Ernest Hello
Muitas pessoas que a desconhecem, acusam a Verdade por ser intolerante. Isso merece uma explicação.
Ao ouvi-los, pode-se dizer que a Verdade e o Erro são duas coisas com os mesmos direitos; duas rainhas, ambas legítimas, que devem viver em paz em seu próprio reino; duas divindades, que dividem entre elas a fidelidade do mundo, sem que uma tenha o direito de tomar os domínios da outra. E desse modo de pensar brota a indiferença, que é o triunfo de satã. O ódio lhe agrada, mas o ódio não é suficiente; ele deseja a indiferença.
A indiferença é uma forma particular de ódio, um ódio frio e duradouro que se esconde dos outros – por trás do ar da tolerância. Pois a indiferença nunca é real. Ela é ódio combinado com falsidade.
Para continuar a produzir, dia após dia, uma torrente de ferozes invectivas contra a Verdade, os homens precisam de uma decisão de caráter que eles não possuem.
Consequentemente, a posição que eles tomam é não tomar posição. Todavia, um ódio ruidoso é muito mais facilmente explicável, desde que se considere o Pecado Original, que o ódio silencioso. O que me impressiona não é ouvir alguma blasfêmia dos lábios de um homem. O Pecado Original lá está; o livre-arbítrio lá está; a blasfêmia tem sua explicação. O que me precipita na mais absoluta estupefação é a neutralidade.
É uma questão acerca do futuro da raça humana, e do futuro eterno de tudo que no universo possua inteligência e liberdade. É certamente e necessariamente uma questão acerca de tu contigo mesmo, com todos e com todas as coisas. Então, a menos que não te interesses por ti mesmo, nem por ninguém ou nada, essa é certamente e necessariamente uma questão do mais sagrado interesse para você. Toma tua alma, e corra para o calor da batalha. Toma seus desejos, seus pensamentos, suas orações, seu amor. Pegue qualquer arma que possas possivelmente utilizar, e te lance de corpo e alma na batalha em que tudo está em jogo.
Coloque-se no campo de batalha entre os disparos daqueles que amam e os daqueles que odeiam, pois deves auxiliar a um ou a outro. Não te engane sobre isso. O clamor não é aos homens em geral; é a ti em particular; pois todos os dons morais, mentais, físicos e materiais à tua disposição são as tantas armas que Deus colocou em tuas mãos, e te deu a liberdade de usá-las por ou contra Ele. Tu deves lutar; tu és obrigado a lutar. Só podes escolher em que lado estás.
Jesus Cristo, quando veio a este mundo, pediu aos homens tudo que Ele precisava, pois Ele escolheu ser o mais pobre entre os pobres. Ele pediu um lugar onde nascer: isso Lhe foi negado. Todas as estalagens estavam cheias; a porta de um estábulo era a única que estava aberta. Ele pediu um lugar onde morar; isso Lhe foi negado. O Filho do homem não teve um lugar para recostar Sua cabeça. E quanto a sua morte, Ele não teve sete palmos de terra abaixo dos quais Se deitar. A Terra o rejeitou, e Ele foi pendurado entre a Terra e o Céu, numa Cruz.
Ora, Aquele Que então pedia, ainda o faz. Ele pede por um lugar para nascer. Os indivíduos que lotam as estalagens, e que não desocupam seus lugares, mas mandam embora Jesus, para nascer entre uma vaca e um burro, são um admirável símbolo daqueles que estão constantemente sacrificando seus futuros e a si mesmos em nome de ninharias inexpressivamente tediosas e vazias.
De todas as ideias malucas inspiradas pelo demônio, esta é a que é a mais digna dele: A VERDADE É TEDIOSA. A Verdade tediosa! mas é a posse da Verdade que constitui a beatitude. A verdade maçante! mas a Verdade é o fundamento da felicidade extática. Todo o esplendor que percebemos não é senão débeis símbolos da Verdade. Mesmos seus raios distantes causam um êxtase indescritível.
A alma humana é feita para pastagens divinas, não só na Eternidade mais no Tempo. Não há duas fontes da felicidade. Há apenas Uma; mas Ela nunca secará, e todos podem dela beber. Você está apaixonado pelo tédio? É na direção do não-existente que você deve olhar. Mas você ama a Vida, a Felicidade, o Amor? Então vire-se para AQUELE QUE É.
Satã é o Príncipe do Tédio, do desespero, da infelicidade.
Deus é o Mestre do Contentamento. Que os indiferentes se examinem e se repreendam.
Traduzido da versão em inglês, por E.M. Walker, 1912 (Life, Science and art: Leaves form Ernest Hello).