sacramento; considerar-se alegremente cristão, apesar de negar a Encarnação. Não; a luta é entre a Igreja e a anti-Igreja – a Igreja de Deus e a do anti-Deus – a de Cristo e a do anti-Cristo.
Blog – O senhor poderia precisar um pouco mais as características deste ataque à nossa Fé?
Belloc – Perfeitamente. O ataque moderno contra a Igreja Católica, o mais universal que ela sofreu desde sua fundação, até agora progrediu a ponto de produzir formas sociais, morais e intelectuais que, combinadas, têm a silhueta de uma religião. Embora esse ataque não seja uma heresia no antigo sentido do termo, nem uma síntese de heresias, tendo em comum o ódio à Fé (tal como foi o movimento protestante), ele é ainda mais profundo e suas consequências, ainda mais devastadoras que qualquer daquelas heresias. É essencialmente ateu, mesmo quando o ateísmo não é abertamente admitido. Considera o homem como autossuficiente, a oração como mera autossugestão e – um ponto fundamental – Deus como nada além de nossa imaginação, uma imagem do próprio homem lançada pelo homem no universo; um fantasma, uma coisa irreal.  
Blog – Isto é assustador!
Belloc – É, de fato, assustador. Mas este é o inimigo moderno; esta é a inundação crescente; a maior e, talvez, a luta final entre a Igreja e o mundo. Devemos julgá-lo principalmente pelos seus frutos; e esses frutos, apesar de ainda não maduros, já são aparentes.
Blog – E quais são estes frutos?
Belloc - Em primeiro lugar, estamos testemunhando um renascimento da escravidão, o resultado necessário da negação da liberdade quando essa negação vai um passo além de Calvino e nega a responsabilidade perante Deus tanto quanto a falta de poder no interior do homem. Duas formas de escravidão que estão gradualmente aparecendo, e que amadurecerão mais e mais com o passar do tempo sob o efeito do ataque moderno contra a Fé, são a escravidão ao Estado e às corporações privadas e indivíduos. Em segundo lugar, temos o fruto moral; que se estende, claro, sobre toda a natureza moral do homem. E neste campo, sua estratégia até agora tem sido a de destruir toda forma de limitação imposta pela experiência humana agindo através da tradição. Mas há outros males que podem se tornar permanentes.
Blog – Meu Deus! Mas não bastam estes?
Belloc – Há outros ainda. E para descobrir quais podem ser esses outros efeitos, temos um guia. Podemos analisar como os homens se comportavam antes que a Igreja criasse a cristandade. O que descobrimos de importante é que no campo moral uma coisa sobressaia: a inquestionável prevalência da crueldade no mundo não batizado. A crueldade será o principal fruto do ataque moderno no campo moral, tal como o renascimento da escravidão será seu principal fruto no campo social. Há uma distinção radical entre essa nova e moderna crueldade e a esporádica crueldade das primeiras épocas cristãs. Não é a vingança cruel, não é a crueldade cometida no calor da luta, não é a crueldade da punição contra o mal reconhecido, não é a crueldade na repressão do que admitidamente deve ser reprimido, não é essa crueldade que é fruto de uma má filosofia; apesar de tais coisas serem excessos ou pecados, elas não proveem de uma falsa doutrina. Mas a crueldade que acompanha o abandono moderno de nossa religião ancestral é uma crueldade nativa do ataque moderno; uma crueldade que é parte de sua filosofia. Digo novamente: o ataque moderno contra a Fé terá, no campo moral, milhares de frutos maus, e destes, muitos são aparentes hoje, mas a característica principal, aquela presumivelmente mais permanente, é a instituição generalizada da crueldade acompanhada do desprezo pela justiça.
Blog – O senhor descreveu os frutos do ataque moderno na organização social e política e no campo moral. Há ainda outros frutos?
Belloc – Há, infelizmente. A última categoria de frutos pelos quais podemos julgar o caráter do ataque moderno consiste no fruto que se encontra no campo da inteligência – o que esse ataque faz com a razão humana. Quando o ataque moderno estava se formando, algumas gerações atrás, quando ainda estava confinado a um pequeno número de acadêmicos, o primeiro assalto contra a razão surgiu. No início, pareceu fazer um pequeno progresso fora de um círculo restrito. O homem comum e seu senso comum (que são os sustentáculos da razão) não foram afetados. Hoje, são. A razão é atualmente desacreditada em toda parte. O antigo processo de convicção por argumentação e prova é substituído por afirmações reiteradas; e quase todos os termos que eram a glória da razão carregam, agora, consigo uma atmosfera de desprezo. Mas a Fé e o uso da inteligência estão inextricavelmente ligados. O uso da razão é a parte principal – ou melhor, o fundamento – de toda a busca das coisas mais elevadas. Foi precisamente porque à razão foi dada essa autoridade divina que a Igreja proclamou os mistérios – ou seja, admitiu que a razão tem seus limites. Tinha de ser assim, senão os poderes absolutos da razão levariam à exclusão de verdades que a razão devia aceitar mas não poderia demonstrar. A razão é limitada pelo mistério somente para acentuar mais a sua soberania em sua própria esfera. Quando a razão é destronada, não somente a Fé é destronada (as duas subversões andam juntas) mas cada atividade moral e legítima da alma humana é destronada ao mesmo tempo. Não há Deus. Então, as palavras “Deus é Verdade” que a mente da Europa cristã usou como um postulado em tudo que fez, cessam de ter sentido. Assim também, ninguém pode analisar a justa autoridade de governo, nem lhe impor limites. Na ausência da razão, a autoridade política que repousa simplesmente na força é ilimitada. E a razão se torna assim vítima, pois a própria Humanidade é o que o ataque moderno está destruindo em sua falsa religião da humanidade. Sendo a razão a coroa do homem e ao mesmo tempo sua marca distintiva, os anarquistas marcham contra ela como seus inimigos principais.
 

06/07/2013

Blog entra em recesso por falta de palavras

Julho será um mês em que postarei muito pouco no blog. Os escândalos (no sentido evangélico do termo) estão acontecendo num passo alucinante. É preciso tempo para tentarmos entender o que está acontecendo com a Igreja, com o Papado. Faltam-me por ora palavras.
 
Quatro coisas me deixaram sem fôlego.
 
1. Os elogios do Papa Francisco às palavras de Paulo VI, no encerramento do CVII; as terríveis palavras sobre a Igreja servir ao homem e não a Deus.
 
2. As anunciadas canonizações de João XXIII e de JPII; leiam o depoimento de Pe. Luigi Villa sobre JPII.
 
3. As notícias sobre a JMJ no Brasil: será escândalo após escândalo. Preparemo-nos para atos reparadores ao Coração Imaculado de Maria e ao Sacratíssimo Coração de Jesus.
 
4. Agora esta: um documento intitulado Comemoração Católico-Luterano da Reforma em 2017 (aqui, em inglês). Quem quiser ler uma notícia sobre o sacrílego documento clique aqui. Cito um parágrafo da notícia: " 'Cinco imperativos ecumênicos' para marcar a celebração do 500º aniversário da Reforma Protestante, em 2017, estão no documento conjunto da Igreja Católica e da Federação Luterana Mundial - intitulado 'Do Conflito à Comunhão' -, apresentado na segunda-feira, 17, em Genebra. Segundo o L'Osservatore Romano, é um texto longo e detalhado, escrito pela Comissão Internacional para a Unidade Luterano-Católico Romano, e é considerado um ponto de referência, a fim de superar incompreensões mútuas e reafirmar o compromisso com o testemunho cristão comum em todo o mundo."
 
Calo-me por um tempo para não falar coisas muito feias, que passam pela minha mente. Calo-me para não pecar. Só eventualmente publicarei algo por aqui neste mês de julho.
 
Que Nossa Senhora vele por nós e pela Igreja de Seu Filho!

02/07/2013

Aborto em Linguagem Americana de Sinais.

Nunca pensei que a linguagem de sinais fosse mais realista que a linguagem falada!



Fonte: LifeNews.com

Nelson Rodrigues nos ajuda a entender a situação atual no Brasil.

Nelson Rodrigues, escrevendo sobre o movimento de 68 na França, diz, em 24/05/1968, o seguinte, que cabe muito bem ao Brasil de hoje.
 
“No passado, o idiota como tal se comportava. Na rua, passava rente às paredes, gaguejante de humildade. Sabia-se idiota e estava ciente da própria inépcia. Só os ‘melhores’ sentiam, pensavam, e só eles tinham as grandes esposas, as grandes amantes, as grandes residências. E, quando um deles morria, logo os idiotas tratavam de erguer um monumento ao gênio.
 
“E, de repente, tudo mudou. Após milênios de passividade abjeta, o idiota descobriu a própria superioridade numérica. Começaram a aparecer as multidões jamais concebidas. Eram eles, os idiotas. Os ‘melhores’ se juntavam em pequenas minorias acuadas, batidas, apavoradas. O imbecil, que falava baixinho, ergueu a voz; ele, que apenas fazia filhos, começou a pensar. Pela primeira vez, o idiota é artista plástico, é sociólogo, é cientista, é romancista, é prêmio Nobel, é dramaturgo, é professor, é sacerdote. Aprende, sabe, ensina.
 
“No presente mundo ninguém faz nada, ninguém é nada, sem o apoio dos cretinos de ambos os sexos. Sem esse apoio, o sujeito não existe, simplesmente não existe. E, para sobreviver, o intelectual, o santo ou herói precisa imitar o idiota. O próprio líder deixou de ser uma seleção. Hoje, os cretinos preferem a liderança de outro cretino.”
 
No parágrafo final, o extraordinário cronista ainda diz magistralmente: “Mas devo fazer uma ressalva. E, de fato, o idiota francês não será nunca trivial. Tem, a seu favor, a língua. A lavadeira parisiense é uma estilista; fala como uma heroína de Racine. E o chofer de táxi descompõe os turistas com o rigor, a melodia, a plasticidade da prosa francesa. Em tal idioma, a pior vulgaridade está a um milímetro do sublime. Nos telegramas, não se cita um grande nome da França. Minto. Vi uma fotografia de Sartre ao lado de grevistas. Estava, ali, fingindo-se de idiota para sobreviver.
 
Ai! Que falta nos faz um Nelson Rodrigues!