Nota: Eis mais um daqueles artigos que são absolutamente imprescindíveis para se entender o país e o mundo; sem a leitura do qual a pessoa permanece idiota como todos ao redor. Desta vez, quem nos alimenta a alma é Sidney Silveira. Considero este artigo altamente recomendável para quem se dirige à cabine de votação. É um artigo para o dia de hoje, um dia que a mídia quer nos vender com "a festa da democracia". Considero que o dia de hoje (em que a Igreja festeja o Santíssimo Rosário, desde o remoto ano de 1571!) é exatamente o dia do boçal engajado. Deus lhe pague, Sidney!
A falta continuada de contato com coisas belas e elevadas mutila a alma. Os dois sintomas mais evidentes de que uma pessoa chegou a tal dramático estado são os seguintes: extasiar-se com tolices e ser indiferente ao sublime. Não raro, são sintomas concomitantes num mesmo sujeito — que se superexcita com ninharias, futilidades ou torpezas, enquanto se mostra apático diante de qualquer beleza de ordem superior. Trata-se de alguém capaz de se entediar mortalmente ouvindo uma sinfonia de Bach ou lendo um parágrafo de Vieira, ao passo que sente arrepios de entusiasmo beatífico ao ouvir uma rima bem feita cantada em ritmo sincopado.
Estamos falando de um arquétipo contemporâneo: o boçal engajado. Pessoa de espírito lânguido, em geral ávida consumidora de produtos culturais alternativos cuja esterilidade artística pode ser medida pela tola pretensão de originalidade. Não se trata, propriamente, de um iletrado ou de alguém oriundo das camadas sociais menos favorecidas. Não: o boçal engajado é homem de classe média, habitué de feiras literárias, freqüentador de bienais de livros, encontros artísticos performáticos e exposições. Tem interesse por leitura, sim, mas sem jamais arriscar-se em autores que ou exijam de sua inteligência um maior esforço abstrativo, ou fujam ao limitado universo estético-político em que se embrenhou.
Um comentário:
Postar um comentário