O site do distrito alemão da FSSPX,
pius.org , fez uma entrevista com Pe. Mathias Gaudron, um padre da
Fraternidade Sacerdotal São Pio X que ensina teologia dogmática.
A discussão sobre as controvertidas afirmações do bispo
(agora arcebispo) Gerhard Ludwig Mueller relativas à Virgindade de Nossa
Senhora está atraindo atenção crescente. Uma gama enorme de portais na Internet
apresentam contribuições que são a favor ou contra tais afirmações.
O site pius.org
verificou com o teólogo dogmático Pe. Gaudron se ele ainda sustenta sua crítica
às afirmações do bispo Mueller.
pius.org: Pe.
Gaudron, numerosas reações aos seus comentários defendem o bispo Mueller,
afirmando que os trechos criticados (dos escritos do bispo Mueller) foram
tomados fora de contexto. Esta é, por exemplo, a opinião do Mons. Bux, que é um
membro da CDF (Congregação para a Doutrina da Fé). O que o senhor tem a dizer
disto?
Pe. Gaudron: Trata-se aqui de um simples pretexto, como
qualquer um pode comprovar ao ler as afirmações no contexto em que foram
formuladas. Eu citei todas as afirmações de tal forma que elas pudessem ser
verificadas facilmente. Os defensores do bispo Mueller são aparentemente
incapazes de citá-lo esboçando as questões corretamente.
pius.org: Alguns
lhe responderam dizendo que o livro Fundamentals
of Catholic Dogma [Fundamentos do Dogma Católico], de Ludwing Ott, que não é considerado modernista, descreve que
as particularidades relativas ao aspecto fisiológico da Virgindade de Nossa
Senhora não são parte da fé da Igreja.
Pe. Gaudron: O livro de Ott explica, contudo, que Maria deu
à luz Jesus sem qualquer sofrimento corporal, preservando sua virgindade
integralmente. Ele também apresenta as analogias dos Padres da Igreja, como a
emergência de Cristo de um sepulcro lacrado, ou como a passagem da luz através
do vidro.
A única coisa correta é que a Igreja não definiu as
particularidades exatas do que foi diferente no nascimento de Cristo e dos
outros seres humanos, como, por exemplo, se houve ou não dilatação do canal
cervical, etc. Tal incursão indiscreta no mistério não é o que a Igreja deseja
fazer. Contudo, o nascimento indolor, e também a integridade do hímen, foi
sempre proclamado.
A. Mitterer parece ter sido um dos primeiros a querer negar
as particularidades fisiológicas em seu livro de 1952, Dogma und Biologie der
heilgen Familie [Dogma
e a biologia da Sagrada Família].
Ott, a princípio, referiu-se a este livro [em seu Fundamentals], mas nas edições posteriores a referência
desapareceu. Pode-se sugerir que isto esteja relacionado a um Monitum do Santo Ofício (de 1960) que,
lamentavelmente, nunca foi publicado, mas apenas enviado a certo número de
bispos e superiores de ordens religiosas. Este Monitum deplorava o surgimento de diversos escritos relativos à
virgindade durante o nascimento que estavam em clara contradição com o
ensinamento católico, e proibia a futura publicação de tais tratados.
pius.org: A
virgindade antes do nascimento, que implica a concepção de Cristo pelo
Espírito Santo, não é muito mais importante? O bispo Mueller não nega isto.
Pe. Gaudron: Sem dúvida. Mas, primeiramente, é o próprio
bispo Mueller que disse recentemente que quem deseja ser católico deve aceitar
toda a doutrina da Igreja e não deve escolher [o que lhe apetece]. Em segundo
lugar, aqueles que negam a concepção virginal não raro argumentam tal como o
bispo Mueller: a virgindade não se relaciona a fatos biológicos, mas ao fato de
que Maria se deu completamente a Deus. Por exemplo, um professor universitário
me disse certa vez que Maria era claramente virgem; mas devia-se refletir o que
significava esta virgindade. Este pessoal consegue afirmar que Maria era uma
virgem, embora sustente, ao mesmo tempo, que ela recebeu Jesus de José. A
negação da virgindade no nascimento parece-me ser o primeiro exercício de
relaxamento do dogma que apenas prepara outros mais severos.
pius.org: O que o
senhor tem a dizer sobre a declaração do Mons. Bux de que a explicação do bispo
Mueller acerca da Eucaristia foi apenas para evitar certo Cafarnaismo?
Pe. Gaudron: Também nesta reação posso tão somente ver um
pretexto. O bispo Muller fala, de fato, sobre transubstanciação, mas suas
explicações se inserem nas teorias de transfinalização e transignificação,
teorias que o Papa Paulo VI rejeitara por serem insuficientes, em sua encíclica
Mysterium fidei, mencionada por Mons.
Bux.
O mesmo pode ser dito acerca do relacionamento dos
protestantes com a Igreja. Ninguém nega que um batismo válido cria certa
orientação na direção da Igreja e que se deve também ter uma atitude amigável
com os cristãos separados; todavia, que estes deveriam ser completamente
integrados à Igreja é algo que nem o novo Código Canônico diz.
pius.org: O
senhor não vê, então, suas afirmações refutadas?
Pe. Gaudron: Todo o processo parece-me sintomático de nossas
relações com o Vaticano. Submetemos um problema e alguém nos responde com
pretextos ou com apelos à obediência.
A Fraternidade [São Pio X] diz que há um problema se o
Prefeito da CDF advoga teses que contradizem as doutrinas da Igreja. Mostramos
isto de modo factual e não usamos os termos “herege” ou “heresia”, conforme
certas mídias afirmaram. Como reação, obtivemos declarações de que devíamos ter
fé no Papa, porque um bispo que é nomeado por um papa nunca poderia ter ensinado
algo errado.
Ocorre o mesmo com o Concílio. Dizemos que há problemas com
ele, porque certas passagens dos documentos do Concílio claramente contradizem
o Magisterium anterior da Igreja.
Aqui, também, sempre obtemos a resposta de que não pode haver contradição, portanto,
não as há. Isto, em certo sentido, vai contra toda a lógica.
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