20/06/2012

Sentenças de São Bernardo - II


1. Evitem sobretudo a murmuração, irmãos. Talvez alguns a consideram um pecado insignificante. Não pensava assim quem advertia que ninguém se envolve com ela à toa. Não o considerava leve aquele que declarava aos críticos: Não haveis murmurado contra nós, mas contra o Senhor; nós, porém, o que somos?[1] Nem aquele que disse: Nem murmureis como murmuraram alguns deles e foram mortos pelo exterminador.[2] O exterminador, colocado nas próprias portas daquela cidade para repelir as maldições e afastá-las de suas fronteiras. A ela, de fato, disse: Louva, ó Jerusalém, o Senhor; louva, ó Sião, o teu Deus. Foi ele que estabeleceu a paz nas tuas fronteiras.[3] Não há nada em comum entre a murmuração e a paz, a ação de graças e a detração, o zelo amargo e o elogio. Bastam estas três sugestões na boca destas três testemunhas notáveis para que aprendamos a evitar completamente a praga da murmuração.

2. Os homens se aplicam ao estudo por cinco razões: Há os que gostam de saber só por saber; e é curiosidade ignóbil. Outros há que desejam saber para serem conhecidos; e é indigna vaidade. E há também os que desejam saber para vender a sua ciência, por exemplo, por dinheiro, pelas honras; e é vergonhosa mercadoria. Mas há ainda os que querem saber, para edificar, e é caridade. E, finalmente, os que desejam saber para serem educados; e é prudência.

3. É comum duvidar-se se o amor a Deus precede no tempo o amor ao próximo, porque parece que não podemos amar ao próximo por Deus se antes não amamos a Deus. Ou que o amor a Deus supõe o amor ao próximo, como está escrito: Aquele que não ama seu irmão, a quem vê, como pode amar a Deus, a quem não vê?[4] Devemos saber que o amor de Deus se pode conceber de dois modos: como algo inicial ou como algo já maduro. O homem começa a amar a Deus antes que ao próximo; mas já que este amor não pode amadurecer se não se alimenta e cresce por amor ao próximo, é necessário amar ao próximo. Portanto, o amor a Deus precede ao outro amor no início; mas é inseparável do amor ao próximo para dele se alimentar. Se alguma vez te confiarem a missão de governar, exija e repreenda com amor, com caridade, buscando a salvação eterna, para que, condescendendo com a fraqueza, não se malogre uma vida. Atue deste modo mesmo que tenhas de suportar a quem recusa toda disciplina, por desconhecer tua autoridade. Ordene e fique tranquilo; que o Senhor fará justiça e defenderá a todos os oprimidos. Se te mostras compassivo, Ele terá misericórdia contigo. Seja compassivo, pois não ficará impune a injúria que padeces. A mim me pertence a vingança, eu retribuirei, disse o Senhor.[5]

Obras Completas de San Bernardo, vol. VIII, BAC Editorial.



[1] Ex 16, 8
[2] 1 Cor 10,10
[3] Sl 147, 12;14.
[4] 1Jo 4, 20.
[5] Rom 12, 19.

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