1. Evitem sobretudo a murmuração,
irmãos. Talvez alguns a consideram um pecado insignificante. Não pensava assim
quem advertia que ninguém se envolve com ela à toa. Não o considerava leve
aquele que declarava aos críticos: Não haveis
murmurado contra nós, mas contra o Senhor; nós, porém, o que somos?[1]
Nem aquele que disse: Nem murmureis como
murmuraram alguns deles e foram mortos pelo exterminador.[2]
O exterminador, colocado nas próprias portas daquela cidade para repelir as maldições
e afastá-las de suas fronteiras. A ela, de fato, disse: Louva, ó Jerusalém, o Senhor; louva, ó Sião, o teu Deus. Foi ele que
estabeleceu a paz nas tuas fronteiras.[3]
Não há nada em comum entre a murmuração e a paz, a ação de graças e a detração,
o zelo amargo e o elogio. Bastam estas três sugestões na boca destas três
testemunhas notáveis para que aprendamos a evitar completamente a praga da
murmuração.
2. Os homens se aplicam ao estudo
por cinco razões: Há os que gostam de saber só por saber; e é curiosidade ignóbil. Outros
há que desejam saber para serem conhecidos; e é indigna vaidade. E há também os
que desejam saber para vender a sua ciência, por exemplo, por dinheiro, pelas
honras; e é vergonhosa mercadoria. Mas há ainda os que querem saber, para
edificar, e é caridade. E, finalmente, os que desejam saber para serem
educados; e é prudência.
3. É comum duvidar-se se o amor a Deus precede no
tempo o amor ao próximo, porque parece que não podemos amar ao próximo por Deus
se antes não amamos a Deus. Ou que o amor a Deus supõe o amor ao próximo, como
está escrito: Aquele que não ama seu irmão,
a quem vê, como pode amar a Deus, a quem não vê?[4] Devemos saber que o amor de Deus se
pode conceber de dois modos: como algo inicial ou como algo já maduro. O homem
começa a amar a Deus antes que ao próximo; mas já que este amor não pode
amadurecer se não se alimenta e cresce por amor ao próximo, é necessário amar
ao próximo. Portanto, o amor a Deus precede ao outro amor no início; mas é inseparável
do amor ao próximo para dele se alimentar. Se alguma vez te confiarem a missão
de governar, exija e repreenda com amor, com caridade, buscando a salvação
eterna, para que, condescendendo com a fraqueza, não se malogre uma vida. Atue
deste modo mesmo que tenhas de suportar a quem recusa toda disciplina, por
desconhecer tua autoridade. Ordene e fique tranquilo; que o Senhor fará justiça
e defenderá a todos os oprimidos. Se te mostras compassivo, Ele terá
misericórdia contigo. Seja compassivo, pois não ficará impune a injúria que
padeces. A mim me pertence a vingança, eu
retribuirei, disse o Senhor.[5]
Obras Completas de San Bernardo, vol. VIII, BAC Editorial.
Ver também Sentenças de São Bernardo.
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