13/02/2013

Memento, homo, quia pulvis es, et in pulverem reverteris.

Nota: Leitura absolutamente fundamental para hoje, quarta-feira de cinzas, é o sermão do Pe. Antônio Vieira.
 
O TEMPO DA QUARESMA 

1. Significação deste Tempo. Durante estes quarenta dias os Cristãos se unem intimamente aos sofrimentos e à morte do Divino Salvador, a fim de ressuscitarem com Ele para uma vida nova, nas grandes solenidades pascais.
 
Nos primeiros tempos do Cristianismo esta ideia fundamental achava sua aplicação no Batismo dos catecúmenos e na reconciliação dos penitentes. Por toda a liturgia da Quaresma, a Igreja instruía os pagãos que se preparavam para o Batismo. No sábado santo mergulhava-os nas fontes batismais, de onde saíam para uma vida nova, como Cristo do túmulo. Por sua vez os fiéis, gravemente culpados, deviam fazer penitência pública e cobrir-se de cinzas (Quarta-feira de cinzas), para acharem uma vida nova em Jesus Cristo. Convém reparar nestes dois elementos, para compreender a liturgia da Quaresma e a escolha de muitos textos sagrados.
 
2. Nossa participação neste Tempo. No ofício das Matinas do I. domingo, lemos o sermão que o Papa S. Leão Magno, no século V, dirigiu ao povo, explicando a liturgia da Quaresma: "Sem dúvida, diz ele, os Cristãos nunca deveriam perder de vista estes grandes Mistérios... porém esta virtude é de poucos E preciso contudo que os Cristãos sacudam a poeira do mundo. A sabedoria divina estabeleceu este tempo propício de quarenta dias, a fim de que as nossas almas se pudessem purificar, e por meio de boas obras e jejuns, expiassem as faltas de outros tempos. Inúteis seriam porém os nossos jejuns, se neste tempo os nossos corações se não desapegassem do pecado". 
 
Lendo estas palavras, parece-nos assistir à abertura de um retiro. Com efeito, a Quaresma é o grande retiro anual de toda a família cristã, sob a direção maternal e segundo o método da Santa Igreja. Este retiro terminará pela confissão e comunhão geral de todos os seus filhos, associados assim, realmente, a Ressurreição do Divino Mestre, e ressurgindo por sua vez a uma vida nova.
 
As práticas exteriores que devem desenvolver em nós o espírito do Cristo e unir-nos a seus sofrimentos, são o jejum, a oração e a esmola.
 
O jejum é imposto pela santa Igreja a todos os fiéis, depois de 21 anos completos até atingirem os 60 anos. Seria um engano pernicioso não reconhecer a utilidade desta mortificação corporal. Seria menosprezar o exemplo do próprio Cristo e pecar gravemente contra a autoridade de sua Igreja. O Prefácio da Quaresma nos descreve os efeitos salutares do jejum, e aqueles que por motivos justos são dele dispensados não o estarão do jejum espiritual, isto é, de se privarem de festas, teatros, leituras puramente recreativas, etc.
 
A oração. Assim como a palavra jejum abrange todas as mortificações corporais, da mesma maneira compreende a palavra oração todos os exercícios de piedade feitos neste tempo, com um recolhimento particular, como sejam: a assistência à santa Missa, a Comunhão frequente, a leitura de bons livros, a meditação especialmente da Paixão de Jesus Cristo, a Via Sacra e a assistência às pregações quaresmais.
 
A esmola compreende as obras de misericórdia para com o próximo. Já no Antigo Testamento está dito: "Mais vale a oração acompanhada do jejum e da esmola do que amontoar tesouros" (Tob. 12, 8).
 
Praticando essas obras, preparavam-se antigamente os catecúmenos / para o Batismo que iam receber no sábado de Aleluia, enquanto os penitentes públicos se submeteram a elas com espírito de dor e arrependimento de coração. Saibamos também nós que aquele que não faz penitência perecerá para toda a eternidade (Luc. 13, 3).
 
Renovemos era nós a graça do Batismo e façamos dignos frutos de penitência. Os textos das Missas, a cada passo nos exortam a isto.
 
Convém entretanto evitar que a nossa piedade seja excitada por compaixão sentimental ou tristeza exagerada. Sim, é um combate, uma morte terrível que vamos contemplar, mas é também, e sobretudo, uma vitória, um triunfo. Em verdade assistiremos a uma luta gigantesca do homem novo; ouviremos os seus gemidos, seguiremos os seus passos sangrentos, contaremos todos os seus ossos; mas isto é apenas um episódio de sua vida; o desenlace é um grito de vitória, um canto de triunfo.
 
3. Particularidades deste Tempo. A cor dos paramentos é a violácea. Omite-se completamente o Aleluia, e o Glória só se canta nas festas dos Santos. Os altares são despojados dos seus enfeites e o órgão se cala, menos no IV Domingo. No fim das Missas do Tempo, o Sacerdote diz: Benedicámus Domino, em vez de Ite, Missa est, para exortar os fiéis a perseverarem na oração. 
 
Cada dia deste tempo tem a sua "estação", com indulgências especiais e uma liturgia própria, cujos Cânticos e Leituras nos incitam à penitência e à conversão, enquanto as Orações imploram para nós o perdão e a graça.
 

In Missal Quotidiano, D. Beda Keckeisen, O.S.B., Tipografia Beneditina, LTDA, Bahia, junho de 1957.

2 comentários:

Anônimo disse...

Prezado Angueth,
O link para ler o sermão da quarta-feira de cinzas de 1672direciona para um outro sermão, parecido alías, de Pe. Antonio Vieira: o sermão da quarta de cinzas de 1673.
Você teria o link desse primeiro sermão, ao qual você se refere?
Grato,
Luiz

Antônio Emílio Angueth de Araújo disse...

Caro Luiz,
Salve Maria!

Links modificados e funcionando.

Obrigado.

Ad Iesum per Mariam.