Recebo, por meio de leitores, a informação de que o
prestigioso blog Deus lo vult! decidiu perder seu precioso tempo com um artigo deste modesto blog. O texto
do blog objetiva responder a dois outros textos, um dos quais do Blog do
Angueth. Responderei, por razões óbvias, só a esta parte do comentário.
O blogueiro afirma, logo de início que: “uma coisa é a
redenção objetiva e, outra, a redenção subjetiva”. Bem, esta escolha de
palavras não me agrada por suas reverberações kantianas. Eu prefiro dizer, se
for para dizer algo sobre este mistério insondável, que há uma redenção em
potencial e outra em ato. Prefiro o estagirita ao filósofo de Königsberg.
A redenção em potencial está esperando que a coloquemos em
ato. Como nos ensina Aristóteles, tudo que existe em potencial só se transforma
em ato por meio de alguma coisa em ato; precisamos que nossos atos coloquem,
por assim dizer, a Redenção, que nos foi oferecida pela Paixão de Nosso Senhor,
também em ato. Como fazer isso, Jesus nos ensinou de várias maneiras: por
exemplo, no Evangelho da Festa do Corpo de Deus: “Minha Carne é verdadeiramente
comida e meu Sangue é verdadeiramente bebida. Quem come a minha Carne e bebe o
meu Sangue, permanece em mim e eu nele.” Ou seja, comer Sua Carne e beber Seu
Sangue é a forma de colocar a Redenção em ato. Ou seja, só por meio de Sua
Igreja e de Seus Sacramentos, tomamos posse da Redenção.
Mas voltemos ao “pro multis” e ao “pro omnibus”. Jesus,
realista como era, pois Criador de toda a realidade, disse “pro multis”
pensando na Redenção em ato, e não na Redenção em potencial. Suas palavras
foram muito bem escolhidas e não podem ser mudadas. Para se dizer “pro omnibus”
no lugar de “pro multis” é preciso gastar muitas palavras, explicando muito
minuciosamente o que se quer dizer, como aliás, fez, e muito bem, Jorge Ferraz:
sobre o que não há o que discordar! Evangelizar é acreditar no “pro omnibus”,
mas apenas no sentido de aumentar o número dos “pro multis”. Acreditar no “pro
omnibus” em si, como um objetivo alcançável é um equívoco. E é aí que entra o
realismo das palavras de Cristo.
Por que então eu afirmo que o Papa errou e causou confusão?
Porque ele simplesmente disse que o Sangue Preciosíssimo de Nosso Senhor foi
derramado por todos, sem acrescentar nada sobre todas estas nuances que ocupam a mim
e ao Jorge nesta pequena discussão; e fazer isso é um erro, e fazer isso causa
confusão. Causa confusão principalmente a quem não tem sofisticação intelectual
e erudição para distinguir termos equívocos e os elucidar. Causa confusão aos
intelectualmente modestos, àqueles simples de coração tão caros a Nosso Senhor.
Eu disse anteriormente que o Papa causou confusão. Poderia
ter dito, e talvez o devesse, que o Papa causou, na linguagem dos Evangelhos,
um scandalum: uma pedra de tropeço,
uma ocasião de queda. Causar escândalos, no sentido evangélico, não parece ser
coisa rara para os papas conciliares: os encontros de Assis, organizados por
João Paulo II e Bento XVI, a devolução do Estandarte de Lepanto aos Turcos e a deposição da Tiara por Paulo VI, etc., são apenas alguns
exemplos. Um pastor de almas, como o Papa, o maior de todos na terra, não pode
se permitir tais coisas. Como católico, não posso me permitir o silêncio diante
disto.
Espero ter esclarecido melhor minha “incompreensível”
opinião.