17/07/2012

50 anos de Vaticano II: O Tradicional e o Novus modo de receber Nosso Senhor.


Stephen Dupuy (The Remnant On Line)
Tradução autorizada.


Recentemente me deparei com uma história escrita por um padre Novus Ordo. Partes dessa história realçam, talvez involuntariamente, as diferenças entre a mentalidade católica tradicional e a neo-católica. Na primeira parte da história o padre diz (ênfases nossas):

“Meu predecessor era um conservador sob o ponto de vista litúrgico e era muito amado pelo povo aqui. Minha chegada causou muito temor. O que aconteceria com a paróquia com um homem jovem no comando? Uma senhora disse-me: ‘Estamos felizes por tê-lo conosco, padre, mas quero que saiba que se o senhor nos fizer receber a Sagrada Comunhão de pé, eu nunca mais virei aqui!’ Tive de rir-me dela. Eu não tinha nenhuma intenção de impor nenhuma mudança semelhante, e me importava muito pouco a posição que as pessoas tomavam para receber a Eucaristia. Com o passar do tempo, descobri que em questões religiosas, coisas irrelevantes como esta tomam proporções enormes.”

Infelizmente, é muito comum atualmente ouvirmos, em círculos católicos, que o modo em que se recebe o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo importa pouco. Aparentemente, qualquer postura que se escolha é perfeitamente aceitável. Afinal, eles lhe dirão que o simples método de recepção não tem nenhum significado profundo, nem se constitui numa mensagem aos outros acerca da crença em relação Àquele que se recebe. Ao contrário, é um ato completamente “irrelevante” e “arbitrário”; um simples movimento usado para transportar a Hóstia das mãos do padre (ou Ministro da Eucaristia) para a boca do fiel. Se isto é verdade, então realmente tem pouca importância se se recebe a sagrada Hóstia na mão, na língua, de pé, ajoelhado ou mesmo sentado.

Mas será isto verdade? Será o método de receber a Comunhão de importância comparável àquele de se movimentar batatas fritas de uma tigela para a boca de alguém? Ao contrário, o modo de receber Nosso Senhor não é nem arbitrário nem insignificante. A mentalidade tradicional entende que ações na Missa tem significado e significância, mesmo que pareçam irrelevantes. A prática antiga de se ajoelhar para receber Nosso Senhor carrega um profundo sinal de respeito e reverência, lembrando-nos, e àqueles à nossa volta, que somos verdadeiramente indignos de receber tal graça. Esta prática sagrada é uma constante lembrança do verso inspirador de Isaías: “Porque, quando os céus estão elevados acima da terra, assim se acham elevados os meus caminhos acima dos vossos caminhos, os meus pensamentos acima dos vossos pensamentos.”[1]

Do mesmo modo, a importância de receber a Sagrada Comunhão na língua diretamente das mãos consagradas de um padre é reforçada pelo próprio Doutor Angélico:

“...porque por reverência a este sacramento, nada o toca, exceto o que for consagrado; assim o corporal e o cálice são consagrados, tal como as mãos do padre, pois tocam este sacramento. Assim, não é permitido que qualquer outro o toque, exceto se for necessário; por exemplo, se ele cair no chão, ou em outro caso de urgência.”

A despeito desta santa admoestação e do uso da Igreja de reclinatórios ao pé do altar por séculos, para facilitar a recepção da Sagrada Comunhão de joelhos e na língua, os neo-católicos tratam a prática como algo que pode ser descartado sem o mínimo de impacto negativo. De fato, eles veem esta prática tradicional como algo completamente arbitrário. Realmente, para a mentalidade neo-católica, nossos antepassados podem muito bem ter inventado essa tradição sagrada por mero capricho, sem ter pretendido que ela tivesse a menor significância. Na realidade, como temos visto, a postura e o método casual de receber Nosso Senhor na Sagrada Comunhão, nas últimas décadas, muito tem contribuído para a irreverência que testemunhamos em muitas Missas Novus Ordo e para a crescente descrença na transubstanciação, sobre a qual tomamos conhecimento em cada pesquisa que surge sobre a Presença Real.

Depois de aparentemente trivializar o método pelo qual dignamos a receber o Criador do Universo em nossos corpos, a história continua (ênfases nossas):

“Certa vez uma senhora ficou furiosa comigo porque não insisti que as meninas que estavam recebendo a Primeira Comunhão usassem véus brancos em suas cabeças. Eu expliquei a ela que se ela quisesse colocar o véu em sua filha, eu não me importava. Mas NÃO! Nem todas as meninas deviam ser obrigadas a se vestir assim... Devemos tentar sempre distinguir o essencial do acidental. Isto é um dos elementos da sabedoria e da prudência.”

É realmente muito prudente e sábio distinguir o essencial do acidental. Infelizmente, neste caso, isto não foi feito. De novo, a mentalidade neo-católica mescla a ideia de uma prática sendo secundária com a noção de que é, portanto, insignificante e irrelevante. Que modo seria melhor para honrar Nosso Senhor – para uma menina em sua primeira recepção da Eucaristia – do que usar um vestido branco, para simbolizar a pureza, e um véu, para simbolizar um real casamento de almas?

A mãe na história, sem dúvida querendo criar uma atmosfera de reverência e beleza na Primeira Comunhão de sua filha, enfrenta a típica resposta liberal que estamos acostumados a ouvir de católicos “tolerantes” e de “mente aberta”. “Se você quiser, faça, mas não imponha aos outros seus pontos de vistas.” Do modo semelhante, ocorre o mesmo quando se permite a alguém vestir-se bem para a Missa Novus Ordo dominical, enquanto outros paroquianos ficam livres para se vestir com bermudas e camisetas sem mangas. Não é difícil imaginar a atmosfera de irreverência que começa a se desenvolver, uma vez que o pastor abdica de toda a responsabilidade de impor o que ele considera como padrões “arbitrários” e “insignificantes”.

Para o católico tradicional, ações que envolvem a Missa e os sacramentos, por menor que sejam, têm um grande e rico significado. Essas ações foram desenvolvidas vagarosa e organicamente ao longo de séculos e abarcam a sabedoria acumulada de gerações. Ajoelhar-se para receber a Santa Comunhão comprovadamente faz crescer a humildade, a reverência e a submissão de quem comunga. Véus brancos para meninas em sua Primeira Comunhão comprovadamente inspira um sentido de pureza, humildade e amor por Cristo. Assim, essas práticas foram mantidas, conservadas e encorajadas por séculos pela Igreja. Isto não foi feito por algum costume arbitrário ou sem sentido, mas precisamente porque esses atos tinham um significado mais profundo e fomentavam uma realidade espiritual sagrada tanto naqueles que os perfaziam, quanto naqueles que os testemunhavam.

Em última análise, a mentalidade neo-católica está, infelizmente, presa numa visão de mundo positivista inspirada pela própria liturgia que a promove. Como disse certa vez o Cardeal Ratzinger, a Missa Nova é sempre apreciada como um “produto banal imediato” e como uma “liturgia falsificada”. Muitas rubricas, ações e opções do Novus Ordo Missae são realmente arbitrárias, insignificantes e não essenciais. Assim, o entendimento dos neo-católicos tanto da Missa quando da Fé desenvolve uma tendência de absorver qualquer nova diretiva que venha de alguma instância superior ou de uma comissão do Vaticano. A Fé é com isso divorciada de seu passado e se torna um produto de decisões dos homens, em vez de um Depósito sagrado confiado à Igreja por Deus Todo Poderoso.

Uma vez que essa mentalidade se estabeleça, como se pode determinar o que é essencial e o que é insignificante? Será realmente essencial à Fé evitar tomar parte de adorações não católicas? Terá alguma consequência insistirmos na Imaculada Conceição de Nossa Senhora frente aos protestantes? Será necessário pregar a Divindade de Cristo para não católicos? Ou podem essas crenças e práticas ser subestimadas como sem importância em prol do diálogo ecumênico, se nossos líderes assim nos dizem? Esta é uma descida escorregadia em que o católico tradicional não deseja começar a descer. Ao contrário, os católicos tradicionais preferem manter-se fiel à Fé e à Missa católicas, em que nenhuma ação ou crença é supérflua ou sem valor. Em vez disso, eles acreditam que cada costume dado a nós pela Tradição e pela Igreja tem um propósito benéfico e age de forma a nos dirigir magnificamente ao Nosso Divino Salvador e ao Paraíso que Ele deseja que seja o nosso fim eterno.



[1] Is 55, 9. (N. do T.)

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