18/05/2012

A Santíssima Virgem Maria: implicações de uma recente descoberta científica

Robert J. Siscoe
THE REMNANT, 10/05/2012
Tradução autorizada

O mês de maio é dedicado à Santíssima Virgem Maria, Mãe de Deus. Neste artigo, consideraremos uma recente descoberta científica, que pode ter revelado um privilégio até aqui desconhecido concedido à Virgem Maria, como resultado de seu excelso papel de Mãe de Deus.

Antes de qualquer coisa, respondamos à pergunta: É apropriado nos referirmos à Santíssima Mãe como Mãe de Deus? Não seria mais apropriado nos referirmos a ela como mãe de Jesus? Afinal, alguns podem perguntar: se Deus existia antes de Maria, como ela pode ser Mãe de Deus?

Ao dizer que Maria é Mãe de Deus, a Igreja não tem a intenção de afirmar que ela seja a Mãe de Santíssima Trindade, ou que ela participou da criação da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. O título Mãe de Deus é diretamente relacionado à divindade da Pessoa de Jesus Cristo. Maria é a Mãe de Deus porque Jesus, de quem ela é mãe, é Deus Encarnado.

Jesus Cristo é uma Pessoa – a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade – com duas naturezas distintas: a Natureza Divina, que Ele possui por toda a eternidade, juntamente com o Pai e o Espírito Santo, e uma natureza humana, recebida, no tempo, da Santíssima Virgem Maria.

A Santíssima Mãe, que deu a Jesus Cristo sua natureza humana, deu a luz, não meramente a uma natureza, mas a uma Pessoa. E como a Pessoa de Jesus é Deus, deduz-se que Maria, Sua mãe, é a Mãe de Deus. Negar a Divina Maternidade da Virgem Maria é negar a Sagrada Humanidade de Jesus.

O glorioso papel da Virgem Maria como Mãe de Deus Encarnado, o Redentor e Salvador dos homens, trouxe com ele certos privilégios. Como Maria proveria à Segunda Pessoa da Santíssima Trindade Sua natureza humana – uma natureza livre de todo o pecado – seria apropriado que a própria Maria fosse concebida sem qualquer mancha de pecado. Os cientistas podem demonstrar que nossas ações têm um efeito em nossa natureza, em nosso DNA. Uma mulher viciada em drogas pode transmitir à criança os mesmos vícios. Repetidas ações, boas ou más, podem também afetar nossa natureza humana, o que resulta em que inclinações dos pais, boas ou más, passam aos filhos. Como Jesus Cristo, nosso Rei, deveria receber sua natureza humana, seu DNA, da Santíssima Mãe, seria apropriado que a carne da Mãe fosse sem a mínima mancha de pecado. Assim, a Virgem Mãe recebeu o privilégio da Imaculada Conceição.

Os incríveis progressos feitos na área da biologia nas últimas décadas possibilitaram a descoberta de um fato fascinante, que pode ter revelado um privilégio verdadeiramente incrível recebido pela Santíssima Virgem Maria. Antes de discutir essa descoberta, e de como ela se relaciona à Virgem Santíssima, examinemos um ensinamento da Igreja acerca da união hipostática.

O termo união hipostática se refere à união das duas naturezas de Jesus – a humana e a divina – numa só Sagrada Pessoa do Verbo de Deus. Por causa da união hipostática, toda a natureza humana de Jesus, tanto o corpo quanto a alma, estava unida ao Verbo de Deus, de tal forma que quando Seu corpo e alma foram separados na morte, Seu corpo, enquanto ainda no sepulcro, permanecia unido ao Verbo de Deus. Isso mostra que a união hipostática não é somente a união entre o Verbo de Deus e a alma humana de Jesus, mas é também a união do Verbo de Deus com o corpo de Jesus – mesmo quando o corpo e a alma estão separados. Com isso em mente, consideremos uma recente descoberta científica na área das células-tronco fetais.

Em dezembro de 2007, Roberto Krulwich, do NPR, entrevistou o Dr. Kirby Johnson, professor e pesquisador da Universidade de Tufts, acerca da recente descoberta de que as células-tronco fetais de um bebê permaneciam dentro da mãe depois do nascimento. Em vez de serem atacadas rapidamente pelo sistema imunológico da mãe, como seria de se esperar, foi descoberto que as células-tronco sobreviviam por décadas.

O que se segue é um excerto da entrevista:

O que você diria se lhe contassem que quando uma mulher tem um bebê, ela ganha não só um filho ou filha, mas também um exército de células protetoras – presentes de sua criança, que permanecerá nela e a defenderá pelo resto da vida? É uma ideia sedutoramente bela e os cientistas que a propõem preocupam-se por ela ser excessivamente bela.

KRULWICH: Pensava-se por anos que tão logo um bebê fosse concebido, uma vez que começasse a crescer dentro da mãe, ele conseguisse seu próprio espaço privativo.
Dr. KIRBY JOHNSON, PH.D.: Sim, a placenta.
KRULWICH: Exato.
Dr. JOHNSON.: Considerava-se que a placenta fosse uma barreira dificilmente penetrável. (...)
KRULWICH: ... E eis a surpresa! Quando cientistas da Tufts coletaram sangue de mães grávidas...
Dr. JOHNSON.:Nós encontramos, por exemplo, numa colher de chá de sangue, dúzias, talvez centenas de células.
KRULWICH: Do bebê?
Dr. JOHNSON: Do bebê.
KRULWICH: Então, células dos bebês estavam vazando da placenta para dentro das mães. Mas, como os bebês têm genes diferentes...
Dr. JOHNSON: Esperar-se-ia que elas seriam atacadas muito rapidamente, dentro de dias, para não dizer horas. O que descobrimos é que isto não acontece absolutamente.
KRULWICH: Constatou-se que as células dos bebês permanecem em suas mães, não por dias ou semanas, mas por décadas.
Dr. JOHNSON: Quatro ou cinco décadas após a última gravidez.
KRULWICH: Então, 40 anos depois da concepção, aquele filho ou filha que pode ser um farmacêutico de meia idade, tem ainda suas células flutuando dentro da mãe?
Dr. JOHNSON: Sim.
KRULWICH: Mesmo dentro de uma mãe de 60 anos de idade? 70?
Dr. JOHNSON: 70, 80, talvez 90 anos de idade.
KRULWICH: O senhor está certo disto?
Dr. JOHNSON: Absolutamente.

Então, segundo esta descoberta, as células-tronco de Jesus Cristo, Deus Encarnado, teriam permanecido dentro da Santíssima Mãe. Lembre-se que essas células diferem das outras células: em vez de serem “atacadas e mortas” dentro de poucos dias, elas mantêm suas identidades específicas por décadas. Agora, se consideramos a doutrina da união hipostática, que nos ensina que a carne de Jesus permanece unida ao Verbo de Deus, mesmo quando está separada da alma, há razão para acreditar que as células-tronco que permaneceram em Maria, teriam continuado a estar unidas ao Verbo de Deus.

Isto significaria que, não somente a alma de Maria seria um “templo do Espírito Santo” (1Cor 6:19), mas também seu corpo teria sido um “tabernáculo do Altíssimo” (Sl 46:5) – isto é, um tabernáculo vivo do Verbo de Deus. Não somente sua alma “participa da natureza Divina” (2Pd 1:4) (o que ocorre com todos que estão em estado de graça), mas seu corpo teria “participado” da união hipostática, por meio da posse da própria carne de seu Filho, Deus Encarnado.

Isso tudo não traria novo entendimento acerca da razão da Assunção do corpo de Nossa Senhora aos céus? Afinal, seria apropriado que Deus deixasse o corpo dela, divinizado por participação, na terra, enquanto sua Alma gloriosa estivesse no céu?

Mas esse assunto é um território inexplorado, e como tal, sobre ele não afirmo nada com certeza. Contudo, é certamente um assunto fascinante para investigação e consideração adicionais. Por agora, fiquemos com as palavras de Santo Atanásio:

Ó nobre Virgem, vós sois verdadeiramente maior que qualquer outra grandeza. Pois quem pode ser-vos igual em grandeza, ó morada do Verbo Divino? A quem, dentre as criaturas, posso comparar-vos, ó Virgem? Vós sois maior que todas elas, ó Arca da Aliança, vestida de pureza em vez de ouro! Vós sois a Arca em que foi encontrado o pote dourado contendo o verdadeiro maná, isto é, a Carne em que a Divindade reside.

9 comentários:

Israel TL disse...

Excelente postagem, professor!

No sexto parágrafo, o senhor não quis escrever Mãe ao invés de "Mão"?

Um abraço, e que Nossa Senhora o abençoe!

Roberto disse...

Caro Professor Angueth, sou católico e admirador de seu blog.
Este trecho me deixou pensativo:

"Os cientistas podem demonstrar que nossas ações têm um efeito em nossa natureza, em nosso DNA. Uma mulher viciada em drogas pode transmitir à criança os mesmos vícios. Repetidas ações, boas ou más, podem também afetar nossa natureza humana, o que resulta em que inclinações dos pais, boas ou más, passam aos filhos."

Onde posso encontrar literatura sobre isso. Há respaldo disso onde? Pensei que só fossem transmitidos caracteres biológicos, como assim as ações ou comportamentos podem ser transmitidos?
Um abraço, obrigado.

Antônio Emílio Angueth de Araújo disse...

Caro Israel, já corrigi. Obrigado.

Caro Roberto, penso como você. Há uma pequena imprecisão no texto em relação à herança genética.

Ad Iesum per Mariam.

Roberto disse...

Aí não entraria propriamente no ramo da psicologia. Caracteristicas psicológicas poderem ser transmitidas, por exemplo, sobre aquela teoria (ou teoria comprovada, não sei) de que a mãe transmite sensações, reações de vivências ao feto... pensei nisso também.
Um abraço.

Marcos Paulo disse...

Pax!
Salve Maria.
Lipot Szondi trata deste assunto. Um ótimo começo é este artigo do professor Olavo:
"O carma familiar, chave do destino humano?"(http://dennymarquesani.sites.uol.com.br/semana/carma.htm
Em JMJ
Marcos Paulo.

Unknown disse...

Antonio e Marcos,mas no fim das contas o que Lipot Szondi diz não é a mera constatação da mancha do pecado original que trazemos em nós e que gera todas estas coisas desordenadas que temos dentro de nós? E dai a necessidade de nossa conversação e nos colocarmos em estado de graça pelos sacramentos reconhecendo assim nossa pequenez e necessidade do auxilio das graças de Nosso Senhor?

Muito bom o post,Antonio.Gostei de saber que vai melhorar o equipamento.No post da última palestra quase comentei pedindo para você aproximar mais o microfone para melhor captar sua voz e afastar os sons que vem da rua.

Fiquem com Deus.

Flavio.

Unknown disse...

Antonio e Marcos,

Mas o que diz o Szondi não é a mera constatação da mancha do pecado original que gera essas coisas desordenadas que trazemos dentro de nós?Dai a necessidade de termos consciência de nossas misérias e nossa pequenez,nos convertermos e nos colocarmos em estado de graça atravês dos sacramentos e com isso, com a graça de Deus,combatermos e nos afastarmos destas coisas desordenadas que o pecado original gerou em nós?

Fiquem com Deus.

Flavio.

Anônimo disse...

http://www.veritatis.com.br/article/3153

http://www.veritatis.com.br/article/3221

Há também um outro "argumento inverso": se Cristo compartilhava da carne de Maria Virgem, e Cristo não padeceu da corrupção do Corpo pela sua excelsa dignidade, seria adequado, próprio, justo e necessário que a SSma Virgem também não padecesse de tal situação!

Com amizade;

MMLPimenta

P.S.: Professor, e os livros de Chesterton, quando virão a lume?...

Antônio Emílio Angueth de Araújo disse...

Caro Marcus,
Salve Maria!

Sobre os livros de Chesterton: tem um quase saindo do forno; já devia ter saído, na verdade. O outro ainda demora uns seis meses.

Obrigado por perguntar.
Ad Iesum per Mariam.