28/11/2011

50 anos de Vaticano II: Dom Mayer nos ajuda a entender a confusão.

Muitos, mais jovens, talvez nunca tenham ouvido um bispo de verdade, um bispo falando “sim sim não não” (Mt.5,37), um bispo que fosse um digno sucessor dos apóstolos, um bispo que não dissesse por exemplo: “A gente não pode dizer que só se salvam aqueles que são católicos”. Ou, se quiserem mais um exemplo, este do Arcebispo de Belo Horizonte, vejam este artigo. Pode haver coisa mais dúbia, mais “talvez talvez”? Uma frase apenas: “Ser bom é ser honesto. É alavancar projetos que produzem vida e fecundam a cidadania com valores, que não se reduzem às posses.”

Bem, esta é a fala atual de nossos bispos; quando não pastosa, francamente herética. Não assim com Dom Antônio Castro Mayer, bispo de Campos e um grande homem de Deus. Nas décadas de 1970 e 1980, o pastor procurou ensinar suas ovelhas tudo sobre a crise conciliar e sobre a sua dimensão. Ensinar de modo simples, de modo claro, de modo preciso; estes os objetivos de Dom Mayer. Abaixo transcrevo um de seus textos em que ele explica a relação do Papa com a Igreja. Faço isso em conexão com recentes discussões no blog a respeito do assunto.

Insisto com os leitores que a crise é grande, complexa e de difícil compreensão, pois envolve discussões doutrinárias e teológicas de peso. Já comentei uma lista de livros que dá ao leitor a correta compreensão da crise. Aos pouquinhos, vou publicando alguns artigos de Dom Mayer para clarear a confusão na cabeça de muitos.

Note, sobre o artigo que vai abaixo, que ele é anterior ao famigerado Encontro de Assis de 1986, que tanto escândalo provocou na Igreja, mas menciona o já então evidente “interconfessionalismo” de João Paulo II.

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Papa-Igreja
Monitor Campista, 22/07/1984
O Pensamento de Dom Antônio Castro Mayer: textos selecionados (1972-1989)
Editora Permanência, 2010.
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Os aforismos são uma espécie de comprimidos. Concentram numa frase curta todo um corpo de doutrina. Mas, por seu próprio laconismo, podem dar margem a concepções errôneas. Em Eclesiologia, é conhecido o adágio ubi Petrus ibi Ecclesia – onde Pedro, aí a Igreja – que se completa com outro, ubi Papa, Petrus – onde o Papa, aí Pedro. Estas duas simples expressões compendiam a Revelação sobre a Igreja de Deus, constante das palavras proferidas por Jesus Cristo, em Cesaréia de Felipe: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” acrescidas destas outras ditas pelo Salvador, ao se despedir dos apóstolos: “Eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos” (Mt. 28, 30).

Nem sempre se atenta para o significado preciso dos termos Pedro e Papa. Esta negligência pode levar a conclusões absurdas. Se, sem atenuante alguma, identifica-se a pessoa física de Pedro com a rocha, sobre a qual Jesus edificou a sua Igreja, de maneira que sempre onde se tivesse a pessoa física do Príncipe dos Apóstolos aí estivesse a Igreja, chegar-se-ia à conclusão que, já no seu nascedouro, a Igreja teria apostatado de sua pedra angular, Cristo Jesus. Pois foi, conforme narra São Marcos (14, 71), o que fez São Pedro, amedrontado pela porteira do Sinédrio quando ali compareceu o Divino Mestre, preso diante de Anás e Caifás. E São Pedro apostatou de maneira solene: com juramentos e anátemas!

A conclusão semelhante se chega, se se admite, de modo absoluto, que onde está o Papa, aí está Pedro, aí está a Igreja. A grande prerrogativa do Papa, como chefe da Igreja, é a infalibilidade. Ora, a infalibilidade não torna o Papa impecável, e ela está sujeita a umas condições que, uma vez não verificadas, deixam o Sumo Pontífice sujeito aos azares da fragilidade humana; de maneira que, mesmo agindo como Papa, pode enganar-se e levar outros ao erro. Cita-se, neste ponto, a atitude de São Pedro, repreendido publicamente por São Paulo, porque Antioquia, então, era a sede primacial da Igreja (daí é que ela passou para Roma). Mais concludente é o exemplo de Honório I, Papa de 625 a 638, que foi censurado pelo Terceiro Concílio de Constantinopla (DS. 552) e pelo Papa São Leão II porque “(...) permitiu, por uma profana traição, que se maculasse a imaculada Fé desta Igreja apostólica” (DS. 563 [grifo nosso]).

Estas reflexões, tenha-as o fiel presentes, especialmente nos dias que correm, em que o Concílio Vaticano II teria aberto uma “nova etapa” para a Igreja, do conúbio amigável com a heresia! Servem também para elidir as acusações, fruto da ignorância ou má fé, ou de ambas, contra os que rejeitam o interconfessionalismo de João Paulo II, porque crêem no dogma da Fé: fora da Igreja não há salvação (Conc. Latrão IV, DS. 802).

3 comentários:

Anacoreta, o Penitente disse...

Verdade!

O clero hoje parece os documentos do Vaticano II e posteriores: falta objetividade, clareza, boa doutrina e declarações unívocas.

Por isso, muita gente prefere gritaria dos "pastores" ao palavrório sem sentido dos nossos padres e bispos. Ficar seguindo filósofos ateus e prolixos ao invés de ler os Padres da Igreja dá é nisso...

Israel TL disse...

Minha sabedoria é escassa, e muito facilmente posso estar enganado: o que entendi no texto de Dom Mayer, é que o Papa não deixa de ser Papa por estar errado, como nos mostra o exemplo de São Pedro quando negou Cristo. Isso derruba as teses sedevacantistas.

Ah, que falta nos faz um Dom Antônio Mayer!

Antonio Emilio Angueth de Araujo disse...

Caro Israel,
Salve Maria!

Não é coincidência que um sedevacantista raivoso e, claro, orgulhoso de si, me escreveu, acusando D. Mayer de galicano-jansenismo. Imagina, um sedevacantista acusando um bispo de galicanismo!

Sedevacantismo é doença da alma de que não se conhece a cura.

Em JMJ.