17/10/2012

Imparcialidade em discussões religiosas: blog entrevista Chesterton.


Blog do Angueth – Senhor Chesterton, é um prazer encontrá-lo nesta estação ferroviária. Para onde o senhor está indo?

Chesterton – Na verdade, estou aguardando um telegrama de Frances. É que eu esqueci meu destino, mas sei que estou indo para uma palestra no norte da Inglaterra. Passei-lhe um telegrama e aguardo sua resposta.

Blog do Angueth – O senhor parece estar escrevendo algo neste pedaço de papel.

Chesterton – Estou escrevendo meu artigo semanal para o The Illustrated London News. Tenho de enviá-lo ainda hoje, por telegrama e só consegui encontrar este guardanapo.

Blog do Angueth – Estou então fazendo o senhor perder tempo.

Chesterton – Em absoluto, estava mesmo precisando interromper o trabalho por alguns instantes.

Blog do Angueth – Talvez eu possa assim fazer-lhe algumas perguntas sobre um assunto muito importante?

Chesterton – Certamente.

Blog do Angueth – Como leitor de seus artigos no The Illustrated London News, não posso deixar de notar que o senhor mantém um debate intenso com os céticos e racionalistas que abundam em todos os lugares.

Chesterton – Sim, há uma singular maioria dessa espécie de homens atualmente.

Blog do Angueth – Imagino que o senhor já tenha se defrontado com o arrogante argumento de que, em assuntos de religião e filosofia, quem se associa a uma escola de pensamento ou a um credo, tem automaticamente questionada sua imparcialidade em discussões que envolvem tais assuntos.

Chesterton – Com efeito, este é de fato um argumento comum, embora altamente contraditório.

Blog do Angueth – Como assim?

Chesterton – Bem, agnóstico é aquele homem que não chegou à conclusão alguma sobre qualquer coisa e um homem religioso é aquele que chegou a conclusões muito firmes sobre tudo. A contradição está em considerar o agnóstico imparcial porque ele não chegou à conclusão alguma e o religioso parcial porque ele, ao contrário, chegou a muitas conclusões sobre quase todas as coisas, ou pelo menos, sobre o todo.

Blog do Angueth – De qualquer modo, é curioso ver como esses intelectuais agnósticos ficam às vezes indignados com homens religiosos que ousam contradizê-los em seus assuntos prediletos.

Chesterton – Isto é um fato. Lembro-me de uma vez discutir com um jovem e honesto ateu, que ficou chocado quando questionei algumas de suas suposições, que eram absolutamente sagradas para ele, tais como a proposição não provada da independência da matéria e a improvável proposição de seu poder para dar origem à mente. Ele finalmente recorreu à questão, que formulou com calorosa indignação: “Bem, o senhor pode me dizer sobre algum intelectual, proeminente na ciência ou na filosofia, que aceitou ou aceita a existência de milagres?” Eu disse: “Com prazer. Descartes, Dr. Johnson, Newton, Faraday, Newman, Gladstone, Pasteur, Browning, Brunetière – e tantos quanto o senhor queira.”

Blog do Angueth – Não posso esperar pela resposta do jovem ateu.

Chesterton – Bem, o jovem admiravelmente idealista reagiu extraordinariamente dizendo: “Oh, mas é claro que eles tinham de aceitar a existência de milagres; eles eram cristãos.” Ora, ele primeiramente me desafiou a encontrar um patinho feio, e então ele desqualifica todos os meus patinhos por serem feios. O fato de que todos esses grandes intelectos compartilhavam a visão cristã era de algum modo a prova de que ou eles não eram grandes intelectos ou não compartilhavam aquela visão.

Blog do Angueth – Isto é realmente impressionante!

Chesterton – O argumento se reveste de uma forma charmosamente conveniente: “Todos os homens que contam compartilham de minha conclusão; pois se eles não compartilharem, eles não contam.” Oh, suspeito que o telegrama de Frances acaba de chegar, pelo aceno do telegrafista. Infelizmente, tenho de ir.

Blog do Angueth – Muito obrigado e boa viagem!

Chesterton – Thank you very much.


3 comentários:

Anônimo disse...

Faltou citar Ampére, que inclusive influenciou na conversão de Frederico Ozanam.

Antônio Emílio Angueth de Araújo disse...

Caro anônimo,

A citação é de Chesterton e ele não cita Ampère. Mas tem muitos outros que ele não cita, obviamente.

Wendy A. Carvalho disse...

Gostei bastante, Angueth. Serviu para matar a saudade do seu blog, meu amigo. Eu dei uma sumida e até excluí meu blog porque estou trabalhando muito, dando aulas, como você. Como você está?

Sempre oro por você e por sua família. Espero que esteja fazendo o mesmo por nós. Um grande abraço!