04/04/2006

A Esquerda e o Conceito de Classe: Parte III

Thomas Sowell

Parece, às vezes, que os esquerdistas têm uma habilidade de produzir um interminável fluxo de idéias que são contra-produtivas para os pobres, a quem eles alegam estar ajudando. Poucas dessas noções são mais contra-produtivas que a idéia de ‘trabalho desqualificado’ ou ‘emprego beco-sem-saída’.

Pense bem: Por que os empregadores pagam as pessoas pelo trabalho ‘desqualificado’? Porque o trabalho tem de ser feito. Qual o propósito útil de estigmatizar o trabalho que há de ser feito de qualquer forma?

Esvaziar urinol num hospital é trabalho desqualificado? O que aconteceria se os urinóis não fossem esvaziados? Deixem as pessoas pararem de esvaziar os urinóis por um mês e haverá maiores problemas do que se os sociólogos pararem de trabalhar por um ano.

Ter alguém para faxinar, cozinhar e fazer pequenas tarefas na casa pode ser uma dádiva para alguém inválido ou que sofre das enfermidades da velhice – e que não quer ser colocado num asilo. Alguém em quem se pode confiar para tomar conta de crianças pequenas é, da mesma forma, um tesouro.

Muitas pessoas que fazem esse tipo de trabalho não têm a educação, as habilidades ou a experiência para realizar trabalhos mais complexos. Mesmo assim, elas podem dar uma contribuição real para a sociedade e, ao mesmo tempo, ganhar dinheiro que as manterá fora do seguro desemprego.

Muitos trabalhos não qualificados são chamados de ‘beco-sem-saída’ pelos intelectuais de esquerda, porque essas ocupações não têm uma cadeia de promoção. Mas, é superficial além do suportável dizer que isso significa que pessoas em tais empregos não têm perspectiva de uma ascensão econômica.

Você não ganha promoção em tais empregos. Você usa a experiência, iniciativa e disciplina que neles desenvolveu para mudar para algo que pode ser totalmente diferente. Pessoas que começam ‘virando’ hambúrgueres no McDonals raramente permanecem lá por um ano sequer, muito menos, por toda vida.

Trabalhos ‘beco-sem-saída’ são o que tive toda a minha vida. Mas, mesmo que eu tenha começado entregando produtos de mercearia no Harlem, eu não os entrego mais. Eu mudei para outros empregos – a maioria dos quais não tinha cadeia de promoção.

Minha única promoção oficial em mais de meio século de trabalho foi de professor associado para professor permanente na UCLA (Universidade da Califórnia, em Los Angeles). Mas, isso foi somente um aumento salarial, ao invés de uma promoção real, pois, professores associados e permanentes fazem o mesmo trabalho.

As noções de trabalho desqualificado e ‘beco-sem-saída’ podem ser apenas conceitos falsos e superficiais da intelligentsia, mas elas são mensagens mortalmente contra-produtivas para o pobre. Recusar-se a pisar no primeiro degrau, freqüentemente, significa perder a chance de subir a escada.

O sistema de seguro social pode lhe dar dinheiro, mas ele não pode lhe dar experiência de trabalho que lhe impulsionará economicamente. Vender drogas nas ruas pode lhe dar mais dinheiro do que o seguro desemprego, mas não pode lhe dar a experiência a ser relatada quando você se candidatar a um emprego. E se você decidir vender drogas por toda a vida, sua vida pode ser muito curta.

No tempo da I Guerra Mundial, um jovem negro chamado Paul Williams estudou arquitetura e, então, aceitou um emprego como um office-boy numa empresa de arquitetura. Ele concordou em trabalhar sem nada ganhar, apesar de depois de ele se apresentar, a companhia decidiu pagá-lo alguma coisa, afinal.

O que eles o pagaram seria hoje, provavelmente, descartado como ‘ninharia’. Mas, o que Paul Williams queria daquela companhia era conhecimento e experiência, mais do que dinheiro.

Ele progrediu e criou sua própria empresa de arquitetura, projetando tudo, de igrejas e bancos a mansões para estrelas de cinema – e contribuindo para o projeto do ‘Edifício Tema’ do Aeroporto Internacional de Los Angeles.

Os verdadeiros idiotas são aqueles que se recusam a começar de baixo, ganhando uma ninharia[1]. Os esquerdistas que encorajam tais atitudes podem se considerar amigos dos pobres, mas eles os fazem mais mal do que seus inimigos.



Publicado por Townhall


[1] Aqui Sowell brinca com a gíria chump (maluco, idiota) e a gíria chump change (ninharia, bagatela, trocado). (N. do T.)

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