28/02/2013

Leitor inexperiente se confunde sobre São Luiz e Pe. Faber.

O leitor Pedro de Lima deixa um comentário ao post Dependência de Maria com o teor seguinte. Respondo a seguir.

Me parece que o padre Faber, assim como São Luís de Montfort, não foram lá muito perfeitos em retratar o papel de Maria, a retórica deles foi bastante inadequada, sob certos aspectos. Me parece que quem soube, do meu conhecimento, elaborar uma linguagem adequada ao assunto, embora não tenha o abordado muito diretamente, foi o Sr. Chesterton, em especial no livro Hereges, meu favorito dele. Ali está a chave para elaborar uma apologética decente em torno da questão. Certos sedevacantistas que eu leio procuram citar textos bíblicos, o que supõe uma descompactação que eles não sabem fazer; outros citam milagres, o que não funciona quase nada para quem não os presenciou, apenas irrita. São Luís Montfort declarou que escrevia o Tratado para camponeses pobres que não necessitavam fé, e nesse sentido ele usou uma bela retórica, mas como ele não ignorava que o livro receberia ampla divulgação tempos depois, o seu esforço precisa de alguma ajuda nos tempos atuais.

Permita-me dizer-lhe que você está equivocado em quase tudo o que diz. Falo assim, tão francamente, porque percebo em você a inexperiência da juventude.
 
Chesterton pouco fala de Maria em sua monumental obra. É verdade que ele fez alguns belos poemas para a Virgem Santíssima e é verdade que ela teve uma grande influência em sua conversão. Já escrevi sobre isso no blog.
 
Mas São Luiz de Montfort, juntamente com Santo Afonso Maria de Ligório, é o grande apóstolo mariano dos últimos três séculos. Seu tratado é uma obra-prima devocional que deve estar na cabeceira de todo católico. Ele diz no livro: “Falo, porém, aos pobres e aos simples que, por serem de boa vontade e terem mais fé que a maior parte dos sábios, creem com mais simplicidade e mérito, e, portanto, contento-me de lhes dizer simplesmente a verdade, sem me preocupar em citar todos os textos latinos, embora mencione alguns, mas sem os rebuscar muito.” Vê que você se equivoca acerca do que São Luiz fala. O Tratado de São Luiz publicado pela Editora Vozes já deve ter mais de 40 edições, o que prova que ele é bem atual e não precisa de nenhuma ajuda para atingir os homens deste nosso tempo.
 
Quanto ao Pe. Faber, temo que você não conheça a obra desse extraordinário servo de Maria. Antes de ler Foot of the Cross, não diga nada sobre ele. A obra dele é imensa e de uma fundamentação teológica e doutrinária irrepreensível. Aliás, Pe. Faber era muito estimado por ninguém menos que Chesterton! Ele também traduziu o Tratado de São Luiz para o inglês e é sua a Introdução da edição da Vozes que tenho.
 
Duas coisas são graves em seu comentário. Primeiro sobre os sedevacantista, que você não devia estar lendo, não saberem citar textos bíblicos em favor de Maria. Ora, quem sabe fazer isso são exatamente São Luiz e Pe. Faber (e claro, Santo Afonso, São Bernado, Santo Agostinho, São Bernardino de Sena, etc.). A segunda coisa é: que história é essa de que milagres não funcionam para quem não os presenciou? Se você é católico, esta frase não pode estar em sua boca! Você não acredita nos milagres de Nosso Senhor? Você não acredita nos milagres dos apóstolos?
 
Minha sugestão a você, Pedro: leia mais Pe. Faber, leia mais São Luiz de Montfort (leia, por exemplo, o Segredo do Rosário, ou Carta Circular aos Amigos da Cruz), leia mais Chesterton e pare de ler os sedevacantistas.

13 comentários:

Augusto Mendes - Brasil disse...

Como já se dizia, é impossível falar tudo de Maria.
É claro que o Pe. Faber não esgotou o que tinha para falar da Virgem Santíssima em apenas uma página. Nem que ele tivesse mil ou dez mil..
Mas já me foi muito útil ler tal paginazinha..
Prof. Angueth, quais livros o Pe. Faber tem sobre Nossa Senhora?

Pedro de Lima disse...

Caro Prof. Angueth,

O senhor não ignora que no livro Hereges há todos os elementos, ou premissas, necessários para argumentar em favor do papel de Maria como descrito no tratado de São Luiz. O senhor me obriga a ser ainda mais pedante do que costumo ser, e explicar que em retórica é preciso conhecer a fundo as premissas do interlocutor. Ora, as premissas que orientam aqueles que não dão crédito ao papel de Maria é justamento o apego a certo senso do "verossímil", mantido por uma razão morbidamente insensível à unidade da experiência. A argumentação de Chesterton era tão irresistível, que mesmo os seus críticos, e homens como Scott Fitzgerald,que não eram exatamente religiosos, o liam avidamente. Coisas simples, que não ocorreram aos H. G. Wells e similares, fazendo que estes parecessem idiotas. E no entanto, quando se argumenta em favor de Maria, não raro, segundo me parece, aquela linguagem e suas premissas, que qualquer um pode aceitar, são deixadas de fora.

Eu bem sei que a obra de São Luiz recebeu ampla divulgação, mas, por exemplo, a devoção dos cinco sábados, que se deveria ver como algo obrigatório, sem falar na própria devoção do tratado, não é muito o número de pessoas que conhece detalhadamente. Eu não conheço, pessoalmente, ninguém que tenha feito a devoção dos cinco sábados até o fim, a não ser que o senhor pessoalmente a tenha feito.

O.K., vou ler o Foot of the Cross.

Eu não conheço esses escritores devotos, talvez apenas um pouco de Santo Agostinho. Mas, se São Luiz atribuiu a si mesmo, de certo modo ou em alguma medida, o revelar o caráter excepcional do papel de Maria, significa isso que a linguagem usada para falar do assunto, até ele, ainda não fora inteiramente adequada ao assunto. Eu confesso que essa posição soa problemática, até porque um Santo Antônio, que fazia tantos milagres, pareceu-me quase tão devoto da Virgem Santíssima quanto o próprio Montfort.

Eu leio apenas, do sedevacantismo, o site Most Holy Family Monastery, e o que tem isso? São Luiz Montfort argumentou, certa vez, que até mesmo um certo herege dissera algo muito verdadeiro sobre Maria, o que significa que ele conhecia bem a opinião do dito-cujo; se você souber de alguma fonte que discuta essas coisas, em favor dos papas, eu sou o primeiro a pedi-la, e a agradecer por isso. Eu quero saber o que está havendo na igreja, e por algum motivo isso parece muito difícil de se conseguir.

Os milagres funcionam perfeitamente bem, mas falar deles, geralmente, é o mesmo que dar a outrem a oportunidade de se irritar.

Acredito nos milagres de Nosso Senhor, e também no dos apóstolos.

Pedro de Lima disse...

Caro Prof. Angueth,

Eu creio que o próprio São Luiz se basearia em Hereges para tecer argumentos, se pudesse. É que nesse interessante livro está a linguagem necessária para se argumentar em favor do que parece inverossímil à razão. A Santíssima Virgem Maria é a criatura mais inverossímil, isto é, mais incompreensível, de Deus.

A minha inexperiência foi muito a propósito apontada, e eu não tenho nenhuma oposição a essa opinião.

Quanto aos sedevacantistas; ora, se o próprio São Luiz argumentou em favor de Maria apontando a opinião de um herege a respeito, porque este dissera qualquer verdade sobre o assunto, significa isso que São Luiz conhecia bem a opinião do homem. Eu, por acidente e curiosidade, também procurei me informar a respeito dessas estranhas opiniões que circulam sobre a Igreja.

Eu também gostei do prefácio do Pe. Faber, e acredito em milagres, moi aussi.

Antônio Emílio Angueth de Araújo disse...

Caro Pedro de Lima,
Salve Maria!

Poxa, estou vivendo uma situação inusitada! Cá estou discutindo com alguém que admira Hereges de Chesterton e eu tendo que ficar do outro lado. Bem, eu convivo com Hereges há muitos anos, como você deve supor. Já escrevi sobre o livro e já falei em várias ocasiões sobre ele. Minha admiração pelo gênio inglês é muito grande.

Isto posto, devo confessar que, depois de sua lição de retórica, entendo agora ainda menos suas premissas. Você fala de Maria como se tudo sobre ela ainda estivesse por ser dito, por ser descoberto, por ser explicado, como se já não houvesse dogmas da Igreja a seu respeito. Há quatro dogmas marianos. Maria não é incompreensível. Deixando de lado, só por um segundo seu papel de Corredentora, Maria é o que Eva foi antes da Queda. Maria é o que todos deveríamos ser se o pecado de nossos primeiros pais não acontecesse. A criação de Maria Santíssima, além de outras muitíssimas coisas, é uma lembrança de Deus, da glória que Ele quis nos dar e nós recusamos. E é também, através da Encarnação que ela possibilitou, uma lembrança da glória vindoura, ela é a nosso Santíssima Corredentora. Ao lado do Homem das Dores, a Mulher das Dores.

Bem, discutir com hereges, aproveitando, se for o caso, seus argumentos e verdades é uma coisa. Lê-los só para ver o que estão falando (não sei se este é o seu caso) é coisa que não se deve fazer, pois não fugir do pecado é já quase cometê-lo.

A devoção dos cinco primeiros sábados nada tem a ver com São Luiz, embora lá do Céu ele certamente nos inveje aqui na Terra, se isso fosse possível, por podermos fazer tal devoção. Essa devoção foi revelada por Nossa Senhora aos pastorzinhos de Fátima. Eu conheço muita gente que fez essa devoção. Sim, e eu já a fiz! Gustavo Corção fala dela com muita emoção. Dependendo do meio em que você vive, de fato, não é surpreendente que você não conheça ninguém que tenha feito. Se você não tiver feito, sugiro que faça o quanto antes. Ah, sim, eu também porto um Escapulário do Carmo, uma devoção muito mais antiga e que talvez carregue aquela inverossimilhança que você vê na Virgem Santíssima.

Ad Iesum per Mariam

Antônio Emílio Angueth de Araújo disse...

Caro Augusto,
Salve Maria!

O grande livro do Pe. Faber sobre Maria é o Foot of the Cross, sobre as sete dores de Maria. É algo simplesmente extraordinário.

Estou traduzindo um pequeno livro de Pe. Faber sobre o Purgatório. Acho que sai ainda este ano publicado por um editora católica; o contrato já está fechado.

Ad Iesum per Mariam.

Pedro de Lima disse...

Caro Prof. Angueth,

Segundo São Luiz (diz aproximadamente), os anjos a miram com admiração e confusão, porque mesmo a eles não foi dado conhecer inteiramente "o segredo dos segredos do Rei". Segundo São Luiz, a posse e o conhecimento da Virgem Santíssima Deus reservou a si mesmo. Talvez se possa dizer que isso foi destacado com mais ênfase no livro O Segredo de Maria.

Há pessoas do meu conhecimento, muito assíduas em comungar, que mal ouviram falar a respeito do tratado, mas talvez, e queira-o Nosso Senhor, essa devoção tenha alcançado mais êxito do que imagino; é quase incrível que eu mesmo a tenha realizado, porque há muito não tenho reunido em mim o empenho necessário para a devoção do tratado. Eu sou um daqueles devotos intermitentes de que fala São Luiz.

Vou procurar saber sobre essa devoção do Escapulário do Carmo. Obrigado.

Antônio Emílio Angueth de Araújo disse...

Caro Pedro,
Salve Maria!

Faço-lhe um convite. Venha assistir à Missa Tridentina. Lá você encontrará muitas pessoas devotas. Além disso, lá você a maior devoção de todas: a devoção ao Sacrifício incruento, que é correta e respeitosamente celebrado segundo o Rito de São Pio V.

Segue as informações da Missa.

Todos os DOMINGOS.
LOCAL: Santa Missa Celebrada na Capela do Colégio Monte Calvário
HORÁRIO: 9h30 (Confissões a partir das 8h30)
ENDERÇO: Av. do Contorno, 9384 (perto do hospital Felicio Rocho) - Barro Preto

Ad Iesum per Mariam.

Pedro de Lima disse...

Caro Prof. Angueth,

Sobretudo nos fins de semana eu sinto uma enorme indisposição física, que torna muito difícil e doloroso o me erguer da cama, e mesmo o permanecer na cama. Enquanto estive em Aracajú com a minha mãe, nos últimos meses, tive o constrangimento físico, e o alívio, de ir à missa aos domingos, porque como eu dispunha de carro era mais fácil. Eu não fui a um médico de certo modo pela mesma razão, indisposição, e acabei por me acomodar a isso. Com rubor nas faces eu lhe asseguro que desejo participar da missa, mas não posso prometer que chegarei lá.

Antônio Emílio Angueth de Araújo disse...

Caro Pedro,

Passe-me seu endereço e telefone(meu e-mail é a.angueth@gmail.com) que tentarei, se você me permitir, te buscar em sua casa para a Missa.

Ad Iesum per Mariam.

Anônimo disse...

Não entendo quando grandes santos dizem que TODAS as graças de Deus passam por Maria. Se me dissessem que A MAIORIA passa, eu entenderia mais facilmente. Mas, prof. Angueth, quando um Santo intercede por nós, mesmo assim a graça passa pela Santíssima Mãe de Deus?

Ricardo2

Pedro de Lima disse...

Caro Prof. Angueth,

Mandei um email pro senhor. A sua gentileza me deixa muito grato, e sem palavras, mas talvez fosse melhor que eu recebesse a ajuda de um amigo que também deveria ir mais vezes, e que tem carro; afinal, se eu não o empurrar para a missa, como o senhor o faz comigo, não me parece que outro fará. Vou combinar com ele sem falta hoje, e fazer uma força.

grande abraço,

Antônio Emílio Angueth de Araújo disse...

Caro Ricardo, veja a resposta a sua pergunta aqui.

Paulo disse...

Dando uma volta pelo site recomendado, me deparei com o Lima...
Questionar S Luís, Pe Faber, até Chesterton...
Parece-me que esse jovem se comporta como quem quer que a razão prevaleça, ficando a fé para depois, assim como os ensinamentos da Igreja, com seus dogmas e ensisnamentos sobre N Senhora!
Que falta de simplicidade e humildade; não acuso, mas aparenta!