27/04/2006

Antídotos Contra a Teologia da Libertação

Apresento abaixo, dois textos por mim traduzidos. Um dos textos é de um autor quase completamente desconhecido do público brasileiro, Russel Kirk, o que é somente mais uma demonstração do imenso isolamento cultural em que vive o povo brasileiro. Seu livro, Economia: trabalho e prosperidade (Economics: work end prosperity, Beca Book, 1989) foi escrito para o estudante do ensino médio e vem embalado com o seguinte alerta: “a prosperidade material depende de convicções e comportamentos morais.”[1]

O outro texto é do livro de Luis Pazos, Lógica Econômica, Editorial Diana, México, 1999. O
Instituto Liberal do Rio de Janeiro oferece ao público brasileiro alguns livros desse autor. O livro em pauta, se não me engano, não tem tradução para o português. Ele é um livro sobre a fundamentação lógica da Economia.

O assunto dos dois textos é o mesmo: fundamentação moral e religiosa da economia.
[2] Essa combinação – moral, religião e economia – no Brasil, é explorada, quase exclusivamente[3], pela esquerda, e leva, quando envolve o clero católico, o nome de Teologia da Libertação. Jesus, segundo essa “teologia”, teria sido um marxista avant la letre. Isso resulta em que, mesmo quando o brasileiro tenta a difícil e nobre (a mais elevada) tarefa de se tornar religioso – principalmente, cristão católico –, ele, sem querer e na maioria das vezes, se torna, também ou até exclusivamente, marxista.

Contra essa situação lastimável, esses dois textos, talvez, façam um pequeno bem à alma de alguns que ainda não se contaminaram, a ponto de se tornarem surdos pela algazarra esquerdista.


Paulo de Tarso e o Dinheiro

Russel Kirk

Os primeiros cristãos, como os gregos da antiguidade clássica, perceberam que o dinheiro pode ser nocivo. Paulo de Tarso, que fez mais que qualquer um para difundir os ensinamentos de Jesus Cristo, escreveu ao seu amigo e discípulo Timóteo, em Éfeso, instruindo-o que os seguidores de Cristo devem se contentar com pouco, neste mundo:

Porque nada trouxemos ao mundo, tampouco nada poderemos levar. Tendo alimento e vestuário, contentemo-nos com isto. Aqueles que ambicionam tornar-se ricos caem nas armadilhas do demônio e em muitos desejos insensatos e nocivos, que precipitam os homens no abismo da ruína e da perdição. Porque a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro. Acossados pela cobiça, alguns se desviaram da fé e se enredaram em muitas aflições.

1 Timóteo 6:7-10

Deve-se observar que o apóstolo escreve “o amor ao dinheiro.” Freqüentemente, essa frase é distorcida como se ela fosse “o dinheiro é a raiz de todo mal.” E, a expressão “todo mal”, é, também, mal-entendida como “todas as formas do mal” ou como “uma multiplicidade de males”. Paulo é muito claro, em outras passagens, sobre a existência de outros grandes males além do amor ao dinheiro.

O apóstolo Paulo diz, nessa passagem, que a adoração ao dinheiro, como se ele fosse um ídolo ou mesmo um espírito vivente, é uma armadilha e uma tentação. Jesus declarou:

Nenhum servo pode servir a dois senhores: ou há de odiar a um e amar o outro, ou há de aderir a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro.

Lc 16:13

Em resumo, o ser humano que ama o dinheiro adora um falso deus. Pois, só Deus e os homens merecem ser amados. Amar uma sacola de barras de ouro é um “desejo insensato e nocivo,” pois o ouro (ao contrário de Deus e dos homens) não pode retribuir esse amor.

O dinheiro pode comprar muita coisa – talvez, mais coisas do que deveria. Mas, ele não pode comprar o caráter, a honra, ou o amor das criaturas – ou o amor de Deus. (...)

Igualmente, o dinheiro pode comprar conforto, mas não pode comprar felicidade. O amor ao dinheiro pode tornar o ser humano um egoísta e solitário sovina, muito distante da felicidade. Por amor ao dinheiro, homens e mulheres, às vezes, cometem crimes terríveis, deformando ou destruindo, dessa forma, suas próprias almas. O livro dos Provérbios, nos capítulos 15 e 16, admoesta o leitor a estabelecer prioridades em relação ao dinheiro. Somos alertados em Pr 15:16, “Vale mais o pouco com o temor do Senhor que um grande tesouro com a inquietação.” Provérbios 16:8 tem uma ênfase similar; “Mais vale o pouco com justiça do que grandes lucros com iniqüidade.” Esses trechos da Escritura não desprezam a riqueza (grifo do tradutor); eles somente alertam para os perigos que estão associados com ela. Outro versículo que serve como um modelo para a formação de uma atitude em relação ao dinheiro é encontrado em Pr 16:16: “Adquirir a sabedoria vale mais que o ouro; antes adquirir a inteligência que a prata.”

O dinheiro em si não é nem bom nem mal. Tudo depende do uso que dele fazemos. Um uso prudente e caridoso do dinheiro é louvável. Um uso arrogante e esbanjador, desprezível. Inteligência, imaginação e princípios morais determinam nossas escolhas das formas de se empregar o dinheiro. Assim, a ciência da Economia não é “uma lei em si.” Para fazer boas escolhas econômicas – incluindo as escolhas das formas da utilização do dinheiro – todo indivíduo deve olhar para além da oferta e da procura, e para além das tabelas de juros, na direção dos ensinamentos religiosos, filosóficos e da literatura. O principal fundador da moderna Economia, Adam Smith, foi um professor de filosofia moral. Para usarmos bem o dinheiro, precisamos entender (como fez Smith) que acima das leis da Economia, há as leis da moralidade.

Muito pouca gente tem todo o dinheiro que deseja; alguns o têm por pouco tempo e depois o perde. Para esses, Pr 23:5 ensina “Mal fixas os olhos nos bens, e nada mais há, porque a riqueza tem asas como a águia que voa para o céu.” Alguns têm mais dinheiro do que seria desejável. Se todos tivessem dinheiro em abundância – dinheiro real que comprasse bens sem limite – a raça humana, provavelmente, se arruinaria, comendo, bebendo e dormindo em excesso. Se todos fossem ricos, certamente, muito pouco trabalho útil seria feito. Assim, quando você estiver com pouco dinheiro, pense nessas coisas.



O Cristianismo e a Pobreza
Luis Pazos


O cristianismo, segundo uma concepção materialista da pobreza, seguida pelos partidários da “igreja dos pobres”, só aceitaria pobres entre seus seguidores e só eles entrariam no Reino dos Céus. O primeiro problema seria delimitar quem seria pobre e a partir de que nível de renda deixaria de sê-lo. A ONU, o Banco Mundial ou o Vaticano fixariam os níveis de pobreza?

O conceito evangélico de pobreza não se refere à carência de bens materiais, mas à humildade como qualidade espiritual. Cristo fala “aos pobres em espírito” em outra dimensão do ser humano, ignorada ou menosprezada pelos materialistas.

O contrário do pobre, nessa dimensão, não é o rico em bens materiais, mas o soberbo que, com base na riqueza material ou no poder, deprecia os demais e pensa que não necessita de Deus e da religião.

O teólogo Antonio Fuentes diz, em relação aos elogios de Cristo aos pobres: “Quando Ele chama de bem-aventurados os pobres, não elogia a pobreza material, nem diz que o pobre é feliz pelo simples fato de ser pobre. Os verdadeiros recebedores da primeira bem-aventurança são os pobres em espírito”.

Contrária, em certos aspectos, à visão materialista da pobreza nos ensinamentos de Cristo é a percepção maniqueísta da natureza humana. Tudo o que é material é considerado mal e tudo o que é espiritual, bom. O maniqueísmo também parte de uma visão equivocada da natureza humana.

Essa visão influenciou alguns filósofos católicos, como Santo Agostinho, que opôs a cidade terrena à cidade de Deus. Santo Agostinho foi maniqueísta numa etapa de sua vida e, mesmo que depois tenha retificado sua posição, lhe ficou, ainda, uma certa depreciação pelo lado material do ser humano. No entanto, Santo Agostinho entende corretamente o conceito evangélico de pobreza e riqueza, não comete o erro de dar uma interpretação unidimensional à mensagem de Cristo sobre a pobreza e a riqueza.

Diz Santo Agostinho: “Aprendeis a ser pobres e necessitados e a possuir algo neste mundo como se nada possuirdes. Porque existem mendigos repletos de orgulho e ricos que confessam seus pecados. Deus resiste aos orgulhosos, mesmo que estejam cobertos de sedas e não de farrapos, mas concede graça aos humildes, possuam eles bens deste mundo ou não” (Comentário Sobre a Graça).

Esse comentário de Santo Agostinho confirma que a mensagem de Cristo, corretamente entendida, se refere a dimensões muito diferentes da de uma desigualdade de classes baseada na posse de bens materiais. Na mensagem cristã, a pobreza é humildade e a riqueza é orgulho e avareza. Fazemos essas reflexões para demonstrar a confusão que pode causar o não reconhecimento das diversas dimensões do ser humano e a não distinção dos valores próprios de cada dimensão.
[1] Avisem isso, por favor, para os nossos candidatos presidenciais! (N. do T.)
[2] Ver artigo recente no MSM, de Ubiratan Jorge Iorio, intitulado Mercado e Moralidade. (N.do T.)
[3] Há, felizmente, algumas exceções, Olavo de Carvalho e o embaixador José Osvaldo de Meira Penna sendo duas delas. Do embaixador, vale a pena ler, dentre outros, Da Moral em Economia, UniverCidade, 2002. (N. do T.)

Teste seu conhecimento sobre ciência e religião

Gene Callahan

Um tema de discussão permanente na cultura ocidental, desde o Iluminismo, é a inimizade entre religião e progresso científico. Para testar seu conhecimento sobre o quanto essa idéia é difundida, eu criei o teste abaixo. As respostas estão no final desse artigo, mas tente não consultá-las.

Quando Galileu enfrentou a Inquisição, ele manteve a opinião de que a Terra se movia em torno do Sol, enquanto que a Inquisição acreditava que o Sol se movia em torno da Terra. De acordo com a ciência moderna:
a) a Inquisição estava correta;
b) Galileu estava correto;
c) nenhum deles estava nem mais nem menos certo do que o outro.

Colombo teve de lutar contra a doutrina Católica estabelecida de que a Terra era chata antes de conseguir persuadir alguém a apoiá-lo em sua tentativa de alcançar as Índias em 1492:
a) Verdadeiro;
b) Falso.

A Igreja Católica afirma que:
a) o ensino da teoria da evolução é pecado;
b) a idéia da evolução é perfeitamente compatível com a doutrina Católica.

O modelo geométrico do sistema solar era um importante elemento da doutrina cristã porque ele dava ao homem um lugar importante, o centro do universo:
a) Verdadeiro;
b) Falso.

Kepler endossava a idéia de um sistema solar heliocêntrico com base em princípios objetivos e científicos e não com base em crenças religiosas:
a) Verdadeiro;
b) Falso.

Todo mundo sabe que a religião é inimiga do pensamento científico, como evidenciado por tantos grandes cientistas ateus. Identifique os ateus na seguinte lista:
a) Aristóteles;
b) Francis Bacon;
c) Galileu;
d) Descartes;
e) Pascal;
f) Newton;
g) Robert Boyle;
h) Michael Faraday;
i) James Clerk Maxwell;
j) Gregor Mendel;
k) Louis Pasteur;
l) Max Plank;
m) Albert Einstein.

De acordo com o Dalai Lama, quando a ciência contradiz o Budismo:
a) a ciência deve estar errada;
b) as palavras de Buda devem ser corrigidas.

A revolução científica substituiu a visão de mundo da Idade Média, que era baseada quase inteiramente na fé, por uma visão de mundo na qual a fé não tem nenhum (ou tem um pequeno) papel:
a) Verdadeiro;
b) Falso.




Respostas


1. c. Como Alfred North Whitehead diz: “Galileu dizia que a Terra se movia e que o Sol estava fixo; a Inquisição dizia que a Terra era fixa e que o Sol se movia; os astrônomos newtonianos ... disseram que ambos se moviam. Mas, atualmente, dizemos que ambas as afirmações são verdadeiras, desde que se defina o sentido de ‘repouso’ e de ‘movimento’ de acordo com a afirmação adotada.” (1967 [1925], Science and the Modern World, The Free Press: New York, pp. 183–184).

2. Falso. Era amplamente aceito na Idade Média de que a Terra era redonda. A idéia de que o homem medieval geralmente acreditava que ela era chata foi inventada no século XIX: http://www.ku.edu/~medieval/melcher/19991101.med/msg00361.html.
Veja também: Eco, U. (1998) Serendipities: Language and Lunacy, Harcourt Brace & Company: San Diego, pp. 4–7.

3. b.

4. Falso. A Igreja adotou essa idéia de Aristóteles, que a fundamentou a partir de sua visão do mundo natural como um organismo. Collingwood diz que a noção de que a importância da revolução copernicana consistiu em diminuir a importância do homem no universo “é uma idéia tanto filosoficamente idiota quanto historicamente falsa.” Ele observa que o livro, talvez, “mais amplamente lido na Idade Média”, (De Consolatione Philosophiae de Boécio), contém uma longa passagem sobre o “minúsculo canto” do universo ocupado pelo homem, um lugar que “dificilmente merece um nome, mesmo que seja infinitesimal”. (1960 [1945], The Idea of Nature, Oxford University Press: London, pp. 96–97).

5.Falso. Kepler era um neoplatônico e endossava o modelo heliocêntrico por razões religiosas que favoreciam a idéia de que a luz divina estivesse no centro do universo.

6. Nenhum deles era ateu.

7. b.

8. Falso. Whitehead observa que os filósofos escolásticos não se satisfaziam até que pudessem oferecer provas rigorosas da existência de Deus e de outros elementos da doutrina da Igreja. Ao contrário, quando Hume mostrou que a teoria da indução não tinha fundamento na metafísica do seu tempo, ele foi amplamente ignorado e a fé generalizada na indução permaneceu incólume. “O clero era, em princípio, racionalista, enquanto os homens de ciência ficavam satisfeitos com a fé simples na ordem na natureza” (ibid., p. 51).

Como você se saiu no teste? Eu apliquei o teste a um amigo, um estudante de pós-graduação de uma prestigiosa universidade americana, formado em Ciências Sociais, e ele errou 7 das oito questões.

O fato de que muitas pessoas “saibam” falsidades sobre a história da ciência e da religião não é uma prova da justeza de qualquer religião em particular, ou mesmo uma defesa da religião em geral. Meu ponto de vista é mais restrito: mesmo os não-crentes não se beneficiam por terem suas cabeças cheias de “histórias” fabricadas como apoios de uma ideologia particular. Para saber o que somos realmente, precisamos ter uma visão não distorcida do que fomos. Como diz Whitehead: “Todas as nossas idéias estarão equivocadas se pensarmos que ... nessas controvérsias a religião está sempre errada e a ciência sempre certa. Os fatos verdadeiros são mais complexos e se recusam a serem resumidos nesses termos tão simples.” (ibid., pp. 182-183).



Gene Callahan é pesquisador adjunto do Ludwig von Mises Institute e um colunista do LewRockwell.com.



Publicado por LewRockwell.com

18/04/2006

O Evangelho de Judas

Se vocês quiserem saber mais sobre essa fraude religiosa de quase dois milênios atrás, não precisam ler o que S. Irineu disse dela no século II d.C. (Adversus Haereses), basta consultar dois artigos recentemente publicados (1 e 2).

Parece que o ataque ao cristianismo é o que está dando mais dinheiro ultimamente, depois que Dan Brown abriu esse filão. Oportunistas de plantão, uni-vos!

04/04/2006

Outra vítima da universidade

Thomas Sowell

A exoneração de Lawrence Summers como reitor da Universidade de Harvard nos diz muito sobre o que está errado com a academia nos nossos dias.

Quando ele tomou posse em 2001, Summers parecia um reitor ideal para Harvard. Ele tivera uma carreira notável dentro e fora do mundo acadêmico, incluindo o cargo de professor de Harvard, de forma que não havia razão para que ele não se adequasse à função.

Seus defeitos fatais foram a honestidade e o desejo de fazer as coisas certas. Isso já arruinou mais de uma carreira universitária.

Os problemas de Dr. Summers começaram cedo. Ele convocou Cornel West para uma discussão particular sobre suas atividades acadêmicas – ou melhor, a ausência de atividade acadêmica de Prof. West.

O problema não era a inatividade de Cornel West. Ele era ativo como um showman na televisão, ele era ativo na política, ele era ativo no lucrativo circuito de palestras e ele era ativo mesmo na área do entretenimento, compondo e tocando música rap. Ele era, também, popular com os estudantes, como é provável acontecer com qualquer professor que dá muitas notas boas.

O tipo de atividade que Lawrence Summers desejaria que West desenvolvesse era o tipo de atividade esperada de um professor titular de uma universidade de ponta – pesquisa de qualidade e textos acadêmicos de valor. Cornel West escrevia muita coisa e em muitos lugares, mas mesmo um editor da esquerdista New Republic caracterizou os livros de West como “quase completamente sem valor”.

Apesar da discussão entre Summers e West ter se dado em privado, o próprio Cornel West tornou-a um assunto público – e um escândalo público. West e seus apoiadores fizeram disso uma questão racial. O que fez com que os fatos e a lógica se tornassem irrelevantes.

Summers se desculpou.

Isso deveria nos dizer tudo o que precisamos saber sobre Harvard e sobre a academia em geral. Nem a verdade nem os padrões contam quando se toca em nervos expostos da ideologia corrente, como é o caso da raça.

Lawrence Summers tocou um outro nervo exposto, ano passado, numa discussão sobre a causa de não haver mais professoras na área científica. Como ele estava se dirigindo a um público acadêmico, Summers citou hipóteses e dados que poderiam explicar a sub-representação feminina no topo da carreira científica.

Summers aventou o que ele chamou de “hipótese do trabalho de alta exigência”. Mães têm muita dificuldade de alcançar o topo em empregos que exigem longas horas de atividade e em que as pessoas colocam tudo de lado quando a situação exige.

Ele citou outro fato conhecido e inquestionável. Apesar das mulheres e os homens terem QI’s médios similares, os homens são sobre-representados em ambos os extremos da faixa – os QI’s mais baixos e mais altos. Os homens ganham das mulheres entre os idiotas e os gênios.

Como os melhores cientistas são, desproporcionalmente, originários dos níveis mais altos de QI, esse é um outro possível fator de diferença entre homens e mulheres no topo da carreira científica.

Summers citou outros fatores, incluindo socialização e discriminação, mas isso não evitou que uma outra tempestade ideológica se formasse. Summers foi, simplesmente, demonizado e os professores se viraram contra ele.

A única explicação politicamente correta é discriminação.

Summers se desculpou – novamente. Mas, ao final, esses rápidos recuos não salvou seu emprego.

Após a repetição incessante da palavra “diversidade” na universidade, o fato trágico é que o mundo acadêmico é um dos lugares mais intolerantes dos EUA com relação à diversidade de idéias. Que ninguém, mesmo o reitor de Harvard, ouse ultrapassar a linha divisória!

Pais pagam o montante que seria suficiente para famílias completas sobreviverem, a fim de “educarem” seus filhos em instituições acadêmicas de elite, ouvindo somente um dos lados de toda uma gama de questões – raça e sexo sendo apenas duas delas.

Mesmo que fosse verdade cada conclusão com que os estudantes são doutrinados, a menos que eles desenvolvam suas próprias habilidades de ponderar argumentos opostos, essas conclusões se tornarão obsoletas assim que novas questões aparecerem, nos períodos seguintes.

Os estudantes estão tendo metade da educação a preços inflados e aprendendo somente como rotular, descartar ou demonizar idéias que diferem daquilo que eles foram levados a acreditar. Suas ignorâncias “educadas” é um perigo para o futuro do país[1].


Publicado por Townhall


[1] Vemos que a universidade tem sido a fábrica do Imbecil Coletivo, não só em nosso país. (N. do T.)

Velhos Budweisers

Thomas Sowell

No tempo do Império Habsburgo havia uma cidade na Boêmia chamada Budweis. As pessoas dessa cidade eram chamadas de budweisers e ela tinha uma cervejaria que produzia uma cerveja com o mesmo nome – mas diferente da americana Budweiser.

Como muitas comunidades na Boêmia durante aqueles tempos, Budweis tinha uma população de ancestrais tchecos e alemães, que falava línguas diferentes, apesar de muitos serem bilíngües. Eles se davam muito bem e quase todos se consideravam budweisers, ao invés de tchecos ou alemães. Mas, isso mudou mais tarde – para pior – não só em Budweis, mas em toda a Boêmia.

O prefeito de Budweis falava tanto tcheco quanto alemão, mas se negava a ser classificado como membro de um dos grupos. Ele afirmava que ‘somos todos budweisers’.

Tal como com virtualmente todos os grupos, em virtualmente todos os países e em virtualmente todos os tempos, havia diferenças entre os alemães e tchecos. Os alemães tinham um maior grau de instrução, eram mais prósperos e mais proeminentes nos negócios e nas profissões.

A língua alemã tinha, então, uma literatura mais rica e diversa, pois, as línguas eslavas adquiriram versões escritas séculos depois das línguas da Europa Ocidental. Toda a educação do povo, de qualquer etnia, se dava em alemão.

Aqueles tchecos que desejassem subir aos altos escalões nos negócios, nas forças armadas ou nas profissões tinham de dominar a língua e a cultura alemã, para se relacionarem com aqueles já nos altos postos.

Os povos de ambos os lados aprenderam a conviver com essa situação e os tchecos eram bem-vindos nos enclaves de cultura alemã quando eles dominavam essa cultura. Em Budweis eles podiam ser todos budweisers.

Como em muitos outros países e épocas, o advento de uma nova classe intelectual no século XIX polarizou a sociedade por meio de uma política de identidade étnica. Em toda a Boêmia, a nova intelligentzia tcheca pressionava os tchecos a se considerarem tchecos, não boêmios ou budweisers, não qualquer outra coisa que pudesse transcender a sua identidade étnica.

Começaram a exigir que as placas e sinais em Praga, que eram antes escritos em tcheco e alemão, fossem, agora, escritos apenas em tcheco. Começaram a exigir que um certo percentual de música tcheca fosse executado pela orquestra de Budweiser.

Apesar dessas demandas parecerem insignificantes, suas conseqüências não foram pequenas. O povo de ancestralidade alemã resistiu à classificação étnica, mas a intelligentzia tcheca insistia que os políticos tchecos os apoiassem nesse e em vários outros pontos, de pouca ou muita importância.

Com o passar do tempo, os alemães também começaram, como autodefesa, a se considerarem alemães, ao invés de boêmios ou budweisers e a defenderem os interesses alemães. Essa polarização étnica no século XIX foi um passo fatal cujas conseqüências ainda não terminaram completamente, mesmo no século XXI.

Um momento crucial foi o da criação da nova nação da Tchecoslováquia, quando o Império Habsburgo foi desmantelado depois da I Guerra Mundial. Os líderes tchecos declararam que a missão da nova nação incluía a correção da ‘injustiça social’ no sentido de ‘reparar os erros históricos do século XVII’.

Quais foram esses erros? Os nobres tchecos que se revoltaram contra o Império Habsburgo no século XVII foram vencidos e tiveram suas terras confiscadas e dadas aos alemães. Presumivelmente, ninguém do século XVII ainda estava vivo quando a Tchecoslováquia foi criada no século XX, mas os nacionalistas tchecos mantiveram viva a antiga mágoa – tal como os ideólogos da identidade étnica têm feito em países em todo o mundo.

Políticas governamentais criadas para desfazer a história, com tratamento preferencial para os tchecos, polarizaram aquela geração de tchecos e alemães. Reações alemãs amargas levaram a exigências de que a parte do país em que eles viviam fosse anexada à vizinha Alemanha. Disso veio a crise de 1938 que desmembrou a Tchecoslováquia na véspera da II Grande Guerra.

Quando os nazistas conquistaram todo o país, os alemães dominaram os tchecos. Depois da guerra, a reação tcheca levou a expulsões em massa de alemães sob condições brutais, que custaram muitas vidas. Atualmente, refugiados na Alemanha ainda demandam restituição.

Quem dera se as mágoas do passado fossem lá deixadas! Quem dera se eles tivessem todos permanecidos budweisers ou boêmios!



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A Esquerda e o Conceito de Classe: Parte III

Thomas Sowell

Parece, às vezes, que os esquerdistas têm uma habilidade de produzir um interminável fluxo de idéias que são contra-produtivas para os pobres, a quem eles alegam estar ajudando. Poucas dessas noções são mais contra-produtivas que a idéia de ‘trabalho desqualificado’ ou ‘emprego beco-sem-saída’.

Pense bem: Por que os empregadores pagam as pessoas pelo trabalho ‘desqualificado’? Porque o trabalho tem de ser feito. Qual o propósito útil de estigmatizar o trabalho que há de ser feito de qualquer forma?

Esvaziar urinol num hospital é trabalho desqualificado? O que aconteceria se os urinóis não fossem esvaziados? Deixem as pessoas pararem de esvaziar os urinóis por um mês e haverá maiores problemas do que se os sociólogos pararem de trabalhar por um ano.

Ter alguém para faxinar, cozinhar e fazer pequenas tarefas na casa pode ser uma dádiva para alguém inválido ou que sofre das enfermidades da velhice – e que não quer ser colocado num asilo. Alguém em quem se pode confiar para tomar conta de crianças pequenas é, da mesma forma, um tesouro.

Muitas pessoas que fazem esse tipo de trabalho não têm a educação, as habilidades ou a experiência para realizar trabalhos mais complexos. Mesmo assim, elas podem dar uma contribuição real para a sociedade e, ao mesmo tempo, ganhar dinheiro que as manterá fora do seguro desemprego.

Muitos trabalhos não qualificados são chamados de ‘beco-sem-saída’ pelos intelectuais de esquerda, porque essas ocupações não têm uma cadeia de promoção. Mas, é superficial além do suportável dizer que isso significa que pessoas em tais empregos não têm perspectiva de uma ascensão econômica.

Você não ganha promoção em tais empregos. Você usa a experiência, iniciativa e disciplina que neles desenvolveu para mudar para algo que pode ser totalmente diferente. Pessoas que começam ‘virando’ hambúrgueres no McDonals raramente permanecem lá por um ano sequer, muito menos, por toda vida.

Trabalhos ‘beco-sem-saída’ são o que tive toda a minha vida. Mas, mesmo que eu tenha começado entregando produtos de mercearia no Harlem, eu não os entrego mais. Eu mudei para outros empregos – a maioria dos quais não tinha cadeia de promoção.

Minha única promoção oficial em mais de meio século de trabalho foi de professor associado para professor permanente na UCLA (Universidade da Califórnia, em Los Angeles). Mas, isso foi somente um aumento salarial, ao invés de uma promoção real, pois, professores associados e permanentes fazem o mesmo trabalho.

As noções de trabalho desqualificado e ‘beco-sem-saída’ podem ser apenas conceitos falsos e superficiais da intelligentsia, mas elas são mensagens mortalmente contra-produtivas para o pobre. Recusar-se a pisar no primeiro degrau, freqüentemente, significa perder a chance de subir a escada.

O sistema de seguro social pode lhe dar dinheiro, mas ele não pode lhe dar experiência de trabalho que lhe impulsionará economicamente. Vender drogas nas ruas pode lhe dar mais dinheiro do que o seguro desemprego, mas não pode lhe dar a experiência a ser relatada quando você se candidatar a um emprego. E se você decidir vender drogas por toda a vida, sua vida pode ser muito curta.

No tempo da I Guerra Mundial, um jovem negro chamado Paul Williams estudou arquitetura e, então, aceitou um emprego como um office-boy numa empresa de arquitetura. Ele concordou em trabalhar sem nada ganhar, apesar de depois de ele se apresentar, a companhia decidiu pagá-lo alguma coisa, afinal.

O que eles o pagaram seria hoje, provavelmente, descartado como ‘ninharia’. Mas, o que Paul Williams queria daquela companhia era conhecimento e experiência, mais do que dinheiro.

Ele progrediu e criou sua própria empresa de arquitetura, projetando tudo, de igrejas e bancos a mansões para estrelas de cinema – e contribuindo para o projeto do ‘Edifício Tema’ do Aeroporto Internacional de Los Angeles.

Os verdadeiros idiotas são aqueles que se recusam a começar de baixo, ganhando uma ninharia[1]. Os esquerdistas que encorajam tais atitudes podem se considerar amigos dos pobres, mas eles os fazem mais mal do que seus inimigos.



Publicado por Townhall


[1] Aqui Sowell brinca com a gíria chump (maluco, idiota) e a gíria chump change (ninharia, bagatela, trocado). (N. do T.)