28/10/2010

Deus lhe pague, Papa Bento XVI

Agora sabemos quais os bispos brasileiros agem de acordo com a Santa Sé, de acordo com a Tradição da Igreja. São poucos, é verdade, mas eles existem, e demos graças a Deus por isso. Hoje, dia de São Judas Tadeu, o santo das causas impossíveis, o Papa se pronunciou, a um grupo de bispos brasileiros, dizendo o que todos os verdadeiros católicos já sabiam: é papel da Igreja emitir juízo moral em questões políticas quando isso for importante para defender os direitos fundamentais da pessoa. Há três dias das eleições no Brasil, este pronunciamento não tem outro foco que não a condenação dos “outros bispos”, que se calaram, que se omitiram em hora tão grave ou que, declaradamente, apoiaram partidos abortistas. É também resposta à carta que o bispo Bergonzini enviou ao Papa.

Veja a reportagem da Gazeta do Povo e o pronunciamento no post do FratresInUnum.

Viva o Papa Bento XVI e Deus lhe pague!

27/10/2010

Pois a minha carne é um verdadeiro alimento (Jo. 6:55)

Johann Tauler

Beneditino do séc. XIV


Nota do blog: Tauler deixou uma coleção de sermões, proferidos principalmente em conventos de freiras dominicanas, que são uma obra clássica do catolicismo, tendo influenciado grandes santos, como São João da Cruz e Santa Teresa de Ávila. Eis um pequeno destes sermões, proferido numa Missa de Corpus Christi.


Não há matéria que está tão próxima de um homem e que tanto se torna parte dele quanto a comida e a bebida que ele coloca em sua boca; e assim Deus encontrou esta maravilhosa forma de Se unir a nós tão intimamente quanto possível e se tornar parte de nós ... Todavia São Bernardo disse: “Quando nos alimentamos de Deus, somos consumidos por Ele e Ele se alimenta de nós.” Quando Deus se alimenta de nós? Ele assim o faz quando morde e mastiga nossas consciências; como um homem mastiga a comida em sua boca, assim os castigos de Deus mastigam um homem, enchendo-o de temor e medo, aflição e amargura, de tal forma que ele não sabe o que acontecerá consigo.

 

Querida filha, quando isso acontecer com você, agüente firme. Deixe Deus morder e mastigar você. Não procure evitá-lo, nem mesmo tente tomar o lugar de Deus; e não corra para o seu diretor espiritual à procura de consolação, porque isso a privaria de uma proveitosa aflição. Não, a primeira coisa que você deve fazer é, confesse sua falta a Deus; e não por meio de exercícios devotos e pequenas orações piedosas, mas com um profundo lamento das profundezas de sua alma: “Ah! Senhor, tenha piedade de mim, miserável pecador.”

 

Também, não fuja de si mesma. É mil vezes mais proveitoso para você passar por isso até o fim do que ler um grande número de livros ou fazer outra coisa que poderia ajudá-la a escapar da aflição. Por outro lado, você deve ficar atenta em tais períodos para evitar que o demônio lhe fira com uma excessiva melancolia. Ele gostaria de servir a você ervas amargas: mas as ervas que Nosso Senhor coloca à sua frente são doces e saudáveis, e quando Ele já estiver lhe castigado, toda a sua mente estará plena de doçura. Você terá n’Ele uma fé amorosa, vinda de uma confiança e inocente esperança.

23/10/2010

Duas aulas do ContraImpugnantes

 

Conheci pessoalmente Sidney Silveira muito recentemente, num momento em que ele falava em desativar, por um tempo, seu extraordinário blog. Lembro-me de ter protestado muito com ele, dizendo-lhe que seu blog era fundamental para o Brasil. Não demorou muito para que o Brasil tivesse muito a agradecer ao Sidney, pelo menos os católicos do Brasil. Seus posicionamentos filosóficos sobre as eleições são uma contribuição irreprimível para quem tem alguma coisa na cabeça e no coração.

Hoje, Carlos Nougué, a quem conheço já há mais tempo, continua sendo meu professor, e de todos nós, dando-nos uma aula de história. Ele mostra quão grande é a semelhança entre PT e PSDB; são quase irmãos siameses, digo eu.

Leiam com atenção as duas aulas: Breves palavras sobre o PT, de Carlos Nougué, e Sobre as coisas políticas (VIII): momento de ir aos princípios.

 

21/10/2010

As portas do inferno não prevalecerão

Quando tudo está tão tenebroso, quando fica patente a situação de heresia de muitos bispos brasileiros, quando só alguns poucos bispos têm a coragem de defender a verdadeira Fé Católica, descubro no interior baiano uma comunidade verdadeiramente católica, observando os três conselhos evangélicos; Obediência, Pobreza e Castidade. Um dos fiéis que frequenta as missas celebradas no mosteiro da comunidade me escreve e me pede para divulgar o site d’A Família Beatae Mariae Virginis – F.B.M.V. (cujos membros são chamados Marianos). Incluirei o link no grupo de sítios católicos do blog. Vale a pena acessar a história desses Marianos. Ela é uma clara confirmação da promessa de Nosso Senhor de que o demônio não conseguirá vencer sua Igreja.

Peço a eles orações para este indigno blogueiro.

18/10/2010

Frutos do Concílio Vaticano II

Nota do blog – vai abaixo um texto que embrulha o estômago. Foi postado, como comentário no FratresInUnum, por Cândido. Quem poderia imaginar, há quatro décadas, que teríamos um porta-voz do demônio como pároco da Santa Igreja Católica, usando de tanta loquacidade abjeta. Finalmente vemos à luz do dia o resultado da ambigüidade do texto conciliar, do espírito do concílio e, finalmente, da apropriação da Igreja por hordas de padres e bispos hereges. Termos de ler um padre usar a expressão efeminada “Que tiririquice!” é demais. Proponho a todos os católicos que conseguirem chegar ao final do texto, que façamos uma penitência para desagravar o Coração Imaculado de Maria e o Sagrado Coração de Jesus de tantas ofensas.

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ABORTANDO A ELEIÇÃO

* Por Padre Otto Dana, via Blog do Luís Nassif

Brasileiros e brasileiras! O capeta está solto! Empunhemos nossos terços e Bíblias e até Alcorões, se os houver! Herodes brande a espada afiada contra as criancinhas do Brasil! Ergamos a fogueira! Queimemos os hereges! O aborto e os gays estão espreitando pela janela!

Gente do céu! Que tiririquice! Que babaquice mais que medieval. Que onda inquisitorial graçando em pleno século XXI. A caça às bruxas. O extermínio dos veados. Cruz, credo! Xô Satanás! Estamos apenas tentando eleger um Presidente para o Brasil. Estamos discutindo propostas e projetos para uma boa administração do Brasil. Aborto, gueisismo, pílula, camisinha não é prioridade do momento.

O processo eleitoral corria tranquilo, dentro dos princípios democráticos: discute-aqui- denucia-ali, promete-isso, condena-aquilo, tudo numa boa. De repente a serenidade é detonada por uma horda de aiatolás, talibãs, mulás, numa gritaria ensurdecedora contra os que ameaçam o poder do Altíssimo.

Alguns vestidos de batina (ainda!), outros de mitra e báculo, outros de terno e gravata ostentando Bíblias, todos ecumenicamente de dedo em riste acusador: “ela é a favor do aborto, ele apóia o casamento homem-com-homem, mulher-com-mulher, os dois defendem a distribuição de camisinhas até para as crianças da escola.

Deus do céu! Que atraso! Que tiririquice! Pra começar, arbitrar sobre aborto e formas de casamento é da competência do Congresso Nacional e não do Presidente da República, que apenas sanciona ou veta a disposição do Congresso. Além do mais, aborto e casamento gay nem estão em pauta de discussão, hoje.

Mais importante e pertinente agora é ouvir dos candidatos suas propostas e projetos concretos quanto à saúde, educação de qualidade, distribuição de renda, segurança da população, criação de empregos, formas de apropriação ou não do Estado, relações diplomáticas e econômicas com outros países, transporte, saneamento básico, liberdade de imprensa, desenvolvimento do país, programas sociais, etc., etc.

E mais: estamos num país democrático, regido por uma Constituição Civil e não pelas tábuas da lei de Moisés. É um país democrático e laico e não teocrático, apesar de supostamente religioso. Sua capital é Brasília e não o Vaticano, nem a Canção Nova, nem a sede da Assembléia de Deus, nem a CNBB.

Tentar manipular a consciência do eleitor, ameaçando-o com a ira de Deus é injuriar o próprio Deus que nos criou livres. O dia em que o povo tiver que consultar um aiatolá de plantão tipo Pastor Silas Malafaia, ou um Padre José Augusto (Canção Nova) para votar, é melhor rasgar o título de eleitor e o estatuto da maioridade civil. O que vem se praticando em meios religiosos no momento, é o aborto da eleição, da democracia, da Constituição e do bom senso. Xô Satanás!

* Padre Otto Dana é Pároco da Igreja Sant´Ana em Rio Claro – São Paulo (Diocese de Piracicaba – SP). Seu e-mail é otto.dana@gmail.com

16/10/2010

Algumas atualizações

Fiz algumas atualizações nos links que aparecem à direta no blog.

Coloquei uma lista de links para livrarias e editoras virtuais, onde se pode comprar grandes obras católicas. Quem souber de livrarias ou editoras realmente católicas, favor me enviar o link.

Acrescentei também um link nos "Sites Católicos", que é extraordinário. Trata-se do Real Catholic TV. Quem conseguir entender inglês vai transformar este site em uma fonte de consulta permanente. A diversidade e qualidade do material ali existente é surpreendente. Você pode se associar ao site de graça ou se tornar membro "premium", pagando US$10,00 por mês. Sugiro a todos que consulte este site.

Um dos programas gerados quase todos os dias, e que é oferecido de graça é o VORTEX. É um programa de uns 3-4 minutos de comentários sobre o catolicismo no mundo atual.

O Guilherme Ferreira Araújo, nosso tradutor de Hilaire Belloc, está disponibilizando alguns dos VORTEX legendados em português: VORTEX EM PORTUGUÊS.

12/10/2010

Deus lhe pague, Sidney Silveira!

O ContraImpugnantes, pela pena de Sidney Silveira, escreve textos fundamentais nesta hora tão terrível para o nosso país. Escreve textos fundamentais porque fundamentados na mais sã filosofia católica. Merecem ser lidos: Sobre as coisas políticas (III): parênteses para o segundo turno das eleições presidenciais e Sobre as coisas políticas (V): quando a escolha do suposto mal menor pode perverter a alma.

Votarei nulo no segundo turno, pois acho, com Sidney e Nougué, que é impossível escolher o mal menor na atual situação em que nos encontramos. Que Nossa Senhora da Aparecida rogue por nós!

09/10/2010

Um impasse apenas aparente

Impasse. Assim fica difícil ser católico.

Quando o aluno precisa ensinar o professor, a instituição de ensino perde a credibilidade. Quando o catequizando precisa catequizar o catequista, a Igreja perde a sua credibilidade. É preciso tomar mais cuidado ao ensinar, publicamente, o vigário a rezar! As ovelhas que estão fora do rebanho podem decidir que estão melhor sozinhas do que ficarem mal acompanhadas na Igreja que perdeu sua missão, competência e identidade. Em JMS

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Recebi o comentário acima no post CARTA ABERTA A DOM SABURIDO. OU, ENSINANDO O VIGÁRIO A REZAR. OU, AINDA, UMA CORREÇÃO FRATERNA e passo a respondê-lo.

Há um erro de princípio no raciocínio do leitor: a Igreja não é como uma instituição normal de ensino. O Magistério da Igreja é exercido pelo Papa e seus Bispos, mas nem tudo que o Papa e os Bispos falam está de acordo com este Magistério; apenas aquilo que está de acordo com a Tradição que sempre foi aceita pela Igreja. A regra da Fé verdadeira é a de São Vicente de Lerins: “quod ubique, quod semper, quod ab omnibus.” Este santo dizia no século V: “Na Igreja Católica é preciso pôr o maior cuidado para manter o que se crê em todas as partes, sempre e por todos. Eis o que é verdadeira e propriamente católico ...” [Comonitório, Cap. II, Editora Permanência, 2010]

Nós católicos não estamos numa escolinha em que tudo o que os professores ensinam deve ser considerado a última de todas as verdades. Ainda no século IV, os bispos arianos, em grande número, ensinavam que Nosso Senhor não era um ser incriado; para os arianos, ele era um ser muito perfeito, mas era uma criatura de Deus. Estes bispos eram seguidores do bispo Ário, o terrível inimigo da Igreja, contra quem lutou o grande Santo Atanásio. Os fiéis que sabiam que não estávamos numa simples escolinha, lutaram contra os bispos arianos e salvaram, com Santo Atanásio, a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo. Entre os séculos IX e XI, muitos bispos do sul da França se tornaram cátaros, uma poderosa heresia que quase destruiu a Igreja. Esta heresia só terminou com uma luta armada muito sangrenta. Quem se contrapôs aos cátaros estava defendendo a Fé verdadeira: “quod ubique, quod semper, quod ab omnibus.”

Não é novidade para um católico minimamente informado, que a heresia protestante invadiu a Igreja com o Concílio Vaticano II. Há hoje muitos bispos da Igreja que defendem posições que alegrariam Lutero e Calvino. Há hoje uma missa que, embora canonicamente válida na sua forma original, é celebrada, na maioria das vezes, de forma protestantizante. Há padres que celebram a missa nova de forma pia e respeitosa em relação a Nosso Senhor Jesus Cristo. Infelizmente, a maioria não se comporta dessa forma. Assim, há hoje muito o que corrigir, muito o que apontar como erro na prática de padres e bispos. Foi o que fez, e muito bem, Marcos Paulo no post acima referido.

Na Igreja, a correção fraterna sempre foi e sempre será uma eficiente prática, não só para alertar quem propaga um erro de que ele está fazendo algo condenável, mas para alertar quem possa ser influenciado pelo erro de que aquilo não é ensinamento tradicional da Igreja.

Se o leitor anônimo quiser uma amostra de erros cometidos por padres e leigos católicos no Brasil de hoje, leia minha séria de posts Lições das Missas de Paulo VI. Se quiser uma amostra digamos “do momento”, a CNBB, em nota de 8 de outubro de 2010, diz: “A CNBB é um organismo a serviço da comunhão e do diálogo entre os Bispos, de planejamento orgânico da pastoral da Igreja no Brasil, e busca colaborar na edificação de uma sociedade justa, fraterna e solidária.” Ora, a Igreja, nunca, em nenhum lugar, acreditou, pregou, escreveu ou mesmo insinuou que ela tivesse sido constituída por Nosso Senhor, para lutar por uma “uma sociedade justa, fraterna e solidária.” Isso não faz parte de nossa Fé verdadeira. A Igreja foi constituída para ser o único meio universal de salvação da alma humana, nada mais, nada menos que isso. A afirmação da CNBB ficaria bem em qualquer estatuto de loja maçônica ou de partido comunista. Assim, os leigos não podemos deixar de denunciar esta farsa, este erro, esta heresia. Temos a obrigação de corrigir quem está em erro; esta é uma regra de caridade.

O leitor diz ainda que as ovelhas talvez estejam melhor fora, que dentro da Igreja. Ora, mas pensa isso só quem não entende que a Igreja é o Corpo Místico de Nosso Senhor; que é na Igreja, por meio de seus Sacramentos, que jorra a água que, tomada, matará a sede eternamente. Não há outro lugar onde esta Água Viva possa ser encontrada. Assim, ninguém estará melhor fora dela, só porque aqui há pessoas que erram, que propagam heresias, que têm de ser combatidas: extra Ecclesiam nulla salus.

Mais uma vez a metáfora da escolinha não funciona. Se você está numa escola ruim, basta que você mude de escola. Quando se está na Igreja verdadeira, não há opção de mudança. Melhor errar dentro da Igreja – e ser corrigido pelos irmãos católicos – que ter a veleidade de acertar fora dela, onde só há lisonja ao erro.

E só para terminar: quem lhe disse que é fácil ser católico?

06/10/2010

O ESBOÇO DA QUEDA

Do livro A Coisa, 1929
Gilbert Keith Chesterton

Tenho observado a curiosa ação ludibriosa de retaguarda que tem sido tomada para acobertar o recuo dos darwinistas. Um exemplo da mesma coisa surgiu em conexão com um famosíssimo nome; na verdade, com dois nomes famosos. O Sr. H.G. Wells respondeu ao Sr. Belloc, que escreveu uma crítica a Outline of History [Esboço da História],[1] principalmente a fim de protestar contra um certo tom de arbitrária generalização e simulado conhecimento do desconhecido. Um caso típico se encontrava no que o Sr. Wells dizia de homens que desenhavam renas nas cavernas: “Parecia não haver em tais vidas espaço para a especulação e a filosofia,” ao que o Sr. Belloc, como é natural, respondeu: “Por que não, em nome de Deus?” Mas os detalhes dos vários trabalhos em questão não me interessam imediatamente aqui; eles predominantemente dependem do hábito de falar como se cada pintura rupreste tivesse sua data gentilmente nela inscrita: ou cada machadinha de pedra polida pudesse trazer a inscrição 400.000 a.C., ou possivelmente, a.E.H., antes do Esboço da História. No momento, o único ponto de contato é aquele que se relaciona à nossa crítica anterior, a respeito do presente estado do darwinismo. E o que me impressiona é que mesmo o Sr. Wells, não raro um caloroso polemista, esteja relativa e realmente frio sobre o assunto; e sua defesa de Darwin é muito mais uma escusa do que uma apologia. De fato, como tantas outras apologias modernas, ela quase se resume em alegar que Darwin não era darwinista.

Os evolucionistas vitorianos se devotaram a declarar a grandeza da tese de Darwin. Os novos evolucionistas parecem devotados a explicar sua pequenez. Eles realmente parecem alegar, como na velha anedota, que ela pariu uma teoria, mas uma teoria muito pequena. Algumas das palavras do Sr. Wells podem, seguramente e sem injustiça, ser consideradas apologéticas. Ele não tenta, como o professor previamente mencionado, superar a palavra “origem” falando sobre “a causa da origem”. Então ele se concentra na palavra “espécies”, como se a evolução não tivesse sido apenas aplicada a uma sub-divisão. Ele acrescenta que Darwin não a aplicou, no início, nem mesmo ao homem. O que, fico a pensar, os darwinistas vitorianos teriam pensado tivessem eles ouvido, numa defesa do darwinismo, que este não se aplicava ao homem? Será que isto significa que apenas o primeiro livro de Darwin é divinamente inspirado? Novamente, o Sr. Wells diz que a seleção natural é senso comum. E sem dúvida, se ela apenas significar que o mais capaz de sobreviver sobrevive, ela é senso comum. Podemos também acrescentar que isto é conhecimento comum. Mas será só isso, que Darwin esteja sendo defendido porque ele apenas descobriu o que era conhecimento comum? A questão real, claro, é aquela proclamada pelo Sr. Belloc, quando disse que não é necessário contar para ninguém que numa enchente o peixe vive e o gado morre. A questão é: em quanto tempo o gado se transforma em peixe? Isto seria um exemplo da verdadeira teoria darwinista; e ela é agora minimizada, representada como apenas um elemento de evolução e sem nem mesmo os elementos de explicação. Imaginamos que haja um saudável preconceito por trás de tudo. O Sr. Wells, de forma indignada, repudia a blasfêmia pronunciada pelo Sr. Belloc, que o chamou de patriota. Mas é verdade; o profundo orgulho nacional inglês tem muito a ver com essa devoção. E ao invés de privar a Inglaterra de seu Darwin, eles privaram Darwin de sua descoberta.

Quando um homem é um gênio tão grande quanto o Sr. Wells, admito que soa provocativo chamá-lo de provinciano. Mas se ele desejar saber porque alguém o faria, será suficiente apontar silenciosamente para o título de uma de suas páginas: “Onde fica o Jardim do Éden?” Descer a uma coisa dessas, e considerá-la significativa ao conversar com um católico inteligente sobre a Queda, isto é provincianismo; caro e orgulhoso provincianismo. Os camponeses franceses, de quem o Sr. Wells fala, não são provincianos neste sentido. Como o próprio Sr. Wells admite, eles nada sabem sobre Darwin e evolução. Eles não sabem e não ligam; é onde eles são muito melhores filósofos que o Sr. Wells. Eles guardam a filosofia da Queda, na forma de uma simples história que pode ser histórica ou simbólica, mas, de qualquer forma, não pode ser mais importante do que o que ela simboliza. Em comparação com essa verdade, não vale sequer um centavo o fato de alguma teoria da evolução ser verdadeira ou não. Quer o jardim seja ou não uma alegoria, a verdade em si mesma pode muito bem ser simbolizada por um jardim. E a questão é que o Homem, seja o que for, não é meramente uma das plantas do jardim que desatolou suas raízes do solo e perambulou com elas, como se fossem pernas, ou, ao modo de uma dália dupla, tenha desenvolvido olhos e ouvidos duplicados. Ele é algo mais, algo estranho e solitário; é mais parecido com a estátua que foi anteriormente o deus do jardim; mas a estátua caiu de seu pedestal e permanece quebrada por entre plantas e ervas daninhas. Essa concepção não tem nada a ver com o materialismo quando se refere aos materiais. A imagem pode ser feita de madeira; a madeira pode ter vindo do jardim; o escultor pode presumivelmente, e provavelmente, permitir a sensação de crescimento e textura da madeira em que ele esculpiu e se expressou. Mas minha fábula preserva as duas verdades da verdadeira escritura. A primeira é que a madeira foi esculpida ou estampada com uma imagem, deliberadamente, e desde fora; neste caso a imagem de Deus. A segunda é que esta imagem foi danificada e desfigurada, de modo que ela está agora ao mesmo tempo melhor e pior que as meras plantas do jardim, que estão perfeitas segundo seus próprios planos. Há espaço para muita especulação sobre a história da árvore antes de ter se tornado uma imagem; há espaço para muita dúvida e mistério sobre o que realmente aconteceu quando ela se tornou uma imagem; há espaço para muita esperança e imaginação sobre o que ela se tornará quando for recomposta e transformada numa estátua perfeita que nunca vimos. Mas há duas coisas imutáveis: que o homem foi elevado inicialmente e caiu; e responder a isso dizendo, “Onde está o Jardim do Éden?” é como responder a um filósofo budista dizendo, “Quando você foi um macaco pela última vez?”.

A Queda é uma visão de vida. Ela não é apenas a única visão esclarecedora da vida, mas a única encorajadora. Ela afirma, contra as únicas filosofias alternativas reais, aquelas dos budistas, dos pessimistas e dos prometéicos, que nós usamos impropriamente um mundo bom, e não simplesmente que estamos presos num mundo mau. Ela remete o mal ao uso errado da vontade, e assim declara que ele pode eventualmente ser corrigido pelo correto uso da vontade. Qualquer outro credo, exceto este, é uma forma de rendição ao destino. Um homem que guarda esta visão de vida descobrirá que ela ilumina milhares de coisas; sobre as quais, as éticas evolucionárias não têm nada a dizer. Por exemplo, sobre o colossal contraste entre a inteireza da máquina humana e a contínua corrupção de seus motivos; sobre o fato de que nenhum progresso social parece nos livrar do egoísmo; sobre o fato de que os primeiros, e não o últimos, homens de qualquer escola ou revolução são geralmente os melhores e os mais puros; tal como William Penn foi melhor que um quacker milionário ou Washington melhor do que um magnata americano do petróleo; sobre aquele provérbio que diz: “O preço da liberdade é a eterna vigilância,”[2] que é propriamente apenas um modo de declarar a verdade do pecado original; sobre aqueles extremos de bem e mal em que o homem excede a todos os animais pelos padrões do céu e do inferno; sobre aquele sentido de perda sublime que está em cada verso de toda grande poesia, e em nenhum outro lugar em maior quantidade do que na poesia dos pagãos e céticos: “Miramos o antes e o depois, e nos consumimos pelo que não é”;[3] que clama contra todos os arrogantes e progressistas, das profundezas e abismos do coração partido do homem, de que a felicidade não é somente uma esperança, mas também, em certo estranho sentido, uma memória; e que somos todos reis no exílio.

Para o indivíduo que sente que esta visão de vida é mais real, mais radical, mais universal que as simplificações baratas que se opõem a ela, é um choque de trivialidade perceber que alguém, quanto mais um homem como o Sr. Wells, possa supor que tudo dependa de algum detalhe a respeito de um jardim na Mesopotâmia, como aquele identificado pelo general Gordon. É difícil encontrar algum paralelo de tal incongruência; pois não há similaridade real entre os acontecimentos e eventos mortais e confusos que se passaram conosco, que foram divinos, embora misteriosos, e as escrituras que são sagradas, embora simbólicas. Mas alguma sombra de comparação poderia ser feita com os mitos modernos. Digo mitos em que homens como o Sr. Wells geralmente acreditam; o Mito da Carta Magna ou o Mito do Mayflower. Ora, muitos historiadores sustentarão que a Carta Magna é algo insignificante; que foi, em grande medida, um item do privilégio medieval. Mas suponha que um dos historiadores que tem esta visão começasse a discutir entusiasticamente conosco sobre a fabulosa natureza de nossa imagem da Carta Magna. Suponha que ele produzisse um mapa e documentos para provar que a Carta Magna não fora assinada em Runnymede, mas em algum outro lugar; como acredito que alguns eruditos assim consideram. Suponha que ele criticasse a heráldica falsa e as vestimentas fantasiosas que aparecem nos museus de cera. Poderíamos pensar que ele estivesse indevidamente entusiasmado com um detalhe da história medieval. Mas com que assombro percebemos finalmente que o homem realmente considerava que todas as modernas tentativas de estabelecer a democracia estão erradas, que todos os parlamentos teriam de ser dissolvidos e todos os direitos políticos destruídos, uma vez que fosse admitido que Rei João não assinou aquele documento especial, naquela pequena ilha no Thames! O que pensaríamos dele, se ele realmente pensasse que não temos nenhuma razão para gostar da lei e da liberdade, a não ser a autenticidade daquela amada assinatura real? Isto é, em grande medida, como eu sinto quando descubro que o Sr. Wells realmente imagina que a luminosa e profunda filosofia da Queda apenas significa que o Éden se localizava em algum lugar da Mesopotâmia. Ora, a única explicação para um grande homem como o Sr. Wells ter um pequeno preconceito, como este sobre a serpente, é que ele vem de uma tradição religiosa que considerava o texto da Escritura dos Hebreus como a única autoridade e esquecera tudo sobre a grande metafísica medieval e sua discussão das idéias fundamentais.

O homem que faz isso é provinciano; e não há mal em dizê-lo, mesmo quando ele é um dos maiores homens de letras e uma glória da Inglaterra.

[1] No Brasil, esta obra teve várias edições na década de 1950 com o título História Universal. (N. do T.)
[2] Esta citação é de um discurso feito em 1790 por John Philpot Curran (1750-1817), advogado irlandês, orador e patriota. (Nota da edição da Ignatius Press.)
[3] We look before and after, and pine for what is not, do poema To a Skylark, de Shelley. (N. do T.)

02/10/2010

CARTA ABERTA A DOM SABURIDO. OU, ENSINANDO O VIGÁRIO A REZAR. OU, AINDA, UMA CORREÇÃO FRATERNA.

 

Nota do blog – Mais um corajoso católico leigo, Marcos Paulo, se dá a terrível incumbência de corrigir um representante dos Apóstolos. Parece mesmo que estamos vivendo um tempo (como anteriormente no séc. IV) que a defesa da Igreja está mais nas mãos dos leigos que dos clérigos. Nossa Senhora da Aparecida, livrai o Brasil do flagelo do comunismo!

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O que exige que falemos sem demora é, antes de tudo, que os promotores do erro já não devem ser procurados entre os inimigos declarados da Igreja; mas, o que é para deplorar e muito temer, se ocultam no seu próprio seio, tornando-se assim tanto mais nocivos quanto menos percebidos”. (S. Pio X, Encíclica Pascendi Dominici Gregis, 08/09/1907)

Excia. Revma.

Dom Saburido, O.S.B.

Arcebispo Metropolitano de Olinda e Recife

Como vai no subtítulo, sem arrogância alguma de minha parte, vou dizer-lhe certas coisas que acredito V. Excia, não aprendeu no seminário. Afinal, V. Excia foi ordenado já em um momento em que a fumaça de satanás já havia entrado na Igreja segundo as palavras do próprio Paulo VI, o Papa querido dos modernistas: “Por alguma fissura, a fumaça de Satanás está no templo de Deus: “a dúvida, a incerteza, o questionamento, a preocupação, a insatisfação, o afrontamento surgiram.”

Não são minhas intenções julgar as vossas, estas, só Deus as sabe e as julga corretamente. Não irei incorrer em juízo temerário. O que irei é comentar, à luz das Sagradas Escrituras, do magistério eterno da Santa Igreja Católica Apostólica Romana e do magistério dos Santos Doutores algumas ações e declarações públicas de V. Excia. que não estão “segundo a verdade do evangelho” (Gal. II,14).

Permita-me antecipar a minha defesa, em resposta aqueles que objetem a insignificância do escriba, aqueles que me imputem desrespeitador de um príncipe da Igreja de Roma. Sei que da parte de Vossa Excia. Revma, que tem por lema episcopal, Secundum Verbum Tuum, não haverá espasmos de indignação, mas recolhimento para realmente viver o “segundo Tua palavra” divina (Fiat mihi secundum verbum tuum. (Faça-se em mim segundo a vossa palavra. S. Lucas, I, 38).

Alguns “católicos” dirão, antevejo, que é um absurdo um danado de um pecador, reles professor de coisas seculares querer se arrogar em apontar erros nos outros e mais ainda em um Bispo. Dirão que este não é um tempo de imposições, de dogmas, mas sim um tempo de abertura, de acolhimento, de profetismo, de comunhão. Dirão que vejo ser o dono da verdade. Um absurdo! Ninguém é dono da verdade. Esta é uma construção coletiva. É comunitária. Não possuo a verdade, procuro permanecer nela, como prega Cristo. É para estes Vossa Excia. Revma. que antecipo os nomes de meus advogados. Os promotores de minha causa.

Miro-me em São Paulo, que, inferior hierarquicamente repreendeu publicamente a São Pedro. Em Catarina Benincasa, Santa Catarina de Sena que repreendeu rispidamente, mas respeitosamente, o Papa Gregório XI, fazendo-o voltar para Roma.

Tomei por parecerista o Doutor Angélico. Eis seu ensinamento:

Resistir na cara e em público ultrapassa a medida da correção fraterna. São Paulo não o teria feito em relação a São Pedro se não fosse de algum modo o seu igual (...). No entanto, é preciso saber que, caso se tratasse de um perigo para a Fé, os superiores deveriam ser repreendidos pelos inferiores, mesmo publicamente. Isso ressalta da maneira e da razão de agir de São Paulo em relação a São Pedro, de quem era súdito, de tal forma, diz a glosa de Santo Agostinho, que 'o próprio Chefe da Igreja mostrou aos superiores que, se por acaso lhes acontecesse abandonarem o reto caminho, aceitassem ser corrigidos pelos seus inferiores (S. Tomás., Sum. Theol. IIa-IIae, q. 33, art. 4, ad 2m).

Excia. o senhor é tido, ao menos midiaticamente, como um moderado, um conciliador. O que viria a ser isto? Quererá um moderado a quadratura do círculo ou, a circularidade de um quadrado? Afinal de contas, é uma arrogância medonha um quadrado só ser quadrado, e o círculo ser somente circular. Não, um moderado tem de mesclar os dois. É a dialética diabólica. Como se dá isto no plano espiritual? Ouso uma conjectura. Seria conciliar as coisas de Deus e a coisas do mundo? (os valores de satanás) Um moderado em questões espirituais só pode agir assim desta forma.

Teriam os jornais e “católicos” progressistas alcunhado o senhor de moderado devido a esta declaração, que segundo o Jornal Diário de Pernambuco teria Vossa Excelência pronunciado:

A Igreja defende que o aborto deve ser evitado. Mas é claro que tem que ver as condições médicas. Se existe um risco muito grande, há um consenso nesse sentido, então é algo a se considerar.”(http://www.diariodepernambuco.com.br/2010/04/10/urbana8_1.asp)

Hum! Confesso que não compreendi, Excia. Tendo sido realmente o senhor que pronunciou isto, pesa-me no coração dizer, mas o senhor não é mais católico, logo, não pode ser um Bispo da mesma Igreja Católica. Da “igreja” Universal, certamente.

Caro Dom Saburido, o senhor leu o que dizem que o senhor disse? Eu li. Não pode aquilo ali ter sido dito por um verdadeiro Bispo Católico Romano. O repórter foi incisivo nas perguntas. Mas o senhor foi tão evasivo, tão escorregadio, tão, como direi... MODERADO. O senhor diz que a Igreja “defende que o aborto seja evitado”. Isto soa tão romântico. Tão Concílio Vaticano II. Tão humano. Maldito respeito humano! A Igreja anatematiza e excomunga os abortistas e seus asseclas, e seus defensores, como o senhor. É isso. E nada pode ser acrescentado, nem retirado desta verdade.

O senhor diz mais. Quando perguntado se condenaria o abortamento, o senhor diz: “Essa é uma decisão médica, muito mais do que eclesial[...]Depende do parecer médico, da situação. Não pode radicalizar também as coisas”.

Então o senhor está querendo dizer que Deus é radical, não é? Que uma verdade revelada por Deus está abaixo axiologicamente e ontologicamente de um parecer médico? Bendito sejas tu ò Deus, por não ser um moderado, como Dom Saburido.

Dom Saburido, os moderados são como a serpente: tem língua dupla. Bífida. São como os políticos que tem “currais” eleitorais. Dependendo da região que estejam, mudam seu discurso. Elegantemente isto se chama de sofistaria.

Pode parecer esnobe esta coisa de indicar leituras, que me vejam assim. Dom Saburido leia urgentemente a Carta Encíclica Vehementer Nos de São Pio X, que trata da relação entre Igreja e Estado, que é onde reside seu erro doutrinário e teológico. No Magistério deste Santo Papa, como qualquer Papa Pedro e Cristo redivivos, V.Excia. ainda encontrará a recomendação paterna e voltará a estudar a Teologia e Filosofia verdadeiras, a de Santo Tomás.

Dizem também os jornais, como o senhor é midiático, não é mesmo, que V. Excia. foi a uma passeata dos “excluídos”. Que V. Excia. foi o máximo orador desta passeata, que orgulho, não? O senhor é um Bispo de passeata? Fui ver quem eram esses excluídos e lá estavam, para resumir: abortistas (assassinos), homossexuais militantes, comunistas, sem-terra, PSOListas, CUTistas, PTistas et caterva. Salvo engano, todos estes defendem antivalores. São contrários e afrontam o que defende a Santa Igreja Romana, logo, o que Deus ordena. São mesmo, anticatólicos.

O senhor se crê amigo desses movimentos? Lembra o senhor qual o conceito de amizade para Santo Tomás? “Amigos são aqueles que desejam e rejeitam a mesma coisa”. V. Excia. Quer as mesmas coisas que eles querem? Um Bispo da Santa Igreja não pode ser amigo destes “excluídos”, pelas razões expostas acima. Ou será o senhor capaz de moderar este conflito de interesses ao ponto de fazê-los confluir para um mesmo fim? Isto é, moderar os interesses divinos com os diabólicos.

Esta passeata dos “excluídos” é de uma alogia asinina, excelência. Todos os seres criados, animados, tem, em certa medida uma ou mais exclusões nos seus acidentes em relação a uns com os outros. Uns são mais belos que outros, mais gordos, ou magros; com ou sem cabelo, com mais dinheiro, etc. É o que se chama de desigualdade material.

Dela diz Leão XIII na encíclica Quod Apostolici Muneris:

... a desigualdade de direitos e de poder provém do próprio Autor da natureza ... ". Diz mais: "Por isso, assim como no Céu quis que os coros dos anjos, fossem distintos e subordinados uns aos outros, e na Igreja instituiu graus e diversidade de ministérios, de tal forma que nem todos fossem apóstolos, nem todos doutores, nem todos pastores (I Cor. 12, 27). Assim estabeleceu que haveria na sociedade civil várias ordens diferentes em dignidade, em direitos e em poder, a fim de que a sociedade fosse, como a Igreja, um só corpo, compreendendo um grande número de membros, uns mais pobres que os outros, mas todos reciprocamente necessários e preocupados com o bem comum." (Leão XIII, Quod Apostolici Muneris, no 15, 17 e 18).

Entendeu, Excia? Estes “excluídos” com quem V. Excia. Fez coro não lutam por dignidade alguma, eles querem e dizem abertamente isso, é igualdade. Querem a igualdade material que Deus não quer. O que devemos combater principalmente os bispos, é que esta desigualdade material seja transformada em ideologia para fazerem crer que os homens foram criados com naturezas diferentes, havendo espíritos e espíritos. É combater a idéia gnóstica de que Deus necessita de nós para completar sua obra. Medite o que diz ainda Leão XIII, Humanum Genus:

... se considerarmos que todos os homens são da mesma raça e da mesma natureza e que devem todos atingir o mesmo fim último e se olharmos aos deveres e aos direitos que decorrem dessa comunidade de origem e de destinos, não é duvidoso que eles sejam iguais. Mas, como nem todos eles têm os mesmos recursos de inteligência, e como diferem uns dos outros seja pelas faculdades do espírito seja pelas energias físicas; como, enfim, existem entre eles mil distinções de costumes, de gostos, de caracteres, nada repugna tanto à razão como pretender reduzi-los todos à mesma medida, a introduzir nas instituições da vida civil uma igualdade rigorosa e matemática." (Leão XIII, Humanum Genus, no 22).

Em suma, devemos lutar pela semelhança e não pela igualdade.

Será que o senhor acredita que quando Deus fala da pobreza na Bíblia ele quer se referir simplesmente à pobreza material? Quem ensinou a vossa excelência exegese bíblica? Terá sido Gutierrez? Leonardo Boff? Lubac? Hans Küng? Ou, algum outro celerado dessas teologias da danação?

O senhor não pode ser tão ingênuo ao ponto de não perceber quem são os patrocinadores destes gritos dos excluídos. Pegam pobres miseráveis e manipula-os para servirem a causas espúrias que não ousam dizer o nome, se passando por defensores dos excluídos e explorados. Não direi o nome de cada um destes, posto serem Legião, mas posso repetir a definição dada aos mesmos segundo o Santo Papa São Pio X: “Pestífera espécie de homens.”(Sacrorum Antistitum).

Vossa Excelência lembra-se do Decretum Contra Communismum (Decreto Contra o Comunismo), do Papa Pio XII? Já na sua primeira questão pergunta-se e responde-se a seguir:

Q. 1 Utrum licitum sit, partibus communistarum nomen dare vel eisdem favorempraestare. (Acaso é lícito dar o nome ou prestar favor aos partidos comunistas?) R. Negative: Communismum enim est materialisticus et antichristianus; communistarum autem duces, etsi verbis quandoque profitentur se religionem non oppugnare, se tamen, sive doctrina sive actione, Deo veraeque religioni et Ecclesia Christi sere infensos esse ostendunt.

Nas questões seguintes responde-se que a pena é a excomunhão, Excia, latae sententiae. Procure seu confessor, caro dom Saburido. Arrependa-se! Caso contrário o senhor estará impossibilitado de ser admitido nos sacramentos. Estará destituído de sua autoridade episcopal. Acredite, é com pesar que escrevo estas coisas.

Por fim, repito Pio XI, que por sua vez repete o magistério da Santa Igreja desde sempre: “Socialismo religioso, socialismo cristão, são termos contraditórios: ninguém pode ao mesmo tempo ser bom católico e socialista verdadeiro.” (Pio XI)

Então, de que lado o senhor ficará?

Por favor, Excia. Não faça coro com os que dizem que a Igreja modernizou-se. Ah, não. Excelência, Deus não faz upgrades, aggiornamentos. Quem fez isto foi o Concilio Vaticano II, um Concílio herético e meramente pastoral, logo, não obrigatório em suas decisões para os católicos.

Lembra-se do Quo Vadis Domine?(Onde vais Senhor?) de São Pedro à Cristo (João 16,5)? Humildemente pergunto-lhe: onde vais, Dom Saburido? Volte para a Barca de Pedro. Não tema ser rechaçado por este mundo. Não tema ser humilhado pela maioria. Não tema ser crucificado com o Rei dos Reis, o mais excluído dos excluídos, posto que lhe é negada a adoração devida pela maioria dos do seu clero. Lembra da Ladainha da humildade? Ensinaram-na no seminário? [...] Do receio de ser humilhado, livrai-me, ó Jesus. Do receio de ser desprezado, livrai-me, ó Jesus. [...] (Cardeal Merry del Val)

Excelência de tua própria vontade escolhestes o maior dos fardos, atendendo a um chamado Divino. Escolhestes ser pescador de almas. Escolhestes ser o sal da terra. O senhor esqueceu o que diz Santo Afonso Maria de Ligório, em seu A Selva, sobre a responsabilidade e dignidades de um de um sacerdote quanto à salvação ou danação das almas de seu rebanho?

Sou sacerdote, a minha dignidade está acima da dos anjos.

Um Deus digna-se de obedecer à minha voz; com melhoria de razão devo obedecer à sua.

O respeito humano e as amizades mundanas desonram o sacerdócio: logo devo ter-lhes horror.

Só devo procurar a glória de Deus, a minha santificação e a salvação do meu próximo; a isso pois me devo dedicar, até com o sacrifício da minha vida, se tanto for necessário.

Reafirmo minha indignidade em apontar erros em qualquer ser humano, principalmente os de um Bispo, mas é que os fatos são gravíssimos, são escandalosos. Uma coisa é um escândalo provindo de um miserável pecador como eu, outra coisa é vindo de um pecador, como todos somos, sendo um Bispo. Não restam dúvidas que o escândalo se torna mais pernicioso. É lição de seu irmão de episcopado, Santo Afonso de Ligório, no mesmo A Selva: “Ensina Santo Tomás que o pecado dos fiéis é mais grave que o dos infiéis, precisamente porque os fieis conhecem melhor a verdade ora; as luzes de um simples fiel são bem inferiores às de um sacerdote.”

Seu modelo deve ser Cristo, São João Maria Batista Vianney; o Santo Pe. Pio de Pietrelcina; deve ser aquele pároco de uma pequena cidade, com batina preta com sol a pino, demonstrando seu luto por este mundo corrompido pelo pecado adâmico, nossa herança desgraçada.

Não pense que com estas heréticas concessões o senhor estará trazendo de volta as ovelhas desgarradas, não! Estas atitudes só atraem as hienas, os chacais para agredirem, desde dentro, a Santa Igreja. Medite as palavras do Santo Papa Pio X, o Papa da Eucaristia, no seu Pascendi, ao referir-se aos Modernistas: “Ninguém é mais insidioso que eles [...] Agem de modo dissimuladíssimo; arrastam por isso facilmente para os erros a qualquer incauto”.

Excia. Revma. o Senhor é um beneditino. Permita lembrá-lo do Capítulo 5 (da obediência) das regras do patriarca São Bento:

O primeiro grau da humildade é a obediência sem demora. É peculiar àqueles que estimam nada haver mais caro que o Cristo; por causa do santo serviço que professaram, por causa do medo do inferno ou por causa da glória da vida eterna, desconhecem o que seja demorar na execução de alguma coisa logo que ordenada pelo superior, como sendo por Deus ordenada. Deles diz o Senhor: "Logo ao ouvir-me, obedeceu-me". E do mesmo modo diz aos doutores: "Quem vos ouve a mim ouve.

Obedeça a Deus, obedeça ao Santo Padre; Desobedeça os pareceres de médicos abortistas (assassinos), desobedeça os “excluídos”, desobedeça os homens. Caso contrário, nós católicos é que deveremos por amor a deus, por dever de consciência exercer o nosso direito à desobediência. Pedindo sua benção, despeço-me, in Corde Jesu et Maria, Semper.

P.S. Caso tenha errado aqui em qualquer comentário; se fugi ao magistério infalível da Santa Mãe Igreja de Roma, penitencio-me e desde já recuso o que escrevi. Havendo erros são frutos de minha ignorância, nunca má fé ou maldade.

Marcos Paulo.

Vitória de Santo Antão-PE.

Setembro de 2010.