17/12/2006

Mensagens de Natal em prosa e em verso

Seguem duas mensagens de Natal de que gosto muito. Uma delas é um texto curto mas profundo de Olavo de Carvalho sobre o significado do Natal. A outra é uma poesia de Manuel Bandeira.

Esta é a forma deste blog felicitar a todos os seus leitores.

FELIZ NATAL

Por que celebrar o Natal
Olavo de Carvalho

25 de dezembro de 2003

Só existe um motivo para celebrar o Natal, mas esse motivo é tão amplamente ignorado que as festas natalinas devem ser consideradas uma superstição em sentido estrito, a repetição ritualizada de uma conduta habitual que já não tem significado nenhum e na qual, portanto, cada um está livre para projetar as fantasias bobas que bem entenda.

Jesus Cristo, encarnação do Verbo Divino, ou inteligência de Deus, veio ao mundo para oferecer-se como vítima sacrificial única e definitiva, encerrando um ciclo histórico que durava desde as origens da humanidade e que era regido essencialmente pela Lei do Sacrifício (v. Ananda Coomaraswamy, A Lei do Sacrifício, e René Girard, O Bode Expiatório).

A Lei do Sacrifício é inerente à estrutura da existência cósmica. Só Deus tem a plenitude do ser, e o que quer que exista sem ser Deus tem uma existência precária, fundada num débito ontológico insanável, que na escala da alma humana se manifesta como culpa.

A Lei do Sacrifício não pode ser suspensa e jamais o foi.

O que Nosso Senhor Jesus Cristo fez foi cumpri-la toda de uma vez, instituindo em lugar do Sacrifício a Eucaristia, que é a recordação do ato sacrificial definitivo. A recordação passa então a ter o valor de uma repetição sem necessidade de novas vítimas.

Antes as vítimas se somavam: 1 + 1 + 1 + 1...

Agora a vítima única se multiplica por si mesma no ato da Eucaristia: 1 x 1 x 1 x 1...

Façam as contas e compreenderão por que o Natal deve ser celebrado.

O problema é que o fim de um ciclo histórico não traz necessariamente, para as gerações seguintes, a consciência da mutação ocorrida.

Essa consciência deve ser reconquistada e retransmitida de geração em geração, e na sociedade moderna essa transmissão cessou já faz algum tempo. Pouquíssimas pessoas têm uma consciência clara do que ganharam com o Natal. A maioria, mesmo quando recebe presentes, não sabe que eles apenas simbolizam um ganho muito maior que já foi obtido 2003 anos atrás.

Esse ganho pode ser explicado em poucas palavras:

Todo homem, pelo simples fato de existir, é atormentado pela culpa e vive num constante discurso interior de acusação e defesa, que produz medo, ódio, inveja, ciúme, busca obsessiva de aprovação. Esses sentimentos tornam o homem vulnerável às palavras más, às acusações e insinuações que lhe chegam de seus semelhantes, da cultura ambiente ou de seu próprio interior. O conjunto dessas acusações e insinuações é o espírito demoníaco, que em razão da culpa mesma tem poder incalculável sobre o ser humano. Em busca de proteção contra esse poder, o homem se submete aos maus e aos intrigantes, isto é, aos representantes do próprio espírito demoníaco, acreditando que aqueles que podem feri-lo devem também poder ajudá-lo. Com isso ele se torna a vítima sacrificial, o bode expiatório num grotesco ritual simulado.

Cristo adverte-nos que esse sacrifício é inútil, desnecessário e pecaminoso. Não existe no mundo um poder ou autoridade habilitado a exigir vítimas. Deus Pai só exigiu uma, e Ele mesmo a forneceu. Quem quer que, depois disso, se sinta culpado, não deve se oferecer como vítima sacrificial perante altar nenhum. Deve apenas recordar-se do sacrifício de Cristo e alegrar-se. Isso é tudo.

Muitas pessoas até sabem que as coisas são assim, mas entendem isso somente do ponto de vista religioso formal, sem tirar desse conhecimento as conseqüências práticas de ordem psicológica, que são portentosas:

Aquele que se ofereceu para ser sacrificado em nosso lugar não é um cobrador de dívidas nem um acusador, mas um salvador. Ele nada pede, apenas oferece. E em troca aceita uma palavrinha, um sorriso, uma intenção inexpressa, qualquer coisa, pois não é irritadiço nem orgulhoso: é manso e humilde.

Se, sabendo disso, você ainda é vulnerável aos olhares acusadores e às palavras venenosas, se ainda sente ante os intrigantes e os maldosos um pouco de temor reverencial e tenta aplacá-los com mostras de submissão para que eles não o exponham à vergonha ou não o castiguem de algum outro modo, é porque ainda não compreendeu o sentido do Natal.

Esse sentido é simples e direto: os maus e intrigantes não têm mais nenhuma autoridade sobre você. Não baixe a cabeça perante eles, não consinta que suas fraquezas sejam exploradas pela malícia do mundo.

Jesus Cristo já pagou a sua dívida.

É por isso que comemoramos o Natal.

Canto de Natal

Manuel Bandeira

O nosso menino
Nasceu em Belém.
Nasceu tão-somente
Para querer bem.

Nasceu sobre as palhas
O nosso menino.
Mas a mãe sabia
Que ele era divino.

Vem para sofrer
A morte na cruz,
O nosso menino.
Seu nome é Jesus.

Por nós ele aceita
O humano destino:
Louvemos a glória
De Jesus menino.

12 comentários:

O Direitista disse...

Se vc me permite uma observação cretina: 1x1x1x1... = 1! O que ele quis dizer com isso?

Antonio Emilio Angueth de Araujo disse...

Caro Filipe,

Ele quis dizer que a Eucaristia é a multiplicação do sacrifício de Cristo em nós. Como fomos redimidos pelo sacrifíco Dele na cruz, podemos agora cumprir a Lei do Sacrifício, sem contudo sermos a vítima, que Ele foi por nós.

Um abraço. Antonio Emilio.

O Direitista disse...

Ok. Isso eu entendi. É que no fundo, no fundo, existe um cético dentro de mim, convivendo comigo e com o qual eu tenho de argumentar, e ele não pôde deixar de fazer graça com a conta de 1 x 1, hehehe.. Esqueça.

Abraço e feliz natal.

Antonio Emilio Angueth de Araujo disse...

Ok, Filipe. Feliz Natal para você também.

Antonio Emilio.

Anônimo disse...

A vida do Senhor em nossas vidas nos dá um referencial para sermos homens de um padrão moral elevado, maracado pela radiante e alegre obediência de servir a Deus servindo aos nossos semelhantes. Jesus era um Rei que se propôs a servir.
QUe Deus continue iluminando a sua vida e seu lar.
Quero aproveitar esse espaço para te dar um afetuoso abraço.
Theodoro Evangelos

O Direitista disse...

A propósito, eu li o livro do Richard Weaver, Ideas have consequences, porque li aqui a sua indicação. Quem te recomendou o livro?

Antonio Emilio Angueth de Araujo disse...

Theodoro,

Muito obrigado pelas palavras calorosas. Espero que seu Natal seja também repleto da presença Dele, que é uma pessoa e não um sentimento e que nos garantiu seu misericordioso apoio em todos os momentos que fossemos humildes o suficiente para pedi-lo.

Grande abraço.

Antonio Emilio.

Antonio Emilio Angueth de Araujo disse...

Caro Filipe,

Eu ouvi sobre "Ideas have consequences" uma única vez, no Seminário Internacional sobre Democracia Liberal do MSM. Algum convidado americano, não me lembro quem, mencionou, an passant, o fabuloso livrinho. Depois disso, estou sempre procurando referências sobre Weaver e seu livro nos escritores brasileiros e não as tenho encontrado. Acho mesmo que ele é um completo desconhecido de nós, pobres brasileiros.

Antônio Emilio.

Anônimo disse...

Apenas vou recomendar aqui uma mensagem de Natal atrasada, escrita por um missionário colombiano em Darfur (a região do Sudão onde um governo muçulmano está fazendo uma limpeza étnica, perseguindo os cristãos). O Brasil, junto com países democráticos como China e Rússia, não se pronunciou em relação a uma medida da ONU para ivestigar o genocídio, e ela não foi aprovada.

Antonio Emilio Angueth de Araujo disse...

Caro Pedro,

Recomendo a todos a lindíssima mensagem que você nos sugere acima.

Você nos informa que o Brasil não apoiou a investigação da ONU sobre a situação em Dafur. Mas, não somos governados por aquele que comungou na missa de corpo presente do Papa João Paulo II e disse depois que não tem pecados, cometendo assim o maior dos pecados, o pecado para o qual não existe perdão, o pecado contra o Espírito Santo?

Antonio Emilio.

Anônimo disse...

Professor Antônio, a situação é assustadora: além, é claro, da participação de nosso presidente numa organização terrorista revolucionária (o Foro de São Paulo), lembro o que se escreveu no Mídia Sem Máscara: ele é produto da igreja apóstata, de uma 'teologia' comunista. Para exemplificar: o pseudofrei Betto fez uma 'missa' para ele. É isso mesmo: para ele, não é digitação errada. O Reinaldo Azevedo diz que Lula pensa que é uma ontologia. Dom Eusébio Scheidt (meu herói), numa entrevista, perguntou:
"-Você acha que Lula sabe quem é o Espírito Santo?"

Deixa o homem trabalhar...

Anônimo disse...

não entendo nada, mas aqui vai uma perguntinha:porque nós andamos por aqui sem saber o que estamos a fazer?
não sabemos de nada ,não entendemos nada,e esse tal de cristo ,nunca aparece por aqui para que agente possa dar-lhe um bom dia perguntar se ele está bem lá onde ele anda.
deixou agente sozinhos por aqui e quer que agente esteja sempre rezar
gostaria muito de uma explicação.
vós que sabeis de tudo explique.obrigada