08/08/2013

Leitor pergunta: mas os bispos não podem dancar de alegria?


 
Eu não sei. Eu não sei. Sou leitor do blog, e adepto da tradição. Minha esposa (somos recém-casados) só agora tem conhecido os problemas do Vaticano II e as diferentes visões que ele causou. Muito tenho mostrado a ela em sites e blogs da tradição. Muita coisa ela concorda, outras não, e de vez em quando tenho que dar a mão à palmatória a ela. Por exemplo nesse caso, ela vê muito exagero nesse tipo de condenação. Não era um momento de descontração e de alegria? não era apenas uma brincadeira dos bispos? Qual o problema de uma vez na vida eles fazerem isso? Nosso Senhor não participava de festas como mesmo diz as Escrituras? Att, Alerj.
 
Caro Alerj, não dê a mão tão rapidamente à palmatória. Sua esposa, permita-me respeitosamente dizer, está errada. Uma frase memorável de Olavo de Carvalho diz: “uma lei constitutiva da mente humana concede ao erro o privilégio de poder ser mais breve do que a sua retificação.” Pois é, estamos diante de tal fato. Sua esposa pergunta: “Não era um momento de descontração e de alegria? não era apenas uma brincadeira dos bispos? Qual o problema de uma vez na vida eles fazerem isso? Nosso Senhor não participava de festas como mesmo diz as Escrituras?”  
 
Primeiramente, Nosso Senhor participou das Bodas de Caná e lá, ao invés de dançar, transformou a água em vinho. Depois, há uma diferença em participar de festas e de cometer atos contra a moral, a decência, a prudência, a pureza. Outra coisa, o católico não se descontrai nunca. Nosso Senhor já nos ensinou: "Vigiai e orai para não cairdes em tentação! O espírito está pronto, sim, mas a carne é fraca." (Mt 26, 41). Se é para estarmos sempre vigilantes, não podemos nos descontrair. Além disso, como podemos fazê-lo se estamos constantemente sob o olhar do Altíssimo. Como bem diz Bernanos, em Diário de um Pároco de Aldeia, “Mas qual é o peso de nossas chances, para nós que aceitamos, de uma vez por todas, a assustadora presença do divino em cada instante de nossas pobres vidas?” 
 
Mas, quer dizer então que não podemos ser alegres? Podemos. Não só podemos ser alegres, como somos obrigados a sê-lo, por consequência lógica de nossa Fé. Se acreditamos no que Nosso Senhor nos prometeu – “Porque, onde estão dois ou três reunidos em Meu Nome, aí estou eu no meio deles” (Mt 18,20) –, se acreditarmos que Nosso Senhor Se oferece a nós em cada Sacrário da Terra e em cada Hóstia Consagrada, se acreditarmos na Comunhão dos Santos – que é simplesmente um manancial de graças em que podemos mergulhar –, se acreditarmos que a Virgem Santíssima nos estende Sua Mão cheia de graças permanentemente, se acreditarmos em tudo isso, temos a obrigação de nos alegrar, mesmo neste vale de lágrimas, mesmo com a “assustadora presença do divino” em nossas vidas.  
 
Mas quão diferente deve ser a alegria católica de todas as outras alegrias. Quão diferente deve ser a dança católica de todas as outras danças. Quão diferente deve ser nosso comportamento do comportamento do mundo. Toda vez que presenciarmos um católico com um comportamento parecido com o do mundo, devemos nos retrair: o príncipe do mundo é o demônio. 
 
Por que nos escandalizarmos com a dança dos bispos? Ora, porque é a dança do mundo, é a dança do príncipe do mundo, e eles são os príncipes da Igreja. A alegria de um bispo não pode ser exteriorizada por meio de uma dança do mundo; é só isso. Sem mencionar, é claro, a respeito de quem estava liderando a dança dos bispos.

Por isso sua esposa, caro Alerj, está errada.
 
Obrigado por seu comentário. Espero ter esclarecido a posição do blog.

9 comentários:

Anônimo disse...


"Quantas profanações... São Bispos, Sucessores dos Apóstolos, e se Eles próprios se comportam de forma avessa à dignidade episcopal que carregam em virtude do Sacramento da Ordem, Eles são os primeiros profanadores. Enquanto a única coisa que importa para essa juventude é a farra e algazarra "cristãs", o Sagrado é profanado aos olhos de quem quiser e puder ver.

A nobreza dos Ministros de Deus reduziu-se a migalhas. A Majestade, que deveria ser característica em cada um desses Bispos, rebaixou-se ao grau mais insignificante diante dos fiéis. A cada situação, a cada acontecimento vergonhoso como este, a Igreja vai perdendo seus sinais de grandeza, de respeito, de autoridade, de instituição divina fundada pelo próprio Deus.

A Barca de Pedro está sendo massacrada, literalmente destruída, enquanto a maioria a bordo bate palmas e festeja a própria decadência." ( Carlos Wolkartt )

Anônimo disse...

Mesmo abstraindo a posição hierárquica desses bispos dentro da nossa Igreja, esta dança seria ridícula por si só. Seria ridícula, mesmo que fosse praticada em um baile da terceira idade em um asilo habitado apenas por ateus...
Robson di Cola

Luiz Alberto Mezzomo disse...

Inclua na resposta a falta do senso do ridículo. Os Bispos são autoridades eclesiais; assim, mesmo em momentos de descontração, devem manter a postura condigna ao cargo.

Anônimo disse...

Prezado Professor.

Salve Maria.

Pode ser provocação minha mas não é. O que o senhor diria do saudoso D. Antônio de Castro Mayer, sendo bispo, tinha o hábito de jogar ping pong com os seus seminaristas e às vezes se distraia chutando uma bola para que um cachorrinho, que era criado na sede episcopal ou seminário, fosse atrás buscar? Já li sobre isso e um conhecido meu, que frequentava o seminário sem ser seminarista quando D. Mayer era vivo, contou-me.

Até mais.

Salve Maria.
André(pseudônimo)

Anônimo disse...

Caro Prof. Angueth, Salve Maria Imaculada!

Escrevo só para pedir ao senhor, que talvez tenha contato com o Sidney Silveira, para postar no Contra Impugnantes que tem reprise do programa que ele participou no Canal Futura no Domingo às 23hs, pode alguém ter interesse e querer ver lá.

Mais uma obrigado, aproveito pra perguntar se o senhor tem disponibilidade de, num futuro ainda distante, fazer uma visita ao Ceará - Juazeiro do Norte para nos brindar com algumas de suas palestras, sobre os santos ou sobre a Missa Tridentina, etc.

Um abraço. E já que o senhor pode ir a Missa de S. Pio V sempre reze por nós lá!

Att,

Wendell de Oliveira Freire

PS: Desculpe ter escrito aqui, mas como não tenho o email do senhor foi o o meio que achei.

Antônio Emílio Angueth de Araújo disse...

Caro Wendell,
Salve Maria!

Já passei para o Sidney a informação. Muito obrigado.

Puxa, se eu for no Ceará, que não conheço, certamente reservarei um tempo para passar em Juazeiro do Norte. Deus lhe pague pelo convite.

Ad Iesum per Mariam.

Pedro de Lima disse...

Existe uma conduta uniforme, num plano mais universal, que caracteriza a Igreja pós-conciliar: é uma certa tolerância humilhante. Não só diante do modernismo, mas conforme menciona o Romano Amerio, os ortodoxos não têm nenhum escrúpulo em tratar uma comissão de bispos e cardeais como um pedaço de estrume, e estes lhes beijam as botas em troca.

Se há alguma coisa que pareceu clara, em Romano Amerio, é que houve um enorme esforço para não entrar em conflito justamente porque o conflito havia necessariamente de acontecer. Amerio erra em alguns pontos, por exemplo a diminuição de vocações sacerdotais não tem haver com perda de fé, ou pelo menos só com isso, mas sim, como mostrou o jornalista Michael Rose, com uma gigantesca operação de boicote e descarte dos seminaristas conservadores. No geral, porém, ele parece razoável em apontar o encolhimento da Igreja diante de tudo mais. Por que esse encolhimento? Por causa da infiltração maciça de inimigos que pareciam prefigurar uma situação cismática? Era por conta desse quadro que, às delicadas correções do então Cardeal Ratzinger nos '70, em questões de doutrina, bispos franceses respondessem com comentários sarcásticos e debochados que calavam o primeiro e o faziam retratar-se?

Leonardo disse...

Caro Professor,

Salve Maria!
Depois que fiquei sabendo da "missa sertaneja" na Canção Nova com direito a bizarrices impublicáveis, concluí que a situação sempre pode piorar.

Até que ponto vamos chegar?

Um abraço!

Leonardo.

jofap disse...

Caro Antônio. Salve Maria! Eu frequento o teu blog a pouco mais de 1 ano, o suficiente para admirá-lo (Cherterton que o diga!). Gostaria de dizer-lhe que eu e a minha esposa nos enquadramos num cenário parecido com a do nobre Alerj e sua esposa. A minha esposa tem uma espiritualidade mais "prática" e eu tenho uma visão mais ortodoxa das coisas da Igreja. Por ela ser bacharela em direito, usei como argumento os magistrados. Disse a ela, imagine uma corte de Juízes, Ministros do STF ou Desembargadores dançando assim, com suas togas num evento oficial. Seria plausível? (...) Ela entendeu, mas pontuou que a crítica estava desproporcional ao fato. Pois bem, alguns dias se passaram e ao assistirmos a Missa (Tridentina) num Mosteiro da cidade, questionei sobre a possibilidade do Prior Beneditino que estava a celebrar a referida Missa, se ele conseguiria imaginá-lo coro da malfadada dança. Ela me respondeu sem titubear: seria impossível. (...) Eu quis tornar público este pequeno acontecimento da minha própria vida, porque acredito que a maioria do nosso povo Católico não tem maturidade espiritual para assimilar argumentos teológicos. Neste contexto, podemos dizer que a Igreja precisa de mais Bentos XVI do quê de Franciscos I. Em outras palavras, é preciso recatequizar os padres (e talvez tenhamos um passo anterior, que seria catequizar os bispos), para que estes catequizem os Católicos Fiéis e só então poderemos nos dar ao luxo de catequizar os que estão fora da Igreja. (...) Para Deus nada é impossível. Contudo, os meus olhos humanos e pecadores não veem um horizonte muito bonito para a nossa Igreja, que deverá encolher cada vez mais. Um forte abraço, J. Fábio.