Começamos a Semana Santa, durante a qual a Igreja celebra os
santos Mistérios de nossa Redenção. É ela a preparação última para a
Ressurreição de nosso Divino Salvador. Correspondendo à sua alta significação,
distingue-se esta Semana por comoventes cerimônias e atos litúrgicos.
Cada dia é privilegiado, de sorte que nenhuma festa pode ser
celebrada durante esta semana. As Orações, os Cânticos, as Leituras nos Ofícios
e nas santas Missas relembram os grandes Mistérios de nossa Redenção.
No Domingo, chamado de Ramos, comemoramos a solene entrada
de Jesus em Jerusalém e sua aclamação pelo povo dos judeus.
Na Quarta-feira, o grande sinédrio resolve condenar Jesus à
morte e Judas vende por isso o seu Mestre por trinta dinheiros.
Na Quinta-feira, assistimos à última Ceia, ao Lava-pés, à
instituição do Sacrifício e do Sacramento da Eucaristia. E acompanhamos a Jesus
em oração ao Horto das Oliveiras, vendo a sua prisão e a fuga dos discípulos.
Sexta-feira Santa é o dia da condenação do Salvador, de sua
Crucifixão e Morte na Cruz.
Sábado Santo é o descanso do Senhor na sepultura e o raiar
do dia da Ressurreição.
Como vemos, a Igreja se aprofunda mais e mais nos insondáveis
Mistérios da Paixão do Salvador, até que a nossa tristeza atinge o mais alto
grau nos últimos três dias. Os sinos se calam, os altares são despojados das
toalhas. A história da Paixão nos é narrada pelos quatro Evangelistas. O
Apóstolo S. Paulo nos exorta para toda a Semana, a participarmos dos
sentimentos de Nosso Senhor e de sua Igreja, dizendo na Epístola de Domingo de
Ramos: ''Hoc enim sentite in vobis
quod et in Christo Jesu". Tende em vós os mesmos sentimentos que
teve Jesus Cristo.
Cuidemos que esta semana seja para nós verdadeiramente
santa, esforçando-nos por uma vida mais perfeita para que possamos participar
dos frutos de nossa Redenção. Evitemos as distrações supérfluas, para que o
nosso espírito possa estar junto a Jesus. Enquanto for possível, assistamos às
cerimônias e atos litúrgicos destes dias.
Como os catecúmenos, preparemo-nos para renovar e avivar em
nós a graça batismal. Como os penitentes públicos dos antigos tempos, tenhamos
bem vivos os sentimentos de dor e arrependimento por nossos pecados, e com toda
a santa Igreja, tenhamos firme esperança na vitória final, na Ressurreição com Jesus
Cristo para uma vida melhor.
Domingo de Ramos
É o domingo que precede à festa da Páscoa e dá início à
Semana Santa. Domingo de Ramos, Páscoa florida, Domingo das Palmas, assim
chamado porque antes da Missa principal se realiza a bênção dos Ramos com
procissão.
Desta bênção e desta 'procissão, já encontramos vestígios
claros no século V.
Se deveras queremos compreender a liturgia deste domingo,
cumpre colocarmo-nos bem no meio do cenário onde se vai desenrolar p doloroso
drama, e, para que possamos atingir esse objetivo, útil será recordarmos os
acontecimentos dos últimos dias da vida do Divino Salvador aqui na terra.
Jesus à frente de uma romaria vai de Jerico a Betânia, onde
se hospeda com seus amigos Lázaro, Maria e Marta, que, para O homenagearem, dão
um banquete. EV nessa ocasião que Maria unge com arômatas a cabeça de Jesus.
Indignado com esse desperdício, Judas rompe com seu Mestre. Muita gente vem a
Betânia para ver a Jesus e a Lázaro ressuscitado. Com estás multidões parte Jesus
no dia seguinte em direção a Jerusalém, passando pelo monte das Oliveiras.
Festiva é sua entrada, como narra o Evangelho. O povo aclama
o Messias. Honras dignas de um Rei são-Lhe tributadas enquanto os fariseus cada
vez mais enraivecem. Contemplando a cidade, Jesus chora, lastimando-lhe a infidelidade
e a sorte triste que a espera. Entra solenemente no templo, mas nessa mesma
tarde regressa a Betânia.
Esses os principais fatos históricos em que se firma a
liturgia deste domingo, que consta de duas partes bem distintas:
1. a Bênção e procissão dos Ramos — Alegre e triunfal.
Porque nela aclamamos o Cristo, Rei e Vencedor.
2. a santa Missa —
Profundamente triste. Porque nela contemplamos o Homem das dores.
In Missal Quotidiano,
D. Beda Keckeisen, O.S.B., Tipografia Beneditina, LTDA, Bahia, junho de 1957.
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