Muito se beneficiarão aqueles que, ao lerem o livro de Mons.
Delassus, que
indiquei no blog, lerem concomitante ou sequencialmente o livro de E.
Michael Jones, Libido Dominandi: Sexual
liberation and Political Control. O blog já fez algumas alusões a este
livro (aqui,
aqui,
aqui
e aqui).
Abaixo, traduzo alguns trechos da introdução do livro.
Observo, mais uma vez, que este livro fundamental ainda não encontrou tradução
para o português, em nosso pobre país.
(...) Não é segredo que a luxúria é
também uma forma de vício. Minha questão aqui é que o sistema atual sabe disso
e explora a situação em seu próprio benefício. Em outras palavras, “liberdade”
sexual é realmente uma forma de controle social. O que queremos realmente dizer
é que isto é um sistema gnóstico de duas verdades. A verdade exotérica, aquela
propagada pelo sistema por meio da propaganda, da educação sexual, dos filmes
de Hollywood e do sistema universitário – a verdade, em outras palavras, para
consumo geral – é que a liberação sexual é
liberdade. A verdade esotérica, aquela que permeia as operações manuais do
sistema – em outras palavras, as pessoas que se beneficiam da “liberdade” – é o
exato oposto, isto é, que a liberação sexual é uma forma de controle, um modo
de manter o sistema no poder pela exploração das paixões do ingênuo, que se
identifica com suas paixões, como se elas fossem ele mesmo, e com o sistema que
lhe possibilita identificar-se como tais paixões. Às pessoas que sucumbem a
suas paixões desordenadas são disponibilizadas, então, racionalizações do tipo
que infestam páginas pornográficas da Internet e que são, com isso, transformadas
numa poderosa força política por aqueles que são os mais especializados em
manipular o fluxo de imagens e racionalizações.
(...) A revolução sexual não foi um
levante social; não foi um coalescer de “partículas de revolta e iluminação”;
ela foi, ao contrário, uma decisão da classe dirigente da França, Rússia,
Alemanha e dos EUA, em vários momentos, durante os últimos 200 anos, no sentido
de tolerar o comportamento sexual fora do casamento como uma forma de
insurreição e, então, como uma forma de controle político.
(...) O que se segue é a história de
uma ideia. A ideia de que a liberação sexual poderia ser usada como uma forma
de controle não é uma nova ideia. Ela é o centro da história de Sansão e
Dalila. A ideia de que o pecado é uma forma de escravidão é central nos
escritos de São Paulo. Santo Agostinho, em sua magnum opus em defesa do cristianismo contra as acusações dos
pagãos (de que o cristianismo teria contribuído para a queda de Roma), dividia
o mundo em duas cidades, a Cidade de Deus, que amava Deus ao ponto da extinção
de si mesma, e a Cidade do Homem, que amava a si mesma ao ponto da extinção de
Deus. Agostinho descreve a Cidade do Homem como “ansiando por dominar o mundo”,
mas ao mesmo tempo se via “ela própria dominada por seu domínio”. Libido Dominandi, paixão por domínio,
então, é um projeto paradoxal, praticado invariavelmente por pessoas que são,
elas mesmas, escravos das mesmas paixões que incitam nos outros para dominá-los.
A dicotomia que Agostinho descreve é
eterna; existirá enquanto o homem existir. Os revolucionários do Iluminismo não
criaram nenhum novo mundo, nem criaram um novo homem para habitar esse admirável
novo mundo. O que fizeram foi adotar a visão de mundo de Agostinho e, então,
reverter seus valores. “O estado do homem moral é aquele de tranquilidade e
paz, o estado do homem imoral é aquele de perpétuo desassossego”. O autor dessa
afirmação não foi Santo Agostinho (embora ele teria concordado
incondicionalmente com ela); o autor foi Marques de Sade. Menciono isso para
mostrar que ambos, Agostinho e Sade, compartilhavam a mesma antropologia e a
mesma psicologia racional, se quiserem. Onde diferiam era nos valores que atribuíam
às verdades dessas ciências. Para Agostinho, o movimento era mau; para Sade, o
revolucionário, o movimento perpétuo causado pelas paixões incontroladas era
bom porque perpetuava “a necessária insurreição em que o republicano deve
sempre manter o governo do qual é membro.”
O mesmo pode ser dito sobre a
liberdade. O que um chama liberdade, ou outro chama servidão. Mas a dicotomia
das duas cidades – uma rebaixando a si mesma por causa do amor a Deus, a outra
rebaixando Deus por causa de seu amor a si e a seus desejos – é algo sobre o que
ambas concordariam.
O que segue é a história de um projeto
nascido da inversão das verdades cristãs pelo Iluminismo. “Mesmo aqueles se que
armaram contra Vós”, escreve Agostinho, dirigindo-se ao Todo Poderoso na Confissões, “não fazem outra coisa que
não copiá-Lo de modo perverso”. O mesmo poderia ser dito do Iluminismo, que
começou como um movimento para liberar o homem e quase do dia para a noite se
tornou um projeto para controla-lo. Este livro é a história dessa
transformação. (...) A melhor forma de controlar o homem é fazê-lo sem que ele
perceba que está sendo controlado, e a melhor forma de fazer isso é através da
sistemática manipulação de suas paixões, porque o homem tende a se identificar
com suas paixões como se dele fossem. (...) Foi necessário o gênio do mal desta
nossa época para aperfeiçoar um sistema de exploração financeira e política
baseada na intuição que São Paulo e Santo Agostinho tiveram a respeito do que
chamavam de “escravidão do pecado”. Este livro descreve a sistemática
construção de uma visão de mundo baseada nessa intuição.
5 comentários:
Professor Angueth,
Salve Maria.
Trago-lhe uma sugestão de tradução, o livro The Last Superstition, de Edward Feser.
A obra responde, a partir de uma perspectiva tomista, aos delírios dos neo-ateístas -- Dawkins, Hitchens e cia.
Link na Amazon : http://www.amazon.com/The-Last-Superstition-Refutation-Atheism/dp/1587314525
Agostinho gênio.
Sensacional texto, como eu queria ter amigos pra conversar esses assuntos.
Estou lendo Libido Dominandi. É uma leitura fundamental para se entender a Modernidade e a Pos-Modernidade.
Eu também ainda estou lendo esse livro imperdível e não consigo largá-lo.
Postar um comentário