Tradução autorizada.
Recentemente me deparei com uma história escrita por um
padre Novus Ordo. Partes dessa
história realçam, talvez involuntariamente, as diferenças entre a mentalidade
católica tradicional e a neo-católica. Na primeira parte da história o padre
diz (ênfases nossas):
“Meu predecessor era um conservador sob o ponto de vista
litúrgico e era muito amado pelo povo aqui. Minha chegada causou muito temor. O
que aconteceria com a paróquia com um homem jovem no comando? Uma senhora
disse-me: ‘Estamos felizes por tê-lo conosco, padre, mas quero que saiba que se
o senhor nos fizer receber a Sagrada Comunhão de pé, eu nunca mais virei aqui!’
Tive de rir-me dela. Eu não tinha nenhuma
intenção de impor nenhuma mudança semelhante, e me importava muito pouco a
posição que as pessoas tomavam para receber a Eucaristia. Com o passar do
tempo, descobri que em questões religiosas, coisas irrelevantes como esta tomam
proporções enormes.”
Infelizmente, é muito comum atualmente ouvirmos, em círculos
católicos, que o modo em que se recebe o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor Jesus
Cristo importa pouco. Aparentemente, qualquer postura que se escolha é
perfeitamente aceitável. Afinal, eles lhe dirão que o simples método de
recepção não tem nenhum significado profundo, nem se constitui numa mensagem
aos outros acerca da crença em relação Àquele que se recebe. Ao contrário, é um
ato completamente “irrelevante” e “arbitrário”; um simples movimento usado para
transportar a Hóstia das mãos do padre (ou Ministro da Eucaristia) para a boca
do fiel. Se isto é verdade, então realmente tem pouca importância se se recebe
a sagrada Hóstia na mão, na língua, de pé, ajoelhado ou mesmo sentado.
Mas será isto verdade? Será o método de receber a Comunhão
de importância comparável àquele de se movimentar batatas fritas de uma tigela
para a boca de alguém? Ao contrário, o modo de receber Nosso Senhor não é nem
arbitrário nem insignificante. A mentalidade tradicional entende que ações na
Missa tem significado e significância, mesmo que pareçam irrelevantes. A
prática antiga de se ajoelhar para receber Nosso Senhor carrega um profundo
sinal de respeito e reverência, lembrando-nos, e àqueles à nossa volta, que
somos verdadeiramente indignos de receber tal graça. Esta prática sagrada é uma
constante lembrança do verso inspirador de Isaías: “Porque, quando os céus
estão elevados acima da terra, assim se acham elevados os meus caminhos acima
dos vossos caminhos, os meus pensamentos acima dos vossos pensamentos.”[1]
Do mesmo modo, a importância de receber a Sagrada Comunhão
na língua diretamente das mãos consagradas de um padre é reforçada pelo próprio
Doutor Angélico:
“...porque por reverência a este sacramento, nada o toca,
exceto o que for consagrado; assim o corporal e o cálice são consagrados, tal
como as mãos do padre, pois tocam este sacramento. Assim, não é permitido que
qualquer outro o toque, exceto se for necessário; por exemplo, se ele cair no
chão, ou em outro caso de urgência.”
A despeito desta santa admoestação e do uso da Igreja de
reclinatórios ao pé do altar por séculos, para facilitar a recepção da Sagrada
Comunhão de joelhos e na língua, os neo-católicos tratam a prática como algo
que pode ser descartado sem o mínimo de impacto negativo. De fato, eles veem
esta prática tradicional como algo completamente arbitrário. Realmente, para a
mentalidade neo-católica, nossos antepassados podem muito bem ter inventado
essa tradição sagrada por mero capricho, sem ter pretendido que ela tivesse a
menor significância. Na realidade, como temos visto, a postura e o método
casual de receber Nosso Senhor na Sagrada Comunhão, nas últimas décadas, muito
tem contribuído para a irreverência que testemunhamos em muitas Missas Novus Ordo e para a crescente descrença
na transubstanciação, sobre a qual tomamos conhecimento em cada pesquisa que
surge sobre a Presença Real.
Depois de aparentemente trivializar o método pelo qual
dignamos a receber o Criador do Universo em nossos corpos, a história continua
(ênfases nossas):
“Certa vez uma senhora ficou furiosa comigo porque não
insisti que as meninas que estavam recebendo a Primeira Comunhão usassem véus
brancos em suas cabeças. Eu expliquei a ela que se ela quisesse colocar o véu
em sua filha, eu não me importava. Mas
NÃO! Nem todas as meninas deviam ser obrigadas a se vestir assim... Devemos
tentar sempre distinguir o essencial
do acidental. Isto é um dos elementos
da sabedoria e da prudência.”
É realmente muito prudente e sábio distinguir o essencial do
acidental. Infelizmente, neste caso, isto não foi feito. De novo, a mentalidade
neo-católica mescla a ideia de uma prática sendo secundária com a noção de que
é, portanto, insignificante e irrelevante. Que modo seria melhor para honrar
Nosso Senhor – para uma menina em sua primeira recepção da Eucaristia – do que
usar um vestido branco, para simbolizar a pureza, e um véu, para simbolizar um
real casamento de almas?
A mãe na história, sem dúvida querendo criar uma atmosfera
de reverência e beleza na Primeira Comunhão de sua filha, enfrenta a típica
resposta liberal que estamos acostumados a ouvir de católicos “tolerantes” e de
“mente aberta”. “Se você quiser, faça, mas não imponha aos outros seus pontos
de vistas.” Do modo semelhante, ocorre o mesmo quando se permite a alguém
vestir-se bem para a Missa Novus Ordo
dominical, enquanto outros paroquianos ficam livres para se vestir com bermudas
e camisetas sem mangas. Não é difícil imaginar a atmosfera de irreverência que
começa a se desenvolver, uma vez que o pastor abdica de toda a responsabilidade
de impor o que ele considera como padrões “arbitrários” e “insignificantes”.
Para o católico tradicional, ações que envolvem a Missa e os
sacramentos, por menor que sejam, têm um grande e rico significado. Essas ações
foram desenvolvidas vagarosa e organicamente ao longo de séculos e abarcam a
sabedoria acumulada de gerações. Ajoelhar-se para receber a Santa Comunhão
comprovadamente faz crescer a humildade, a reverência e a submissão de quem
comunga. Véus brancos para meninas em sua Primeira Comunhão comprovadamente
inspira um sentido de pureza, humildade e amor por Cristo. Assim, essas
práticas foram mantidas, conservadas e encorajadas por séculos pela Igreja.
Isto não foi feito por algum costume arbitrário ou sem sentido, mas precisamente
porque esses atos tinham um significado mais profundo e fomentavam uma
realidade espiritual sagrada tanto naqueles que os perfaziam, quanto naqueles
que os testemunhavam.
Em última análise, a mentalidade neo-católica está,
infelizmente, presa numa visão de mundo positivista inspirada pela própria
liturgia que a promove. Como disse certa vez o Cardeal Ratzinger, a Missa Nova
é sempre apreciada como um “produto banal imediato” e como uma “liturgia
falsificada”. Muitas rubricas, ações e opções do Novus Ordo Missae são realmente arbitrárias, insignificantes e não
essenciais. Assim, o entendimento dos neo-católicos tanto da Missa quando da Fé
desenvolve uma tendência de absorver qualquer nova diretiva que venha de alguma
instância superior ou de uma comissão do Vaticano. A Fé é com isso divorciada
de seu passado e se torna um produto de decisões dos homens, em vez de um
Depósito sagrado confiado à Igreja por Deus Todo Poderoso.
Uma vez que essa mentalidade se estabeleça, como se pode
determinar o que é essencial e o que é insignificante? Será realmente essencial
à Fé evitar tomar parte de adorações não católicas? Terá alguma consequência
insistirmos na Imaculada Conceição de Nossa Senhora frente aos protestantes?
Será necessário pregar a Divindade de Cristo para não católicos? Ou podem essas
crenças e práticas ser subestimadas como sem importância em prol do diálogo
ecumênico, se nossos líderes assim nos dizem? Esta é uma descida escorregadia
em que o católico tradicional não deseja começar a descer. Ao contrário, os
católicos tradicionais preferem manter-se fiel à Fé e à Missa católicas, em que
nenhuma ação ou crença é supérflua ou sem valor. Em vez disso, eles acreditam
que cada costume dado a nós pela Tradição e pela Igreja tem um propósito
benéfico e age de forma a nos dirigir magnificamente ao Nosso Divino Salvador e
ao Paraíso que Ele deseja que seja o nosso fim eterno.
[1]
Is 55, 9. (N. do T.)
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