27/04/2006

Antídotos Contra a Teologia da Libertação

Apresento abaixo, dois textos por mim traduzidos. Um dos textos é de um autor quase completamente desconhecido do público brasileiro, Russel Kirk, o que é somente mais uma demonstração do imenso isolamento cultural em que vive o povo brasileiro. Seu livro, Economia: trabalho e prosperidade (Economics: work end prosperity, Beca Book, 1989) foi escrito para o estudante do ensino médio e vem embalado com o seguinte alerta: “a prosperidade material depende de convicções e comportamentos morais.”[1]

O outro texto é do livro de Luis Pazos, Lógica Econômica, Editorial Diana, México, 1999. O
Instituto Liberal do Rio de Janeiro oferece ao público brasileiro alguns livros desse autor. O livro em pauta, se não me engano, não tem tradução para o português. Ele é um livro sobre a fundamentação lógica da Economia.

O assunto dos dois textos é o mesmo: fundamentação moral e religiosa da economia.
[2] Essa combinação – moral, religião e economia – no Brasil, é explorada, quase exclusivamente[3], pela esquerda, e leva, quando envolve o clero católico, o nome de Teologia da Libertação. Jesus, segundo essa “teologia”, teria sido um marxista avant la letre. Isso resulta em que, mesmo quando o brasileiro tenta a difícil e nobre (a mais elevada) tarefa de se tornar religioso – principalmente, cristão católico –, ele, sem querer e na maioria das vezes, se torna, também ou até exclusivamente, marxista.

Contra essa situação lastimável, esses dois textos, talvez, façam um pequeno bem à alma de alguns que ainda não se contaminaram, a ponto de se tornarem surdos pela algazarra esquerdista.


Paulo de Tarso e o Dinheiro

Russel Kirk

Os primeiros cristãos, como os gregos da antiguidade clássica, perceberam que o dinheiro pode ser nocivo. Paulo de Tarso, que fez mais que qualquer um para difundir os ensinamentos de Jesus Cristo, escreveu ao seu amigo e discípulo Timóteo, em Éfeso, instruindo-o que os seguidores de Cristo devem se contentar com pouco, neste mundo:

Porque nada trouxemos ao mundo, tampouco nada poderemos levar. Tendo alimento e vestuário, contentemo-nos com isto. Aqueles que ambicionam tornar-se ricos caem nas armadilhas do demônio e em muitos desejos insensatos e nocivos, que precipitam os homens no abismo da ruína e da perdição. Porque a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro. Acossados pela cobiça, alguns se desviaram da fé e se enredaram em muitas aflições.

1 Timóteo 6:7-10

Deve-se observar que o apóstolo escreve “o amor ao dinheiro.” Freqüentemente, essa frase é distorcida como se ela fosse “o dinheiro é a raiz de todo mal.” E, a expressão “todo mal”, é, também, mal-entendida como “todas as formas do mal” ou como “uma multiplicidade de males”. Paulo é muito claro, em outras passagens, sobre a existência de outros grandes males além do amor ao dinheiro.

O apóstolo Paulo diz, nessa passagem, que a adoração ao dinheiro, como se ele fosse um ídolo ou mesmo um espírito vivente, é uma armadilha e uma tentação. Jesus declarou:

Nenhum servo pode servir a dois senhores: ou há de odiar a um e amar o outro, ou há de aderir a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro.

Lc 16:13

Em resumo, o ser humano que ama o dinheiro adora um falso deus. Pois, só Deus e os homens merecem ser amados. Amar uma sacola de barras de ouro é um “desejo insensato e nocivo,” pois o ouro (ao contrário de Deus e dos homens) não pode retribuir esse amor.

O dinheiro pode comprar muita coisa – talvez, mais coisas do que deveria. Mas, ele não pode comprar o caráter, a honra, ou o amor das criaturas – ou o amor de Deus. (...)

Igualmente, o dinheiro pode comprar conforto, mas não pode comprar felicidade. O amor ao dinheiro pode tornar o ser humano um egoísta e solitário sovina, muito distante da felicidade. Por amor ao dinheiro, homens e mulheres, às vezes, cometem crimes terríveis, deformando ou destruindo, dessa forma, suas próprias almas. O livro dos Provérbios, nos capítulos 15 e 16, admoesta o leitor a estabelecer prioridades em relação ao dinheiro. Somos alertados em Pr 15:16, “Vale mais o pouco com o temor do Senhor que um grande tesouro com a inquietação.” Provérbios 16:8 tem uma ênfase similar; “Mais vale o pouco com justiça do que grandes lucros com iniqüidade.” Esses trechos da Escritura não desprezam a riqueza (grifo do tradutor); eles somente alertam para os perigos que estão associados com ela. Outro versículo que serve como um modelo para a formação de uma atitude em relação ao dinheiro é encontrado em Pr 16:16: “Adquirir a sabedoria vale mais que o ouro; antes adquirir a inteligência que a prata.”

O dinheiro em si não é nem bom nem mal. Tudo depende do uso que dele fazemos. Um uso prudente e caridoso do dinheiro é louvável. Um uso arrogante e esbanjador, desprezível. Inteligência, imaginação e princípios morais determinam nossas escolhas das formas de se empregar o dinheiro. Assim, a ciência da Economia não é “uma lei em si.” Para fazer boas escolhas econômicas – incluindo as escolhas das formas da utilização do dinheiro – todo indivíduo deve olhar para além da oferta e da procura, e para além das tabelas de juros, na direção dos ensinamentos religiosos, filosóficos e da literatura. O principal fundador da moderna Economia, Adam Smith, foi um professor de filosofia moral. Para usarmos bem o dinheiro, precisamos entender (como fez Smith) que acima das leis da Economia, há as leis da moralidade.

Muito pouca gente tem todo o dinheiro que deseja; alguns o têm por pouco tempo e depois o perde. Para esses, Pr 23:5 ensina “Mal fixas os olhos nos bens, e nada mais há, porque a riqueza tem asas como a águia que voa para o céu.” Alguns têm mais dinheiro do que seria desejável. Se todos tivessem dinheiro em abundância – dinheiro real que comprasse bens sem limite – a raça humana, provavelmente, se arruinaria, comendo, bebendo e dormindo em excesso. Se todos fossem ricos, certamente, muito pouco trabalho útil seria feito. Assim, quando você estiver com pouco dinheiro, pense nessas coisas.



O Cristianismo e a Pobreza
Luis Pazos


O cristianismo, segundo uma concepção materialista da pobreza, seguida pelos partidários da “igreja dos pobres”, só aceitaria pobres entre seus seguidores e só eles entrariam no Reino dos Céus. O primeiro problema seria delimitar quem seria pobre e a partir de que nível de renda deixaria de sê-lo. A ONU, o Banco Mundial ou o Vaticano fixariam os níveis de pobreza?

O conceito evangélico de pobreza não se refere à carência de bens materiais, mas à humildade como qualidade espiritual. Cristo fala “aos pobres em espírito” em outra dimensão do ser humano, ignorada ou menosprezada pelos materialistas.

O contrário do pobre, nessa dimensão, não é o rico em bens materiais, mas o soberbo que, com base na riqueza material ou no poder, deprecia os demais e pensa que não necessita de Deus e da religião.

O teólogo Antonio Fuentes diz, em relação aos elogios de Cristo aos pobres: “Quando Ele chama de bem-aventurados os pobres, não elogia a pobreza material, nem diz que o pobre é feliz pelo simples fato de ser pobre. Os verdadeiros recebedores da primeira bem-aventurança são os pobres em espírito”.

Contrária, em certos aspectos, à visão materialista da pobreza nos ensinamentos de Cristo é a percepção maniqueísta da natureza humana. Tudo o que é material é considerado mal e tudo o que é espiritual, bom. O maniqueísmo também parte de uma visão equivocada da natureza humana.

Essa visão influenciou alguns filósofos católicos, como Santo Agostinho, que opôs a cidade terrena à cidade de Deus. Santo Agostinho foi maniqueísta numa etapa de sua vida e, mesmo que depois tenha retificado sua posição, lhe ficou, ainda, uma certa depreciação pelo lado material do ser humano. No entanto, Santo Agostinho entende corretamente o conceito evangélico de pobreza e riqueza, não comete o erro de dar uma interpretação unidimensional à mensagem de Cristo sobre a pobreza e a riqueza.

Diz Santo Agostinho: “Aprendeis a ser pobres e necessitados e a possuir algo neste mundo como se nada possuirdes. Porque existem mendigos repletos de orgulho e ricos que confessam seus pecados. Deus resiste aos orgulhosos, mesmo que estejam cobertos de sedas e não de farrapos, mas concede graça aos humildes, possuam eles bens deste mundo ou não” (Comentário Sobre a Graça).

Esse comentário de Santo Agostinho confirma que a mensagem de Cristo, corretamente entendida, se refere a dimensões muito diferentes da de uma desigualdade de classes baseada na posse de bens materiais. Na mensagem cristã, a pobreza é humildade e a riqueza é orgulho e avareza. Fazemos essas reflexões para demonstrar a confusão que pode causar o não reconhecimento das diversas dimensões do ser humano e a não distinção dos valores próprios de cada dimensão.
[1] Avisem isso, por favor, para os nossos candidatos presidenciais! (N. do T.)
[2] Ver artigo recente no MSM, de Ubiratan Jorge Iorio, intitulado Mercado e Moralidade. (N.do T.)
[3] Há, felizmente, algumas exceções, Olavo de Carvalho e o embaixador José Osvaldo de Meira Penna sendo duas delas. Do embaixador, vale a pena ler, dentre outros, Da Moral em Economia, UniverCidade, 2002. (N. do T.)

Teste seu conhecimento sobre ciência e religião

Gene Callahan

Um tema de discussão permanente na cultura ocidental, desde o Iluminismo, é a inimizade entre religião e progresso científico. Para testar seu conhecimento sobre o quanto essa idéia é difundida, eu criei o teste abaixo. As respostas estão no final desse artigo, mas tente não consultá-las.

Quando Galileu enfrentou a Inquisição, ele manteve a opinião de que a Terra se movia em torno do Sol, enquanto que a Inquisição acreditava que o Sol se movia em torno da Terra. De acordo com a ciência moderna:
a) a Inquisição estava correta;
b) Galileu estava correto;
c) nenhum deles estava nem mais nem menos certo do que o outro.

Colombo teve de lutar contra a doutrina Católica estabelecida de que a Terra era chata antes de conseguir persuadir alguém a apoiá-lo em sua tentativa de alcançar as Índias em 1492:
a) Verdadeiro;
b) Falso.

A Igreja Católica afirma que:
a) o ensino da teoria da evolução é pecado;
b) a idéia da evolução é perfeitamente compatível com a doutrina Católica.

O modelo geométrico do sistema solar era um importante elemento da doutrina cristã porque ele dava ao homem um lugar importante, o centro do universo:
a) Verdadeiro;
b) Falso.

Kepler endossava a idéia de um sistema solar heliocêntrico com base em princípios objetivos e científicos e não com base em crenças religiosas:
a) Verdadeiro;
b) Falso.

Todo mundo sabe que a religião é inimiga do pensamento científico, como evidenciado por tantos grandes cientistas ateus. Identifique os ateus na seguinte lista:
a) Aristóteles;
b) Francis Bacon;
c) Galileu;
d) Descartes;
e) Pascal;
f) Newton;
g) Robert Boyle;
h) Michael Faraday;
i) James Clerk Maxwell;
j) Gregor Mendel;
k) Louis Pasteur;
l) Max Plank;
m) Albert Einstein.

De acordo com o Dalai Lama, quando a ciência contradiz o Budismo:
a) a ciência deve estar errada;
b) as palavras de Buda devem ser corrigidas.

A revolução científica substituiu a visão de mundo da Idade Média, que era baseada quase inteiramente na fé, por uma visão de mundo na qual a fé não tem nenhum (ou tem um pequeno) papel:
a) Verdadeiro;
b) Falso.




Respostas


1. c. Como Alfred North Whitehead diz: “Galileu dizia que a Terra se movia e que o Sol estava fixo; a Inquisição dizia que a Terra era fixa e que o Sol se movia; os astrônomos newtonianos ... disseram que ambos se moviam. Mas, atualmente, dizemos que ambas as afirmações são verdadeiras, desde que se defina o sentido de ‘repouso’ e de ‘movimento’ de acordo com a afirmação adotada.” (1967 [1925], Science and the Modern World, The Free Press: New York, pp. 183–184).

2. Falso. Era amplamente aceito na Idade Média de que a Terra era redonda. A idéia de que o homem medieval geralmente acreditava que ela era chata foi inventada no século XIX: http://www.ku.edu/~medieval/melcher/19991101.med/msg00361.html.
Veja também: Eco, U. (1998) Serendipities: Language and Lunacy, Harcourt Brace & Company: San Diego, pp. 4–7.

3. b.

4. Falso. A Igreja adotou essa idéia de Aristóteles, que a fundamentou a partir de sua visão do mundo natural como um organismo. Collingwood diz que a noção de que a importância da revolução copernicana consistiu em diminuir a importância do homem no universo “é uma idéia tanto filosoficamente idiota quanto historicamente falsa.” Ele observa que o livro, talvez, “mais amplamente lido na Idade Média”, (De Consolatione Philosophiae de Boécio), contém uma longa passagem sobre o “minúsculo canto” do universo ocupado pelo homem, um lugar que “dificilmente merece um nome, mesmo que seja infinitesimal”. (1960 [1945], The Idea of Nature, Oxford University Press: London, pp. 96–97).

5.Falso. Kepler era um neoplatônico e endossava o modelo heliocêntrico por razões religiosas que favoreciam a idéia de que a luz divina estivesse no centro do universo.

6. Nenhum deles era ateu.

7. b.

8. Falso. Whitehead observa que os filósofos escolásticos não se satisfaziam até que pudessem oferecer provas rigorosas da existência de Deus e de outros elementos da doutrina da Igreja. Ao contrário, quando Hume mostrou que a teoria da indução não tinha fundamento na metafísica do seu tempo, ele foi amplamente ignorado e a fé generalizada na indução permaneceu incólume. “O clero era, em princípio, racionalista, enquanto os homens de ciência ficavam satisfeitos com a fé simples na ordem na natureza” (ibid., p. 51).

Como você se saiu no teste? Eu apliquei o teste a um amigo, um estudante de pós-graduação de uma prestigiosa universidade americana, formado em Ciências Sociais, e ele errou 7 das oito questões.

O fato de que muitas pessoas “saibam” falsidades sobre a história da ciência e da religião não é uma prova da justeza de qualquer religião em particular, ou mesmo uma defesa da religião em geral. Meu ponto de vista é mais restrito: mesmo os não-crentes não se beneficiam por terem suas cabeças cheias de “histórias” fabricadas como apoios de uma ideologia particular. Para saber o que somos realmente, precisamos ter uma visão não distorcida do que fomos. Como diz Whitehead: “Todas as nossas idéias estarão equivocadas se pensarmos que ... nessas controvérsias a religião está sempre errada e a ciência sempre certa. Os fatos verdadeiros são mais complexos e se recusam a serem resumidos nesses termos tão simples.” (ibid., pp. 182-183).



Gene Callahan é pesquisador adjunto do Ludwig von Mises Institute e um colunista do LewRockwell.com.



Publicado por LewRockwell.com

18/04/2006

O Evangelho de Judas

Se vocês quiserem saber mais sobre essa fraude religiosa de quase dois milênios atrás, não precisam ler o que S. Irineu disse dela no século II d.C. (Adversus Haereses), basta consultar dois artigos recentemente publicados (1 e 2).

Parece que o ataque ao cristianismo é o que está dando mais dinheiro ultimamente, depois que Dan Brown abriu esse filão. Oportunistas de plantão, uni-vos!

04/04/2006

Outra vítima da universidade

Thomas Sowell

A exoneração de Lawrence Summers como reitor da Universidade de Harvard nos diz muito sobre o que está errado com a academia nos nossos dias.

Quando ele tomou posse em 2001, Summers parecia um reitor ideal para Harvard. Ele tivera uma carreira notável dentro e fora do mundo acadêmico, incluindo o cargo de professor de Harvard, de forma que não havia razão para que ele não se adequasse à função.

Seus defeitos fatais foram a honestidade e o desejo de fazer as coisas certas. Isso já arruinou mais de uma carreira universitária.

Os problemas de Dr. Summers começaram cedo. Ele convocou Cornel West para uma discussão particular sobre suas atividades acadêmicas – ou melhor, a ausência de atividade acadêmica de Prof. West.

O problema não era a inatividade de Cornel West. Ele era ativo como um showman na televisão, ele era ativo na política, ele era ativo no lucrativo circuito de palestras e ele era ativo mesmo na área do entretenimento, compondo e tocando música rap. Ele era, também, popular com os estudantes, como é provável acontecer com qualquer professor que dá muitas notas boas.

O tipo de atividade que Lawrence Summers desejaria que West desenvolvesse era o tipo de atividade esperada de um professor titular de uma universidade de ponta – pesquisa de qualidade e textos acadêmicos de valor. Cornel West escrevia muita coisa e em muitos lugares, mas mesmo um editor da esquerdista New Republic caracterizou os livros de West como “quase completamente sem valor”.

Apesar da discussão entre Summers e West ter se dado em privado, o próprio Cornel West tornou-a um assunto público – e um escândalo público. West e seus apoiadores fizeram disso uma questão racial. O que fez com que os fatos e a lógica se tornassem irrelevantes.

Summers se desculpou.

Isso deveria nos dizer tudo o que precisamos saber sobre Harvard e sobre a academia em geral. Nem a verdade nem os padrões contam quando se toca em nervos expostos da ideologia corrente, como é o caso da raça.

Lawrence Summers tocou um outro nervo exposto, ano passado, numa discussão sobre a causa de não haver mais professoras na área científica. Como ele estava se dirigindo a um público acadêmico, Summers citou hipóteses e dados que poderiam explicar a sub-representação feminina no topo da carreira científica.

Summers aventou o que ele chamou de “hipótese do trabalho de alta exigência”. Mães têm muita dificuldade de alcançar o topo em empregos que exigem longas horas de atividade e em que as pessoas colocam tudo de lado quando a situação exige.

Ele citou outro fato conhecido e inquestionável. Apesar das mulheres e os homens terem QI’s médios similares, os homens são sobre-representados em ambos os extremos da faixa – os QI’s mais baixos e mais altos. Os homens ganham das mulheres entre os idiotas e os gênios.

Como os melhores cientistas são, desproporcionalmente, originários dos níveis mais altos de QI, esse é um outro possível fator de diferença entre homens e mulheres no topo da carreira científica.

Summers citou outros fatores, incluindo socialização e discriminação, mas isso não evitou que uma outra tempestade ideológica se formasse. Summers foi, simplesmente, demonizado e os professores se viraram contra ele.

A única explicação politicamente correta é discriminação.

Summers se desculpou – novamente. Mas, ao final, esses rápidos recuos não salvou seu emprego.

Após a repetição incessante da palavra “diversidade” na universidade, o fato trágico é que o mundo acadêmico é um dos lugares mais intolerantes dos EUA com relação à diversidade de idéias. Que ninguém, mesmo o reitor de Harvard, ouse ultrapassar a linha divisória!

Pais pagam o montante que seria suficiente para famílias completas sobreviverem, a fim de “educarem” seus filhos em instituições acadêmicas de elite, ouvindo somente um dos lados de toda uma gama de questões – raça e sexo sendo apenas duas delas.

Mesmo que fosse verdade cada conclusão com que os estudantes são doutrinados, a menos que eles desenvolvam suas próprias habilidades de ponderar argumentos opostos, essas conclusões se tornarão obsoletas assim que novas questões aparecerem, nos períodos seguintes.

Os estudantes estão tendo metade da educação a preços inflados e aprendendo somente como rotular, descartar ou demonizar idéias que diferem daquilo que eles foram levados a acreditar. Suas ignorâncias “educadas” é um perigo para o futuro do país[1].


Publicado por Townhall


[1] Vemos que a universidade tem sido a fábrica do Imbecil Coletivo, não só em nosso país. (N. do T.)

Velhos Budweisers

Thomas Sowell

No tempo do Império Habsburgo havia uma cidade na Boêmia chamada Budweis. As pessoas dessa cidade eram chamadas de budweisers e ela tinha uma cervejaria que produzia uma cerveja com o mesmo nome – mas diferente da americana Budweiser.

Como muitas comunidades na Boêmia durante aqueles tempos, Budweis tinha uma população de ancestrais tchecos e alemães, que falava línguas diferentes, apesar de muitos serem bilíngües. Eles se davam muito bem e quase todos se consideravam budweisers, ao invés de tchecos ou alemães. Mas, isso mudou mais tarde – para pior – não só em Budweis, mas em toda a Boêmia.

O prefeito de Budweis falava tanto tcheco quanto alemão, mas se negava a ser classificado como membro de um dos grupos. Ele afirmava que ‘somos todos budweisers’.

Tal como com virtualmente todos os grupos, em virtualmente todos os países e em virtualmente todos os tempos, havia diferenças entre os alemães e tchecos. Os alemães tinham um maior grau de instrução, eram mais prósperos e mais proeminentes nos negócios e nas profissões.

A língua alemã tinha, então, uma literatura mais rica e diversa, pois, as línguas eslavas adquiriram versões escritas séculos depois das línguas da Europa Ocidental. Toda a educação do povo, de qualquer etnia, se dava em alemão.

Aqueles tchecos que desejassem subir aos altos escalões nos negócios, nas forças armadas ou nas profissões tinham de dominar a língua e a cultura alemã, para se relacionarem com aqueles já nos altos postos.

Os povos de ambos os lados aprenderam a conviver com essa situação e os tchecos eram bem-vindos nos enclaves de cultura alemã quando eles dominavam essa cultura. Em Budweis eles podiam ser todos budweisers.

Como em muitos outros países e épocas, o advento de uma nova classe intelectual no século XIX polarizou a sociedade por meio de uma política de identidade étnica. Em toda a Boêmia, a nova intelligentzia tcheca pressionava os tchecos a se considerarem tchecos, não boêmios ou budweisers, não qualquer outra coisa que pudesse transcender a sua identidade étnica.

Começaram a exigir que as placas e sinais em Praga, que eram antes escritos em tcheco e alemão, fossem, agora, escritos apenas em tcheco. Começaram a exigir que um certo percentual de música tcheca fosse executado pela orquestra de Budweiser.

Apesar dessas demandas parecerem insignificantes, suas conseqüências não foram pequenas. O povo de ancestralidade alemã resistiu à classificação étnica, mas a intelligentzia tcheca insistia que os políticos tchecos os apoiassem nesse e em vários outros pontos, de pouca ou muita importância.

Com o passar do tempo, os alemães também começaram, como autodefesa, a se considerarem alemães, ao invés de boêmios ou budweisers e a defenderem os interesses alemães. Essa polarização étnica no século XIX foi um passo fatal cujas conseqüências ainda não terminaram completamente, mesmo no século XXI.

Um momento crucial foi o da criação da nova nação da Tchecoslováquia, quando o Império Habsburgo foi desmantelado depois da I Guerra Mundial. Os líderes tchecos declararam que a missão da nova nação incluía a correção da ‘injustiça social’ no sentido de ‘reparar os erros históricos do século XVII’.

Quais foram esses erros? Os nobres tchecos que se revoltaram contra o Império Habsburgo no século XVII foram vencidos e tiveram suas terras confiscadas e dadas aos alemães. Presumivelmente, ninguém do século XVII ainda estava vivo quando a Tchecoslováquia foi criada no século XX, mas os nacionalistas tchecos mantiveram viva a antiga mágoa – tal como os ideólogos da identidade étnica têm feito em países em todo o mundo.

Políticas governamentais criadas para desfazer a história, com tratamento preferencial para os tchecos, polarizaram aquela geração de tchecos e alemães. Reações alemãs amargas levaram a exigências de que a parte do país em que eles viviam fosse anexada à vizinha Alemanha. Disso veio a crise de 1938 que desmembrou a Tchecoslováquia na véspera da II Grande Guerra.

Quando os nazistas conquistaram todo o país, os alemães dominaram os tchecos. Depois da guerra, a reação tcheca levou a expulsões em massa de alemães sob condições brutais, que custaram muitas vidas. Atualmente, refugiados na Alemanha ainda demandam restituição.

Quem dera se as mágoas do passado fossem lá deixadas! Quem dera se eles tivessem todos permanecidos budweisers ou boêmios!



Publicado por Townhall

A Esquerda e o Conceito de Classe: Parte III

Thomas Sowell

Parece, às vezes, que os esquerdistas têm uma habilidade de produzir um interminável fluxo de idéias que são contra-produtivas para os pobres, a quem eles alegam estar ajudando. Poucas dessas noções são mais contra-produtivas que a idéia de ‘trabalho desqualificado’ ou ‘emprego beco-sem-saída’.

Pense bem: Por que os empregadores pagam as pessoas pelo trabalho ‘desqualificado’? Porque o trabalho tem de ser feito. Qual o propósito útil de estigmatizar o trabalho que há de ser feito de qualquer forma?

Esvaziar urinol num hospital é trabalho desqualificado? O que aconteceria se os urinóis não fossem esvaziados? Deixem as pessoas pararem de esvaziar os urinóis por um mês e haverá maiores problemas do que se os sociólogos pararem de trabalhar por um ano.

Ter alguém para faxinar, cozinhar e fazer pequenas tarefas na casa pode ser uma dádiva para alguém inválido ou que sofre das enfermidades da velhice – e que não quer ser colocado num asilo. Alguém em quem se pode confiar para tomar conta de crianças pequenas é, da mesma forma, um tesouro.

Muitas pessoas que fazem esse tipo de trabalho não têm a educação, as habilidades ou a experiência para realizar trabalhos mais complexos. Mesmo assim, elas podem dar uma contribuição real para a sociedade e, ao mesmo tempo, ganhar dinheiro que as manterá fora do seguro desemprego.

Muitos trabalhos não qualificados são chamados de ‘beco-sem-saída’ pelos intelectuais de esquerda, porque essas ocupações não têm uma cadeia de promoção. Mas, é superficial além do suportável dizer que isso significa que pessoas em tais empregos não têm perspectiva de uma ascensão econômica.

Você não ganha promoção em tais empregos. Você usa a experiência, iniciativa e disciplina que neles desenvolveu para mudar para algo que pode ser totalmente diferente. Pessoas que começam ‘virando’ hambúrgueres no McDonals raramente permanecem lá por um ano sequer, muito menos, por toda vida.

Trabalhos ‘beco-sem-saída’ são o que tive toda a minha vida. Mas, mesmo que eu tenha começado entregando produtos de mercearia no Harlem, eu não os entrego mais. Eu mudei para outros empregos – a maioria dos quais não tinha cadeia de promoção.

Minha única promoção oficial em mais de meio século de trabalho foi de professor associado para professor permanente na UCLA (Universidade da Califórnia, em Los Angeles). Mas, isso foi somente um aumento salarial, ao invés de uma promoção real, pois, professores associados e permanentes fazem o mesmo trabalho.

As noções de trabalho desqualificado e ‘beco-sem-saída’ podem ser apenas conceitos falsos e superficiais da intelligentsia, mas elas são mensagens mortalmente contra-produtivas para o pobre. Recusar-se a pisar no primeiro degrau, freqüentemente, significa perder a chance de subir a escada.

O sistema de seguro social pode lhe dar dinheiro, mas ele não pode lhe dar experiência de trabalho que lhe impulsionará economicamente. Vender drogas nas ruas pode lhe dar mais dinheiro do que o seguro desemprego, mas não pode lhe dar a experiência a ser relatada quando você se candidatar a um emprego. E se você decidir vender drogas por toda a vida, sua vida pode ser muito curta.

No tempo da I Guerra Mundial, um jovem negro chamado Paul Williams estudou arquitetura e, então, aceitou um emprego como um office-boy numa empresa de arquitetura. Ele concordou em trabalhar sem nada ganhar, apesar de depois de ele se apresentar, a companhia decidiu pagá-lo alguma coisa, afinal.

O que eles o pagaram seria hoje, provavelmente, descartado como ‘ninharia’. Mas, o que Paul Williams queria daquela companhia era conhecimento e experiência, mais do que dinheiro.

Ele progrediu e criou sua própria empresa de arquitetura, projetando tudo, de igrejas e bancos a mansões para estrelas de cinema – e contribuindo para o projeto do ‘Edifício Tema’ do Aeroporto Internacional de Los Angeles.

Os verdadeiros idiotas são aqueles que se recusam a começar de baixo, ganhando uma ninharia[1]. Os esquerdistas que encorajam tais atitudes podem se considerar amigos dos pobres, mas eles os fazem mais mal do que seus inimigos.



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[1] Aqui Sowell brinca com a gíria chump (maluco, idiota) e a gíria chump change (ninharia, bagatela, trocado). (N. do T.)

22/03/2006

A Esquerda e o Conceito de Classe: Parte II

Thomas Sowell

Alguém, certa vez, definiu um problema social como uma situação em que o mundo real contradiz as teorias dos intelectuais. Para a intelligentsia, continua o dito, é o mundo real que está errado e que precisa ser mudado.

Tendo imaginado um mundo em que cada indivíduo tem a mesma probabilidade de sucesso, os intelectuais ficam chocados e irados porque o mundo real não passa nem perto desse ideal. Uma vasta quantidade de tempo e recurso tem sido devotada a tentar descobrir o que está impedindo o ideal de ser realizado – como se houvesse alguma razão para que ele ser realizasse.

Apesar de todas as palavras e números que surgem nas discussões dessas situações, os termos usados são tão descuidados e ambíguos que é difícil saber até quais são os problemas e, muito menos, como resolvê-los.

Em maio passado, tanto o New York Times(NYT) quanto o Wall Street Journal(WJS) estamparam nas suas primeiras páginas histórias sobre diferenças de mobilidade de classe. O artigo do NYT foi o primeiro de uma longa série que ainda continua, um mês depois[1]. Ambos os jornais chegaram a conclusões similares, baseadas no mesmo uso ambíguo da palavra ‘mobilidade’.

O NYT se referiu à ‘possibilidade de ascender de uma classe para outra’ e o WSJ se referiu às ‘chances de uma criança nascida na pobreza chegar à riqueza’. Mas a probabilidade de alguma coisa não acontecer não é medida da inexistência de oportunidades.

Alguém que visse eu e Michael Jordan, quando jovens, jogarmos basquetebol teria visto chances de um bilhão para um a favor de ele chegar à NBA, em relação a mim. Isso significa que a mim foi negada a oportunidade ou o acesso, que houve barreiras levantadas contra mim, que o ‘jogo’ não era justo?

Ou isso significa que Michael Jordan, -- e virtualmente qualquer um – jogava basquetebol melhor que eu?

Uma imensa literatura sobre mobilidade social, freqüentemente, presta pouca ou nenhuma atenção ao fato de que indivíduos e grupos diferentes têm diferentes habilidades, desejos, atitudes e numerosos outros fatores, incluindo sorte. Se a mobilidade for definida como sendo liberdade de movimento, então, todos podemos ter a mesma mobilidade, mesmo que alguns se movam mais rápido que outros e que alguns nem mesmo se movem.

Um carro capaz de fazer 160 km/h pode ficar parado numa garagem o ano todo sem se mover. Mas isso não significa que ele não tenha mobilidade.

Quando cada indivíduo e cada grupo trilham a longa sombra de sua história cultural, é improvável que eles queiram fazer as mesmas coisas, muito menos que eles estejam dispostos a empreender os mesmos esforços e fazer os mesmos sacrifícios para atingirem os mesmos objetivos. Muitos são como o carro que está parado na garagem, mesmo sendo capaz de correr a 160 km/h.

Contanto que cada geração crie seus próprios filhos, indivíduos de diferentes origens serão criados com diferentes valores e hábitos. Mesmo num mundo sem nenhuma barreira para a mobilidade ascendente, eles se moveriam a diferentes velocidades e em diferentes direções.

Se há menos movimento ascendente hoje em dia do que no passado, isso não é uma prova de que barreiras externas são as responsáveis. O estado de bem-estar social e o multiculturalismo reduzem os incentivos do pobre na direção da adoção de novas formas de vida que os ajudariam a subir os degraus econômicos. A última coisa que o pobre precisa é uma outra dose de tal remédio contra-produtivo esquerdista.

Muitas comparações de ‘classes’ são, de fato, comparações de indivíduos em diferentes faixas de renda – mas, a maioria dos americanos se move dos 20% mais baixos para os 20% mais altos, com o tempo.

Mesmo assim, aqueles que estão obcecados com o conceito de classe tratam os indivíduos em diferentes faixas como se eles fossem classes e estivessem permanentemente presas nessas faixas.

A série de reportagens do New York Times aborda ainda, em grande estilo, as disparidades de renda e estilo de vida entre o rico e o super-rico. Mas, é difícil ficar sensibilizado com algum pobre diabo que voa em seu velho teco-teco, enquanto alguém, bem acima na escala de renda, voa um ou dois quilômetros acima, com seu jato luxuoso.

Somente se tiver tomado uma overdose de ‘disparidades’, você se indignará com coisas desse tipo.


Publicado por Townhall

[1] Este artigo foi escrito em junho de 2005. (N. do T.)

14/03/2006

A Esquerda e o Conceito de Classe

Thomas Sowell

A nova trindade santa dos intelectuais de esquerda é raça, classe e gênero. Definir qualquer desses termos não é fácil, exceto para os esquerdistas que, muito raramente, se preocupam com isso.

O mais antigo, e talvez ainda o mais importante, desses conceitos é o de classe. Na visão da esquerda, nascemos, vivemos e morremos numa determinada classe – a menos, claro, que entreguemos o poder à esquerda para mudar tudo isso.

As mais recentes estatísticas usadas para apoiar a visão de uma América (e outros países ocidentais) dividida em classes mostram que a maioria das pessoas, numa determinada faixa da distribuição de renda, são filhos de outras pessoas nascidas na mesma faixa da distribuição.

Entre os homens nascidos em famílias nos últimos 25% da distribuição de renda, apenas 32% conseguem ascender à metade superior da distribuição. Entre os homens nascidos em famílias nos primeiros 25%, apenas 34% descem para a metade inferior.

O quanto isso é surpreendente?

Mais especificamente, isso mostra que o indivíduo fica preso à pobreza ou pode passar a vida dependendo de seus pais? Isso mostra que a ‘sociedade’ nega ‘acesso’ aos pobres?

Será que isso poderia indicar que o tipo de valores e de comportamento que levam uma família a ter sucesso ou a fracassar são passados para seus filhos e os levam, também, a ter sucesso ou a fracassar? Em caso afirmativo, o quanto políticas governamentais – de esquerda ou conservadoras – podem mudar, fundamentalmente, a situação?

Uma estória recente que tenta mostrar que a mobilidade social ascendente é um ‘mito’ na América nota, en passant, que muitos imigrantes recentes e seus filhos tiveram ‘uma mobilidade ascendente extraordinária’.

Se essa sociedade estratificada em classes nega ‘acesso’ à ascendência social àqueles na base da pirâmide, por que os imigrantes podem chegar aqui na base e subir ao topo?

Uma razão óbvia é que muitos imigrantes pobres chegam com valores e ambições muito diferentes daqueles dos pobres americanos, nascidos em nosso estado de bem-estar social e imbuídos de noções vindas de atitudes de dependência e ressentimento em relação ao sucesso dos outros.

A razão fundamental de muitos não ascenderem não é que as barreiras de classe os impedem, mas que eles não desenvolvem as habilidades, valores e atitudes que são a causa da ascensão social.

Um estado de bem-estar social significa que eles não têm de – e o multiculturalismo de esquerda afirma que eles não precisam de – mudar seus valores, pois, uma cultura é tão boa quanto outra qualquer. Em outras palavras, a esquerda não é parte da solução, mas do problema.
O racismo supostamente coloca barreiras insuperáveis no caminho dos não brancos, então, por que se matar tentando? Essa é outra mensagem fatal, especialmente para os jovens.

Mas, se imigrantes da Coréia e da Índia, se os refugiados vietnamitas e outros podem vir para cá e subirem a escada, apesar de não serem brancos, por que americanos na base da pirâmide – brancos ou negros – estão fadados a lá permanecerem?

As mesmas atitudes contra-produtivas e autodestrutivas em relação à educação, ao trabalho e à civilidade existentes em muitos guetos americanos podem, também, ser encontrados nas comunidades britânicas das classes inferiores. Quem duvidar deve ler o livro do Dr. Theodore Dalrymple, ‘Life at the Bottom (Vida da Classe Inferior)’, sobre as comunidades de brancos pobres nas quais ele trabalhou.

Essas comunidades caóticas e violentas na Inglaterra não têm a desculpa do racismo e o legado da escravidão. O que elas têm em comum com as comunidades similares nos EUA é a semelhante confiança no estado de bem-estar social e um conjunto similar de intelectuais dando desculpas para seu comportamento e denunciando qualquer um que deseje delas uma mudança de comportamento.

O recente conjunto de estatísticas estimulou ainda mais os intelectuais a culparem a ‘sociedade’ pelo fracasso, na ascensão, de muitas pessoas na base da pirâmide social. Realisticamente, se quase um terço dos nascidos em famílias no quartil inferior de renda conseguem chegar ao topo, esse não é um dado ruim.

Se mais estava sendo conseguido no passado, isso não significa, necessariamente, que a ‘sociedade’ os estão impedindo mais, atualmente. Isso pode muito bem ser devido ao estado de bem-estar social e à ideologia esquerdista que fazem menos necessário a eles uma mudança de seus próprios comportamentos.



Publicado por Townhall

10/03/2006

Teoria Materialista da História[1]

G. K. Chesterton


A teoria materialista da história – que afirma que toda a política e a ética são expressões da economia – é uma falácia, de fato, muito simples. Ela consiste, simplesmente, em confundir as necessárias condições de vida com as normais preocupações da vida, que são coisas muito diferentes. É como dizer que porque o homem pode andar somente sobre duas pernas, então, ele só pode caminhar se for para comprar meias e sapatos. O homem não pode viver sem os amparos da comida e da bebida, que os suporta sobre duas pernas; mas, sugerir que esses têm sido os motivos para todos os seus movimentos na história é como dizer que o objetivo de todas as suas marchas militares ou peregrinações religiosas deve ter sido a Perna Dourada da Senhora Kilmansegg ou a perfeita e ideal perna do Senhor Willoughby Patterne. Mas, são esses movimentos que constituem a história da espécie humana e sem eles não haveria praticamente história. Vacas podem ser puramente econômicas, no sentido de que não podemos ver que elas façam muito mais do que pastar e procurar o melhor lugar para isso; e essa é a razão pela qual a história das vacas em doze volumes não seria uma leitura estimulante. Ovelhas e cabras podem ser economistas em suas ações externas, pelo menos; mas, essa é a razão das ovelhas dificilmente serem heróis de guerras épicas e impérios, importantes suficientes para merecerem uma narração detalhada; e mesmo o mais ativo quadrúpede não inspirou um livro para crianças intitulado Os Feitos Maravilhosos das Cabras Galantes.

Mas, com relação a serem econômicos os movimentos que fazem a historia do homem, podemos dizer que a história somente começa quando os motivos das ovelhas e das cabras deixam a cena. Será difícil afirmar que os Cruzados saíram de suas casas em direção a uma horrível selvageria da mesma forma que as vacas tendem a ir das selvas para pastagens mais confortáveis. É difícil afirmar que os exploradores do Ártico foram em direção ao norte imbuídos dos mesmos motivos materiais que fizeram as andorinhas ir para o sul. E se deixarmos, de fora da história humana, coisas tais como todas as guerras religiosas e todas a aventuras exploratórias audaciosas, ela não só deixará de ser humana, mas deixará de ser história. O esboço da história é feito dessas curvas e ângulos decisivos, determinados pela vontade do homem. A história econômica não seria sequer história

Mas há uma falácia mais profunda além deste fato óbvio; os homens não precisam viver por comida meramente porque eles não podem viver sem comida. A verdade é que a coisa mais presente na mente do homem não é a engrenagem econômica necessária a sua existência, mas a própria existência; o mundo que ele vê quando acorda toda manhã e a natureza de sua posição geral nesse mundo. Há algo que está mais próximo dele que a sobrevivência e esse algo é a vida. Pois, tão logo ele se lembre qual trabalho produz exatamente seu salário e qual salário produz exatamente sua refeição, ele reflete dez vezes que hoje é um dia lindo, ou que este é um mundo estranho, ou se pergunta se a vida vale a pena ser vivida, ou se seu casamento é um fracasso, ou se ele está satisfeito ou confuso com seus filhos, ou se lembra de sua própria juventude, ou ele, de alguma forma, vagamente revê o destino misterioso do homem.

Isso é verdade para a maioria dos homens, mesmo para os escravos assalariados de nosso mórbido industrialismo moderno, que pelo seu caráter hediondo e sua desumanidade tem, realmente, posto a questão econômica em primeiro plano. É muito mais verdade para os numerosos camponeses, caçadores e pescadores que constituem a massa real da humanidade. Mesmo aqueles áridos pedantes, que pensam que a ética depende da economia, devem admitir que a economia depende da existência. E nossos devaneios e dúvidas cotidianos são sobre a existência; não sobre como podemos viver, mas sobre porque vivemos. E a prova disso é simples; tão simples quanto o suicídio. Vire o universo de cabeça para baixo em sua mente e você virará todos os economistas de cabeça para baixo. Suponha que um homem deseje morrer e que o professor de economia se torne um tédio com sua elaborada explicação de como ele deve viver. E todas as iniciativas e decisões que fazem do nosso passado humano uma história têm esse caráter de desviar o curso direto da pura economia. Tal como o economista deve ser desculpado por calcular o salário de um suicida, ele deve também ser desculpado por prover uma pensão de aposentadoria para um mártir. Tal como ele não precisa se preocupar com a pensão de um mártir, ele não deve se preocupar com a família de um monge. O plano do economista é modificado por insignificantes e variados detalhes como no caso de um homem ser um soldado e morrer pelo seu próprio país, de um homem ser um camponês e amar especialmente sua terra, de um homem ser mais ou menos influenciado por qualquer religião que proíba ou permita isso ou aquilo. Mas tudo isso se resume não a um cálculo econômico sobre despesas, mas a uma elementar consideração sobre a vida. Tudo isso se resume ao que o homem fundamentalmente sente, quando ele contempla, dessas janelas estranhas que ele chama os olhos, essa estranha visão que ele chama o mundo.





[1] Excerto do capítulo VII (‘The War of the Gods and Demons’ – A Guerra dos Deuses e Demônios) do livro ‘The Everlasting Man’ (O Homem Eterno). Quem se interessar pode ‘baixar’ uma cópia grátis desse livro, em inglês, do sítio The On-Line Books. Até onde eu sei, há uma tradução desse livro para o português, pela Editora Quadrante, que está fora de catálogo no momento. Eu não a conheço. (N. do T.)

23/02/2006

22/02/2006

As Besteiras de Holywood e seu Comunismo Chique

Quem quiser exorcizar as besteiras de Holywood e desmascarar seu comunismo chique tem poucas chances no Brasil.

Sugiro abaixo alguns links que podem ajudar a quem se interessar.


http://www.midiasemmascara.org/artigo.php?sid=4600

http://www.olavodecarvalho.org/semana/051212dc.htm

http://www.olavodecarvalho.org/semana/060206dc.htm

17/02/2006

Como e Porque Estudar

Hoje em dia, está na moda dizer que devemos ser autodidatas. Há mesmo aqueles que afirmam que isso é o que as escolas deveriam ensinar. Lendo esses chavões modernos, chegamos a pensar que só os ‘sábios’ contemporâneos, com todas as ferramentas da moderna pedagogia, podem nos aconselhar, quando o assunto é o estudo e o aprendizado.

Se alguém quiser desfrutar de uma tradição de aconselhamento de como e porque estudar que remonta à Idade Média, convém começar com o ‘Opúsculo sobre o Modo de Aprender e de Meditar’ de Hugo de São Vitor (1096-1141), continuar com o ‘Sobre o Modo de Estudar (De Modo Studendi)’ de Santo Tomás de Aquino (1125-1274) e chegar ao nosso tempo com ‘Le Vie Intellectuelle’, escrito em 1934, por A.D. Sertillanges, um beneditino francês. Existe uma edição em inglês dessa obra, publicada pela CUA (Catholic University of America) Press, como o título ‘The Intellectual Life: Its Spirit, Conditions, Methods’.

O filósofo brasileiro Olavo de Carvalho tem se ocupado, freqüentemente, deste tema em seus artigos semanais em jornais brasileiros e em palestras em vários fóruns. Alguns deles são de aconselhamento, como este . Outros, são de análise da conjuntura atual, mas que inclui uma boa dose de conselhos sobre como estudar, como este. Alguns deles são longas digressões sobre a educação em geral, como este.

Voltando ao beneditino francês, seu livro é, de fato, um tesouro. Para dar uma pálida idéia do seu conteúdo, traduzo alguns trechos de seu prefácio, escrito pelo jesuíta James V. Schall, para a edição de 1998. A propósito, Padre Schall também escreveu um livro de conselhos sobre como estudar. Não o conheço, mas quem se interessar pode adquiri-lo aqui.

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Os prazeres e as dores do pensar

Uma vocação não é realizada por leituras vagas e escritos esparsos.
-- A.D. Sertillanges, Introdução à Edição de 1934


Muitos de nós, mais velhos, desejaríamos que, quando mais jovens, alguém nos tivesse falado sobre certas coisas, ou sobre certos livros que, freqüentemente, quando os analisamos em retrospectiva, teriam nos ajudado, tremendamente, no projeto de nossas vidas e, em particular, nos teriam ajudado a conhecer as coisas verdadeiras. Alguns desses livros são orientados ao que é verdadeiro, à realidade, ao que é, mas alguns deles são mais direcionados à questão do “como começar a conhecer?” (...)

Sertillanges oferece muito mais do que um bom começo. Ele, explicitamente, diz como começar, como ler e escrever, como disciplinar nosso tempo, de fato, como disciplinar nossa alma. Ele também se ocupa com a vida do espírito na qual a verdadeira vida intelectual existe. Talvez, já tenhamos ouvido de Aristóteles que somos animais racionais, que a vida contemplativa é algo a que devemos aspirar. Mas, praticamente ninguém nos diz o que isso significa, se isso é algo que está disponível a nós sob alguma condição que não nos é fácil compreender. Mas, mesmo que nós, vagamente, saibamos que a vida intelectual é uma vida elevada, sabemos muito pouco sobre o que tal vida nos poderia exigir. Estamos, também, conscientes que a sabedoria vem muito mais tarde na vida do que, inicialmente, suspeitávamos,. Mesmo assim, suspeitamos que haveria caminhos que nos ajudassem, se pelo menos nós os conhecêssemos. (...)

Este breve prefácio é, simplesmente, uma explicação da razão pela qual esse livro maravilhoso e útil deve estar, sempre, disponível e ser, permanentemente, consultado por jovens estudantes de graduação, de pós-graduação, pelo pessoal mais velho e, enfim, por todos. Toda vez que usei esse livro em sala de aula, usualmente quando lecionava um curso sobre Santo Tomás de Aquino, tive alunos de graduação que, posteriormente, me disseram lembrar do livro porque ele os ensinou muito sobre como continuar pondo em prática a curiosidade intelectual, de uma maneira efetiva, não meramente enquanto estudavam, mas ao longo de suas vidas.

À primeira vista, como já insinuei, esse é um livro incomum. Depois, ele se torna um livro tremendamente exigente. Sertillanges, meticulosamente, nos diz como tomar notas, como começar a escrever e a publicar, como organizar nossas anotações e com isso, nosso pensamento. Assim, usei a palavra incomum porque nós não usamos mais, como fez Sertillanges, canetas e máquinas de datilografia, mas computadores sofisticados e processos de impressão que o teriam impressionado. Mas, lembre-se que Tomás de Aquino, sobre quem Sertillanges escreveu tão bem e de cuja inspiração deriva este livro, teve, talvez, somente vinte e cinco anos de atividade produtiva no século XIII. Ele não teve nenhuma das facilidades que mesmo Sertillanges teve nos anos 20 do século XX. Mesmo assim, Aquino produziu uma quantidade, estonteante, de material brilhante e profundo.

Como ele o fez? É altamente duvidoso que ele tivesse escrito mais ou melhor se ele dispusesse do mais avançado computador. De fato, num certo sentido, isso poderia ter sido um obstáculo. Pois, Santo Tomás desenvolveu uma memória prodigiosa e uma fantástica capacidade de acesso a todo o conhecimento dos grandes escritores seus ancestrais, incluindo a Bíblia. Essa sabedoria foi adquirida às custas de livros e leitura, mesmo para Santo Tomás, mas ele sabia como fazer essas coisas. O que Sertillanges nos ensina é como, do nosso próprio jeito, imitar as lições que podemos encontrar no grande Dominicano medieval, sobre como desenvolver uma verdadeira vida intelectual, uma vida cheia de honestidade e oração, por meio de um trabalho diligente e, no final, uma vida com o deleite de conhecer.

Ao ler o livro de Sertillanges, não podemos evitar o sentimento de que ele está nos revelando alguns dos segredos da vasta produtividade e intuição de Santo Tomás. Há tantas horas num dia, numa semana, num mês. Sertillanges não nos pede para abrirmos mão de nossa vida cotidiana e nos devotarmos, completamente, à vida intelectual da maneira como Santo Tomás fez. Ao contrário, Sertillanges nos ensina, de uma forma prática, como podemos organizar nossas vidas a fim de adquirirmos uma base inicial sólida – com sorte, quando ainda somos jovens – e continuarmos a construir sobre essa firme fundação, pelo resto de nossos dias. Em resumo, Sertillanges nos ensina sobre hábitos, sobre disciplina, sobre, sim, produtividade e verdade. Ele pensa que podemos viver uma verdadeira vida intelectual se conseguirmos reservar uma ou duas horas diárias para uma busca séria das coisas superiores. Ele não sugere nada rígido ou inexeqüível. Além disso, quando falamos em termos de horas, tendemos a perder de vista ao que Sertillanges se refere.

Qualquer tipo de aprendizado, no início, exigirá um esforço penoso. Podemos chamá-lo de um tipo de trabalho. Precisamos chegar a ponto de nos deleitarmos pelo que estamos aprendendo, a ponto de ficarmos ansiosos para voltarmos para nossas considerações, ou escritos, ou reflexões sobre algum assunto. Qualquer coisa que existe é fascinante. Chesterton, cuja vida intelectual parece ter sido tão vibrante, certa vez observou que não há coisas desinteressantes, apenas pessoas desinteressadas. Grande parte desse desinteresse existe, precisamente, porque nunca aprendemos como ou porque enxergar o que está lá.

Sertillanges nos ensina a examinar nossas vidas. Ele não deixa de mencionar que nossas falhas morais, as sérias e as mais leves, podem, de fato, nos impedir de sermos livres o suficiente para enxergarmos o que não seja ‘nós mesmos’, para enxergarmos o que é. “Você deseja ter uma vida intelectual?” Sertillanges responde, em sua Introdução da edição de 1934. “Comece por criar dentro de si uma zona de silêncio.” Vivemos num mundo cercado por barulho, por um tipo de agitação que preenche nossos dias e noites. Temos tantas coisas para nos distrair, mesmo que, às vezes, pensamos que elas nos educam. Sertillanges tem certeza que temos tempo. Mas, ele, também, tem certeza que não notamos que temos tempo porque nossas vidas parecem ser ocupadas, saturadas. Encontramos tempo nos tornando, primeiramente, interessados, desejosos de saber. Sertillanges exige um exame de consciência tanto sobre nossos pecados, quanto sobre o uso do nosso tempo.

Uma vida intelectual, contemplativa, é, em si, cheia de atividade, mas atividade proposital, que quer saber e saber a verdade. O que, comumente, chamamos “intelectual” atualmente não é, provavelmente, o que Sertillanges tinha em mente quando ele falava de “vida intelectual”. Pode-se dizer que os intelectuais como classe, como Paul Johnson escreveu em seu livro “Os Intelectuais”, desenvolvem teorias e explicações, precisamente, como um produto de suas próprias desordens morais internas. Não devemos nunca esquecer que uma vida intelectual é uma vida perigosa. O maior de todos os pecados não se origina da carne mas do espírito, como dizia Agostinho. O mais brilhante dos anjos foi o anjo caído. Essas considerações sóbrias explicam porque gosto deste pequeno livro de Sertillanges. Ele não hesita em nos alertar sobre a relação íntima entre nosso conhecimento da verdade e o não direcionamento de nossa alma ao bem. A vida intelectual pode ser e, com freqüência, é uma vida perigosa. Mas, isso não é razão para negarmos sua glória. E Sertillanges é muito cuidadoso em nos direcionar para aquelas coisas que devem ser perseguidas porque elas nos explicam o que somos, nos explicam o mundo e Deus. (...)

Tendemos a pensar que a vida intelectual é alguma enorme intuição que vem a nós numa agradável manhã, enquanto nos barbeamos ou tomamos café. Sertillanges não nega que alguma intuição nos chega dessa forma. Mas, o curso normal das coisas exigirá, ao contrário, uma preocupação permanente em perseguir a verdade, em conhecer, em ser curioso sobre a realidade. (...)

Eu colocaria A Vida Intelectual sobre a escrivaninha de todo estudante sério e da maioria dos negligentes. De fato, Platão disse que nossas vidas não são “sérias” em comparação com a de Deus. Algo do relaxado lazer, daquela sensação de liberdade que vem com o conhecimento e com o desejo de conhecimento, é instilado em nossas almas por este livro. Sua mera presença em nossas escrivaninhas ou estantes é um estímulo constante, um lembrete visível de que a vida intelectual não é algo estranho, algo que não podemos, do nosso jeito, alcançar.

13/02/2006

PADRÃO DIGITAL OU ESTATAL?

por Rodrigo Constantino

A escolha do padrão digital para a televisão brasileira vem se arrastando faz tempo. A disputa se dá entre os modelos japonês, europeu e americano. Cada um conta com um número de defensores, todos apresentando seus argumentos. O ministro das Comunicações, Hélio Costa, admite o atraso na decisão. Mas o ponto é: por que a decisão deveria caber a alguns poucos políticos e burocratas poderosos?

Quando as importantes decisões partem de cima para baixo, como se uns poucos “sábios” fossem clarividentes e honestos o suficiente para realmente focarem no interesse dos consumidores, normalmente temos escolhas erradas. Afinal, ninguém melhor que o próprio consumidor sabe qual sua preferência. A beleza do funcionamento do livre mercado é justamente delegar a cada indivíduo o poder de escolha, fazendo com que o processo decisório, de baixo para cima, ofereça o resultado mais eficiente.

O debate atual nos remete ao caso da Betamax e VHS, durante a briga pelo padrão dominante de videocassete. O modelo da Sony, o Betamax, foi introduzido em 1975, e no começo da década de 80 era bastante popular. Entretanto, por volta de 1985, o mercado se voltou claramente para o modelo concorrente, o VHS desenvolvido pela JVC. Esta empresa optou por uma rota de “open sharing”, permitindo múltiplos concorrentes produzindo no mesmo padrão. Em 1988, a Sony finalmente reconheceu a sua derrota, e também começou a produzir no padrão vencedor. O “mercado”, ou seja, os consumidores escolheram qual o padrão iria predominar.

Esta lição deveria ser mais freqüentemente lembrada por aqui. Não é a cerveja mais apreciada por alguns políticos que o povo deverá tomar, mas a que cada um preferir, de acordo com a livre concorrência dos produtores. O mesmo vale para carros, geladeiras, computadores, celulares e sim, até padrão de TV digital. O caminho alternativo, de concentrar o poder de escolha nas mãos de poucos políticos poderosos, é o caminho seguro para maior corrupção e insatisfação popular. Acabamos com grupos de interesses disputando, pela via política, quem vence a batalha. Em vez da satisfação do consumidor ser a prioridade número um, convencer os poucos burocratas passa a ser o foco principal. O suborno, para capturar a burocracia poderosa, fica irresistível. E o padrão escolhido não guardará necessariamente correlação alguma com a preferência dos indivíduos.

Por fim, o alerta do austríaco Ludwig von Mises*: “Uma política de medidas restritivas favorece os produtores, enquanto uma política que não interfere no funcionamento do mercado favorece os consumidores”.


* Quem quiser conhecer mais sobre Mises acesse este sítio. (Nota do Blog)


Publicado em 10/02/2006 em Diegocasagrande.com.br

03/02/2006

Como Fazer Fama e Dinheiro como Cientista

Keith A. Crutcher.(Perspectives in Biol. and Med., 34:2 Winter 1991, 213-218)


(Nota do Tradutor) - Quem, ao ler o texto abaixo, imaginar seu autor, ou como um lunático, ou como um ressentido, estará errando por muito. Ele descreve, através de um texto irônico, um estado de coisas implantado na comunidade científica mundo afora.

Desde que aos departamentos acadêmicos das universidades só importa o número de publicações de um determinado professor-pesquisador, ser um pesquisador famoso é equivalente a operar o milagre da multiplicação das publicações. Isso e muito mais é analisado e ensinado no texto que se segue.

Tudo isso acontece em países desenvolvidos onde a sociedade costuma ser mais atenta a fatos dessa natureza. A situação no Brasil é um muito pior, pois, falta-nos a tradição de uma instituição acadêmica que mereça esse nome. Lembremos que nossa primeira universidade foi criada, em 1920, para dar um título ao Rei da Bélgica. Além disso, com uma sociedade com baixo nível educacional, onde nossos intelectuais(no sentido que Paul Johnson dá ao termo) só promovem o desaprendizado daquela camada que sabe ler, nossas universidades se sentem livres para fabricar reputações ao sabor das modas. Somos famosos porque nos achamos famosos. Daí o pacto da mediocridade: fingimos que somos famosos e vocês fingem que acreditam. Fingem e, claro, nos financiam.

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Parece que muitos de nossos cientistas não recebem um treinamento básico de como ter sucesso em ciência – por exemplo, como obter financiamento, como granjear o reconhecimento dos pares, como construir uma bibliografia maior que qualquer particular publicação nela listada. Para corrigir essa deficiência, são apresentadas a seguir algumas orientações. É claro que sempre haverá uma ovelha negra que decide embarcar num caminho inteiramente original ou que escolhe renunciar às benesses de ser reconhecido como um cientista famoso, caso para o qual essas orientações não se aplicam. No entanto, atenção aos princípios enunciados abaixo deve ser suficiente para proporcionar uma sólida base sobre a qual aspirantes a cientistas possam construir suas carreiras.


1. Relaxe! Afinal, estamos, no momento, entre duas alterações de paradigmas

Muito do stress e da ansiedade que tradicionalmente são associados com a atividade científica foi aliviado pelo tremendo insight de Thomas Kuhn. Como a grande maioria dos cientistas está atualmente fazendo ciência “normal”, flutuando em águas teóricas, e avanços verdadeiros devem aguardar a próxima alteração de paradigma, muitos de nós podemos relaxar na medida em que percebemos que é improvável que nosso trabalho tenha uma influência duradoura. Há, é claro, aqueles que objetivam contribuir para, ou mesmo precipitar, uma alteração de paradigma, e é difícil que eles sejam dissuadidos de fazê-lo, mas o restante de nós deve reconhecer que o esclarecimento de um paradigma existente é necessário para a subseqüente revolução científica. Imagine como seria difícil a ciência se cada investigador fizesse alguma contribuição fundamental que envolvesse uma alteração de paradigma e nos forçasse a analisar as suposições básicas de nossa área de trabalho.

2. Torne-se Famoso

Uma vez que você tenha desenvolvido a atitude relaxada sobre a importância de seu próprio trabalho (item 1), torna-se muito mais fácil se dedicar a ser um cientista. Nesse particular, o ser famoso só perde em importância para o estar relaxado. Infelizmente, muitos cientistas subestimam a importância de ser famoso para ter sucesso em áreas como obter financiamento e conseguir viajar pelo mundo (item 5, abaixo). E ser famoso é realmente muito menos difícil que muitos imaginam. Há diversas opções. Uma das mais rápidas e garantidas é trabalhar com alguém que já é famoso. Isso garantirá uma certa quantidade de fama secundária que poderá servir de fundamento para o estabelecimento de sua própria fama. Outro método é organizar uma conferência sobre um tópico “quente” e convidar para participar as pessoas mais famosas da área, incluindo a pessoa famosa com quem você trabalha. Em seguida inclua-se na conferência. Essa técnica tem tido resultados maravilhosos para incontáveis dos, agora, famosos cientistas. Outra opção efetiva é publicar um artigo ou abstract (resumo) toda semana na sua área de escolha. (item 3). Esse método demanda mais esforço, mas com atenção ao próximo item, o trabalho pode ser minimizado e os resultados certamente farão de você um reconhecido expert em qualquer área particular.

3. Publique Sempre (Preferencialmente Abstracts)

É conhecimento geral de que os cientistas modernos não têm tempo de ler a rapidamente crescente literatura de suas áreas e, com o reconhecimento de que a maior parte da pesquisa não terá efeito duradouro (item 1), seria mesmo uma perda de tempo tentar realizar tal tarefa. Portanto, aproveite-se do fato de que a maioria de seus pares será influenciada por seu trabalho através de reconhecimento de nome. O mesmo princípio que as agências de propaganda usam, ou seja, exposição repetida, é também vital para o sucesso em ciência. Quanto mais seu nome for visto impresso, maior influência você terá e mais famoso você será (item 2). A escolha do meio de divulgação é crítica; você deve publicar, tanto quanto possível, em jornais e revistas populares, mas revistas científicas têm também seu lugar. Você deve manter uma média de um artigo ou abstract por semana e seu nome deve aparecer por último. Quanto mais co-autores você tiver, melhor, pois, todos sabem que o último autor é o verdadeiro, aquele que conta, e isso mostra que você já deve ser famoso por ter tantos cientistas trabalhando com você. Alguns argumentarão que cada publicação deve conter informação nova, mas essa visão não leva em conta as lições aprendidas na Avenida Madison. De fato, quanto mais você diz a mesma coisa, maiores suas chances de ser lembrado. Uma vez que o mesmo conjunto de dados tenha sido publicado muitas vezes, com não mais que variações mínimas, elas começarão a ter grande credibilidade nas mentes de seus colegas e na sua própria. Além disso, sua área particular de trabalho, mesmo que previamente tida como obscura e desinteressante, ganha importância crescente toda vez que ela aparece impressa.

O formato pode ter um papel vital no seu sucesso definitivo. As muitas vantagens derivadas da publicação de seu trabalho, na forma de abstract, por exemplo, são freqüentemente subestimadas. Primeiramente, as publicações lhe proporcionam oportunidades de viagem (item 5). Em segundo lugar, elas raramente passam pelo processo de revisão para publicação (e todos nós temos verdadeiras estórias de horror sobre revisões críticas recebidas, mesmo as relacionadas aos nossos melhores artigos). Em terceiro lugar, e o mais importante, as publicações proporcionam documentos que podem, ou ser citados no estabelecimento de precedência de uma observação se ela estiver correta ou for importante (ou ambas), ou podem ser facilmente deixadas de lado, se a observação se provar errada.

Em alguns casos, particularmente quando você já tiver alguma experiência, é possível publicar diversos abstracts ao mesmo tempo, cada um tratando de uma pequena variação sobre o mesmo tema. Algumas sociedades científicas permitem que você submeta apenas um abstract como primeiro autor, mas essa restrição pode facilmente ser superada. Muitos cientistas, por exemplo, já são cientes dos potenciais co-autores vindos de seus estudantes e associados, mas são freqüentemente subestimados os funcionários técnicos e administrativos, alguns dos quais ficariam satisfeitos de ver seus nomes impressos. Com um pouco de planejamento você pode ter diversos abstracts publicados simultaneamente, um com seu nome em primeiro lugar e o resto com seu nome listado por último. Conta a lenda, que um cientista foi capaz de preencher duas sessões inteiras de um encontro científico com abstracts apenas de seu laboratório.

4. Publique Somente o Que Não Possa Ser Refutado (pelo menos durante sua existência)

Muitos jovens cientistas, tristemente, interpretam erroneamente esse princípio como significando que os artigos a serem publicados devem ser trabalhados e concebidos cuidadosamente. Ao contrário, muito tempo e esforço podem ser economizados publicando-se resultados sem qualquer atenção à sua significância ou relevância. É provável que ninguém irá, afinal, ler o artigo (item 3), desta forma, não gaste seu precioso tempo analisando resultados. Ainda mais importante, desde que você restrinja sua discussão àquilo que você vê, com suficientes diferenças metodológicas de trabalhos prévios para que qualquer discrepância possa ser explicada se necessário, você nunca será flagrado em erro, particularmente se você se abstém de discutir a significância potencial dos resultados. A maneira mais simples de evitar qualquer embaraço é publicar técnicas novas e aprimoradas. A publicação de métodos novos raramente levará você a grandes discussões teóricas com seus colegas, mas ainda lhe permite vivas discussões sobre se o PH era ótimo. Ainda mais recomendável, desenvolva um reagente que seus colegas possam usar e, então, o distribua a eles, com a modesta solicitação de que você seja incluído como autor de qualquer artigo que mencione o reagente. Você se surpreenderá do quão rapidamente sua bibliografia crescerá, juntamente com sua fama. Se, por alguma razão, você se sintir obrigado a especular, por escrito, sobre seus resultados, limite sua especulação a idéias que não possam ser testada, pelo menos durante sua existência.

5. Apresente Seu Trabalho em Toda Oportunidade

Um dos muitos benefícios de ser um cientista é viajar. Quanto mais famoso você é, mais oportunidades você terá de viajar. Da mesma forma, quanto mais você é visto em público, mais famoso você será. Além disso, cada conferência proporciona a oportunidade de publicar pelo menos um abstract (item 3). Quando apresentar seu trabalho, use slides atrativos, que não estejam cheios de detalhes. Uma dica importante: deixe de fora qualquer informação estatística, especialmente na forma de gráficos, pois, isso freqüentemente tira a atenção do ponto principal do slide. Contrariamente à situação de seu trabalho escrito, sinta-se livre para especular durante sua apresentação. De fato, não se sinta limitado pelos resultados. Lembre-se que seu impacto será muito maior se você fizer afirmações e generalizações amplas e radicais, sem fundamentação no que você publicou no abstract. Se alguém lhe questionar seriamente alguma afirmação feita ou apresentar resultados contraditórios, você pode evitar qualquer embaraço alertando que ele ou ela não usou o PH ótimo.

As apresentações são necessárias, mas não suficientes, para a fama em ciência. Quando você for convidado a participar de um encontro científico, certifique-se de registrar quem o convidou, para que você seja capaz de convidar os mesmos indivíduos para a próxima conferência que você organize. Com o tempo, você descobrirá que existem suficientes pessoas para se convidarem mutuamente a diversas conferências ao ano e, se você for realmente famoso, poderá mesmo decidir estabelecer sua própria sociedade científica, consistindo de somente aqueles cientistas mais famosos (principalmente aqueles que você convidou para muitas conferências durante o ano).

6. Submeta uma Proposta de Financiamento Somente para o Trabalho que Você já Tenha Feito

Apesar disso ser uma coisa tão óbvia, há ainda cientistas, especialmente os principiantes, que solicitam financiamentos de experimentos que não estão ainda concluídos. Finalmente a maioria dos revisores de propostas de financiamento tem eliminado aqueles que continuamente propõem trabalhos inéditos, mas ainda há aqueles que têm dificuldade de entender que a aposta certa é no cavalo que já venceu. Naturalmente, você deve ser um pouco cuidadoso na publicação do trabalho proposto, de tal forma que ele não apareça impresso antes que sua proposta seja analisada (exceto, é claro, em forma de múltiplos abstracts). O cientista neófito pode se defrontar com o dilema de não ter sido capaz de realizar os experimentos antes de obter o suporte financeiro. A solução mais comum para isso é propor um trabalho similar ao que você já fez trabalhando com alguém famoso. Se essa opção não está disponível, então você será forçado a propor um trabalho que é original. Se for esse o caso, certifique-se de que a pesquisa é apenas uma pequena variação do trabalho já feito por alguém. Isso assegura aos revisores que seus experimentos particulares se encaixam no paradigma existente. Um bom exemplo seria encontrar o PH ótimo para a aplicação em um novo e aprimorado método.

7. Não Perca Tempo Dando Aulas

Lembre-se de que seu objetivo é fazer sucesso em ciência. Apesar de alguma experiência letiva ser benéfica, na medida em que o expõe aos estudantes que podem decidir trabalhar para você (e serem potenciais autores para muitos de seus abstracts), dar aulas consome muito tempo. Haverá alguma pressão de colegas e de seu chefe para que você contribua com o ensino, mas essa pressão pode ser aliviada de alguma forma, pela maneira com que você ensina. Por exemplo, sempre apresente seu material de forma a obscurecer qualquer relevância nos conteúdos que interessem aos estudantes. No ensino médico, isso tem se tornado prática comum. Outro meio efetivo é oferecer detalhes sobre métodos que você usa no laboratório, especialmente enfatizando a importância do PH ótimo. Usualmente os estudantes estão tão sobrecarregados pelo volume de informações, que eles terão dificuldade de formular perguntas inteligentes. A vantagem disso é óbvia. Com o tempo, menor carga de ensino será requerida de você e você terá mais tempo para escrever abstracts e ir a conferências.

8. Comercialize seu Produto

Fama é bom mas é muito melhor quando acompanhada de riqueza. O papel tradicional do cientista não tem sido tão lucrativo quanto outras carreiras. Isso está mudando. Uma das opções mais interessantes em ciência é identificar as potenciais aplicações comerciais de seu trabalho e comercializá-las. Numerosos cientistas estão descobrindo as vantagens financeiras de fundar suas próprias companhias, com capital inicial provenientes de fundos governamentais de pesquisa e desenvolvimento. A beleza desse sistema é que há muito pouco risco. Se a aplicação comercial não gerar lucro, você pode sempre submeter uma proposta para um outro fundo governamental de pesquisa e continuar a vida. De outro lado, se você for capaz de capitalizar seu próprio sucesso científico e fundar uma lucrativa companhia, você pode usar suas afiliações acadêmicas, suas posições em corpos editoriais de publicações e de conferências, para manter-se a par dos mais recentes desenvolvimentos na área de estudo que alimenta sua companhia. A vantagem competitiva que isso dá a você é óbvia.

Resumo

A aderência a esses princípios não garantirá o sucesso, mas o testemunho de muitos cientistas famosos confirma a hipótese de que essas orientações podem fazer crescer significativamente (p<0.03,"Wilcoxon unpaired X-test” realizado com PH 5.6) suas chances de atingir reconhecimento, adquirir riqueza e, com o tempo, ser conhecido como um cientista famoso. No mínimo, esses princípios evitarão que você esteja muito longe das fronteiras da ciência “normal” onde você poderia ser, para sempre, marcado como um causador de problemas ou um herético.

Poucos cientistas sabem a história ilustrativa do abstract (resumo). A palavra é uma contração de “Abe’s Tract” (Tratado de Abe), que foi um panfleto pouco conhecido que Lincoln fez circular quando ele, pela primeira vez, disputou um cargo político. Apesar do conteúdo do panfleto não ser conhecido, sua influência dificilmente pode ser subestimada, pois a carreira subseqüente de Lincoln é considerada inteiramente derivada desse pequeno tratado. Alguns dizem que muitas das idéias do tratado foram plagiadas de um trabalho não publicado de John Wilkes Booth, mas essa alegação nunca foi consubstanciada.

A Visão dos Ungidos - alguns trechos

Notas:
1. Recentemente o prof. Olavo de Carvalho mencionou,
aqui, vários livros e autores que têm sido, permanente e voluntariamente, ocultados dos brasileiros, por uma política editorial dominada, há décadas, pela militância esquerdista. Ele não mencionou Thomas Sowell, certamente, porque seu objetivo era citar apenas alguns exemplos da calamidade que a falta de certos livros pode causar a um povo deles privado. No entanto, estou certo de que o livro The Vision of the Anointed (A Visão dos Ungidos) está entre os que mais falta faz aos leitores deste nosso pobre país. Abaixo se encontram alguns trechos desse livro, escolhidas por John Hawkins (versão original) e publicadas em 2001. Pela amostra, pode-se ter uma vaga idéia da preciosidade da obra.

2. O livro de Sowell, apesar das diferenças de tom e de estratégia, é semelhante ao Imbecil Coletivo de Olavo de Carvalho. Os ungidos de Sowell nada mais são que os membros do Imbecil Coletivo desmascarados, implacavelmente, por Olavo. Ambos os autores mostram, de maneira insofismável, como se move essa casta arrogante e autoritária, que objetiva, muitas vezes com sucesso, isolar a Civilização Ocidental de toda a sua herança religiosa e filosófica construída ao longo de milênios. Com Sowell percebemos que o fenômeno é universal. Como Olavo já observou em outro local: “a esquerda é internacional, enquanto a direita é nacional”.

3. Adicionei os títulos dos capítulos referentes aos trechos selecionados. Abaixo de cada título, reproduzo a citação de abertura, que dá o tom do capítulo. Os números das páginas em que aparecem os trechos se referem à edição da Basic Books de 1995.


A melhores trechos de A Visão dos Ungidos de Thomas Sowell.

John Hawkins

*** Observe que Thomas Sowell usa o termo ungido para se referir aos esquerdistas, o termo incivilizado (bárbaro) ou trágico para os conservadores, e o termo visão representa sua (dos ungidos) filosofia. Assim, “a visão dos ungidos” é o modo esquerdista de ver o mundo. ***

Capítulo 1 – A unção lisonjeira
“Não massageies tua alma com essa unção lisonjeira” -- Hamlet


“Essa visão esquerdista permeia tão amplamente a mídia e a academia, e se imiscuiu tão profundamente na comunidade religiosa, que muitos chegam até a idade adulta sem perceber que há um outro modo de olhar para as coisas, ou que evidências podem ser relevantes para a verificação das suposições tão avassaladoras dos ‘bem-pensantes’. Muitos desses ‘bem-pensantes’ podem ser mais bem caracterizados como pessoas ‘articuladas’, como pessoas cuja agilidade verbal pode mascarar a lógica e a força das evidências. Esse pode ser um talento fatal, quando ele promove o crucial isolamento da realidade que está por trás de muitas catástrofes históricas.” – P. 6


Capítulo 2 – O padrão

“Eles foram trabalhar com insuperável eficiência. Pleno emprego, os melhores resultados e o bem-estar geral deve ter sido a conseqüência. Na verdade, ao contrário, encontramos miséria, vergonha e, no final de tudo, um rio de sangue. Mas isso foi mera coincidência.” -- Joseph A. Schumpeter

“Na medida que os programas de educação sexual se multiplicaram amplamente no sistema educacional americano, durante os anos 1970, a taxa de gravidez da faixa etária de 15 a 19 anos cresceu dos aproximadamente 68/mil em 1970 para 96/mil em 1980. Dentre as meninas solteiras na faixa de 15 a 17 anos, a taxa de nascimentos cresceu 29% entre 1970 e 1984, a despeito do enorme crescimento do número de abortos, que mais que dobrou no mesmo período. Entre as meninas menores de 15 anos, o número de abortos ultrapassou o número de nascimentos em 1974.” – P. 18

Capítulo 3 – O que falam os números
“Conhecíamos muitas coisas que dificilmente podíamos entender.” – Kenneth Fearing

“Implícita na equação estatística da desigualdade promovida pela discriminação racial está a suposição que desigualdades não existiriam na ausência de tratamento desigual. No entanto, estudos internacionais têm, repetidamente, demonstrado que desigualdades inter-grupos são freqüentes em todo o mundo, seja com respeito ao consumo de álcool, à taxas de fertilidade, ao desempenho educacional, ou a outras inumeráveis variáveis. Uma lista razoavelmente completa de tais desigualdades seria tão grande quanto um dicionário.” – P. 35

“Que sentido teria a classificação de um homem como deficiente porque ele está, hoje, numa cadeira de rodas, se ele estará andando em um mês e participando de corridas em um ano? Mesmo assim, os americanos são separados em ‘classes’ com base em sua localização transitória na faixa salarial. Se a maioria dos americanos não permanece na mesma faixa salarial ampla por nem uma década, as repetidas mudanças de ‘classe’ fazem com que ‘classe’ seja um conceito nebuloso.” – P. 48

“Num dado ano, o número de divórcios pode ser metade do número de casamentos, mas dizer isso é o mesmo que comparar maçãs com laranjas. Os casamentos considerados são somente aqueles que ocorrem num determinado ano, enquanto que os divórcios daquele ano são de casamentos que ocorreram num passado que pode se estender por décadas. Dizer que metade de todos os casamentos termina em divórcio, baseado em estatísticas, seria equivalente a dizer que metade da população morreu no ano passado, se o número de mortes tivesse sido metade do número de nascimentos.” – P. 59

Capítulo 4 – A irrelevância da evidência
“Os fatos são coisas teimosas; e quaisquer que sejam nossos desejos, nossas inclinações, ou exigências de nossas paixões, eles não podem alterar nem fatos nem evidências” – John Adams

“Apesar da proporção dos filhos que moram com ambos os pais tem diminuído nas últimas décadas, o censo de 1992 mostrou que mais de dois terços – 71%, de fato – de todas as pessoas com idade menor que 18 anos estavam ainda morando com ambos os pais. Menos de 1% estavam vivendo com não parentes.” – P. 61

“Voltando a cem anos atrás, quando apenas uma geração separava os negros da escravidão, descobrimos que os dados do censo mostravam que uma proporção levemente menor de negros contraiam matrimônio, quando comparados aos brancos.” – P. 81

“Em 1940, entre as mulheres negras chefes de família, 52% tinham 45 anos de idade ou mais. Além disso, somente 14% de todas as crianças negras tinham mães solteiras.” – P. 81

“Todos somos a favor de um salário digno; eles (os ungidos), simplesmente, definem esse conceito em termos bem diferentes. Todo mundo é ‘progressista’ em seu próprio conceito. O fato dos ungidos acreditarem que esse rótulo (de progressista) os diferencia das outras pessoas é um dos vários sintomas de seu narcisismo infantil.” – P. 95

Capítulo 5 – Ungido versus incivilizado
“Todo homem, onde for, está cercado por uma nuvem de convicções confortáveis, que se move com ele como moscas num dia de verão” – Bertrand Russell

“Uma das mais importantes questões sobre qualquer curso de ação proposto é se sabemos como empreendê-lo. A Política A pode ser melhor que a Política B, mas isso não tem importância se não sabemos implementar a Política A. Talvez teria sido melhor reabilitar criminosos, ao invés de puni-los, se soubéssemos como fazê-lo. Recompensar o mérito pode ser melhor que recompensar resultados, se soubéssemos como fazê-lo. Mas, uma das diferenças cruciais entre aqueles com a visão trágica e aqueles com a visão do ungido está no que eles, respectivamente, assumem que sabemos fazer. Aqueles com a visão do ungido são, raramente, dissuadidos por qualquer questão sobre se alguém tem o conhecimento necessário para fazer o que eles estão tentando fazer.” – P. 109

“Um resumo sucinto da visão trágica foi dado pelos historiadores Will e Ariel Durant:
‘De cada cem idéias novas, noventa e nove serão, provavelmente, piores que as respostas tradicionais que elas propõem substituir. Nenhum homem, mesmo brilhante e bem-informado, pode alcançar em uma única vida uma tal completude de entendimento para, seguramente, julgar e descartar os costumes e instituições de sua sociedade, pois estes constituem a sabedoria de gerações, depois de séculos de experiência no laboratório da história.’ ” – P. 112

“Na visão trágica, os sofrimentos pessoais e os males sociais são inerentes das inatas deficiências de todos os seres humanos, sejam essas deficiências de conhecimento, de sabedoria, de moralidade ou de coragem. Além disso, os recursos disponíveis são sempre inadequados para preencher todos os desejos existentes. Então, não há ‘soluções’ na visão trágica, mas escolhas que deixam muitos desejos irrealizados e muita infelicidade no mundo.” – P. 113

“Na sua pressa para serem mais sábios e mais nobres do que os outros, os ungidos confundem duas questões básicas. Eles parecem assumir (1) que eles têm mais conhecimento que a média dos incivilizados e (2) que essa é uma comparação relevante. A comparação real, no entanto, não é entre o conhecimento possuído pela média da elite educada versus a média do público em geral, e sim entre o conhecimento total gerado pelos processos sociais (competição no mercado, organização social, etc.), envolvendo milhões de pessoas, versus o conhecimento de segunda mão, sobre generalidades, possuídos por um pequeno grupo de elite.” – P. 114

“Para o ungido, as tradições são vistas como cadáveres do passado, relíquias de uma idade menos ilustrada, e não como a experiências destilada de milhões que enfrentaram vicissitudes semelhantes, anteriormente.” – P. 118

“A suposta irracionalidade do público é um padrão usado por muitos, senão a maioria, dos grandes ungidos em suas cruzadas no século XX – independente do assunto ou da área a que se refere a cruzada. Quer o assunto seja ‘superpopulação’, economia keynesiana, justiça criminal, ou a exaustão de recursos naturais, a suposição-chave tem sido que o público é tão irracional que a sabedoria superior do ungido deve se impor, a fim de evitar o desastre. Não é que o ungido tenha, simplesmente, um desdém pelo público em geral. Tal desdém é uma parte integral de sua visão, pois, a característica central dessa visão é obstruir a decisão dos outros.” – P. 123

“Apesar de Adam Smith considerar as intenções dos empresários como egoístas e anti-sociais, ele percebeu que as conseqüências sistemáticas da competição entre eles eram muito mais benéficas para a sociedade, que uma regulamentação governamental bem-intencionado.” – P. 126

“Em seu fanatismo por tipos particulares de decisão, aqueles com a visão do ungido, raramente, consideram a natureza do processo de tomada de decisão. Freqüentemente, o que eles propõem envolve decisões de terceiros, tomadas por pessoas que não têm nenhum custo por estarem erradas – certamente, um dos modos menos promissores de tomar decisões satisfatórias para aqueles que sofrerão as conseqüências.” – P. 129

“Aqueles com a visão dos ungidos, freqüentemente, advogam a solução de disputas internacionais por meio da ‘diplomacia’ e da ‘negociação’, ao invés da ‘força’ – como se a diplomacia e a negociação não fosse dependente de um conjunto de incentivos adicionais, dos quais uma concreta ameaça militar é crucial.” – P. 130-131

“Para aqueles com a visão dos ungidos, a questão é: o que removerá uma característica particular negativa de uma situação existente para criar uma solução? Aqueles com a visão trágica perguntam: o que deve ser sacrificado para se atingir esse aprimoramento particular?” – P. 135

Capítulo 6 – As cruzadas dos ungidos
“Se acautele contra pessoas moralistas quando se trata de grandes questões; ser moralista é mais fácil do que enfrentar fatos graves” – John Corry


“Não há soluções, apenas escolhas entre situações conflitantes.” – P. 142

“A vasta penumbra de incerteza que encobriu os julgamentos de responsabilidade civil no alvorecer da revolução judicial dos anos 1960 e 1970 -- julgamentos esses que descartaram leis e princípios seculares, deixando juízes e júris livres para ceder às suas próprias inclinações --, fez com que fosse prudente para os acusados, o fechamento de acordos fora dos tribunais, mesmo que eles não tivessem feito nada de errado. Dois casos tipificam a incerteza dos resultados das cortes. Referem-se a um operador de guindaste, que encostou o braço da máquina numa linha de transmissão de alta tensão, originando um processo contra o fabricante do equipamento por não alertar os operadores sobre esse perigo – tal argumento foi refutado, sem julgamento, num estado, com o fundamento de que o perigo é óbvio demais para exigir algum tipo de aviso, apesar de em outro estado, o fabricante ter sido condenado a pagar mais de US$12 milhões. Em outras palavras, não há mais lei no sentido real da expressão, mas, somente éditos imprevisíveis emanados dos tribunais.” – P. 170

“Quando os ungidos dizem que há uma crise, isso significa que algo deve ser feito – e deve ser feito, simplesmente, porque os ungidos desejam alguma ação. Crise se tornou um dos muitos substitutos para evidência ou lógica.” – P. 182

Capítulo 7 – O vocabulário dos ungidos
“Os homens têm uma incurável propensão em prejulgar todas as grandes questões que os interessam estampando seus preconceitos em sua linguagem” – James Fitzjames Stephen


“Muitas discussões de intelectuais sobre as decisões de empresários se processam como se empregadores, proprietários e outros agentes operando sob sistemática pressão do mercado fossem livres para tomar decisões caprichosas e arbitrárias, baseadas em preconceito e informações enganosas – como se eles fossem intelectuais sentados em torno de uma mesa num seminário – e depois deixassem de pagar pelos erros cometidos.” – P. 188

“Mas, para aqueles com a visão dos ungidos, dizer que um plano ou política particular é contrário à natureza humana como a conhecemos, significa apenas que a natureza humana deve ser mudada. Então, o vocabulário dos ungidos está repleto de termos como ‘sensibilização’, ‘esclarecimento’ ou ‘reeducação’ de outras pessoas.” – P. 190

Outra forma verbal de mascarar a interferência da elite na decisão das pessoas é usar a palavra ‘pedir’ – como em ‘Só estamos pedindo que todos arquem com sua devida parcela.’ Mas, o governo não pede, ele manda. A Receita Federal não pede ‘contribuição’. Ela toma.” – P. 197

“Muitas palavras e frases usadas na mídia e entre acadêmicos sugerem que as coisas, simplesmente, acontecem com as pessoas, ao invés de serem causadas por suas próprias escolhas e comportamento. Assim, afirma-se que há uma gravidez ‘epidêmica’ ou um uso ‘epidêmico’ de drogas entre os adolescentes, como se essas coisas fossem como uma gripe que as pessoas pegam somente por estarem no lugar errado, na hora errada.” – P. 198

“Uma personificação ampla da ‘sociedade’ é outra tática verbal que esconde questões de responsabilidade pessoal. Tal uso do termo ‘sociedade’ é uma versão mais sofisticada da noção de que ‘o demônio me obrigou a fazer isso.’ Tal como o todo o vocabulário dos ungidos, esse termo é usado como uma palavra mágica que faz a escolha, o comportamento e o desempenho se esvaecerem.” – P. 199

“A visão dos ungidos considera que males como a pobreza, o sexo irresponsável e o crime derivam, primariamente, da ‘sociedade,’ ao invés de derivar das escolhas pessoais e do comportamento. Acreditar em responsabilidade pessoal seria destruir todo o papel especial do ungido, cuja visão os escala para o papel de salvadores das pessoas que são tratadas de forma injusta pela ‘sociedade.’ ” – P. 203

“Dizer que ‘a riqueza na América é tão injustamente distribuída,’ como faz Ronald Dworkin, é grosseiramente enganador, pois, a maior parte da riqueza dos Estados Unidos não é, de forma alguma, distribuída. As pessoas criam, ganham, poupam e gastam a riqueza.” – P. 211

Capítulo 8 – Cortejando o desastre
“O sistema legal perdeu sua alma e se tornou uma selva” – Bertrand de Jouvenel


“Em resumo, conquanto salvar alguns indivíduos inocentes de uma injusta condenação é importante, a questão é se isso é mais importante que poupar outros indivíduos inocentes da violência e morte nas mãos de criminosos. Salvar um réu inocente por década vale o sacrifício de dez assassinatos de vítimas inocentes? Mil assassinatos? Quando reconhecemos que não há solução, mas apenas escolhas entre situações conflitantes, não podemos mais perseguir o ideal da justiça cósmica, mas devemos fazer nossas escolhas entre alternativas, realmente, disponíveis – e essas alternativas não incluem a garantia de que nenhum mal atingirá uma vítima inocente. A única maneira de nos assegurarmos de que nenhum inocente será jamais condenado erradamente é descartarmos o sistema judicial criminal e aceitarmos os horrores da anarquia.” – P. 225

“Aqueles que, hoje, advogam uma ‘moderação judicial’ definem essa expressão como sendo juízes interpretando leis, inclusive a Constituição, de acordo com o significado que as palavras dessas leis tinham quando foram escritas.” – P. 227

“Ativismo judicial é um mecanismo por meio do qual a visão esquerdista pode ser imposta sobre o público em geral que não a compartilha, sem ter de passar pelo crivo de autoridades eleitas que não ousariam apoiar muitas das características dessa visão.” – P. 235

Capítulo 9 – Realidade opcional
“... ideologia … é um instrumento de poder; um mecanismo de defesa contra a informação; um pretexto para desprezar os limites morais na consecução ou na aprovação do mal, com a consciência tranqüila; e finalmente, um modo de banir o critério da experiência, isto é, de eliminar completamente, ou postergar indefinidamente, o critério pragmático do sucesso e do fracasso.” – Jean-François Revel

“Como Hannah Arendt observou, transformar questões de fato em questões de intenção foi uma grande realização dos totalitários do século XX. É uma realização perigosa que sobreviveu ao colapso dos impérios facista e comunista e se transformou numa marca registrada da maior parte da intelligentsia ocidental.” – P. 244

“Se a verdade é maçante, a civilização é irritante. Os limites inerentes da vida civilizada são frustrantes de muitas formas. Mesmo assim aqueles com a visão dos ungidos, freqüentemente, vêem esses limites, somente, como imposições arbitrárias, coisas das quais eles – e nós todos – podemos ser liberados. A desintegração social que segue o advento de tais liberações, raramente, provoca qualquer reconsideração séria de todo o conjunto de suposições – a visão – que levou a tais desastres. Essa visão é muito bem isolada de realimentações.” – P. 247

“Uma alegação é sempre levantada contra a intelligentsia e outros membros dos ungidos, a de que falta senso comum a suas teorias e políticas. Mas a própria normalidade do senso comum o faz muito pouco atrativo para os ungidos. Como eles podem ser mais sábios e mais nobres do que todos, ao mesmo tempo em que concordam com todo mundo?” – P. 248

“A civilização já foi definida, muito apropriadamente, como ‘uma fina crosta sobre um vulcão’. Os ungidos estão, constantemente, pressionando essa crosta.” – P. 250

“Um fazendeiro californiano pode sempre mostrar à audiência televisiva a abundante safra que ele colheu com a ajuda do projeto de irrigação governamental. Mas ninguém pode filmar as safras que teriam sido colhidas em outros lugares, a um custo menor, se não houvesse subsídios governamentais que encorajassem o uso da água, obtida a um custo maior, no deserto da Califórnia, ao invés do uso da água de graça, obtida das nuvens, em algum outro lugar.” – P. 257

“Dentre os ungidos encontramos toda uma classe de supostos ‘bem-pensantes’, que pensam, surpreendentemente, pouco sobre os fundamentos e, incrivelmente, muito sobre expressão verbal. Por esse pequeno grupo de pessoas acreditar-se mais sábio e mais nobre que os mortais comuns, temos adotado políticas que impõem altos custos a milhões de outros seres humanos, não somente por meio de impostos, mas também em empregos perdidos, em desintegração social e na perda da segurança pessoal. Raramente, tão poucos custaram tanto a tanta gente.” – P. 260