Recebo um comentário de um “corajoso anônimo”, no post Olavo
de Carvalho e eu, criticando o filósofo e o blogueiro. Critica o filósofo
(a quem ele adjetiva com a palavra exímio, ladeada com quatro pares de aspas,
para parecer irônico, suponho eu) por falar palavrões. Ele diz que coleta esses
palavrões em excertos de vídeos vistos ao acaso, mas afirma que “fazem parte de
todas as suas produções audiovisuais, repito: todas!” Ora, aqui há algo de
errado com o mancebo: se ele pega vídeos ao acaso, como pode afirmar que os
palavrões ocorrem em todos os vídeos? Informo ao indigitado que os palavrões
não ocorrem em todos os vídeos do filósofo, ponto final. Ele desgosta também do
Olavo porque ele fuma. Veja o critério intelectual do rapaz, que diz pertencer
ao “mundo do conhecimento, da intelectualidade e da filosofia”.
Ao blogueiro ele critica porque no post em tela afirmo que “não
conheço autoridade eclesial no Brasil que entenda mais de doutrina católica que
Olavo. Tome aí todos os cardeais, bispos, padres, etc.; mais que ele ninguém
entende.” Afirmei e está afirmado. Mas o anônimo cita três eclesiásticos que,
em sua opinião, debateria e ganharia o debate com Olavo de Carvalho. Antes de
considerarmos a opinião do anônimo, devo sugerir-lhe e ao leitor considerar
dois debates conduzidos por Olavo de Carvalho, como um aperitivo: o debate com o
Prof. Alaor Café Filho, da USP, e o debate com Aleksandr Dugin, que
virou livro.
Pois bem, o anônimo apresenta seus candidatos assim: “não exito
(sic!) em afirmar apenas alguns nomes que facilmente colocariam-no no bolso: o
Sr. Cardeal de São Paulo, Dom Odilo Pedro Scherer, doutor, repito, doutor em
Teologia Dogmática e mestre em Filosofia pelas universidades de Roma; outro:
Dom José Antonio Peruzzo, bispo de Palmas - PR, doutor, repito, mestre e doutor
em Teologia Bíblica pelo Instituto Bíblico de Roma; Pe. Paulo Sérgio Gonçalves
da Diocese de Limeira, doutor em Teologia Dogmática pela Universidade
Gregoriana de Roma e pHd em Filosofia.”
Esqueçamos a troca de hesito por “exito” e vamos em frente. Analisemos
caso a caso.
Dom Odilo é aquele que ficou de saia justa no programa do
Jô. Se ele fica quase desarmado perante o Jô, que dirá perante Olavo de
Carvalho. Além disso, ele permanece, até onde sei, mudo acerca do caso
da PUC-SP. O doutor em Teologia Dogmática até agora está devendo uma Missa
em desagravo às ofensas ao Papa, dentro da própria PUC.
Dom José Peruzzo, doutor em Teologia Bíblica pelo Instituto
Bíblico de Roma, tem, por
exemplo, o seguinte a dizer sobre Mt 19,1-9: [1] “Há que ter muito respeito à sexualidade e fidelidade matrimonial”. Bem, isso é
que é profundidade teológica. Vejamos o que o Instituto Bíblico de Roma, de
onde ele trouxe o título de doutor, diz sobre essa passagem (Novo Testamento,
tradução e notas do Pontifício Instituto Bíblico de Roma, 2ª ed., Edições
Paulinas, 1969.) (cada versículo comentado está identificado com seu número): (3) Os fariseus, que não perdiam ocasião
para o porem à prova, propuseram-lhe a tão debatida questão do divórcio (cf.
5,31-32, nota). Fosse qual fosse a resposta de Jesus, devia lançar contra ele
os partidários da escola de Hilel, isto é, os laxistas, ou os da escola de
Shammai, mais apegados às palavras da lei. (4) Evitando habilmente as
discussões inúteis, Jesus fala do matrimônio como era na sua origem, citando
Gên 1,27;2,24, de cujas passagens deduz as duas qualidades especiais, postas
pelo Autor da natureza no contrato matrimonial: a. unidade e a indissolubilidade.
Nenhum homem, portanto, pode separar o que Deus uniu indissoluvelmente. (7)
Moisés, acrescentam os fariseus, permite que se dê à mulher o libelo de repúdio
e permite também aos dois divorciados contraírem novas núpcias. (8) Replica
Jesus: o divórcio não foi introduzido por Moisés, mas, tendo-se já introduzido
entre o povo, o grande legislador tolerou-o em consideração às forças
combinadas das paixões e do costume. Agora chegou o tempo de se ab-rogar essa
tolerância. (9) Jesus, investido da autoridade de legislador supremo proclama a
lei da indissolubilidade matrimonial – salvo em caso de concubinato, frase idêntica, pelo sentido, à passagem
paralela, “exceto no caso de concubinato” (5,32); ela confirma que o vínculo
conjugal realmente contraído é, sem exceção, indissolúvel.
A pergunta que fica é: onde está o respeito à sexualidade
defendido por Jesus? Que será que Dom Peruzzo quis dizer, do alto de seu
doutorado em Teologia Bíblica? Imagina se o Olavo faz um debate com esse bispo!
Vamos ao caso do Pe. Paulo Sérgio Gonçalves. Segundo o banco
de dados Lattes, do CNPq, sua linha de pesquisa é “Fenômeno Religioso:
Instituição, Doutrina e Prática”, cuja descrição apresentada é: Estuda o fenômeno religioso manifestado
institucionalmente nas prescrições sociais, jurídicas, litúrgicas e morais,
mediante a dialética de afirmação e de resistência, e as configurações que
adquirem plausibilidade. Parte do fenômeno religioso presente na doutrina
dogmática e a consequente hermenêutica aplicada à recepção e configuração
contemporânea. Analisa o fenômeno religioso como prática das configurações
institucionais e doutrinárias, apresentado na diversidade de eventos.
Vocês entenderam, né? Pois é, quem entendeu, por favor, me
explique, pois suspeito que isto é baboseira modernista da grossa. Ah! sim,
somos informados também que, em 2010-2011, Pe. Gonçalves coordenou um projeto
de pesquisa intitulado “A conjugação do círculo hermenêutico com a antropologia
transcendental na compreensão da revelação cristã: colocando em diálogo Martin Heidegger
com Karl Rahner.” Na descrição, lemos na primeira frase: Objetiva-se apresentar a conjugação entre o círculo hermenêutico de
Martin Heidegger e a antropologia transcendental de Karl Rahner.
Quando leio antropologia
transcendental de Karl Rahner não posso deixar de pensar que essa
antropologia deve incluir o romance do Pe. Rahner, a asa negra do CVII, com
Luise Rinser, com quem, durante o concílio, trocou 1800 cartas de amor. Será
que tal detalhe antropológico entrou nas considerações do projeto de pesquisa?
Estes são os grandes pensadores que o anônimo contempla com
condições de discutir com Olavo de Carvalho; de coloca-lo no bolso. Fico cá a imaginar se o anônimo não desejaria acrescentar a sua lista de debatedores D. Balduíno, que é mestre em Teologia, e que encenou um debate desastroso com uma senadora do Tocantins. A senadora aplicou uma sova no bispo, que é, repito, mestre em Teologia.
O anônimo coitadinho diz pertencer ao mundo da intelectualidade. Não resisto em citar Chesterton: “O que chamamos de mundo intelectual está dividido em dois tipos de pessoas: aqueles que usam o intelecto e aqueles que lhe rendem culto. Aqueles que usam o intelecto nunca lhe rendem culto; eles o conhecem o suficiente. Aqueles que rendem culto ao intelecto nunca o usam; como se pode perceber pelas coisas que dizem sobre ele.” A qual desses dois grupos você, caro leitor, acha que o anônimo pertence?
O anônimo coitadinho diz pertencer ao mundo da intelectualidade. Não resisto em citar Chesterton: “O que chamamos de mundo intelectual está dividido em dois tipos de pessoas: aqueles que usam o intelecto e aqueles que lhe rendem culto. Aqueles que usam o intelecto nunca lhe rendem culto; eles o conhecem o suficiente. Aqueles que rendem culto ao intelecto nunca o usam; como se pode perceber pelas coisas que dizem sobre ele.” A qual desses dois grupos você, caro leitor, acha que o anônimo pertence?
Vou acrescentar, para terminar, só mais uma frase hilária do
anônimo, para terminarmos este post, com um tom de descontração. Ele diz: “Creio
que está na hora de relembrarmos de costumes tradicionais, como tanto gosta de
falar o senhor Olavo de Carvalho, e aprendermos que certas expressões, cigarro,
crítica ferrenha e outros elementos não fazem, não fizeram e não poderão fazer
parte do mundo do conhecimento.”
Viu, Olavo? Aprenda isto: enquanto fumar, você estará fora do mundo do conhecimento!
Viu, Olavo? Aprenda isto: enquanto fumar, você estará fora do mundo do conhecimento!
[1] (1) E aconteceu que, tendo Jesus acabado estes discursos, partiu da Galileia e foi para o território da Judéia, do outro lado do Jordão. (2) Seguiu-o muita gente e ele curou-os ali. (3) Aproximaram-se dele alguns fariseus, para o porem à prova, e perguntaram-lhe: «É lícito a um homem repudiar a própria mulher por qualquer motivo?» (4) Respondeu ele: «Não lestes que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher, (5) e disse: - Por isso deixa o homem pai e mãe e une-se com sua mulher e os dois formam uma só carne? - (6) Portanto, já não são dois, mas uma só carne. Não separe, pois, o homem o que Deus uniu». (7) Acrescentaram eles: «Então, por que Moisés mandou dar-lhe libelo de repúdio e despedi-la?» (8) Respondeu-lhes: «Por causa da dureza do vosso coração, permitiu-vos Moisés repudiar as vossas mulheres; mas, ao princípio, não era assim. (9) Ora eu vos digo: -Todo o que despedir a própria mulher, salvo em caso de concubinato, e casar com outra, comete adultério, e quem casar com uma repudiada, comente adultério».
6 comentários:
Bom dia. Salve Maria caro blogueiro.
Não vale à pena gastar dedos e palavras com anônimos como esse, elaborando outro artigo. Já fiz esse mesmo tipo de observação contra esses tais anônimos ou não em um artigo anterior. É preferível comentar no próprio post e so. No mais, envio-lhe artigo de crítica contra Chesterton, para seu conhecimento.
http://lucianoayan.com/2013/01/30/a-esperteza-e-ingenuidade-de-chesterton/
Eduardo
Caro senhor,
Aprecio muito seus textos e adquiri, inclusive, a belíssima obra "As grandes heresias", que o senhor traduziu.
Quanto às palavras de Dom José sobre a sexualidade, acredite-me: são as mais leves que ele disse. Se o senhor ouvisse o que ele fala sobre liturgia ficaria horrorizado. Ademais, citações de Paul Ricoeur (protestante), Emmanuel Levinas e companhia, estão sempre presentes em seus discursos. Quanto a Santo Tomás, por exemplo, ele é enfático em dizer que o Doutor Angélico precisa, SE FOR ESTUDADO (o que não é mais hoje necessário), de um suporte bíblico, uma vez que seu pensamento é por demais aristotélico e com pouco apoio nas Escrituras... preciso dizer mais?
Um grande abraço e parabéns pelo apostolado.
Caro Prof. Angueth, encontrei na Estante Virtual esta versão da Bíblia que o Sr. citou. O Sr. pode me dizer se vale a pena adquiri-la e se os comentários feitos pelo Instituto Bíblico de Roma são bons?
Caro Felipe,
Salve Maria!
O Instituto Bíblico de Roma foi bom até um certo tempo e se degenerou como tudo depois do CVII. Este Novo Testamento ainda tem comentários muito interessantes. Vale a pena comprar.
Ad Iesum per Mariam.
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