Blog do Angueth – Senhor Chesterton, é um prazer encontrá-lo
nesta estação ferroviária. Para onde o senhor está indo?
Chesterton – Na verdade, estou aguardando um telegrama de
Frances. É que eu esqueci meu destino, mas sei que estou indo para uma palestra
no norte da Inglaterra. Passei-lhe um telegrama e aguardo sua resposta.
Blog do Angueth – O senhor parece estar escrevendo algo
neste pedaço de papel.
Chesterton – Estou escrevendo meu artigo semanal para o The Illustrated London News. Tenho de enviá-lo ainda hoje, por telegrama e só consegui
encontrar este guardanapo.
Blog do Angueth – Estou então fazendo o senhor perder tempo.
Chesterton – Em absoluto, estava mesmo precisando interromper
o trabalho por alguns instantes.
Blog do Angueth – Talvez eu possa assim fazer-lhe algumas
perguntas sobre um assunto muito importante?
Chesterton – Certamente.
Blog do Angueth – Como leitor de seus artigos no The Illustrated London News, não posso deixar de notar que o
senhor mantém um debate intenso com os céticos e racionalistas que abundam em
todos os lugares.
Chesterton – Sim, há uma singular maioria dessa espécie de
homens atualmente.
Blog do Angueth – Imagino que o senhor já tenha se defrontado
com o arrogante argumento de que, em assuntos de religião e filosofia, quem se
associa a uma escola de pensamento ou a um credo, tem automaticamente
questionada sua imparcialidade em discussões que envolvem tais assuntos.
Chesterton – Com efeito, este é de fato um argumento comum,
embora altamente contraditório.
Blog do Angueth – Como assim?
Chesterton – Bem, agnóstico é aquele homem que não chegou à
conclusão alguma sobre qualquer coisa e um homem religioso é aquele que chegou
a conclusões muito firmes sobre tudo. A contradição está em considerar o
agnóstico imparcial porque ele não chegou à conclusão alguma e o religioso
parcial porque ele, ao contrário, chegou a muitas conclusões sobre quase todas
as coisas, ou pelo menos, sobre o todo.
Blog do Angueth – De qualquer modo, é curioso ver como esses
intelectuais agnósticos ficam às vezes indignados com homens religiosos que
ousam contradizê-los em seus assuntos prediletos.
Chesterton – Isto é um fato. Lembro-me de uma vez discutir
com um jovem e honesto ateu, que ficou chocado quando questionei algumas de
suas suposições, que eram absolutamente sagradas para ele, tais como a
proposição não provada da independência da matéria e a improvável proposição de
seu poder para dar origem à mente. Ele finalmente recorreu à questão, que formulou com calorosa indignação: “Bem, o senhor pode me dizer sobre algum
intelectual, proeminente na ciência ou na filosofia, que aceitou ou aceita a
existência de milagres?” Eu disse: “Com prazer. Descartes, Dr. Johnson, Newton,
Faraday, Newman, Gladstone, Pasteur, Browning, Brunetière – e tantos quanto o
senhor queira.”
Blog do Angueth – Não posso esperar pela resposta do jovem
ateu.
Chesterton – Bem, o jovem admiravelmente idealista reagiu
extraordinariamente dizendo: “Oh, mas é claro que eles tinham de aceitar a
existência de milagres; eles eram cristãos.” Ora, ele primeiramente me desafiou
a encontrar um patinho feio, e então ele desqualifica todos os meus patinhos
por serem feios. O fato de que todos esses grandes intelectos compartilhavam a
visão cristã era de algum modo a prova de que ou eles não eram grandes
intelectos ou não compartilhavam aquela visão.
Blog do Angueth – Isto é realmente impressionante!
Chesterton – O argumento se reveste de uma forma
charmosamente conveniente: “Todos os homens que contam compartilham de minha
conclusão; pois se eles não compartilharem, eles não contam.” Oh, suspeito que o telegrama de Frances acaba de chegar, pelo aceno do telegrafista.
Infelizmente, tenho de ir.
Blog do Angueth – Muito obrigado e boa viagem!
Chesterton – Thank you very much.
3 comentários:
Faltou citar Ampére, que inclusive influenciou na conversão de Frederico Ozanam.
Caro anônimo,
A citação é de Chesterton e ele não cita Ampère. Mas tem muitos outros que ele não cita, obviamente.
Gostei bastante, Angueth. Serviu para matar a saudade do seu blog, meu amigo. Eu dei uma sumida e até excluí meu blog porque estou trabalhando muito, dando aulas, como você. Como você está?
Sempre oro por você e por sua família. Espero que esteja fazendo o mesmo por nós. Um grande abraço!
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