24/11/2006

C.S. Lewis, Cardeal John Newman e eu na hora do cafezinho, numa universidade brasileira

Um colega me aborda, todo alegre, para me dizer que enviará seu filho (já universitário) num estágio de trabalho aos EUA. Depois de expressar minha simpatia pelo acontecimento, indago

-- Tenho uma dúvida, professor.

-- Qual é?

-- É que você foi um apoiador, aqui entre nós, da reeleição de Lula. Eu esperaria que seu filho fosse enviado, triunfalmente, para Cuba, Venezuela ou China. Os EUA são um país capitalista e é governado pelo malvado Bush. O que terá ele (o país, claro) para ensinar ao seu filho?

Como a conversa estava amena e minha relação com esse colega é amistosa, ele apenas sorriu e fomos dar aulas.

O acontecimento não me saiu da cabeça, pois, estou convencido de que meu colega não percebeu sua contradição.

Mais tarde, no mesmo dia, comento o acontecido com outro colega, que diz, entre outras coisas: Bush está errado em tudo!

Muitos anos atrás, um colega professor, ligado ao Partidão, dizia cinicamente: devemos importar tecnologia dos EUA e ideologia da URSS.

Excetuando-se o cinismo e a esperteza do colega comunista, temos hoje na universidade brasileira um misto de confusão mental, doutrinação anti-americana e um fenômeno detectado, nomeado e detalhado por Lewis: trata-se do bulverismo.

Que o ambiente universitário, aqui e em outros países, abrigue tal pletora de males, não é nem um pouco surpreendente. Muitos já detectaram este fenômeno.

A universidade atual se afastou infinitamente daquela instituição que, segundo o Cardeal John Henry Newman, tinha o objetivo “não de desenvolver as maneiras ou hábitos de um gentleman – essas podem ser, e são, adquiridas de várias outras formas, por meio de um bom ambiente social, por meio de viagens ao exterior, pela inata graça e dignidade de uma mente católica – mas a força, a estabilidade, a completude e a versatilidade intelectual, o controle sobre seus próprios poderes, a capacidade instintiva de avaliar, com justiça, as coisas que estão à nossa frente, o que é, às vezes, um dom natural, mas que comumente não é desenvolvido sem muito esforço e prática ao longo de anos a fio.

A universidade do cardeal seria o “lugar do ensino do conhecimento universal”, o lugar da “difusão e extensão do conhecimento, ao invés de seu avanço”.

Nossas universidade estão, hoje, povoadas de PhD´s, cuja arrogância só não é maior que sua ignorância do “conhecimento universal”. Falta a esses doutores exatamente a coisa que, na visão de Newman, eles deviam estar ensinando: “a capacidade instintiva de avaliar, com justiça, as coisas que estão à nossa frente”.

Assim, nossos mestres maiores são presas fáceis do bulverismo. Lewis define esse mal do século XX da seguinte forma: “suponha que seu oponente esteja errado e que, então, você explique o erro dele. O mundo estará a seus pés. Tente provar que ele está errado e o dinamismo de nosso tempo lançará você contra a parede.

A tagarelice intelectual contemporânea está cheia de explicações de erros, sem antes provar sua existência. Foi assim que nasceu, segundo Lewis, o marxismo.

E é assim que confusos professores universitários mandam seus filhos para os EUA e votam em Lula, sem sentir que há algo errado nisso. Ou seja, explicaram para eles que o capitalismo é abominável sem provar que isso seja verdade. Eles acreditaram porque faltou-lhes “a capacidade instintiva de avaliar, com justiça, as coisas que estão à nossa frente”.

Mas, como a razão humana, mesmo sufocada, ainda mantém um contato com a Razão que lhe deu origem, eles sentem que, pelo menos para seus filhos, é melhor os EUA do que Cuba, apesar de Lula.

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