05/07/2010

Padres, não tardeis em elevar a Santa Cruz dentro da Igreja Matriz desta cidade

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Recebo de um piedoso leitor uma carta que ele está enviando aos párocos da Igreja Matriz de sua cidade. Ele me deu a permissão para publicá-la, desde que omitesse seu nome, dos párocos e da cidade. Publico-a porque ela pode muito bem servir de modelo para muitos católicos piedosos que estão escandalizados pelo sumiço dos Crucifixos de dentro das Igrejas. A carta é um exemplo para todos nós que queremos fazer alguma coisa pela Santa Madre Igreja.

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XXXX, 29 de junho de 2010

J.M.J

Ave Crux, Spes única!

Ao Revmo. Pároco Pe. XXXXX e ao Revmo. Vigário Pe. XXXXX, da Igreja de São Judas Tadeu, escrevemos nos Sacratíssimos Corações de Jesus, Maria e José.

Revmos. Padres, viemos a vós por meio desta carta por desejo de ver resplandecer novamente na Santa Igreja a vitória sob o símbolo da Santa Cruz. Como conta a história, Constantino viu, em sonho, uma Cruz no Céu onde estava escrito “In hoc signo vincis” (sob este signo vencerás). Assim, Revmos. Padres, temos certeza de que se quereis conquistar as almas para vencer por Cristo, isto deve também ser feito por meio deste Símbolo, tal qual Constantino que, no dia seguinte ao sonho, conquistou a vitória, tendo a Cruz gravada no escudo de seus soldados.

Estamos certos de que é do conhecimento dos Revmos. Padres a luta que os estados laicos travam contra a Santa Igreja e contra Deus, querendo tirar dos lugares públicos as sacras imagens da Santa Cruz. Assim sendo, vendo-nos no dever de defender os interesses de Deus e da Santa Igreja, e certos de que pela Santa Cruz é que Deus deseja santificar as almas, queremos suplicar aos Revmos. Padres que não tardeis em elevar a Santa Cruz dentro da Igreja Matriz desta cidade, não cometais o mesmo pecado dos inimigos da fé.

Muitos são os motivos que nos levam a suplicar a “elevação” da Santa Cruz, na paróquia que vos foi confiada. Como sabem, é claramente evidenciado na vida e escrito dos santos que por meio das sacras imagens Deus concede grandes graças à sua única Igreja Católica Apostólica Romana, como haveremos de lhes mostrar no decorrer desta carta. Tínhamos a intenção de discorrer sobre o ensinamento da Santa Igreja, desde o Sacrossanto Concilio de Trento até os dias de hoje, porém nos vem à cabeça agora a preciosidade do tempo dos Revmos. Padres, por isso nos deteremos em pequenos fatos de piedade na vida dos santos.

Ainda neste ano de 2010, S. S. Papa Bento XVI, discursando sobre o grande doutor Santo Antonio de Pádua, dizia que a visão do crucifixo inspira pensamentos de reconhecimento para com Deus e cita esta frase do Santo Doutor, "Cristo, que é a tua vida, está pendurado diante de ti, para que tu olhes para a cruz como para um espelho. Nela poderás conhecer quanto mortais foram as tuas feridas, que nenhum remédio teria podido curar, a não ser o do sangue do Filho de Deus. Se olhares bem, poderás dar-te conta de como são grandes a tua dignidade humana e o teu valor... Em nenhum outro lugar o homem pode aperceber-se melhor do seu valor, a não ser olhando para o espelho da cruz" (Sermones Dominicales et Festivi III, pp. 213-214). E continua o Santo Padre dizendo: Meditando estas palavras podemos compreender melhor a importância da imagem do Crucifixo para a nossa cultura.

Logo vemos o grande beneficio que o Sacro Crucifixo faz às almas que se ocupam de venerá-lo. Como diria um antigo Padre da Companhia de Jesus, todas as virtudes acham-se contidas no crucifixo: ele é a consumação dos caminhos interiores, e este mesmo Padre segue dizendo, o crucifixo é o compêndio de tudo quanto o cristão deve crer.

Outros tantos benefícios se vê claramente vindo da contemplação do crucifixo na vida dos santos. Como não nos lembrar da Beata Jacinta Marto? – conforme relata a Irmã Lucia em suas memórias, no trecho intitulado O Amor ao Crucificado – que a pequena menina costumava dizer: Coitadinho de Nosso Senhor, eu não hei-de fazer nunca nenhum pecado, não quero que Nosso Senhor sofra mais. E em outro trecho escreve Irmã Lucia, “Outras vezes, mandava procurar uma flor qualquer, que ela escolhia. Um dia, jogávamos isto, em casa de meus pais, e tocou a mim dar uma ordem a ela. Meu irmão estava sentado a escrever, junto de uma mesa.

Mandei-a então, dar-lhe um abraço e um beijo.

Mas ela respondeu: Isso, não! Manda-me outra coisa. Por que não me mandas beijar aquele Crucifixo que está ali?!

Ela apontava para um crucifixo pendurado na parede.

- Pois sim, – respondi-lhe. Sobe numa cadeira, traze-o aqui, e, de joelhos, dá-lhe três abraços e três beijos: um pelo Francisco, outro por mim, e outro por ti.

- A Nosso Senhor dou tantos quantos quiseres. E correu a buscar o crucifixo. Beijou-o e abraçou-o com tanta devoção que nunca mais esqueci daquela ação.”

Ah! Revmos. Padres! Quiséramos nós ter todo o resto da vida livre para aqui ficarmos pensando na beleza que é amar a Cristo e a sua Cruz, e com a espada da verdade nas mãos defender os interesses de Deus e da Santa Igreja. Ficamos aqui a pensar como seria belo entrar naquela paróquia e lá encontrarmos a imagem do crucificado para contemplá-lo, para chorar a paixão de Nosso Senhor.

Revmos. Padres, queremos nos unir a São Boaventura para lhes dizer que as chagas de Cristo ferem os coração mais duras e aquece as almas mais frias; dizer com este mesmo santo que para progredir no amor de Deus, é preciso meditar todos os dias a Paixão do Senhor. Nada contribui tanto para a santidade das pessoas como a Paixão Cristo. Revmos. Padres, com respeito reconhecemos não ser outro o desejo de vossos corações sacerdotais senão a salvação das almas a vós confiadas por Deus Nosso Senhor. Não pode ser outro o desejo de vossos corações, por isso elevai o estandarte da Salvação, concedei aos vossos fiéis a graça de ter ante os olhos a imagem da Paixão de Nosso Senhor, sejam quais forem os motivos para a ausência do crucifixo em vossa paróquia, apressai-vos em restituí-lo ao seu lugar. Pois este lhes assegurará as almas, atadas ao extremado amor de Deus.

Assim, Revmos. Padres, despedimo-nos com confiança ilimitada de que Nossa Senhora das Dores nos alcançará esta graça que hoje lhes pedimos, que os nossos olhos voltem a encontrar a imagem do Crucificado na paróquia de São Judas Tadeu. Encerramos dando as boas vindas ao Crucifixo com o poema de Santa Teresa D’Ávila, na certeza de que não seremos desamparados pela Rainha do Céu.

Gostosa quietação da minha vida,

sê bem-vinda, cruz querida.

Ó bandeira que amparaste

o fraco e o fizeste forte!

Ó vida da nossa morte,

quão bem a ressuscitaste!

O Leão de Judá domaste,

pois por ti perdeu a vida.

Sê bem-vinda, cruz querida.

Quem não te ama vive atado,

e da liberdade alheio;

quem te abraça sem receio

não toma caminho errado.

Oh! ditoso o teu reinado,

onde o mal não tem cabida!

Sê bem-vinda, cruz querida.

Do cativeiro do inferno,

ó cruz, foste a liberdade;

aos males da humanidade

deste o remédio mais terno.

Deu-nos, por ti, Deus Eterno

alegria sem medida.

Sê bem-vinda, cruz querida.

AD MAIOREM DEI GLORIAM.

3 comentários:

Anônimo disse...

Angueth, meu caro,

Primeiro parabéns pelo seu excelente blog e pelas traduções primorosas.

Venho para pedir ajuda numa questão. Sempre que protejo a Santa Igreja Católica alguém logo levanta a bandeira de inquisição. Eu logo desminto. Mas sempre falam do Torquemada e fico sem saída. Você pode me ajudar?

Desde já agradeço.

Anacoreta, o Penitente disse...

Brilhante conteúdo e elegantíssimo estilo. Precisamos imitá-lo para reclamarmos de outras barbaridades que o clero e os leigos dizem e fazem, comissiva ou omissivamente, nas paróquias. Precisamos usar a tática da Anistia Internacional: descobrir os absurdos e inundar as autoridades eclesiásticas com cartas como essa.

Antonio Emilio Angueth de Araujo disse...

Caro anônimo,

Defender a Igreja é mesmo muito difícil no mundo de hoje. É preciso que nós, que a queremos defender, nos esforcemos e estudemos muito! Sugiro também que você evite discussões vãs, com quem não quer aprender, só contestar. A discussão só vale a pena se você tiver alguém a convencer.

De qualquer forma, publiquei há algum tempo um post sobre sugestões de leituras apologéticas, que pode lhe ser útil.

Obrigado por suas palavras e incentivo. Volte sempre e me escreva quando desejar.

Em JMJ.

Antônio Emílio Angueth de Araújo.