09/07/2009

Economia e catolicismo

A última encíclica de Bento XVI, por tratar equivocadamente de assuntos econômicos, fez surgir certa estupefação geral sobre como a Igreja, em seu Magistério Ordinário trata a questão econômica. De um lado há a Teologia da Libertação, que fez tão mal aos católicos neste aspecto, e de outro há o liberalismo, que não é apenas uma teoria econômica, mas todo um sistema de visão de mundo, que faz com que, hoje, muito poucos de nós católicos saibamos como tratar assuntos econômicos sob a ótica do catolicismo.

Acho que há cinco documentos preciosos sobre economia e catolicismo e um site que devemos consultar. Os dois primeiros documentos são as encíclicas Rerum novarum e Quadragesimo anno. Os três outros documentos são livros: um de Chesterton (The outline of sanity), um de Belloc (The servile state) e o outro de Corção sobre Chesterton (Três alqueires e uma vaca), na sua parte final. Irei traduzir os dois primeiros livros, se Deus me der essa oportunidade.

O site é o anti-liberal Contraimpugnantes que tem extraordinários textos de Sidney Silveira e Carlos Nougué criticando dura, mas justamente, o liberalismo econômico e nos dando uma perspectiva católica da economia.

Aqui no blog, talvez valesse a pena dar uma olhada na série de posts sobre o ensinamento tradicional da Igreja sobre economia: Corporação Cristã: a verdadeira Escola de Salamanca - Parte VII (cito o último dos artigos porque ele contém os links para os outros).

Ser católico nunca foi fácil e agora não é exceção. Para desmontar falácias temos de estudar muito, mas sobretudo rezar muito para que o Espírito Santo nos ilumine.

Santo Tomás de Aquino, rogai por nós.

9 comentários:

Anônimo disse...

Prezado Professor, Ave Maria Puríssima!

Penso que o senhor resumiu da maneira mais lapidar o que os conciliares fizeram da Doutrina Social da Igreja: uma indigesta mescla de TL e neoliberalismo.

Parabéns!

Os "conservadores" estão tentando tapar o sol com a peneira (imagino que o senhor já tenha lido o artigo do LifeSiteNews [site de resto muito bem intencionado] sustentando que Bento 16 teria condenado [sic] a ONU -- será que se esqueceram também daquela foto dele, há um ou dois anos, posando ao lado e fazendo gestões de aprovação da bandeira da ONU?), mas me parece claro que, segundo a sã Teologia da História, incentivar uma autoridade central para coordenar a atual globalização é preparar a vinda do Anticristo e, portanto, fazer papel análogo ao do Falso Profeta, não?

Enfim, desde que li o elogio de Ratzinger a Hillary Clinton no livro O Sal da Terra, de 1997, e a defesa dele de um "socialismo cristão" no livro Democracia na Igreja? (se não me falha a memória), que nunca tive ilusões quanto à política de Bento XVI.

Muito obrigado pelas indicações de leitura, que eu não conhecia.

Por fim, se não se importar, uma pequena picuinha entre tradutores: eu traduziria "Corporation(s?) Christendom", que se não me falha a memória é o título original dessa interessante série de artigos, por "A Cristandade das Corporações". Que lhe parece?

Um abraço,
(E até o próximo retiro inaciano-valletiano-sanpiedista?)
Em JMJ,
Felipe Coelho

Anônimo disse...

"mas me parece claro que, segundo a sã Teologia da História, incentivar uma autoridade central para coordenar a atual globalização é preparar a vinda do Anticristo e, portanto, fazer papel análogo ao do Falso Profeta, não?"

Felipe, foi exatamente isso que pensei quando li o trecho da nova encíclica que fala do governo mundial e confesso que senti um calafrio.

Guilherme

Gederson disse...

Caríssimos,
Salve Maria!

A questão da autoridade mundial, é a retomada de uma das diretrzes da "Populorum Progressio".

O artigo da LifeSiteNews, tenta concertar as coisas, mas ele piora tudo. Será que promover uma autoridade política dispersa, equivaleria a criar estruturas similares a das Conferências Episcopais e a Colegialidade dos Bispos, na ONU?

Cansei de ler discursos de Tdl's que falam a respeito da "descentralização" do poder da Cúria Romana. Sendo que o Concílio Vaticano II já aplicou esta descentralização (dispersão) através da ausência de debates, definições e da Colegialidade. Se isto que escrevo tem realmente sentido, então a proposta do Papa, efetivamente condenaria a ONU.

É uma questão bem complicada, como todas da atualidade. Este, no entanto, não deve ser o desejo do Papa.

Tenho que ir, estou no horário de almoço. Fiquem com Deus.

Abraços

Antonio Emilio Angueth de Araujo disse...

Caro Felipe,
Salve Maria!

Obrigado pela visita e pelas palavras.

Acho dificílimo consertar a encíclica. Muitos tentarão. Estou até imaginando as cobras de língua dupla da CNBB tecendo loas ao Papa! Estou imaginando o encontro do G8 fazendo um comunicado conjunto louvando a visão extraordinária de Bento XVI. Estou imaginando os milhões de “católicos perplexos”. É uma pena que Bento XVI tenha escrito tal encíclica. Rezemos pelo Papa e peçamos à Virgem Maria que nos abençoe.

Bondade sua referir-se a “picuinha entre tradutores”. Como se eu fosse mesmo um tradutor! Obrigado pela caridosa correção de tradução.

Até o próximo retiro!

Em Jesus e Maria.

Antônio Emílio Angueth de Araújo

Antonio Emilio Angueth de Araujo disse...

Caro Gederson,
Salve Maria!

Que fazer senão reza pelo Papa?

Eu acho que duas coisas são fundamentais para o mundo: a Consagração da Rússia e as conversações do Vaticano com a FSSPX. Só a Igreja pode salvar o mundo. Estamos numa situação limite. Rezemos.

Em Jesus e Maria.

Antônio Emílio Angueth de Araújo

Rodrigo disse...

Professor, leio o blog do senhor com regularidade e até comento de vez em quando, mas fiquei com uma dúvida neste seu post "Economia e catolicismo". Criticar o liberalismo enquanto filosofia, enquanto uma visão de mundo é obrigação de todo católico. Mas se aplicado única e exclusivamente em economia e no dia a dia do livre-mercado (com a ressalva de a caridade estar sempre presente) ele não seria o mais racional? O senhor mesmo não aprecia as análises do Thomas Sowell? E ele é um liberal em economia!
Grato pela atenção e fiquem com DEUS!

Antonio Emilio Angueth de Araujo disse...

Caro Rodrigo,

Muito obrigado pelas visitas frequentes e pelo último cometário.

O liberalismo é todo ele condenado pela Igreja. Na encíclica Libertas, o Papa Leão XIII explica qual é o conceito de liberdade que um católico deve ter. O liberalismo é filho primogênito do protestantismo. Na encíclica Rerum Novarum, Leão XIII condena cabalmente o comunismo, que é pecado (Ver Decreto contra o comunismo, Decreto do Santo Ofício, 28 jun. de 1949 - DZ - 3865).

A Igreja defende e incorpora em seus ensinamentos vários conceitos que são comuns ao capitalismo: direito à propriedade, trabalho assalariado (mediante contrato), livre comércio etc. Porém, ainda assim, ela se posiciona contra muitas injustiças geradas pelo capitalismo liberal. Fica difícil, num texto tão curto explicar toda a posição da Igreja. Por isso, eu indiquei a Rerum Novarum e a Quadragesimo Anno. Para uma posição sobre o liberalismo, leia a Libertas.

Quanto a Thomas Sowell, ele é protestante e não poderia deixar de ser liberal. Eu o admiro muito, o que não quer dizer que eu subscreva o seu liberalismo. Suas análises contra o comunismo são análises liberais. As nossas são teológicas e doutrinárias.

Entendo sua perplexidade, pois acho que nós católicos temos muito pouco conhecimento de economia e das idéias da Igreja sobre isso.

Fique com Deus.

Antônio Emílio Angueth de Araújo

Gederson disse...

Prezado Prof. Angueth,
Salve Maria!

Devemos rezar pelo Papa, como sempre foi feito. Quanto a Carta Encíclica, só saberemos o que se quis com ela, após o próximo passo em direção a Fraternidade, ou à consagração da Rússia (Diante de tudo o que foi feito em relação ao 3º segredo de Fátima, apenas um milagre, o trará a tona). A Caritas in Veritate, pode ser uma cortina de fumaça, é bem complicado.

Em relação à Fraternidade, também foi dado mais um passo através do Motu Próprio “Ecclesia Unitatem”. O documento confirma as palavras do Papa sobre as conversações, ou seja, o que se deseja, é apenas a unidade. Não há, da parte de Roma, sequer um julgamento a respeito do estado de necessidade (apenas a sentença de que ele não existe), alegado pela Fraternidade Sacerdotal São Pio X. Talvez após as conversações, é que se tenha uma posição, por parte da Cúria Romana, a respeito do estado de necessidade. Isto, como a relação com o 3º segredo, é que preocupa.

Aplicada a regra de São Diádoco na atual conjuntura (onde o progresso da iniqüidade avança e esfria o amor no coração de muitos), nos resta apenas desprezarmos as coisas que vemos, para perseverarmos até o fim e sermos salvos. Não se trata mais de desprezar as perseguições dos primórdios, pela esperança de consolidação de uma sociedade católica. Isto é o que menos desejam as autoridades católicas da atualidade. Agora se trata de desprezar as coisas visíveis, esperando efetivamente a segunda vinda de Cristo. Como dizen as escrituras:

“ Foi-lhe dado, também, fazer guerra aos santos e vencê-los. Recebeu autoridade sobre toda tribo, povo, língua e nação, e hão de adorá-la todos os habitantes da terra, cujos nomes não estão escritos desde a origem do mundo no livro da vida do Cordeiro imolado. Quem tiver ouvidos, ouça!” Ap 13, 7-9

O Vaticano II, é o símbolo, do que pode se ler nestes versículos. Sobretudo, em tudo a que se refere ao 3° segredo de Fátima. Entrou-se em confronto até mesmo com Nossa Senhora não obedecendo a seus pedidos. E o confronto ocorre de uma tal maneira, que o santuário dedicado a Fátima, tornou-se um marco da arquitetura modernista e um dos locais, onde a liturgia é mais abusada no mundo. Inclusive tendo celebração hinduísta.

É complicado, a situação é bastante delicada. Não há muito a ser feito além de rezar muito. Fique com Deus.
Abraço

Gederson

Gederson disse...

Complementando, lembro as palavras de Hugo de São Vítor, que tem muito valor na atual conjuntura:

"Há um gênero de homens
para os quais crer significa
apenas não contradizer a fé,
aos quais denominamos fiéis
mais pelos costumes da vida
do que pela virtude de crer.

De fato,
dedicados apenas às coisas que passam, nunca elevam a mente
ao pensamento das coisas futuras;
embora recebam os sacramentos da fé cristã juntamente com os demais fiéis, não atentam para o que significa ser cristão ou que esperança há na expectativa dos bens futuros.

Estes, embora sejam ditos fiéis pelo nome, de fato e em verdade estão longe da fé".

Hugo de S. Vitor: De Sacramentis Fidei Christianae; L. I, p. X, c. 4; PL 176, 332-