14/10/2012

Sentenças de São Bernardo - V


1. Os homens possuem três estados de vida: o de não pecar, que é próprio do amor servil; o de não querer pecar, sintoma do amor filial; e o de não poder pecar, efeito da felicidade sem fim.

2. Quatro coisas intensificam a graça de nossa devoção: a memória dos pecados, que faz o homem humilde consigo mesmo; a recordação do castigo, que o estimula a agir bem; a consideração de que é um peregrino, que o encoraja a desdenhar as coisas visíveis; o desejo de vida eterna, que o incita à perfeição e o força a manter-se livre frente às afeições terrenas por meio do controle da vontade.

3. Deus educa a torpeza de nossa ignorância de três modos: pela generosidade de seus benefícios, que abranda a dureza de nossa alma e a estimula ao amor; pela severidade de seus castigos frequentes, ajudando-nos a compreendê-los intelectualmente, infundindo-nos assim o temor; pela afronta pública do desprezo, que com sua ignomínia nos ruboriza e envergonha.

4. Três causas movem e excitam nossa carne: o pensamento prévio, que arrasta para o interior formas e imagens ilícitas e nos agita com seus caprichos; a insaciabilidade excessiva, que dilata o ventre com a acumulação de alimentos e provoca a carne lasciva com movimentos luxuriosos; os embates do espírito mau, que se reconhece totalmente incapaz de dobrar os justos e com eles se enfurece valendo-se da solicitação carnal.

5. A autoridade das Escrituras nos proíbe de pensar mal,[1] falar mal[2] e fazer mal.[3] Pensar mal é uma imundície, porque se revolvem na memória assuntos sujos e impuros; ou é soberba, se se enaltece e se infla sentindo-se superior aos demais; ou é ambição, se se cobiça algo alheio contra o mandamento de Deus, por instigação do diabo. É evidente que alguma destas três atitudes se infiltra nos maus pensamentos. A maledicência é algo carente de fundamento, que não tem sentido nem é conveniente; ou é palavra difamatória, que calunia as qualidades do irmão pela corrosão da inveja ou do ódio instintivo; ou é palavra aduladora, porque massageia a cabeça do outro com o unguento de falso perfume. Em toda obra má há fingimento se nosso proceder se mostra oposto a nosso sentir interior; há crueldade se ofendemos nosso próximo; impudicícia, se nos manchamos de algum outro modo.




[1] Mt 9:4 e 1Cor 13:5.
[2] Rom 12:14 e Ecl 2:14.

Um comentário:

Magna disse...

Prof. Boa tarde!

Não tem nenhuma relação com o post, mas o Sr. já viu estes três vídeos logo abaixo sobre Chesterton? Conhece alguém que poderia traduzi-los, se é que valem a pena.

http://www.youtube.com/watch?v=NRC7gdihVkg&feature=gv&hl=es
http://www.youtube.com/watch?v=-LTr606rERI

http://www.youtube.com/watch?v=ArLkACaaLEI