06/07/2012

Bispo Mueller: uma análise da FSSPX.


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O bispo Gerhard Mueller, ex-bispo de Regensburg, Alemanha, acaba de ser nomeado Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé pelo Papa Bento XVI.

O Pe. Matthias Gaudron, padre da FSSPX especializado em teologia dogmática e autor do livro Catecismo Católico da Crise da Igreja, recentemente publicou algumas observações, no website do Distrito Alemão da FSSPX, relativas à afirmações feitas, no passado, pelo bispo Mueller. Os comentários do Pe. Gaudron terminam com um apelo à Sua Excelência.
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A Igreja sempre considerou ser uma de suas mais importantes tarefas manter fielmente o Depósito da Fé, que lhe foi confiado por Cristo e os Apóstolos, e defendê-lo contra erros para transmiti-lo intacto às gerações posteriores. E assim, o cargo de Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé é um dos mais altos da Igreja.

A FSSPX na Alemanha soube, com assombro, do fato de que o Bispo de Regensburgo, Gerhard Ludwig Mueller, fora nomeado para este cargo. A FSSPX pergunta que adequação para este cargo pode ser encontrada num homem que se colocou contra a doutrina católica inúmeras ocasiões, tanto em seus escritos quanto em seus discursos públicos.

Alguns exemplos devem ser mencionados:

1. O bispo Mueller nega em seu livro Die Messe: Quelle christlichen Lebens [A Missa: Fonte da Vida Cristã] a transformação real do pão e vinho em Corpo e Sangue de Cristo. Pão e vinho permanecem, segundo ele, o que são; contudo, eles se tornam instrumentos para a integração dos fiéis na vida em comunhão com o Pai e o Filho. Isso lembra o ensinamento calvinista, segundo o qual o pão e o vinho não se transformam, mas se tornam instrumentos da graça.[1]

2.Contrário à doutrina católica, segundo a qual a transformação dos dons ocorre ao se pronunciar as palavras da instituição, “Isto é o meu corpo... Isto é o cálice de meu sangue”[2], o bispo Mueller afirma que a questão do momento da transformação “não faz sentido.”[3]

3.O bispo Mueller nega, em seu livro Dogmatik [atualmente o texto padrão sobre Dogmática na Alemanha], o dogma da Virgindade de Maria no momento do nascimento de Jesus[4], e, portanto, o ensinamento de que Maria deu a luz a seu filho sem violar sua integridade física.[5]

4. Num panegírico ao bispo protestante Dr. Johannes Friedrich, bispo Mueller disse, em 11 de outubro de 2011: “Também os cristão que não estão em comunhão integral com a Igreja Católica em relação ao ensinamento, meios de salvação e episcopado apostólico, são justificados pela fé e batismo e são integralmente (!) incorporados/integrados na Igreja de Deus, sendo o Corpo de Cristo.” Isso contradiz toda a tradição católica e especialmente o ensinamento de Pio XII na encíclica Mystici Corporis.

5. Contra a doutrina católica da necessidade da conversão à Igreja Católica, como ainda proclamada no ensinamento do Vaticano II[6], o bispo Mueller caracteriza, no mesmo discurso, o assim chamado “ecumenismo de retorno” como sendo “errôneo”.

A Fraternidade apela urgentemente ao bispo Mueller para que ele comente sobre estas afirmações polêmicas, ou para que ele as corrija. A motivação dessa atitude da Fraternidade não é uma aversão pessoal, mas apenas o desejo de uma proclamação não adulterada da doutrina.

Como o bispo Mueller, no passado, não escondeu sua atitude negativa em relação à Fraternidade, a Fraternidade não vê, a princípio, nesta nomeação um sinal de disposição para discutir seu reconhecimento canônico. Não obstante, ela espera que o novo Prefeito – acerca das discussões na igreja universal – possa alcançar uma atitude mais positiva a respeito da FSSPX.


[1] Na realidade, o corpo e o sangue de Cristo não significam os componentes materiais da pessoa humana de Jesus durante sua vida ou em sua corporalidade transfigurada. Aqui, corpo e sangue significam a presença de Cristo nos símbolos do pão e vinho. ...Temos “agora uma comunhão com Jesus Cristo, mediada pelo comer o pão e pelo beber o vinho. Mesmo na esfera meramente pessoal, algo como uma letra pode representar a amizade entre pessoas e mostrar e corporificar a simpatia do emissor pelo receptor.” Pão e vinho assim apenas se tornam “símbolos de sua presença salvítica.” (Die Messe: Quelle Christlichen Lebens, Augsburg: St. Ulrich Verlag: 2002, p. 139).
[2] Catecismo da Igreja Católica, n. 1375, n.1377.
[3] Die Messe: Quelle Christlichen Lebens, p. 142.
[4] Catecismo da Igreja Católica, n. 499, n. 510.
[5] “Não é tanto acerca das propriedades fisiológicas específicas no processo natural de nascimento (tal como o canal não ter sido aberto, o hímem não ter sido rompido, ou a ausência das dores do parto ), mas acerca da influência curativa e salvítica da graça do Salvador na natureza humana, que foi ferida pelo Pecado Original. ...não é tanto acerca dos detalhes somáticos fisiológica e empiricamente verificáveis.” (Katholische Dogmatik für Studium und Praxis, Freiburg 52003, p. 498.) De fato, a doutrina tradicional se preocupa precisamente com tais detalhes fisiológicos.
[6] Pelo que, não se poderiam salvar aqueles que, não ignorando ter sido a Igreja católica fundada por Deus, por meio de Jesus Cristo, como necessária, contudo, ou não querem entrar nela ou nela não querem perseverar. (Lumen Gentium, 14.)

Um comentário:

Luiz Fernando disse...

Caro Angueth,

Salve Maria!

Como esperar a plena comunhão da FSSPX com a Santa Sé tendo um Prefeito como esse, logo nessa Congregação tão importante?

Eu acho que as coisas vão acabar desandando para a FSSPX...

Se houvesse a plena comunhão, o pleno retorno, eu gostaria de me aproximar mais da FSSPX, e caminhar com eles. Agora, enquanto tal celeuma é agravada por um fato como esse — um senhor que fez/faz afirmações desse jaez sobre a Fé Católica naquela Congregação — como esperar algo positivo do diálogo entre Roma e FSSPX?

Ad Iesum per Mariam!

Luiz Fernando de Andrada Pacheco