São Bernardo de Claraval deixou uma obra extensa em que
constam 358 sentenças. Segundo Pe. Leclercq, esta é a parte mais modesta, mais
desconcertante e menos conhecida de toda a obra do santo.[1]
As sentenças são um gênero literário muito usado na Idade
Média na literatura sapiencial. Hugo de São Vitor, que era contemporâneo de São
Bernardo, escreveu a Summa Sentenciarum,
uma coletânea de sentenças de várias origens. As Sentenças de Pedro Lombardo ocupou
lugar de destaque na educação do século XII e XIII, chamando a atenção de
ninguém menos que Santo Tomás de Aquino, que escreveu comentários sobre tais
sentenças.
Seguem abaixo quatro das sentenças de São Bernardo, o Doutor
Melífluo, como lhe intitulou Pio XII, numa encíclica de mesmo nome, em
comemoração aos oitocentos anos de morte do santo, em 1953. Elas nos dão o
sabor da mística do santo que foi considerado o último dos Padres da Igreja. Dão-nos
também o sabor da literatura católica medieval, plena do imaginário católico
que atingirá seu apogeu no século seguinte ao de São Bernardo, o século de
Santo Tomás de Aquino, de São Boaventura, de Santo Alberto Magno, de São
Francisco de Assis.
Traduzo a partir do texto em espanhol da edição bilíngue da
BAC Editorial, vol. III, das Obras
Completas de San Bernardo.
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2. A morte
dos pecadores é péssima.[3]
É desgraçada porque abandonam o mundo e não podem separar-se sem dor daquilo
que amam. É mais desgraçada ainda pela decomposição do corpo, porque os
espíritos malignos o arrancam da alma. É horrorosa pelos tormentos do Inferno.
Ali, corpo e alma são jogados no fogo eterno. Ao contrário, a morte dos bons é
ditosa, porque é descanso das fadigas, gozo de delícias desconhecidas e
segurança pela eternidade.
3. A missão do pastor é vigiar as ovelhas em três
aspectos: na disciplina, na defesa e na oração. Na disciplina, devido à
corrupção dos costumes, para que o rebanho que lhe é confiado não sofra por sua
própria inquietude. Na defesa, por causa dos ataques diabólicos, para que não
caia nas ciladas do inimigo. Na oração, por suas contínuas tentações, para que
não se encolha de medo. Que o rigor da justiça brilhe na disciplina, o espírito
de conselho, na defesa, e na oração, o afeto da compaixão.
4. O Criador de todas as coisas criou duas
criaturas com capacidade de conhecê-Lo: o homem e o anjo. A fé e a memória
fazem justo o homem. A inteligência e a presença fazem ditoso o anjo. Porque o
homem será um dia como o anjo, é necessário que agora ele se santifique
mediante a fé. E que pela fé fortaleça sua inteligência. Pois está escrito: Se não crerdes, não entendereis.[4]
A fé se orienta à inteligência. Pela fé se purifica o coração para que a
inteligência veja Deus. Igualmente, a recordação de Deus se abre à Sua
presença. Quem aqui recorda e pratica os mandamentos de Deus, ali merece também
gozar um dia a Sua presença. Que gozem os anjos no céu a presença e o conhecimento
de Deus. E que também nós conservemos a fé e Sua recordação nesta vida.
3 comentários:
Caro Angueth,
Salve Maria!
Obrigado por partilhar um pouco do grande Doutor Melífluo, São Bernardo de Claraval.
Sabe que, a princípio, um monge cisterciense trapista, ou seja, da Ordem de São Bernardo, me ajudou a retornar para a Santa Igreja. Seu nome é Thomas Merton, autor lido e apreciado por muitos católicos, espiritualistas, esotéricos, ecumênicos. Graças a Deus foi apenas um pontapé inicial, porque a confusão que esse homem fez é impressionante: ele tentou misturar a Fé Católica com o budismo, e saiu uma salada de muito mau gosto.
Coitado. Nunca deve ter tido consciência do estrago que causou — e ainda causa — na fé de muitos católicos!
Há poucos meses li uma entrevista de Dom Bernardo, o abade do único mosteiro cisterciense trapista do Brasil.
Leia o que ele diz sobre a TL:
"Há quem aponte que o grande mal da Igreja Católica sul-americana é a presença da Teologia da Libertação. Em sua opinião, quais foram os fatores que propiciaram o estabelecimento e crescimento da Teologia da Libertação no Brasil?
Fiquei feliz ao ler que o novo prefeito da Congregação pela Vida Consagrada, um brasileiro por sinal, falou positivamente acerca da Teologia da Libertação numa entrevista nestes últimos tempos. Os fatores que propiciaram a teologia da libertação, como eu entendo, são basicamente dois: a miséria econômica do povo e a necessidade de uma expressão do Catolicismo mais acessível, mais real, para as pessoas de hoje. Assim como as pessoas devem ir ao encontro da sua fé pelo conhecimento da doutrina, assim a fé precisa ir ao encontro do povo – em espiritualidade, em maior envolvimento dos leigos, em formação de novas comunidades locais da fé."
Depois, mais adiante, parece que ele tenta fazer um jogo de palavras, e dá a impressão de repudiar uma TL que vê a vida cristã apenas do ponto de vista político, material, natural, sem a Graça de Deus. Parece coisa de quem fica em cima do muro.
Mas, em geral, os grandes santos e as grandes santas fundaram Ordens que, com o passar dos anos e dos séculos decaíram num abismo teológico, doutrinário, litúrgico, filosófico, moral...
Eis aqui a fonte da tal entrevista:
http://dialogosexemplares.wordpress.com/2011/12/11/um-judeu-no-mundo-catolico-conversa-com-dom-bernardo-bonowitz/
Ad Iesum per Mariam!
Um abraço grato,
Luiz Fernando de Andrada Pacheco
Caro Angueth, boa noite.
Há uma parte do texto que eu não entendi, que é esta "Elas nos dão o sabor da mística do santo que foi considerado o último dos Padres da Igreja."
Em que sentido São Bernardo foi considerado o último padre da igreja, e qual o motivo de tal consideração?
Atte,
Ricardo.
Caro Ricardo,
Salve Maria!
Pio XII, na encíclica Doctor Mellifluus, ecoa muitos admiradores do santo, e diz: "O doutor melífluo, 'último dos padres, mas certamente não inferior aos primeiros', distinguiu-se por tais dotes de mente e de espírito, enriquecidos por Deus com dons celestes, que pareceu dominar totalmente nas múltiplas e turbulentas vicissitudes da sua era, por santidade, sabedoria, suma prudência e conselho na ação."
Ele é considerado estar muito mais próximo dos Padres da antiguidade, do que dos grandes padres da escolástica, pela temática de seus escritos, por sua teologia mística, pelo seu modo de se expressar.
Ad Iesum per Mariam.
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