Ficamos sabendo que o Papa Francisco “condena a pobreza como
ideologia”, em homilia. A Rádio
Vaticano noticiou e, no Brasil, FratresInUnum
e Montfort
deram a notícia, entre outros sítios.
A repercussão se explica por causa das primeiras impressões,
exploradas pela mídia, de que o novo papa fazia da pobreza uma bandeira
propagandística. É evidentemente positivo que o Papa faça uma crítica ao abuso
político e religioso que se faz da pobreza.
A pobreza é um dos conselhos evangélicos, que todo católico
nunca deve esquecer. Contudo, transformá-lo em moto ideológico é não só
incorreto, como um pecado.
Lendo a pequena parte da homilia papal, depois de reconhecer
o lado positivo das afirmações, não podemos deixar de notar a modéstia (para
dizer o mínimo) da exegética do papa. Ele diz: “Foi o que aconteceu com Judas,
que era um idolatra, afeiçoado ao dinheiro. E essa idolatria o levou a
isolar-se da comunidade: este é o drama. Quando um cristão começa a isolar-se,
também isola a sua consciência do sentido comunitário, do sentido da Igreja,
daquele amor que Jesus nos dá.”
Toda vez que um modernista fala em comunidade, uma lâmpada
vermelha se acende em minha mente. Veja como a interpretação do Papa coincide
com a dos comentadores da terrível Edição Pastoral da Bíblia, da CNBB: “Judas desculpa
sua própria avareza, disfarçando-a com uma preocupação paternalista pelos
pobres. A comunidade que vive o espírito de Jesus será eminentemente uma
comunidade de pobres e sempre aberta fraternalmente para os pobres.”
Pois bem, segundo o Papa, a avareza de Judas o fez isolar-se
da comunidade. Ora, Judas cuidava das pobres finanças dos apóstolos, da bolsa
de dinheiro (loculus, na Vulgata).
São João, em seu Evangelho, o caracteriza com ladrão simplesmente. Diz o
apóstolo: Judas “disse isso, não porque se importasse com os pobres, mas porque
era ladrão e, estando a seus cuidados a bolsa, tirava do que nela se lançava.”
(Jo, 12, 6). O Papa diz que o drama é o isolamento da comunidade, o isolamento
da consciência do sentido comunitário. Que volta hermenêutica mais estranha! Um
ladrão infiltrado no meio dos apóstolos, um futuro traidor do Filho de Deus,
tem sua falta caracterizada como um afastamento do sentido comunitário! A
comunidade aqui toma a importância maior: é o pecado contra a comunidade! E
essa comunidade, como nos afirma a Edição Pastoral, era a de pobres! Ou seja,
Jesus veio ao mundo para atender a comunidade de pobres e um ladrão e traidor
comete pecado contra essa comunidade!
Ora, Judas não tem uma visão ideológica da pobreza, ele é
ladrão e faz tudo para roubar de quem quer que seja. Ladrão não é ideólogo.
Aliás, ladrão inteligente deveria ter um ódio danado dos ideólogos, pois estes
lhe fazem uma grande concorrência. Ideólogos são os teólogos da libertação, são
os comunistas disfarçados de clérigos que andam por aí. Judas era muito mais
autêntico que estes últimos e muito mais fácil de interpretar!
Uma leitura da Catena Aurea não faria mal ao Papa
Francisco. Lá, Santo Agostinho diz: “na pessoa de Judas estão representados os
males da Igreja, porque se és bom, terás a presença de Cristo pela Fé e pelo
Sacramento, e terás sempre. Porque quando saíres deste mundo, irás Àquele que
disse ao ladrão (Lc 23, 43): ‘Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso’. Mas, se ao
contrário, vives mal, parecer-te-á ter presente Cristo, porque estás batizado
com o batismo de Cristo; aproximas-te do altar de Cristo, mas vivendo mal, não
O terás sempre.”
O problema de Judas não é ter sido ladrão, não é ter traído a “comunidade”,
não é nem sequer ter traído Cristo; seu problema é não ter se arrependido, ter
se desesperado. Pedro negou Cristo três vezes, mas se arrependeu. O bom ladrão
foi absolvido por Cristo na cruz, porque arrependeu-se. Judas traiu Cristo e
não teve a humildade de se jogar a Seus pés e pedir perdão, pela traição e
pelos roubos; e se perdeu. Seu problema é de Fé e de Esperança e não de
ideologia.
2 comentários:
Prezado Professor,
Salve, Maria!
Sempre pode piorar:
http://noticias.gospelprime.com.br/bem-redimidos-ateus-papa-francisco/?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A%20gospelprime%20%28Gospel%20Prime%29
Um abraço,
Leonardo
O texto original da homilia citada no comentário acima:
http://www.zenit.org/pt/articles/o-senhor-remiu-a-todos-com-seu-sangue
Lendo-se no contexto, e interpretando-se a redenção universal como potencial apenas, a declaração do Papa não parece tão grave. Em todo caso, agradeceria a indicação de um bom comentário à passagem do Evangelho em questão.
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