Michael Novak
Nota Inicial - A revista National Review traz, em sua edição de 19 de março de 2007, uma extensa crítica do católico Michael Novak, sobre três livros de autores ateus. Tanto o crítico como os autores são muito conhecidos por suas respectivas obras. Apresento, a seguir, a primeira parte de minha tradução dessa crítica. As outras partes aparecerão, neste blog, na medida de minhas possibilidades.
A revista Time, uma sempre vigilante descobridora de tendências, celebrou recentemente uma onda de livros de autores ateus – dentre eles, os livros de Sam Harris, de Daniel C. Dennett e o de Richard Dawkins. Esses livros têm três propósitos: acelerar o desaparecimento da fé bíblica, especialmente nos EUA; fazer proselitismo a favor do ateísmo racional; e levantar a moral dos ateus, em parte por meio da divulgação de grupos de ajuda a eles dirigidos. O principal propósito é o primeiro: nas palavras de Harris, “demolir as pretensões intelectuais e morais do cristianismo”.
Mas todos os três livros também revelam um considerável desdém pelo judaísmo. Dawkins o chama de “um culto tribal a um Deus desagradável e feroz, morbidamente obcecado com restrições sexuais, com cheiro de carne queimada, exibindo sua própria superioridade sobre deuses rivais, e sua exclusividade para com sua escolhida tribo do deserto”. Ao Deus do Velho Testamento Dawkins se refere como um “delinqüente psicótico”.
E não é porque eles admirem o Islam; ao contrário, eles usam o Islam para destruir o cristianismo e o judaísmo. Harris diz aos cristãos: “Incréus como eu, estamos ao seu lado, chocados e sem fala, quando vemos hordas de mulssumanos salmodiando a morte de nações inteiras. Mas ficamos também sem fala ao seu lado – pela sua negação da realidade tangível, pelo sofrimento causado pelos seus mitos religiosos e por sua ligação a um Deus imaginário”. Na verdade, então, a principal intenção dos três autores é louvar a superioridade do ateísmo, pelo menos do ateísmo racional de professores como eles.
De fato, há muito que louvar no ateísmo. Com a evidência do admirável código moral descrito por Aristóteles em Ética a Nicômaco em suas mãos, Santo Tomás de Aquino escreveu que para ser bom em, pelo menos, um sentido importante, não é necessário compartilhar a fé bíblica. Aristóteles mostrou um caminho para o florescimento humano, tanto para a comunidade quanto para os indivíduos nobres. (Ser “bom” em outro importante sentido, “nascer de novo” ou “ser salvo”, requer um pouco mais do que Aristóteles poderia oferecer, ou mesmo imaginar.) Além disso, os ateus – ou, pelo menos, os pagãos fora da tradição bíblica – foram capazes de construir edificações magníficas, tais como o Parthenon, as pirâmides do Egito, os palácios da Babilônia; produzir grandes literaturas e iniciar diversas ciências, tais como Astronomia, Aritmética, Medicina e Agricultura. Finalmente, ateus – ou, pelo menos não crentes – sempre foram um estímulo para o entendimento da Bíblia, por levantarem questões, por duvidarem, por insultarem ou mesmo apresentarem respeitosos desafios intelectuais. Foi da classe intelectual pagã que muitos dos primeiros Padres da Igreja (Orígenes, Clemente de Alexandria, o próprio Santo Agostinho) foram trazidos à fé bíblica, e eles freqüentemente continuavam dialogando com seus parceiros incréus, o que muito os ajudaram no aprofundamento de sua fé.
Devo mencionar que meu próprio trabalho inicial foi centrado no diálogo entre crentes e incréus, o horizonte intelectual do Absurdo (como Camus, Sartre e tantos outros o chamavam) e da fé bíblica – em tais livros como Belief and Unbelief e The Experience of Nothingness, por exemplo. Por essa razão, eu queria realmente ter gostado desses novos livros sobre o ateísmo. Eu aprendi muito sobre ateus e crentes com Jürgen Habermas, possivelmente o ateu mais conhecido da Europa. Habermas escreve sobre os crentes com respeito e como parceiros num importante diálogo. Uma respeitosa consideração pela dignidade mútua é, sustenta Habermas, essencial para a prática da racionalidade entre os seres humanos. Recentemente, tive a honra de uma longa troca de idéias com um ateu americano muito inteligente, Heather Mac Donald, cuja condução foi muito prazerosa, pois o debate transcorreu com consideração mútua, paciência e sinceridade de ambos os lados.
Infelizmente, é extremamente difícil conseguir esse mesmo nível de diálogo com Harris, Dennett e Dawkins. Todos eles pensam que a religião é uma ameaça tão grande que não há muita disposição para se conversar. A bandeira de guerra que eles estendem ao vento é o “Ecrazez l’infâme!” de Voltaire. Ao mesmo tempo, todos os três pretendem nos convencer que os ateus “questionam tudo” e “submetem tudo a uma incansável, quase tediosa, autocrítica”. Contudo, nesses livros não há sequer uma sombra de evidência de que os autores tiveram, alguma vez, qualquer dúvida sobre a correção de seu próprio ateísmo. Autoquestionamento sobre suas próprias indiferenças acadêmicas aos seus temas; sobre as brutalidades horríveis cometidas em nome do “ateísmo científico” durante o século XX; sobre as incansáveis e mercuriais insatisfações nos movimentos ateus e seculares, durante os últimos cem anos; e sobre a fraqueza demográfica do ateísmo – todas essas questões estão notavelmente ausentes. Além do mais, apesar de um zeitgeist ateísta dominar os campi universitários americanos, ele não se mostrou persuasivo para um imenso número de estudantes, que tampa os narizes e apenas o suporta. Por que o ateísmo seduz tão poucos? Nossos autores nunca fazem essa pergunta.
Eu, particularmente, queria ter gostado do livro de Richard Dawkins. Tinha ouvido dizer que ele é muito culto e articulado e que ele escreve com a melodia e a espirituosidade de um elegante estilista literário. Seus fãs o apresentam como um modelo do homem razoável. Dawkins, também, apresenta expressamente a si mesmo e a outros ateus como “brilhantes”, distinguíveis pela “saúde” e “vigor” mental. Pobres crentes – ele abertamente lamenta – são, contrariamente, prisioneiros de uma ilusão, acomodados, mentalmente mortos. Ele não faz sequer um gesto no sentido querer aprender algo com eles.
Na realidade, os registros disponíveis sobre Dawkins apontam uma situação ainda pior. Ele apresentou, num canal de televisão inglês, um programa chamado “A raiz de todo o mal?”[1] Apesar de ter, agora, escrito que ele discorda do título que os produtores deram ao programa, ele o aceitou quando da exibição do mesmo. O que ele pede às pessoas religiosas é que: “Imagine, com John Lennon, um mundo sem religião”. Muito da violência e distorção na vida humana não desapareceriam, então? Bem, isso teria sido muito original, se essa visão já não fosse convencional na Inglaterra. Propagado tanto por pop stars e quanto por cientistas, essa visão é, segundo uma pesquisa recente, compartilhada por 70 por cento da população inglesa.
Por todo o Ocidente, parece que nem pop stars nem cientistas consideram, sequer por um momento, a experiência religiosa contemporânea à luz de seus mais heróicos praticantes. Por exemplo, nunca antes tantas pessoas que professam a fé bíblica foram jogadas em campos de concentração, torturadas e assassinadas, como têm acontecido, agora, sob regimes políticos autoproclamados ateus. Teria sido maravilhoso se qualquer um de nossos autores tivesse comparado sua visão da religião com a fé bíblica, conseguida a duras penas, do ex-ateu e cientista Anatoly Sharansky, que cumpriu pena de nove anos num gulag soviético por defender os direitos de cidadãos soviéticos de origem judaica. Sharansky escreveu o registro de seu sofrimento numa brilhante autobiografia, Fear No Evil. Penso nunca ter lido nada sobre um homem com maior coragem moral, determinado a viver como um homem livre, demonstrando corajosamente nada mais que repulsa moral aos agentes da KGB, sob cujo poder total ele tinha de viver. Sharansky viveu, corajosa e temerariamente, dia após dia, privado de alimentação suficiente, privado da visão do azul céu e do banho de sol. Ele foi punido de inumeráveis formas, sob um tipo de condicionamento skinneriano, projetado para “corrigir” seu comportamento e isso continuou ano após ano, na tentativa de esgotar suas resistências, evitando que ele recebesse os mais triviais agrados, atormentando sua alma pelo isolamento e pela falta de apoio humano.
Ironicamente, contudo, suas experiências na prisão levaram Sharansky a dimensões da razão que excedia em muito qualquer coisa que ele tinha encontrado em sua prática científica anterior. Para sobreviver, ele precisava de se abrir, muito mais do que a ciência o tinha ensinado, ao aprendizado. Ele era solicitado a assinar certas inverdades: “Quem saberá sobre isso depois? Que diferença isso fará? É uma coisa tão pequena e que trará coisas tão melhores para você e para todos nós que terá sido pelo bem comum.” Um dos colegas de Sharansky, uma alma nobre, se iludiu em pensar que seria melhor mentir sobre pequenas coisas se, ao final, ele pudesse ser libertado mais cedo e levar a mensagem sobre direitos humanos para fora do gulag. Sharansky observou outros homens tentando manter seus espíritos fortalecidos pela esperança – esperança por tratamento melhor, esperança por uma libertação mais rápida, que, então, repentinamente ficaram tão enfraquecidos por falsas esperanças que não conseguiam mais resistir à cumplicidade. Sharansky descobriu que ele precisava de uma fonte de discernimento mais profunda do que tudo o que ele tinha conhecido previamente.
Naqueles dias, o amor de sua amada e corajosa esposa, amigos e outros dissidentes, vinham visitá-lo em sua cela através de raras cartas e mensagens. Mas tais mensagens poderiam tê-lo enfraquecido e traído. Em seus tormentos d’alma, ele encontrou uma grande companhia no Rei David de muitos séculos atrás, quando uma edição, em hebreu, dos Salmos caiu em suas mãos. O realismo de David calou fundo em seu coração e fortificou enormemente suas defesas. Ele aprendeu a força de pertencer a uma comunidade – sua comunidade – em compartilhar rituais tradicionais, encontrando sustentação nos sofrimentos, lutas e sabedoria de seus ancestrais. Inconscientemente, um de seus colegas de cela (que poderia estar trabalhando para a KGB) deu a Sharansky outra lição sobre a “interconexão das almas”. Um dos maiores heróis científicos de Sharansky era Galileu. Ao dizer a Sharansky sobre como outros prisioneiros tinham feito “a vida mais fácil para todo mundo” por simplesmente assinarem inofensivos papéis a que ninguém, no mundo lá fora, teria acesso, seu colega de cela mencionou como, mesmo Galileu, tinha sido persuadido a assinar afirmações sobre seus próprios erros, somente para se livrar de toda aquela confusão. As palavras de seu colega de cela caíram como um raio na mente de Sharansky, causando a vívida consciência da interconexão de todas as almas através da história – aqueles que permanecem leais à verdade e aqueles que a traem. A traição de Galileu, ocorrida há quatrocentos anos atrás, estava agora sendo usada para seduzir Sharansky, da mesma forma que toda a rendição espiritual de outros indivíduos no gulag era usada para não deixá-lo esquecer de que a resistência era inútil a longo prazo. Naquele raio, Sharansky viu o poder da verdade interior ao longo dos séculos, aquele tipo de cinturão eletrônico de fidelidade que mantém unidas todas as regiões todo o tempo, em tantos quantos forem os corações que permanecem leais à verdade. Sharansky quis renascer como membro daquela comunidade e mudou seu nome para Natan, indicando a comunidade bíblica com a qual ele queria ser identificado a partir de então.
Sharansky se tornou, ainda no gulag, um judeu progressivamente mais praticante, forçando mesmo, numa cena cômica, seu supervisor a acender com ele o menorah. Sharansky escreve muito pouco sobre Deus diretamente, mas está acima de qualquer dúvida que ele tenha visto algo profundamente deficiente em seus hábitos mentais científicos anteriores. Ele também se envergonhou de sua posição anterior de agnosticismo e de seu desdém em relação à “religião organizada”. A comunidade que preservou os Salmos do Rei David por tantos séculos ofereceu à sua alma companhia e o “recarregou” para que ele resistisse, num momento crucial de seu longo confinamento.
Foi, então, um enorme desapontamento descobrir que Dennett, Harris e especialmente Dawkins não prestam a mínima atenção às experiências reais de conversão e às narrativas de fidelidade, que são tão comuns na “literatura de prisão” de nosso século. Ademais, nenhum deles põe suas fracas, confusas e insondadas idéias sobre Deus sob escrutínio. O hábito natural de suas mentes é antropomórfico. Eles tendem a pensar em Deus como se ele fosse um ser humano, submetido às limitações humanas. Eles são quase tão literais em suas leituras da Bíblia quanto aqueles personagens ignorantes da Geórgia rural de Flannery O’Connor. Eles se deleitam em descobrir contradições e impossibilidades em suas leituras literais, mas toda força do ridículo que eles querem mostrar depende do equívoco da leitura literal das passagens bíblicas mencionadas, que são ora alegóricas, ora metafóricas, ora poéticas, ora prenhe de múltiplos significados, para a nutrição de uma alma sob tensão. A Bíblia quase nunca pretende ser ciência ou mesmo história estritamente literal.
Nossos três autores se orgulham de como as ciências avançam ao longo do tempo e, também, em como o pensamento moral tem se tornado, de certa forma, mais profundo e mais exigente. Eles não dão nenhuma atenção às formas por meio das quais o entendimento religioso também cresce, se desenvolve e evolui. Eles parecem ignorar completamente o pequeno, mas brilhante, ensaio de John Henry Newman, Essay on the Development of Christian Doctrine. Eles parecem desconhecer que a fé bíblica tem estado, desde seu início, em constante – e mutuamente enriquecedor – diálogo com a inteligência cética e secular. Pode-se identificar o progresso do entendimento religioso nos próprios textos bíblicos, de uma era a outra, e os próprios autores da Escritura chamam nossa atenção quanto a isso.
Nossos três autores, ao que parece, se tornam um pouco cegos por sua própria repugnância à religião. Mesmo seus bons amigos, Dawkins escreve, lhe perguntam porque ele é tão “hostil” às pessoas religiosas. Por que você, eles dizem, uma pessoa tão inteligente, não apresenta, calma e serenamente, seus argumentos devastadores contra os crentes? A resposta de Dawkins a seus amigos é direta: “Sou hostil à religião fundamentalista porque ela debocha do empreendimento científico ... A religião fundamentalista tem, resolutamente, arruinado a educação científica de incontáveis inocentes, ansiosos e bem intencionados jovens. A religião não fundamentalista, que age com bom-senso, pode não estar fazendo isso. Mas está favorecendo o fundamentalismo por ensinar às crianças, desde a mais tenra idade, que a fé cega é uma virtude.” Dawkins recusa-se a ser parte da “conspiração” pública de respeito à religião, quando ela merece desdém.
Contudo, sua alegação sobre a fé “cega” parece um pouco estranha. Alguns de nós pensamos que a origem da religião está no impulso humano ilimitado de fazer perguntas – que é nossa experiência fundamental do infinito. Qualquer coisa finita que encontramos pode ser questionada, e parece, ao final, insatisfatória. Aquela experiência do infinito é a que impulsiona a mente e a alma e as fornece o primeiro antegozo do que está além do tempo e do espaço. “Nossos corações estão inquietos, Senhor”, lembrou Santo Agostinho, com muita ressonância em milhões e milhões de mentes através da história humana desde sempre. “Fé cega”? Os escritos dos pensadores medievais registram questão após questão, disputatio após disputatio, e os resultados reais na história dependiam da resolução de cada uma delas.[2] Muitas das questões surgiram dos advogados, filósofos e outros indivíduos nas universidades medievais que eram céticos e incréus; outras surgiram dos estudiosos árabes cujos trabalhos tinham chegado recentemente às universidades ocidentais; e ainda outras vinham de Maimônides e de acadêmicos judeus; e um grande número delas vinha dos grandes pensadores pagãos de cada um dos séculos anteriores. Questões têm sido o coração e a alma do judaísmo e do cristianismo por milênios.
Naturalmente, Dawkins pelo menos pensa que há algumas pessoas religiosas que podem ser convertidas ao ateísmo por meio de seus argumentos. Ele as descreve como pessoas de “mente aberta, cuja doutrinação infantil não foi tão insidiosa ou que não foi ‘engolida’ por ter encontrado uma robusta inteligência, ou por alguma outra razão.” Dawkins apresenta a tais crentes um ultimatum: ou se juntem a ele e “se livrem do vício da religião completamente”, ou permaneçam entre os tipos mais intolerantes que são incapazes de superar a “ilusão de deus”.
Na quinta página de seu livro, Dawkins descreve suas esperanças: “Se este livro atingir seu objetivo pretendido, os leitores religiosos que o abrirem serão ateus ao fecharem-no.” Surpreendeu-me que Dawkins seja capaz de tais proselitismos. Mais que tudo, o que me surpreendeu é que, apesar de os três autores escreverem como se a ciência fosse o princípio e o fim de todo discurso racional, seus três livros não são, de forma alguma, científicos. Ao contrário, eles são exemplos de dialética – argumentos a partir de um ponto de vista, ou horizonte, direcionados aos seres humanos que compartilham pontos de vista diferentes. Certamente, um das mais nobres tarefas da razão é entrar, respeitosamente, em discussão com os outros, cuja visão da realidade é dramaticamente diferente de sua própria, a fim de que ambas as partes possam aprender com a troca de idéias, e alcançar um respeito mútuo mais profundo. Nossos autores usam a dialética, não a ciência, mas de uma forma que dificilmente pode ser descrita como respeitosa para com aqueles com que eles pretendem discutir. Como diz Dawkins: “É claro que os crentes radicais são imunes aos argumentos, sua resistência cresceu por anos de doutrinação na infância ... Dentre os mais efetivos procedimentos imunológicos está a terrível advertência para se evitar até abrir um livro como este, que é, certamente, um trabalho de Satã.” Aqui, claro, Dawkins se cobre de lisonja. O demônio teria sido muito mais insidioso.
O que mais me surpreende no livro de Dawkins, contudo, é sua atitude defensiva. Ele descreve os ateus, particularmente nos EUA, como sofrendo de solidão, desrespeito público, isolamento espiritual e baixa auto-estima. Em uma passagem ele menciona uma carta a ele dirigida por uma jovem cristã, estudante de Medicina, que recentemente tinha se tornado atéia. Uma estudante de Medicina? Certamente, muitos médicos e estudantes de Medicina no seu entorno são ateus. No entanto, a estudante escreve: “Eu não quero compartilhar minha crença com outras pessoas que me são próximas porque temo a .. reação de desgosto. ... Apenas escrevo a você porque espero sua simpatia para com minha frustação.” Num apêndice, que Dawkins generosamente adiciona para tais almas desfavorecidas, ele apresenta uma lista de organizações em que ateus solitários podem encontrar companhia e consolo. Ele devota não poucas páginas para levantar a moral de sua comunidade – falando sobre o quão numerosos eles são, o quanto eles são inteligentes e o quanto seus antagonistas são fastidiosos, em comparação.
[1] Ver comentários de Roger Scruton sobre este programa em “Dawkins está errado”. (N. do T.)
[2] Sobre as discussões medievais e suas terríveis conseqüências atuais, ver “A dissolução do Ocidente: uma introdução”. (N. do T.)
Nota Inicial - A revista National Review traz, em sua edição de 19 de março de 2007, uma extensa crítica do católico Michael Novak, sobre três livros de autores ateus. Tanto o crítico como os autores são muito conhecidos por suas respectivas obras. Apresento, a seguir, a primeira parte de minha tradução dessa crítica. As outras partes aparecerão, neste blog, na medida de minhas possibilidades.
A revista Time, uma sempre vigilante descobridora de tendências, celebrou recentemente uma onda de livros de autores ateus – dentre eles, os livros de Sam Harris, de Daniel C. Dennett e o de Richard Dawkins. Esses livros têm três propósitos: acelerar o desaparecimento da fé bíblica, especialmente nos EUA; fazer proselitismo a favor do ateísmo racional; e levantar a moral dos ateus, em parte por meio da divulgação de grupos de ajuda a eles dirigidos. O principal propósito é o primeiro: nas palavras de Harris, “demolir as pretensões intelectuais e morais do cristianismo”.
Mas todos os três livros também revelam um considerável desdém pelo judaísmo. Dawkins o chama de “um culto tribal a um Deus desagradável e feroz, morbidamente obcecado com restrições sexuais, com cheiro de carne queimada, exibindo sua própria superioridade sobre deuses rivais, e sua exclusividade para com sua escolhida tribo do deserto”. Ao Deus do Velho Testamento Dawkins se refere como um “delinqüente psicótico”.
E não é porque eles admirem o Islam; ao contrário, eles usam o Islam para destruir o cristianismo e o judaísmo. Harris diz aos cristãos: “Incréus como eu, estamos ao seu lado, chocados e sem fala, quando vemos hordas de mulssumanos salmodiando a morte de nações inteiras. Mas ficamos também sem fala ao seu lado – pela sua negação da realidade tangível, pelo sofrimento causado pelos seus mitos religiosos e por sua ligação a um Deus imaginário”. Na verdade, então, a principal intenção dos três autores é louvar a superioridade do ateísmo, pelo menos do ateísmo racional de professores como eles.
De fato, há muito que louvar no ateísmo. Com a evidência do admirável código moral descrito por Aristóteles em Ética a Nicômaco em suas mãos, Santo Tomás de Aquino escreveu que para ser bom em, pelo menos, um sentido importante, não é necessário compartilhar a fé bíblica. Aristóteles mostrou um caminho para o florescimento humano, tanto para a comunidade quanto para os indivíduos nobres. (Ser “bom” em outro importante sentido, “nascer de novo” ou “ser salvo”, requer um pouco mais do que Aristóteles poderia oferecer, ou mesmo imaginar.) Além disso, os ateus – ou, pelo menos, os pagãos fora da tradição bíblica – foram capazes de construir edificações magníficas, tais como o Parthenon, as pirâmides do Egito, os palácios da Babilônia; produzir grandes literaturas e iniciar diversas ciências, tais como Astronomia, Aritmética, Medicina e Agricultura. Finalmente, ateus – ou, pelo menos não crentes – sempre foram um estímulo para o entendimento da Bíblia, por levantarem questões, por duvidarem, por insultarem ou mesmo apresentarem respeitosos desafios intelectuais. Foi da classe intelectual pagã que muitos dos primeiros Padres da Igreja (Orígenes, Clemente de Alexandria, o próprio Santo Agostinho) foram trazidos à fé bíblica, e eles freqüentemente continuavam dialogando com seus parceiros incréus, o que muito os ajudaram no aprofundamento de sua fé.
Devo mencionar que meu próprio trabalho inicial foi centrado no diálogo entre crentes e incréus, o horizonte intelectual do Absurdo (como Camus, Sartre e tantos outros o chamavam) e da fé bíblica – em tais livros como Belief and Unbelief e The Experience of Nothingness, por exemplo. Por essa razão, eu queria realmente ter gostado desses novos livros sobre o ateísmo. Eu aprendi muito sobre ateus e crentes com Jürgen Habermas, possivelmente o ateu mais conhecido da Europa. Habermas escreve sobre os crentes com respeito e como parceiros num importante diálogo. Uma respeitosa consideração pela dignidade mútua é, sustenta Habermas, essencial para a prática da racionalidade entre os seres humanos. Recentemente, tive a honra de uma longa troca de idéias com um ateu americano muito inteligente, Heather Mac Donald, cuja condução foi muito prazerosa, pois o debate transcorreu com consideração mútua, paciência e sinceridade de ambos os lados.
Infelizmente, é extremamente difícil conseguir esse mesmo nível de diálogo com Harris, Dennett e Dawkins. Todos eles pensam que a religião é uma ameaça tão grande que não há muita disposição para se conversar. A bandeira de guerra que eles estendem ao vento é o “Ecrazez l’infâme!” de Voltaire. Ao mesmo tempo, todos os três pretendem nos convencer que os ateus “questionam tudo” e “submetem tudo a uma incansável, quase tediosa, autocrítica”. Contudo, nesses livros não há sequer uma sombra de evidência de que os autores tiveram, alguma vez, qualquer dúvida sobre a correção de seu próprio ateísmo. Autoquestionamento sobre suas próprias indiferenças acadêmicas aos seus temas; sobre as brutalidades horríveis cometidas em nome do “ateísmo científico” durante o século XX; sobre as incansáveis e mercuriais insatisfações nos movimentos ateus e seculares, durante os últimos cem anos; e sobre a fraqueza demográfica do ateísmo – todas essas questões estão notavelmente ausentes. Além do mais, apesar de um zeitgeist ateísta dominar os campi universitários americanos, ele não se mostrou persuasivo para um imenso número de estudantes, que tampa os narizes e apenas o suporta. Por que o ateísmo seduz tão poucos? Nossos autores nunca fazem essa pergunta.
Eu, particularmente, queria ter gostado do livro de Richard Dawkins. Tinha ouvido dizer que ele é muito culto e articulado e que ele escreve com a melodia e a espirituosidade de um elegante estilista literário. Seus fãs o apresentam como um modelo do homem razoável. Dawkins, também, apresenta expressamente a si mesmo e a outros ateus como “brilhantes”, distinguíveis pela “saúde” e “vigor” mental. Pobres crentes – ele abertamente lamenta – são, contrariamente, prisioneiros de uma ilusão, acomodados, mentalmente mortos. Ele não faz sequer um gesto no sentido querer aprender algo com eles.
Na realidade, os registros disponíveis sobre Dawkins apontam uma situação ainda pior. Ele apresentou, num canal de televisão inglês, um programa chamado “A raiz de todo o mal?”[1] Apesar de ter, agora, escrito que ele discorda do título que os produtores deram ao programa, ele o aceitou quando da exibição do mesmo. O que ele pede às pessoas religiosas é que: “Imagine, com John Lennon, um mundo sem religião”. Muito da violência e distorção na vida humana não desapareceriam, então? Bem, isso teria sido muito original, se essa visão já não fosse convencional na Inglaterra. Propagado tanto por pop stars e quanto por cientistas, essa visão é, segundo uma pesquisa recente, compartilhada por 70 por cento da população inglesa.
Por todo o Ocidente, parece que nem pop stars nem cientistas consideram, sequer por um momento, a experiência religiosa contemporânea à luz de seus mais heróicos praticantes. Por exemplo, nunca antes tantas pessoas que professam a fé bíblica foram jogadas em campos de concentração, torturadas e assassinadas, como têm acontecido, agora, sob regimes políticos autoproclamados ateus. Teria sido maravilhoso se qualquer um de nossos autores tivesse comparado sua visão da religião com a fé bíblica, conseguida a duras penas, do ex-ateu e cientista Anatoly Sharansky, que cumpriu pena de nove anos num gulag soviético por defender os direitos de cidadãos soviéticos de origem judaica. Sharansky escreveu o registro de seu sofrimento numa brilhante autobiografia, Fear No Evil. Penso nunca ter lido nada sobre um homem com maior coragem moral, determinado a viver como um homem livre, demonstrando corajosamente nada mais que repulsa moral aos agentes da KGB, sob cujo poder total ele tinha de viver. Sharansky viveu, corajosa e temerariamente, dia após dia, privado de alimentação suficiente, privado da visão do azul céu e do banho de sol. Ele foi punido de inumeráveis formas, sob um tipo de condicionamento skinneriano, projetado para “corrigir” seu comportamento e isso continuou ano após ano, na tentativa de esgotar suas resistências, evitando que ele recebesse os mais triviais agrados, atormentando sua alma pelo isolamento e pela falta de apoio humano.
Ironicamente, contudo, suas experiências na prisão levaram Sharansky a dimensões da razão que excedia em muito qualquer coisa que ele tinha encontrado em sua prática científica anterior. Para sobreviver, ele precisava de se abrir, muito mais do que a ciência o tinha ensinado, ao aprendizado. Ele era solicitado a assinar certas inverdades: “Quem saberá sobre isso depois? Que diferença isso fará? É uma coisa tão pequena e que trará coisas tão melhores para você e para todos nós que terá sido pelo bem comum.” Um dos colegas de Sharansky, uma alma nobre, se iludiu em pensar que seria melhor mentir sobre pequenas coisas se, ao final, ele pudesse ser libertado mais cedo e levar a mensagem sobre direitos humanos para fora do gulag. Sharansky observou outros homens tentando manter seus espíritos fortalecidos pela esperança – esperança por tratamento melhor, esperança por uma libertação mais rápida, que, então, repentinamente ficaram tão enfraquecidos por falsas esperanças que não conseguiam mais resistir à cumplicidade. Sharansky descobriu que ele precisava de uma fonte de discernimento mais profunda do que tudo o que ele tinha conhecido previamente.
Naqueles dias, o amor de sua amada e corajosa esposa, amigos e outros dissidentes, vinham visitá-lo em sua cela através de raras cartas e mensagens. Mas tais mensagens poderiam tê-lo enfraquecido e traído. Em seus tormentos d’alma, ele encontrou uma grande companhia no Rei David de muitos séculos atrás, quando uma edição, em hebreu, dos Salmos caiu em suas mãos. O realismo de David calou fundo em seu coração e fortificou enormemente suas defesas. Ele aprendeu a força de pertencer a uma comunidade – sua comunidade – em compartilhar rituais tradicionais, encontrando sustentação nos sofrimentos, lutas e sabedoria de seus ancestrais. Inconscientemente, um de seus colegas de cela (que poderia estar trabalhando para a KGB) deu a Sharansky outra lição sobre a “interconexão das almas”. Um dos maiores heróis científicos de Sharansky era Galileu. Ao dizer a Sharansky sobre como outros prisioneiros tinham feito “a vida mais fácil para todo mundo” por simplesmente assinarem inofensivos papéis a que ninguém, no mundo lá fora, teria acesso, seu colega de cela mencionou como, mesmo Galileu, tinha sido persuadido a assinar afirmações sobre seus próprios erros, somente para se livrar de toda aquela confusão. As palavras de seu colega de cela caíram como um raio na mente de Sharansky, causando a vívida consciência da interconexão de todas as almas através da história – aqueles que permanecem leais à verdade e aqueles que a traem. A traição de Galileu, ocorrida há quatrocentos anos atrás, estava agora sendo usada para seduzir Sharansky, da mesma forma que toda a rendição espiritual de outros indivíduos no gulag era usada para não deixá-lo esquecer de que a resistência era inútil a longo prazo. Naquele raio, Sharansky viu o poder da verdade interior ao longo dos séculos, aquele tipo de cinturão eletrônico de fidelidade que mantém unidas todas as regiões todo o tempo, em tantos quantos forem os corações que permanecem leais à verdade. Sharansky quis renascer como membro daquela comunidade e mudou seu nome para Natan, indicando a comunidade bíblica com a qual ele queria ser identificado a partir de então.
Sharansky se tornou, ainda no gulag, um judeu progressivamente mais praticante, forçando mesmo, numa cena cômica, seu supervisor a acender com ele o menorah. Sharansky escreve muito pouco sobre Deus diretamente, mas está acima de qualquer dúvida que ele tenha visto algo profundamente deficiente em seus hábitos mentais científicos anteriores. Ele também se envergonhou de sua posição anterior de agnosticismo e de seu desdém em relação à “religião organizada”. A comunidade que preservou os Salmos do Rei David por tantos séculos ofereceu à sua alma companhia e o “recarregou” para que ele resistisse, num momento crucial de seu longo confinamento.
Foi, então, um enorme desapontamento descobrir que Dennett, Harris e especialmente Dawkins não prestam a mínima atenção às experiências reais de conversão e às narrativas de fidelidade, que são tão comuns na “literatura de prisão” de nosso século. Ademais, nenhum deles põe suas fracas, confusas e insondadas idéias sobre Deus sob escrutínio. O hábito natural de suas mentes é antropomórfico. Eles tendem a pensar em Deus como se ele fosse um ser humano, submetido às limitações humanas. Eles são quase tão literais em suas leituras da Bíblia quanto aqueles personagens ignorantes da Geórgia rural de Flannery O’Connor. Eles se deleitam em descobrir contradições e impossibilidades em suas leituras literais, mas toda força do ridículo que eles querem mostrar depende do equívoco da leitura literal das passagens bíblicas mencionadas, que são ora alegóricas, ora metafóricas, ora poéticas, ora prenhe de múltiplos significados, para a nutrição de uma alma sob tensão. A Bíblia quase nunca pretende ser ciência ou mesmo história estritamente literal.
Nossos três autores se orgulham de como as ciências avançam ao longo do tempo e, também, em como o pensamento moral tem se tornado, de certa forma, mais profundo e mais exigente. Eles não dão nenhuma atenção às formas por meio das quais o entendimento religioso também cresce, se desenvolve e evolui. Eles parecem ignorar completamente o pequeno, mas brilhante, ensaio de John Henry Newman, Essay on the Development of Christian Doctrine. Eles parecem desconhecer que a fé bíblica tem estado, desde seu início, em constante – e mutuamente enriquecedor – diálogo com a inteligência cética e secular. Pode-se identificar o progresso do entendimento religioso nos próprios textos bíblicos, de uma era a outra, e os próprios autores da Escritura chamam nossa atenção quanto a isso.
Nossos três autores, ao que parece, se tornam um pouco cegos por sua própria repugnância à religião. Mesmo seus bons amigos, Dawkins escreve, lhe perguntam porque ele é tão “hostil” às pessoas religiosas. Por que você, eles dizem, uma pessoa tão inteligente, não apresenta, calma e serenamente, seus argumentos devastadores contra os crentes? A resposta de Dawkins a seus amigos é direta: “Sou hostil à religião fundamentalista porque ela debocha do empreendimento científico ... A religião fundamentalista tem, resolutamente, arruinado a educação científica de incontáveis inocentes, ansiosos e bem intencionados jovens. A religião não fundamentalista, que age com bom-senso, pode não estar fazendo isso. Mas está favorecendo o fundamentalismo por ensinar às crianças, desde a mais tenra idade, que a fé cega é uma virtude.” Dawkins recusa-se a ser parte da “conspiração” pública de respeito à religião, quando ela merece desdém.
Contudo, sua alegação sobre a fé “cega” parece um pouco estranha. Alguns de nós pensamos que a origem da religião está no impulso humano ilimitado de fazer perguntas – que é nossa experiência fundamental do infinito. Qualquer coisa finita que encontramos pode ser questionada, e parece, ao final, insatisfatória. Aquela experiência do infinito é a que impulsiona a mente e a alma e as fornece o primeiro antegozo do que está além do tempo e do espaço. “Nossos corações estão inquietos, Senhor”, lembrou Santo Agostinho, com muita ressonância em milhões e milhões de mentes através da história humana desde sempre. “Fé cega”? Os escritos dos pensadores medievais registram questão após questão, disputatio após disputatio, e os resultados reais na história dependiam da resolução de cada uma delas.[2] Muitas das questões surgiram dos advogados, filósofos e outros indivíduos nas universidades medievais que eram céticos e incréus; outras surgiram dos estudiosos árabes cujos trabalhos tinham chegado recentemente às universidades ocidentais; e ainda outras vinham de Maimônides e de acadêmicos judeus; e um grande número delas vinha dos grandes pensadores pagãos de cada um dos séculos anteriores. Questões têm sido o coração e a alma do judaísmo e do cristianismo por milênios.
Naturalmente, Dawkins pelo menos pensa que há algumas pessoas religiosas que podem ser convertidas ao ateísmo por meio de seus argumentos. Ele as descreve como pessoas de “mente aberta, cuja doutrinação infantil não foi tão insidiosa ou que não foi ‘engolida’ por ter encontrado uma robusta inteligência, ou por alguma outra razão.” Dawkins apresenta a tais crentes um ultimatum: ou se juntem a ele e “se livrem do vício da religião completamente”, ou permaneçam entre os tipos mais intolerantes que são incapazes de superar a “ilusão de deus”.
Na quinta página de seu livro, Dawkins descreve suas esperanças: “Se este livro atingir seu objetivo pretendido, os leitores religiosos que o abrirem serão ateus ao fecharem-no.” Surpreendeu-me que Dawkins seja capaz de tais proselitismos. Mais que tudo, o que me surpreendeu é que, apesar de os três autores escreverem como se a ciência fosse o princípio e o fim de todo discurso racional, seus três livros não são, de forma alguma, científicos. Ao contrário, eles são exemplos de dialética – argumentos a partir de um ponto de vista, ou horizonte, direcionados aos seres humanos que compartilham pontos de vista diferentes. Certamente, um das mais nobres tarefas da razão é entrar, respeitosamente, em discussão com os outros, cuja visão da realidade é dramaticamente diferente de sua própria, a fim de que ambas as partes possam aprender com a troca de idéias, e alcançar um respeito mútuo mais profundo. Nossos autores usam a dialética, não a ciência, mas de uma forma que dificilmente pode ser descrita como respeitosa para com aqueles com que eles pretendem discutir. Como diz Dawkins: “É claro que os crentes radicais são imunes aos argumentos, sua resistência cresceu por anos de doutrinação na infância ... Dentre os mais efetivos procedimentos imunológicos está a terrível advertência para se evitar até abrir um livro como este, que é, certamente, um trabalho de Satã.” Aqui, claro, Dawkins se cobre de lisonja. O demônio teria sido muito mais insidioso.
O que mais me surpreende no livro de Dawkins, contudo, é sua atitude defensiva. Ele descreve os ateus, particularmente nos EUA, como sofrendo de solidão, desrespeito público, isolamento espiritual e baixa auto-estima. Em uma passagem ele menciona uma carta a ele dirigida por uma jovem cristã, estudante de Medicina, que recentemente tinha se tornado atéia. Uma estudante de Medicina? Certamente, muitos médicos e estudantes de Medicina no seu entorno são ateus. No entanto, a estudante escreve: “Eu não quero compartilhar minha crença com outras pessoas que me são próximas porque temo a .. reação de desgosto. ... Apenas escrevo a você porque espero sua simpatia para com minha frustação.” Num apêndice, que Dawkins generosamente adiciona para tais almas desfavorecidas, ele apresenta uma lista de organizações em que ateus solitários podem encontrar companhia e consolo. Ele devota não poucas páginas para levantar a moral de sua comunidade – falando sobre o quão numerosos eles são, o quanto eles são inteligentes e o quanto seus antagonistas são fastidiosos, em comparação.
[1] Ver comentários de Roger Scruton sobre este programa em “Dawkins está errado”. (N. do T.)
[2] Sobre as discussões medievais e suas terríveis conseqüências atuais, ver “A dissolução do Ocidente: uma introdução”. (N. do T.)
4 comentários:
Pensei em Rodrigo Constantino lendo alguns trechos. Desde o século XVIII, as mais macabras loucuras e construções absolutamente inconsistentes (a terra com um movimento absoluto em torno do sol, a medição matemática que substitui as qualidades, a explicação mecânica de tudo o que existe etc etc etc) foram consideradas o supra-sumo da racionalidade científica incontestável, e quem notasse os problemas e absurdos da teoria (acho que o Dawkins também sabe de alguns absurdos do evolucionismo) sofreria uma perseguição profissional e pessoal incomparável com a Inquisição (tão criticada pelos ateus iluministas). O Cristianismo é a religião com a produção de disputantes mais frutífera da história, com as mentes mais perspicazes e as respostas mais claras. O 'questionamento' de Dawkins me lembra o 'pensamento crítico' que é tão divulgado em nossas escolas: xingue quem te critique, nunca critique suas próprias obras. O fato de charlatães estarem repetindo toda a propaganda do século das luzes realmente comprova o neo-iluminismo
que está acontecendo. E a densidade intelectual desse sujeito é facilmente notável em sua 'prova' da inexistência de causas finais nos seres vivos: embaralhando as letras de "Methinks it is like a weasel", elas, após muitas combinações, voltam à essa sequencia. Mas, fora do do Inglês, o que querem dizer?
Pensando bem, esses ateus não deveriam nem aparecer perto da Caras. Deveriam (não sei se ainda é publicada) ficar ao lado da Bundas, cujos editores estão mais próximos de seus intelectos.
Pedro, a revista Bundas não é publicada. Pelo que me lembro, ela durou uns dois anos e, opinião minha, não fez a menor falta. Não passava de um libelo esquerdista, de viés declarada e assumidamente marxista, que, à semelhança do semanário Pasquim, se valia do escracho para tentar convencer.
Sobre os autores ateus comentados nesse artigo, há um ponto que considero também importante: quem ou o quê os elegeu "representantes da ciência" para falar, com presunção, em uma alegada defesa sua contra um alegado antagonismo da religião face aos seus preceitos?
Para mim, está bem claro, além da concordância irrestrita com o artigo e com o comentário do Pedro, é que o "novo" ateísmo de Dawkins e companhia apenas reedita com talvez maior vigor e cobertura midiática aquilo que no fundo mais os caraceriza: a soberba, uma - digamos - extrema e fortíssima soberba, ao ponto de girar sobre si sem aperceber-se minimante do ridículo.
Dawkins cai no ridículo, mas cai com cara de cu. Parce o doutor professor senhor Emir Sader, que mesmo sendo reduzido a meleca por Olavo de Carvalho, disse que nunca tinha 'discutido' com ele, pois aquele reacionário não trabalhava 'numa Universidade de nível'. Por causa dessa crueldade intelectual que há hoje na mídia e na universidade é importante distinguir entre ateus e ateus militantes, apesar de também ser fundamental lembrar as palvras de Santo Agostinho, que disse que só alguém com a natureza "completamente corrupta" não acredita em Deus. Até Marx, havia tão poucos ateus que as primeiras obras dos Santos Padres e doutores raramente falam neles. Foi só a partir dessas pessoas excelentes que são Bakunin, Proudhon e Marx (todos satanistas, apesar de não serem da mesma seita) propagandearem o ódio aos deuses como parte da Revolução. Os cabelos compridos de Marx, por exemplo, não eram moda no século XIX, e sim usados em seitas de feiticeiros. Ann Coulter diz que o esquerdismo é uma religião. Bom, para ler algo sobre a religião do alemão de Trier, veja aqui . Aí estão as origens, imagino, do zeitgeist ateu 'contemporâneo'.
A palavra de deus ela é tao poderosa que ela fala por si só eu poderia responder todas as suas perguntas mas a biblia ela ja responde por si propria pq as palavras que estão contidas nelas são a palavra de deus,
Aí voces podem falar que foram escritas por um homem sim mas estes homens estavam cheios do espirito santo de deus
pois se isto não fosse verdade o que a biblia diz a respeito dos ultimos tempos que jesus disse q teria muitas mortes pai matando filho, guerras, miseria e mtos se esfriariam na fe e isso foi dito por jesus faz mais de 2000 anos isto esta acontecendo hoje.
Segue um trecho da biblia:
(I Corintios 1:18) - Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus.
(I Corintios 1:19) - Porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, E aniquilarei a inteligência dos inteligentes.
(I Corintios 1:20) - Onde está o sábio? Onde está o escriba? Onde está o inquiridor deste século? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo?
(I Corintios 1:21) - Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação.
(I Corintios 1:22) - Porque os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria;
(I Corintios 1:23) - Mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos.
(I Corintios 1:24) - Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus.
(I Corintios 1:25) - Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.
(I Corintios 1:26) - Porque, vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados.
(I Corintios 1:27) - Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes;
(I Corintios 1:28) - E Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são;
(I Corintios 1:29) - Para que nenhuma carne se glorie perante ele.
(I Corintios 1:30) - Mas vós sois dele, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção;
(I Corintios 1:31) - Para que, como está escrito: Aquele que se gloria glorie-se no Senhor.
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