28/03/2009

Um visão do mundo baseado em Fátima

Acabo de ler um folheto, recebido em uma missa, com este título. É coisa preciosíssima que recomendo a todos. Ele está disponível na Internet. Recomendo sobretudo duas cartas da Irmã Lúcia que se encontram ao final do folheto, sobre o terço. Não resisto a citar duas passagens das cartas:

"[O terço] é oração trinitária, sim, porque Maria foi o primeiro Templo vivo da Santíssima Trindade: 'O Espírito Santo decerá sobre Vós, -- O Pai Vos cobrirá com a Sua sombra, -- E o Filho, que de Vós nascer, será chamado o Filho do Altíssimo' ". Maria é o primeiro Sacrário vivo onde o Pai encerrou o Seu Verbo.

"Quanto à repetição das Ave-Marias, não é como querem fazer crer que seja uma coisa antiquada. Todas as coisas que existem e foram criadas por Deus, se mantêm e conservam por meio da repetição, continuada sempre, dos mesmos atos. E ainda a ninguém ocorreu chamar antiquado o sol, lua, estrelas, aves e plantas etc., porque giram, vivem e brotam sempre do mesmo modo! E são bem mais antigos que a reza do Terço! Para Deus, nada é antigo. São João diz que os Bem-aventurados, no Céu,cantam um cântico novo, repetindo sempre; Santo, Santo, Santo é o Senhor, Deus dos Exércitos! É novo porque, na luz de Deus, tudo aparece com novo brilho!"

Nossa Senhora, sede da sabedoria, rogai por nós.

19/03/2009

19 de março: dia de São José

O papa do Rosário, Leão XIII, escreveu também uma Encíclica sobre a devoção a São José: QUAMQUAM PLURIES (eis o link em espanhol). Coincidentemente ou não, essa Encíclica foi publicada em 15 de agosto de 1889, dia da Assunção de Nossa Senhora.

Nessa Encíclica, Leão XIII anexa, ao final, a ORAÇÃO A SÃO JOSÉ, que todo Missal da Missa Tridentina contem.

Nunca estivemos tão precisados do “Guarda providente da Divina Família”. Nunca um papa precisou tanto daquele que protegeu o Menino Jesus e que agora precisa proteger “a herança que Jesus Cristo conquistou com o seu sangue”. Que São José proteja e ajude Bento XVI.

Vamos à oração.

ORAÇÃO A SÃO JOSÉ

A vós, S. José, recorremos em nossa tribulação e, depois de ter implorado o auxílio de Vossa Santíssima Esposa, cheios de confiança solicitamos também o Vosso patrocínio. Por este laço sagrado de caridade que Vos uniu à Virgem Imaculada Mãe de Deus, e pelo amor paternal que tivestes ao Menino Jesus, ardentemente Vos suplicamos que lanceis um olhar benigno para a herança que Jesus Cristo conquistou com seu Sangue, e nos socorrais em nossas necessidades com o Vosso auxílio e poder.

Protegei, ó Guarda providente da Divina Família, a raça eleita de Jesus Cristo. Afastai para longe de nós, ó Pai amantíssimo, a peste do erro e do vício. Assisti-nos do alto do céu, ó nosso fortíssimo sustentáculo, na luta contra o poder das trevas; e assim como outrora salvastes da morte a vida ameaçada do Menino Jesus, assim também defendei agora a Santa Igreja de Deus contra as ciladas de seus inimigos e contra toda adversidade. Amparai a cada um de nós com o Vosso constante patrocínio a fim de que, a Vosso exemplo e sustentados por Vosso auxílio, possamos viver virtuosamente, morrer piedosamente e obter no céu a eterna bem-aventurança.

Amém.

17/03/2009

Arquidiocese de Olinda e Recife responde ao L'Osservatore Romano

A respeito do artigo intitulado “Dalla parte della bambina brasiliana” e publicado no L´OSSERVATORE ROMANO no dia 15 de março, nós, abaixo assinados, declaramos:

1. O fato não aconteceu em Recife, como diz o artigo, mas sim na cidade de Alagoinha (Diocese de Pesqueira).

2. Todos nós – começando pelo pároco de Alagoinha (abaixo assinado) - tratamos a menina grávida e sua família com toda caridade e doçura. O Pároco, fazendo uso de sua solicitude pastoral, ao saber da notícia em sua residência, dirigiu-se de imediato à casa da família, onde se encontrou com a criança para lhe prestar apoio e acompanhamento, diante da grave e difícil situação em que a menina se encontrava. E esta atitude se deu durante todos os dias, desde Alagoinha até Recife, onde aconteceu o triste desfecho do aborto de dois inocentes. Portanto, fica evidente e inequívoco que ninguém pensou em primeiro lugar em “excomunhão”. Usamos todos os meios ao nosso alcance para evitar o aborto e assim salvar as TRÊS vidas. O Pároco acompanhou pessoalmente o Conselho Tutelar da cidade em todas as iniciativas que visassem o bem da criança e de seus dois filhos. No hospital, em visitas diárias, demonstrou atitudes de carinho e atenção que deram a entender tanto à criança quanto à sua mãe que não estavam sozinhas, mas que a Igreja, ali representada pelo Pároco local, lhes garantia a assistência necessária e a certeza de que tudo seria feito pelo bem da menina e para salvar seus dois filhos.

3. Depois que a menina foi transferida para um hospital da cidade do Recife, tentamos usar todos os meios legais para evitar o aborto. A Igreja em momento algum se fez omissa no hospital. O Pároco da menina realizou visitas diárias ao hospital, deslocando-se da cidade que dista 230 km de Recife, sem medir esforço algum para que tanto a criança quanto a mãe sentissem a presença de Jesus Bom Pastor que vai ao encontro das ovelhas que mais precisam de atenção. De tal sorte que o caso foi tratado com toda atenção devida da parte da Igreja e não “obrigativamente” como diz o artigo.

4. Não concordamos com a afirmação de que “a decisão é árdua… para a própria lei moral”. Nossa Santa Igreja continua a proclamar que a lei moral é claríssima: nunca é lícito eliminar a vida de um inocente para salvar outra vida. Os fatos objetivos são estes: há médicos que explicitamente declaram que praticam e continuarão a praticar o aborto, enquanto outros declaram com a mesma firmeza que jamais praticarão o aborto. Eis a declaração escrita e assinada por um médico católico brasileiro: “(…) Como médico obstetra durante 50 anos, formado pela Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil, e ex chefe da Clínica Obstétrica do Hospital do Andaraí, onde servi 35 anos até minha aposentadoria, para dedicar-me ao Diaconato, e tendo realizado 4.524 (quatro mil quinhentos e vinte e quatro) partos, muitos de menores de idade, nunca precisei recorrer ao aborto para “salvar vidas”, assim como todos os meus colegas íntegros e honestos em sua profissão e cumpridores de seu juramento hipocrático. (…)”.

5. É falsa a afirmação de que o fato foi divulgado nos jornais somente porque o Arcebispo de Olinda e Recife se apressou em declarar a excomunhão. Basta ver que o caso veio a público em Alagoinha na quarta-feira, dia 25 de fevereiro, o Arcebispo se pronunciou na imprensa no dia 03 de março e o aborto se deu no dia 4 de março. Seria demasiado imaginar que a imprensa brasileira, diante de um fato de tamanha gravidade, tenha silenciado nesse intervalo de seis dias. Assim sendo, a notícia da menina (“Carmen”) grávida já estava divulgada nos jornais antes da consumação do aborto. Somente então, interrogado pelos jornalistas, no dia 3 de março (terça-feira), o Arcebispo mencionou o cânon 1398. Estamos convictos de que a divulgação desta penalidade medicinal (a excomunhão) fará bem a muitos católicos, levando-os a evitar este pecado gravíssimo. O silêncio da Igreja seria muito prejudicial, sobretudo ao constatar-se que no mundo inteiro estão acontecendo cinqüenta milhões de abortos cada ano e só no Brasil um milhão de vidas inocentes são ceifadas. O silêncio pode ser interpretado como conivência ou cumplicidade. Se algum médico tem “consciência perplexa” antes de praticar um aborto (o que nos parece extremamente improvável) ele – se é católico e deseja observar a lei de Deus - deve consultar um diretor espiritual.

6. O artigo é, em outras palavras, uma direta afronta à defesa pela vida das três crianças feita veementemente por Dom José Cardoso Sobrinho e demonstra quanto o autor não tem bases e informações necessárias para falar sobre o assunto, por total desconhecimento dos detalhes do fato. O texto pode ser interpretado como uma apologia ao aborto, contrariando o Magistério da Igreja. Os médicos abortistas não estiveram na encruzilhada moral sustentada pelo texto, ao contrário, eles praticaram o aborto com total consciência e em coerência com o que acreditam e o que ensinam. O hospital que realizou o aborto na menininha é um dos que sempre realizam este procedimento em nosso Estado, sob o manto da “legalidade”. Os médicos que atuaram como carrascos dos gêmeos declararam e continuam declarando na mídia nacional que fizeram o que já estavam acostumados a fazer “com muito orgulho”. Um deles, inclusive, declarou que: “Já fui, então, excomungado várias vezes”.

7. O autor arvorou-se do direito de falar sobre o que não conhecia, e o que é pior, sequer deu-se ao trabalho de conversar anteriormente com o seu irmão no episcopado e, por esta atitude imprudente, está causando verdadeiro tumulto junto aos fiéis católicos do Brasil que estão acreditando ter Dom José Cardoso Sobrinho sido precipitado em seus pronunciamentos. Ao invés de consultar o seu irmão no episcopado, preferiu acreditar na nossa imprensa declaradamente anticlerical.

Recife-PE, 16 de março de 2009

Pe. Edson Rodrigues (Pároco de Alagoinha-PE - Diocese de Pesqueira)

Mons. Edvaldo Bezerra da Silva (Vigário Geral - Arquidiocese de Olinda e Recife

Pe. Moisés Ferreira de Lima (Reitor do Seminário Arquidiocesano)

Dr. Márcio Miranda (Advogado da Arquidiocese de Olinda e Recife)


Fonte: Tradição Católica

Os direitos dos embriões, das tartarugas e dos cadáveres

No Estado de Minas de hoje, 17 de março, sob o título “Ossos na Internet” fico sabendo o seguinte:

“O diretor do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Amaury Caiafa, aceitou ontem o pedido de desculpas de seis estudantes de medicina que posaram para fotos e se divertiram com ossos humanos do laboratório de anatomia. A direção do ICB considerou um ato de boa vontade a apresentação espontânea dos universitários e, por isso, a punição se restringiu a uma advertência verbal.

“As fotografias que registram a brincadeira foram postadas na internet e chegaram ao conhecimento da UFJF na sexta-feira. Por causa da atitude antecipada dos envolvidos, não foi necessária sindicância para identificar os envolvidos. O processo também poderia resultar na expulsão dos alunos. O caso foi considerado encerrado pela UFJF.”

Mais a frente, o reportagem nos informa:

“O chefe do departamento de morfologia do ICB, Henrique Guilherme de Castro Teixeira, participou do encontro em que os universitários apresentaram suas desculpas formais. Responsável pelo laboratório de anatomia, ele explicou que, ainda nos primeiros dias de aulas, os alunos dos cursos da área de saúde são alertados quanto à importância de uma conduta respeitosa diante dos cadáveres.”

E ainda que:

“O artigo 212 do Código Penal considera crime o desrespeito ao cadáver ou suas cinzas, com pena de um a três anos, além de multa.”

Muito oportuno que venhamos saber dos direitos dos cadáveres. As tartarugas parecem ser protegidas por leis duríssimas. Mate uma tartaruguinha e veja o que acontece com você.

Os alunos da UFJF estariam arriscando uma excomunhão, Oh! perdão, uma expulsão, caso não se arrependessem e confessassem o crime. Como confessaram arrependidos, o bispo do departamento, Oh! desculpem-me, o chefe do departamento os desculpou e encerrou o caso.

Mas, fico aqui a perguntar, com Dom Lourenço Fleichman, não há quem chore pelas criancinhas?

14/03/2009

“Frei” abortista

Sou obrigado a repetir neste blog uma frase muito sábia de Pe. Leonel Franca: “Agitar idéias é mais grave do que mobilizar exércitos. O soldado pode semear os horrores da força bruta, mas tem uma hora em que seu braço cansa e a espada torna à cinta ou se enferruja e se consome com o tempo. A idéia, uma vez desembainhada, é arma sempre ativa, que não volta ao estojo nem se embota com o tempo”.

“Frei” Beto faz da agitação de idéias sua profissão. Veja o que ele diz na edição de quinta-feira, 12 de março de 2009, do Estado de Minas, num artigo intitulado “Direito ao Aborto”:

“Ao longo da história, a Igreja Católica nunca chegou a uma posição unânime e definitiva quanto ao aborto. Oscilou entre condená-lo radicalmente ou admiti-lo em certas fases da gravidez. Atrás dessa diferença de opiniões situa-se a discussão sobre qual o momento em que o feto pode ser considerado ser humano. Até hoje, nem a ciência nem a teologia têm a resposta exata. A questão permanece em aberto.

“Santo Agostinho (séc. 4) admite que só a partir de 40 dias depois da fecundação se pode falar em pessoa. Santo Tomás de Aquino (séc. 13) reafirma não reconhecer como humano o embrião que ainda não completou 40 dias, quando então lhe é infundida a ‘alma racional’.”

O mal contido nestes dois parágrafos é incalculável. Todo o artigo é eivado de malícia, mas estes dois parágrafos são especiais, pela autoridade teológica desses dois santos.

Imaginem vocês uma jovem católica, medianamente culta, que está grávida. Imaginem também que ela seja solteira e que esteja sofrendo pressão da família, do namorado, das amigas, para abortar. Ela resiste, pois a Lei Natural diz, em seu íntimo, o que é certo e o que é errado. Além disso, ela imagina que a Igreja seja contra o aborto. Ela lembra que já ouviu falar nas missas (aquelas modernas e barulhentas) que a Igreja luta pela vida. Lembra até de uma Campanha da Fraternidade, que apesar de não usar uma vez sequer a palavra aborto, dizia que a Igreja defendia a vida “em todas as suas fases”. Pode ser que ela já tenha até ouvido falar da posição do papa João Paulo II e de algum escrito dele.

Aí então, ela pega o jornal e lê o artigo de “Frei” Beto. Nele, esse individuo malicioso está dizendo que a Igreja nem sempre foi contra o aborto: “oscilou em condená-lo ou admiti-lo em certas fases da gravidez”. Não só isso. Ela fica sabendo também que os dois mais eminentes teólogos da Igreja também não condenaram o aborto. Era disso que ela precisava para se justificar perante si mesma e perante a sociedade para fazer o aborto. Tomem muito cuidado: o artigo de “Frei” Beto é abortivo.

A técnica desse “frei” é apurada. Ele sabe que se disser apenas mentiras, será fácil refutá-lo. Por isso, mistura algumas verdades com muitas mentiras. Antes de refutá-lo quanto a Santo Agostinho e Santo Tomás é bom saber algo sobre a posição da Igreja quanto ao aborto.

Existe um documento intitulado “Didaqué: Instrução dos Doze Apóstolos” (in Padres Apostólicos, Ed. Paulus, 3ª edição, 2002) que é considerado por muitos o primeiro catecismo católico e uma síntese da pregação dos apóstolos depois da morte de nosso Salvador. A data provável desse documento é o final do século I. Estamos falando de um documento escrito antes de 70 anos da morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nele se lê: “Não mate, não cometa adultério, não corrompa os jovens, não fornique, não roube, não pratique magia, nem feitiçaria. Não mate a criança no seio de sua mãe, nem depois que ela tenha nascido.

Esta é a prova documental de que os apóstolos pregaram contra o aborto. Mas o que aconteceu de lá para cá? Será que a Igreja “oscilou” em sua posição? Será que ela, alguma vez, defendeu o aborto, como “frei” Beto quer que acreditemos?

Reproduzo aqui o parágrafo 7 da Declaração sobre o Aborto Provocado, da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé:

E no decorrer da história, os Padres da Igreja, bem como os seus Pastores e os seus Doutores, ensinaram a mesma doutrina, sem que as diferentes opiniões acerca do momento da infusão da alma espiritual tenham introduzido uma dúvida sobre a ilegitimidade do aborto. É certo que, na altura da Idade Média em que era opinião geral não estar a alma espiritual presente no corpo senão passadas as primeiras semanas, se fazia uma distinção quanto à espécie do pecado e à gravidade das sanções penais. Excelentes autores houve que admitiram, para esse primeiro período, soluções casuísticas mais suaves do que aquelas que eles davam para o concernente aos períodos seguintes da gravidez. Mas, jamais se negou, mesmo então, que o aborto provocado, mesmo nos primeiros dias da concepção fosse objetivamente falta grave. Uma tal condenação foi, de fato, unânime. Dentre os muitos documentos, bastará recordar apenas alguns. Assim: o primeiro Concílio de Mogúncia, em 847, confirma as penas estabelecidas por Concílios precedentes contra o aborto; e determina que seja imposta a penitência mais rigorosa às mulheres « que matarem as suas crianças ou que provocarem a eliminação do fruto concebido no próprio seio »[9]. O Decreto de Graciano cita estas palavras do Papa Estêvão V: « É homicida aquele que fizer perecer, mediante o aborto, o que tinha sido concebido »[10]. Santo Tomás, Doutor comum da Igreja, ensina que o aborto é um pecado grave contrário à lei natural [11]. Nos tempos da Renascença, o Papa Sisto V condena o aborto com a maior severidade [12]. Um século mais tarde, Inocêncio XI reprova as proposições de alguns canonistas « laxistas », que pretendiam desculpar o aborto provocado antes do momento em que certos autores fixavam dar-se a animação espiritual do novo ser [13]. Nos nossos dias, os últimos Pontífices Romanos proclamaram, com a maior clareza, a mesma doutrina. Assim: Pio XI respondeu explicitamente às mais graves objeções;[14] Pio XII excluiu claramente todo e qualquer aborto direto, ou seja, aquele que é intentado como um fim ou como um meio para o fim;[15] João XXIII recordou o ensinamento dos Padres sobre o caráter sagrado da vida, « a qual, desde o seu início, exige a ação de Deus criador » [16]. E bem recentemente, ainda, o II Concílio do Vaticano, presidido pelo Santo Padre Paulo VI, condenou muito severamente o aborto: « A vida deve ser defendida com extremos cuidados, desde a concepção: o aborto e o infanticídio são crimes abomináveis » [17]. O mesmo Santo Padre Paulo VI, ao falar, por diversas vezes, deste assunto, não teve receio de declarar que a doutrina da Igreja « não mudou; e mais, que ela é imutável »[18].”
Vemos assim a continuidade da posição apostólica na história da Igreja, com relação ao aborto. Em nenhum momento a Igreja “oscilou” na condenação do aborto, como diz o “frei” velhaco. Santo Tomás, apesar de acreditar, influenciado por Aristóteles, que a alma só se infundia no embrião 40 dias depois da concepção, condenava veementemente o aborto, como contrário a Lei Natural. Essa mentira sobre a posição de Santo Tomás é tão velha que a encontramos no site Newadvent, numa coleção de perguntas e respostas, de 1993, sobre várias mentiras correntes sobre o catolicismo, a maioria delas espalhadas por protestantes.

Ah! Mas e quanto a Santo Agostinho? Essa estória de dizer que Santo Agostinho era favorável ao aborto é muito velha. A questão é complexa e nestas questões complexas os maliciosos estão sempre preparados para nos confundir. Vou traduzir aqui um trecho de um post do blog On the Contrary. Neste post, o blogueiro está se referindo a uma discussão havida na eleição de Obama, em que Nanci Pelosi (o Sarney deles) afirma sobre Santo Agostinho o mesmo que este frei de meia tigela. O blogueiro faz uma citação de um trecho do livro “Santo Agostinho através dos tempos: uma enciclopédia”. Vamos ao trecho:

“Agostinho aceitava a distinção entre fetos ‘formados’ e ‘não-formados’ encontrada na versão da Septuaginta do Êxodo 21:22-23. Enquanto o texto em hebreu admitia uma compensação no caso de um homem ferir uma mulher grávida de tal forma que cause o aborto, e uma pena adicional se maior dano for causado, a versão da Septuaginta traduziu ‘dano’ como ‘forma’, introduzindo uma distinção entre um feto ‘formado’ e um feto ‘não-formado’. A confusão na tradução está fundamentada na distinção aristotélica entre o feto antes e depois de sua suposta ‘animação’ (aos quarenta dias de gravidez para o sexo masculino e noventa, para o feminino). Segundo a Septuaginta, o aborto de um feto ‘animado’ era punido com a pena capital.

“Agostinho desaprovava o aborto tanto de fetos ‘animados’ quando ‘não-animados’, mas distinguia os dois. O feto ‘não-animado’ morria antes de viver, enquanto o feto ‘animado’ morria depois de nascer (De Nuptiis et Concupiscentiis, c.15).”

Referindo-se explicitamente à esta passagem da obra de Santo Agostinho, a Declaração sobre o Aborto Provocado, citada acima, diz: “Por vezes esta crueldade libidinosa, ou esta libidinagem cruel vão até ao ponto de arranjarem venenos que tornam as pessoas estéreis. E se o resultado desejado não é alcançado desse modo, a mãe extingue a vida e expele o feto que estava nas suas entranhas; de tal maneira que o filho morre antes de ter vivido; de sorte que, se o filho já vivia no seio materno, ele é matado antes de nascer (P.L. 44, 423-424: CSEL 42, 230.” Vemos aqui a concepção de Santo Agostinho sobre o momento da infusão da alma no feto. Mas onde está sua aprovação do cometimento do aborto?

Diz ainda o documento do Vaticano: “Esta Declaração deixa expressamente de parte o problema do momento de infusão da alma espiritual. Sobre este ponto não há tradição unânime e os autores acham-se ainda divididos. Para alguns, ela dá-se a partir do primeiro momento da concepção; para outros, ela não poderia preceder ao menos a nidificação. Não compete à ciência dirimir a favor de uns ou de outros, porque a existência de uma alma imortal não entra no seu domínio. Trata-se de uma discussão filosófica, da qual a nossa posição moral permanece independente, por dois motivos: 1° no caso de se supor uma animação tardia, estamos já perante uma vida humana, em qualquer hipótese, (biologicamente verificável); vida humana que prepara e requer esta alma, com a qual se completa a natureza recebida dos pais; 2° por outro lado, basta que esta presença da alma seja provável (e o contrário nunca se conseguirá demonstrá-lo) para que o tirar-lhe a vida equivalha a aceitar o risco de matar um homem, não apenas em expectativa, mas já provido da sua alma.”

O artigo de “frei” Beto contém ainda muita agitação perigosa de idéias. Dou apenas mais um exemplo da malícia do “frei”. Ele diz: “Roma é contra o aborto por considerá-lo supressão voluntária de uma vida humana. Princípio que nem sempre a Igreja aplicou com igual rigor a outras esferas, pois defende o direito de países adotarem a pena de morte ...”.

“Frei” Beto se espanta por sermos contrários ao aborto e a favor da pena de morte. Cito aqui trecho do artigo Pela pena de morte:

“Raciocínio torto esse, totalmente ‘nonsense’. Somos a favor de punir bandidos, e não inocentes que nunca fizeram nada. Esse raciocínio é o equivalente a dizer: ‘quem é contra prender uma criança durante 10 anos numa cela, não pode ser a favor de prender um criminoso por 10 anos numa cadeia’.

“A tese contrária é verdadeira ‘Quem é a favor do aborto não pode ser contra a pena de morte’. Se alguém defende o assassinato de uma criança inocente, não poderá ser contra a execução de um bandido. Infelizmente, hoje em dia, há várias pessoas que são favoráveis ao assassinato intra-uterino (aborto) e são contra a pena de morte. É o cúmulo do ‘nonsense’.”

Termino por aqui um post já ficou muito longo. Posso garantir aos leitores que não me deu nenhum prazer escrevê-lo.

09/03/2009

Católicos da Diocese de Limeira apóiam o Papa

Vale a pena visitar o site de alguns católicos de Limeira: aqui.

São católicos que defrontam com as mesmas dificuldades que qualquer verdadeiro católico na atualidade. Eles reafirmam seu apoio ao Papa Bento XVI e descrevem as dificuldades em se conseguir um padre em sua diocese que celebre a Missa de Sempre. Aqui em Belo Horizonte não é diferente. Há uma oposição muda ao moto proprio do papa, liberando a Missa de São Pio V. Nenhum bispo ou arcebispo quer obedecer ao Papa neste aspecto (e em alguns outros).

Essa guerra a Bento XVI vai se tornar cada vez mais pública, pois o papa não parece querer retroceder. Ele parece disposto a restaurar a Igreja de Cristo, na forma como ela sempre foi até a década de 1960, antes do Concílio Vaticano II. Os lobos vão ter de sair da toca e mostrar a cara. Por enquanto, em relação à Missa de Sempre, eles estão agindo nos bastidores! Os bravos católicos de Limeira estão protestando, e com toda a razão.

08/03/2009

Entrevista do Estado de Minas com Dom José Cardoso Sobrinho, arcebispo de Recife e Olinda (8 de março de 2009)

Notas: 1. Esses dias de turbulência para a Igreja servem para revelar os verdadeiros bispos, ou seja, aqueles que são os reais sucessores dos apóstolos. Dom Aldo e Dom José estão certamente entre estes.
2. Lembremos que Dom José é sucessor, na arquidiocese, de Dom Hélder. Não custa lembrar o que sobre ele dizia Nelson Rodrigues: clique aqui e aqui. Imagine o que Dom José não sofreu e sofre por ser sucessor desse apóstata.
3. Dom Lourenço Fleishman escreve sobre Dom José. É, entre outras coisas, uma resposta ao post de Reinaldo Azevedo, sobre o caso. Sem mencionar o nome do famoso blogueiro, Dom Lourenço rebate o post de forma admirável. Sou admirador de Reinaldo por variadas razões, mas não esqueço nunca de que suas posições liberais mancham suas análises quando o assunto é religião Católica. Como todos sabem, liberalismo não combina com catolicismo, pois afinal, liberalismo é pecado.

O que o senhor achou da declaração do presidente, lamentando o comportamento conservador da Igreja e que, nesse caso, a medicina está mais correta que a Igreja?
Gostaria de lembrar que existem realidades divinas que precisam ser conservadas. E para isso, os padres e bispos têm que ser conservadores. Sugiro ao senhor presidente, antes de se pronunciar sobre assuntos de ordem teológica, ouvir um teólogo.

O senhor imaginava que o seu posicionamento poderia gerar uma polêmica de repercussão internacional?
Não poderia prever essa polêmica. Mas estou tranquilo. Acho que foi uma providência divina para chamar a atenção para a gravidade da situação. Não há nada que justifique um aborto. Abortar é um crime mais grave que um homicídio.

A mãe da menina e os médicos serão mesmo excomungados?
Quando falei na excomunhão, não quis dizer que era eu quem iria excomungar. Isso está no código canônico da Igreja que diz que aquele que comente um aborto está excomungado. Mas não existe pecado sem perdão. Quem reconhecer que errou e demonstrar arrependimento será aceito na Igreja novamente.

07/03/2009

Apoio a Dom Aldo Pagotto



Este blog apóia Dom Aldo Pagotto em seu ato de suspensão do Padre Luiz Couto. Este bispo agiu verdadeiramente como sucessor dos apóstolos e nós pedimos sua benção apostólica, ao mesmo tempo em que o colocamos em nossas orações diárias. Quem quiser apoiá-lo mande um e-mail para cillopagotto@arquidiocesepb.org.br.

7 de março, Santo Tomás de Aquino, C. Dr. + 1274

Nota: Seguem trechos da monumental biografia de Santo Tomás, de Chesterton (Ediouro, 3ª Ed., 2003). Comprem e leiam o livro. É um dos livros fundamentais para os católicos atuais.



Santo Tomás de Aquino, rogai por nós.


Entre os estudantes (de Santo Alberto Magno) que lotavam as salas de conferência, havia um aluno que se destacava por sua estatura gigantesca e sólida, um aluno que não conseguir sobressair por qualquer outra coisa ou se recusava a fazê-lo. Ele falava tão pouco nos debates que os colegas começaram a supor que, além de “calado” ele era também “embotado”. Seja como for, não demorou muito para que o deixassem de lado da forma mais horrível e assim mesmo sua estatura imponente começou a ser apenas motivo de escárnio. Apelidaram-no de Boi Mudo. Era objeto não só de zombaria, mas de piedade. Um estudante de bom coração ficou com tanta pena dele que tentou ajudá-lo a fazer as lições, repassando os elementos de lógica com se estivesse repassando o alfabeto numa cartilha. O tolo lhe agradeceu com uma patética polidez, e o filantropo continuou a lição até encontrar uma passagem sobre a qual ele mesmo tinha algumas dúvidas – e sua interpretação, para dizer a verdade, era errada. O tolo, diante disso, mostrando-se muito embaraçado e perturbado, indicou uma possível solução que mostrou se a correta. O estudante benevolente ficou olhando, como se estivesse diante de um monstro, para aquela combinação de ignorância e inteligência, e estranhos murmúrios começaram a percorrer as escolas.

(...)

Alberto Magno encarregava Tomás de realizar pequenas tarefas, de anotação ou de exposição, depois de convencê-lo a deixar de lado seu embaraço para poder participar ao menos de um debate. Alberto era um senhor bastante perspicaz que estudara os hábitos de animais que não o unicórnio e a salamandra. Ele estudara muitos espécimes da mais monstruosa monstruosidade, aquela que se chama homem. Conhecia os sinais e marcas do tipo de homem que Tomás era, o tipo de homem que é, sem o saber, uma espécie de monstro entre os homens. Alberto era um mestre bom demais para não perceber que o tolo nem sempre é um tolo. Ele soube, e se divertiu com isso, que aquele tolo recebera dos colegas o apelido de Boi Mudo. Tudo isso era muito natural, mas não retira o sabor de algo estranho e simbólico acerca da extraordinária ênfase com que Tomás falou quando finalmente o fez. Porque, na época, Tomás de Aquino ainda era conhecido apenas como um aluno obscuro e obstinadamente apático em meio a muitos alunos mais brilhantes e promissores, quando Alberto quebrou o silêncio com sua famosa profecia: “Vocês o chamam de Boi Mudo, e eu lhes digo que esse Boi Mudo vai mugir tão alto que seu mugido vai tomar conta do mundo.”

(...)

Mas, sobre sua verdadeira sua verdadeira vida de santidade, ele mantinha um grande segredo. Esse segredo na verdade costuma acompanhar a santidade, porque o santo tem um horror abissal a fazer as vezes do fariseu. (...) Certamente o mundo conhece muito menos histórias semelhantes [de milagres] sobre Santo Tomás do que as de muitos santos igualmente sinceros e modestos.

A verdade é que, no que diz respeito a todas essas coisas, na vida e na morte, há uma espécie de enorme calma cercando Santo Tomás. Ele era uma daquelas coisas grandes que ocupam pouco espaço.

(...)

Parece certo que Tomás teve de fato uma espécie de vida secundária e misteriosa, o duplo divino do que é chamado de vida dupla. Alguém parece ter surpreendido algo do tipo de milagre solitário que as pessoas modernas ligadas ao sobrenatural chamam de levitação. (...) Ninguém sabe, imagino eu, que tempestade espiritual de exaltação ou de agonia provoca essa convulsão na matéria ou no espaço, mas trata-se de algo que quase com certeza acontece. (...) Mas é provável que a revelação mais representativa desse lado de sua vida possa estar na celebrada história do milagre do crucifixo, quando, na imobilidade da igreja de São Domingos em Nápoles, uma voz falou a partir do Cristo esculpido e disse ao frade ajoelhado que ele escrevera coisas corretas, e lhe ofereceu a escolha de uma recompensa entre todas as coisas do mundo.

Creio que nem todos apreciam o sentido dessa história particular ao vê-lo aplicado a esse santo em particular. É uma velha história, na medida em que é simplesmente como se oferecessem a um devoto da solidão ou da simplicidade a oportunidade de escolher todos os prêmios da vida. (...) Tomás não era alguém que não queria nada, pois tinha um enorme interesse por tudo. Sua resposta à escolha em questão não seria tão inevitável nem simples como alguns poderiam supor. (...) Ninguém supõe que Tomás de Aquino, ao receber de Deus a oferta para escolher entre todas as dádivas de Deus, pudesse pedir mil libras, a coroa da Sicília ou um raro vinho grego. Mas ele poderia ter pedido coisas que de fato queria; e era um homem que podia querer coisas, tal como quis o manuscrito perdido de São Crisóstomo. Tomás poderia ter pedido a solução de uma antiga dificuldade, o segredo de uma nova ciência, o vislumbre da mente intuitiva inconcebível dos anjos ou qualquer outra coisa dentre as inúmeras que de fato teriam satisfeito seu amplo e viril apetite pela própria vastidão e variedade do universo. (...) Trata-se do flamejante pano de fundo do ser mutidimensional que confere a força particular, e mesmo uma espécie de surpresa, à resposta de Santo Tomás quando ele finalmente levantou a cabeça e falou com aquela ousadia quase próxima da blasfêmia, que é a irmã da humildade de sua religião: “Quero a ti mesmo”.

Ou, para acrescentar a ironia final e esmagadora da história, tão peculiarmente cristã para os que podem de fato compreendê-la, alguns amenizam um pouco a ousadia, ao insistir que ele disse: “Apenas a ti mesmo”.

05/03/2009

Ufa! “Frei” Beto, finalmente, confessa não ser católico

O comunistóide “Frei” Beto, homem de confiança e admirador dessa candura de pessoa que é Fidel Castro, declara com todas as letras, hoje, no Estado de Minas, que não é católico. Isso é muito bom, pois, há algum tempo comentei aqui que ele teria sido convidado a falar num retiro de carmelitas. Da próxima vez, as pobres carmelitas podem querer convidar algum católico.

Esse “frei” deixou de ser católico há tanto tempo (nem sei se algum dia o foi) que não deve nem ter percebido que fez tal confissão pública. Vocês sabem, ele sequer reconhece quando despreza, nega ou escarnece a doutrina que diz professar.

Assim, este senhor diz o seguinte, em seu artigo de hoje, intitulado Mão Invisível:

“Desde criança, tenho, como todo mundo, meus medos. Já foram maiores: medo de ver meu pai bravo, de ser obrigado a comer jiló, de tirar zero na prova de matemática. Medo, sob a ditadura, de me ver abordado por uma viatura policial. Medo, sob a chuva capixaba, de que meu barraco na favela, erguido à beira de um precipício, fosse levado pelas águas.

“Hoje, coleciono outros medos. Um deles, medo da mão invisível do Mercado. Aliás, do que é invisível só não temo Deus. Temo bactérias e extraterrestres. As primeiras, combato com antibióticos – termo inapropriado, pois significa “contra a vida” e, no entanto, os inoculamos para favorecê-la.” (Negritos são meus)

Não sugiro a ninguém que leia o artigo, pois é uma coleção de imbecilidades sobre o malvado mercado.

Vejam que ele diz ter medo de ditadura. Mentira, pois, ele ajudou muito a ditadura de Fidel. Ele teme alguns tipos de ditadura.

Sobre invisibilidades, veja que ele coloca a invisibilidade de Deus no mesmo nível que a invisibilidade das bactérias. Bem, digamos que isso nos coloca absolutamente sem palavras. Um sujeito que não sabe distinguir a invisibilidade circunstancial de um micróbio (basta usar um microscópio para vê-lo) e a invisibilidade ontológica de Deus...

Mas a confissão de não católico ele faz quando diz que não teme a Deus. Podemos chamar muitos santos para nos ajudar a falar do temor de Deus. Podemos recorrer às Escrituras, por exemplo, Eco 1, 16-40. Mas chamemos Santo Agostinho para nos iluminar:

“Antes de toda e qualquer coisa, é preciso converter-se pelo temor de Deus para conhecer-lhe a vontade, para saber o que ele nos ordena buscar ou rejeitar. Necessário é que este temor incuta o pensamento de nossa mortalidade e da futura morte e fixe no lenho da cruz todos os movimentos de soberba, como se nossas carnes estivessem atravessadas pelos cravos.” (A Doutrina Cristã, 2ª ed., Editora Paulus, 2007) (Negritos são meus)

Notem que Santo Agostinho fala que nós nos convertemos pelo temor de Deus. Quem não o tem, não é católico, não se converteu ou já se apostasiou.

A curiosidade da confissão de “frei” Beto é que, hoje em dia, tem muita gente que se diz católico e que defende o aborto, a eutanásia, o casamento gay etc. Claro está que essa gente não é católica. Mas um pretenso católico se confessar não católico por negar uma exigência doutrinária tão elementar é, de fato, uma coisa extraordinária.

Que fique então registrado: “frei” Beto não teme a Deus e, portanto, não é católico.