07/12/2011

50 anos de Vaticano II: Dom Mayer nos ajuda a entender a confusão II.

________________________________

Vigário de Cristo
Monitor Campista, 17/10/1982
O Pensamento de Dom Antônio Castro Mayer: textos selecionados (1972-1989)
Editora Permanência, 2010.
***

É como identificamos o Papa. Assim o definem concílios, como o de Florença e o Primeiro do Vaticano.

Como Vigário de Jesus Cristo, o Papa é o chefe da Igreja. Jesus edificou sua Igreja sobre a rocha de Pedro, e o Papa é o sucessor de São Pedro no cargo de Chefe. Daí a frase ubi Petrus ibi Ecclesia, para dizer que onde está o Papa aí está a Igreja. Eis que o Primeiro Concílio do Vaticano destaca que ao Papa se deve obediência não somente nas questões de Fé e Costumes, mas também nas relativas à disciplina e ao governo da Igreja, e declara que na comunhão com o Papa conservamos a união com a Igreja.

Com efeito, o Papa é essencialmente o Vigário de Jesus Cristo. Em outras palavras, ele assume a Pessoa de Jesus Cristo. Ele faz suas vezes. Deve-se-lhe o acatamento e a obediência que se presta a Jesus Cristo, de quem ele representa o Seu poder, porém, sua jurisdição é vicária. De si, ela é de Jesus Cristo, pois como escrevia o Papa Inocência III ao Patriarca de Constantinopla em 12 de novembro de 1199, “o primeiro e precípuo fundamento da Igreja é Jesus Cristo”. O Divino Salvador, no entanto, confiou seu poder ao Papa: “Como meu Pai me enviou, Eu vos envio” – disse Ele aos apóstolos, especialmente ao chefe deles, São Pedro. Esta outorga foi de modo permanente, e para sempre, para que o Papa o exerça em seu lugar, fazendo-lhes as vezes, vices eius gerens.

Este aspecto é essencial ao papado. Não pode ser olvidado. Seu esquecimento pode ter nefastas conseqüências. Pode levar a pessoa a pensar que o Papa é o dono da Igreja, que pode fazer o que quiser, mandar e desmandar o que melhor lhe pareça, estando os fiéis obrigados sempre a simplesmente obedecer. Refletindo um pouco, vê-se que esta concepção atribui ao Papa a onisciência e a onipotência que são atributos exclusivos de Deus. Outra coisa não faz a idolatria que transfere à criatura o que é peculiar à divindade.

Por esse motivo, o Primeiro Concílio do Vaticano, ao definir os poderes do Papa, tomou o cuidado de definir também sua finalidade e seus limites. Deve o Papa conservar intacta a Igreja de Cristo, através da qual o Divino Salvador torna perene sua obra de salvação. Manterá, pois, a estrutura da Santa Igreja como o Senhor a constitui, e velará para conservar e transmitir intacta a Fé e a Moral recebida da Tradição Apostólica. Para este fim e dentro destes limites, goza o Papa da assistência divina que lhe assegura a impossibilidade de errar e desorientar os fiéis sempre que definir um ponto de Fé e Moral.

Não é despropósito pensar que, precisamente para fixar bem o poder vigário do Papa, tenha a Providência permitido que, no trono de São Pedro, se tenha assentado indivíduos em cuja doutrina e/ou procedimento encontram-se pontos gravemente prejudiciais à Fé e/ou à Moral. Não ensinavam com sua autoridade suprema e definindo matéria de Fé, ou davam mau exemplo com seu modo de proceder. Explica-se assim o julgamento emitido sobre Honório I quer pelo Terceiro Concílio de Constantinopla, quer por São Leão II, ou seja, que ele (Honório I) “com profana traição permitiu que se maculasse a imaculada Fé desta Igreja Apostólica”. E de modo semelhante, verificaram-se fatos dolorosos na História da Igreja.

Resistir a tais ensinamentos e maus exemplos não é recusar a obediência ao Papa, ou à sua pessoa. Quem assim procede conserva sua adesão ao Vigário de Jesus Cristo. E é somente como Vigário de Jesus Cristo que o Papa é dotado de poderes e jurisdição em toda a Igreja. De onde os padres de Campos, ao recusarem a nova missa não estão recusando nem João Paulo II, nem a Comunhão com toda a Igreja, uma vez que a nova missa é prejudicial à Fé, pois, entre outros pontos, na sua ambigüidade, não se destaca suficientemente da heresia protestante.

Um comentário:

Israel TL disse...

Talvez Deus permita que maus papas governem a Igreja às vezes para nos mostrar que é Ele que a mantém firme ao longo dos séculos.

O fato de que nem todos os Papas sejam santos e perfeitos nos ensina a depositar nossa confiança em Deus e não nos homens.