22/04/2007

Traduções para o MSM: Atualização (Sowell)

Quem quiser se desintoxicar das besteiras que a mídia brasileira fala sobre aquecimento global, trombeteando o que a ONU e os globalista arrotam, leiam os 4 artigos abaixo e, sobretudo, passe-os aos seus filhos, como antídoto da doutrinação das escolas e universidades do país.

Atmosfera quente – Parte I

Atmosfera quente – Parte II

Atmosfera quente – Final

A fraude do aquecimento global


Se alguém disser que sabe Economia mas não concordar com o que Sowell fala nesses 3 artigos é um mentiroso deslavado. O que ele sabe é embromação marxista. Esses artigos valem por muitas aulas de Economia, em muita universidade famosa.


Política não tem preço – Parte I

Política não tem preço – Parte II

Política não tem preço – Final


05/04/2007

Ateus solitários da Aldeia Global - Final

Michael Novak


Segunda: O Peso do Pecado. Levou alguns anos até que eu entendesse que, tal como algumas pessoas não têm ouvido para música, outras (como descreveu Friederick Hayek) “não têm ouvido para Deus”. Outros ainda dizem que não têm “necessidade” de Deus. Eles não sentem nenhum vazio interior em que Deus pudesse se encaixar. Parece-me, ademais, uma das bênçãos do ateísmo que ele anule qualquer sentimento de Julgamento, qualquer impressão de que os atos de alguém possam ofender um Amigo, qualquer consciência do pecado. O “pecado” parece, de fato, um restolho de uma época, há muito, passada. Beati voi! Eu gostaria de exclamar aos ateus: sorte sua!

“No coração do cristianismo está o pecado”, disse, certa vez, um grande cristão. Alguns têm a consciência de fazer coisas que não deviam e de deixar de fazer outras que deviam. Somos conscientes do pecado contra nossa própria consciência – fazendo deliberadamente o que sabemos ser errado, por fraqueza ou por um forte desejo que esteja ainda fora do controle. Posteriormente, às vezes, sentimos remorsos de tanto que nos dói o que fizemos – e mesmo assim, o que foi feito, está feito e nada que fizermos pode apagar nosso erro. E, às vezes, nosso erro é vergonhosamente grave.

Foi sobre essa experiência virtualmente universal que Jesus, como João Batista antes dele, inicialmente falou a seus ouvintes. “Arrependam-se! Façam penitência. Decidam não mais pecar” (Mesmo que a probabilidade de voltar a pecar seja alta; tal como um homem manco que apesar de ter sido curado, sabe que, a qualquer momento, seu joelho pode falhar novamente.)

Cristianismo nada tem a ver com arrogância moral. Ele tem a ver com realismo moral e humildade moral. Onde quer que você veja pessoas cheias de si condenando os outros e inconscientes de seus próprios pecados, você não está na presença de um cristão alerta, mas de um pedante enganador. Foi, na realidade, uma grande revolução na história humana quando o Deus cristão e judeu revelou-Se como alguém que enxerga diretamente o que vai pelas consciências e não é ludibriado por atos externos. (Os filósofos pagãos na Grécia e Roma podem ou não ter levado os deuses a sério, mas eles não tinham vergonha de mostrar pietas em ritos religiosos, sem nenhuma preocupação com a consciência.) O respeito bíblico pela consciência dignifica e honra grandemente os atos interiores de reflexão, comprometimento e escolha. Ele desviou um forte raio de atenção do ato externo para o ato interior de consciência. Ele dignificou enormemente a veracidade e a humildade. Finalmente, a obrigação interior de consciência para com o Criador se tornou o fundamento da liberdade religiosa – que nenhum outro poder se atreva a interferir com essa obrigação primeira para com Deus, que é antecedente à sociedade civil, ao estado, à família, e a qualquer outra instituição. (Ver “Estatuto da Liberdade Religiosa”, 1785, de Jefferson.)

Terceira: O Fio Dourado e Brilhante da História Humana. Na libertação dos judeus do Império Seleucido (celebrada no Hanukkah), do Egito (celebrada na Páscoa) e da Babilônia (celebrada na poesia dos profetas de Israel), a liberdade é o tema principal do Velho Testamento. Cada história nesse Testamento tem como seu eixo a arena da vontade humana e as decisões aí tomadas (ocultas ou externas). Assim, para a religião bíblica, liberdade é o fio dourado da história humana. Essa concepção de liberdade é realizada internamente no recesso da alma e também, institucionalmente, em todas as sociedades e políticas.

Nenhuma outra religião, exceto o cristianismo e o judaísmo, coloca a liberdade de consciência tão perto do centro da vida religiosa. Por exemplo, o Islam tende a pensar Deus em termos de vontade divina, muito longe da natureza e da lógica. Independentemente da razão, tudo que Allah deseja, se realiza. O judaísmo e o cristianismo tendem a pensar Deus como Logos, luz, fonte de toda lei e da inteligibilidade de todas as coisas. Essa diferença na concepção fundamental de Deus altera, também, a concepção fundamental de cada religião com relação ao ser humano: compreensão ou submissão.

Quarta: O Razão do Cosmos é Amizade. Se alguma vez lhe ocorreu perguntar, mesmo que você seja ateu, por que Deus criou este vasto, silencioso, virtualmente infinito cosmos, você deve ter descoberto que a melhor resposta é, numa única palavra, “amizade”. De acordo com as Escrituras, inteligentemente lidas, o Criador fez o homem um pouco inferior aos anjos e um pouco mais complexo que os outros animais. Ele fez os seres humanos suficientemente conscientes e racionais para que eles pudessem se maravilhar com o que Ele tinha criado e agradecê-Lo. E, ainda mais importante, Ele criou os seres humanos para oferecê-los, em sua liberdade, Sua amizade e companhia. Se não há liberdade, não há amizade.

Amizade não é a única forma bíblica de pensar sobre a relação entre Deus e o homem; também é uma boa forma imaginar o futuro de nossa nação e do mundo para o qual devemos trabalhar. Dessa visão, o judaísmo e o cristianismo oferece ao mundo uma forma de medir o progresso ou o declínio. William Penn chamou sua capital de “Philadelphia” e fez da liberdade de religião seu princípio fundamental. Mesmo os ateus da Revolução Francesa nomearam seus princípios “Liberdade, Fraternidade, Igualdade” – cada um deles é um termo que deriva não dos gregos ou romanos, mas da religião bíblica. Uma civilização mundial constituída sobre a mútua amizade é um poderoso imã, e uma medida realista. Amizade não requer uniformidade. Ao contrário, sua demanda fundamental é o respeito mútuo, desejando o bem do outro como outro. Ela faz nascer um desejo de conversar – de uma forma razoável, sobre as diferenças de ponto de vista, de expectativas – e um senso de responsabilidade prática.


ALGUMAS DIFERENÇAS ENTRE O CRISTIANISMO E O ATEÍSMO

Reconheço que o horizonte cristão esboçado acima, em rápidas pinceladas, pode parecer absurdo para ateus como Dawkins, Dennett e Harris. Eles podem procurar, em vão, por evidências empíricas, do tipo que eles são capazes de reconhecer como evidências, de que esse esboço de Deus e do homem possa ter, minimamente, um contato com a realidade que eles conhecem. Por outro lado, não é difícil para um cristão bem intencionado se colocar no lugar de um ateu e ver o mundo como os ateus o vêem. Os quatro princípios do paradigma esboçados acima – amizade, liberdade, o perdão dos pecados e a aceitação da absurdidade – não excluem o ponto de vista ateu. De fato, aprende-se muito sobre cada princípio com os escritos de ateus, incluindo Sartre, Camus, Silone, Moravia, Dewey, Sêneca, Aristóteles e milhares de outros. O cristianismo parece ser mais capaz de compreender e simpatizar com os ateus do que estes com o cristianismo. Senão por outras razões, os três livros aqui resenhados mostram o quanto é difícil para os ateus contemporâneos (da escola científica) mostrar alguma simpatia pelo modo cristão de ver a realidade. Como um pouco acima de dois bilhões de pessoas são, atualmente, cristãs – aproximadamente uma a cada três pessoas – a inabilidade dos ateus contemporâneos de compreender os sentimentos de tantos companheiros – da breve viagem de uma única vida humana – parece ser uma grave deficiência humana.

Repetindo, não é difícil para um cristão sério “vestir” o ponto de vista, os métodos e as disciplinas da biologia evolucionária. Milhares de alunos universitários fazem isso a cada ano. Tem-se apenas que limitar a atenção e a compreensão ao que essa disciplina conta como evidência e rigor metodológico. Tem-se que conhecer seus conceitos e axiomas importantes. Tem-se que se limitar ao ponto de vista e às questões formuladas (não adianta formular questões que vão além do estrito limite imposto pela própria disciplina.) Se você dá conta de viver dentro desses limites, tanto melhor.

A arte de fazer isso não é diferente de aprender a pensar como um grego antigo, ou para os católicos, de aprender ver as coisas como um batista, um luterano e um presbiteriano, ou para este último se colocar, provisoriamente, no lugar de um católico. A forma estranha de Dawkins, Dennett e Harris de entender a vida humana é algo que um crente sensível deve necessariamente aprender, cedo ou tarde. Não se pode imaginar que se passe por um curso em Harvard, que se lecione em Stanford ou outra universidade, sem aprender como pensar, falar e trabalhar dentro do horizonte, pontos de vista, método e disciplinas de um ateu.

Tampouco essa arte é somente o produto de nossa era moderna e pluralística. O jovem Tomas de Aquino, com seus vinte anos, foi um dos primeiros homens no Ocidente a ter em suas mãos uma tradução autêntica de diversos livros de Aristóteles, cujas versões originais gregas estavam perdidas havia milhares de anos. Como seus comentários linha-a-linha de alguns desses livros mostram, Aquino dominou completamente o ponto de vista muito diferente do seu. Não muitos anos depois, ele teve de fazer o mesmo ao ler al-Farabi, Avicena, Averroes e outros grandes filósofos árabes.

E assim, quando um leitor cristão se defronta com o argumento do prof. Dawkins de que Deus não existe, porque todas as coisas mais inteligentes vem somente ao final do processo evolucionário, não no princípio, o primeiro reflexo do cristão é cair na gargalhada – mas como um estudante atento, ele também está obrigado a observar que, sim, do ponto de vista da biologia evolucionária, deve ser assim. O argumento pode não ser intelectualmente ou filosoficamente satisfatório; quando suas implicações práticas são comparadas com aquelas do ponto de vista cristão, a biologia evolucionária pode não ser atrativa como uma forma de vida. Se se quer ser um biólogo evolucionário, no entanto, deve-se aprender a se confinar dentro das disciplinas que o campo impõe.

Do ponto de vista do catolicismo romano pelo menos, não há dificuldade em aceitar todos os descobrimentos da biologia evolucionária e, ao mesmo tempo, não aceitar a biologia evolucionária senão como uma ciência empírica – ou seja, não como uma filosofia da existência, uma metafísica, uma completa visão da vida humana. É mais fácil para o cristianismo absorver muitas, muitas descobertas do mundo contemporâneo – da ciência à tecnologia, política, economia e arte – do que para aqueles cujo ponto de vista está confinado à era contemporânea absorver o cristianismo. Essa é apenas uma das razões pelas quais podemos esperar que o último sobreviverá à primeira.

É obvio que pelo menos Dawkins é muito consciente das limitações convencionais do ateísmo científico. Ele escreve que “uma resposta quase-mística à natureza e ao universo é comum entre os cientistas e racionalistas. Isso não tem conexão com uma crença sobrenatural.” Umas poucas páginas de seu livro, em quase todas as seções, são escritas para mostrar como o ponto de vista ateu pode satisfazer o que até agora tem sido considerado aspiração religiosa. O ateísmo tem, também, diz ele, suas consolações, suas fontes de inspiração, sua consciência da beleza, seu senso de espanto. Para tais satisfações, não há necessidade de se voltar para a religião. Dawkins faz um bom trabalho em restaurar, para a vida do ateísmo científico, a resposta subjetiva, emocional, de espanto para com a beleza. Para Dawkins, o ateísmo científico é humanístico, um passo significativo para além do positivismo lógico estéril de duas ou três gerações passadas.


... OU TUDO É PERMITIDO

Mas o ateísmo tem uma limitação mais grave, uma limitação que se revela nas ações de seus proponentes. Uma de minhas partes favoritas do livro de Sam Harris é sua tentativa de minimizar os horrores dos regimes autodeclarados ateus na história moderna: o fascismo na Itália, o nazismo na Alemanha e o comunismo na União Soviética. Nunca na história tantos cristãos foram mortos, torturados, levados a morte por marchas forçadas e presos em campos de concentração. Uma proporção ainda maior de judeus sofreu mais sob os mesmos regimes, particularmente o nazista, do que em qualquer outro tempo na história. A desculpa que Harris apresenta é muito fajuta. Primeiro ele dirige a atenção do caráter declarado do regime, para as personalidades de Hitler, Mussolini e Stalin: “Ao mesmo tempo em que é verdade que tais homens são às vezes inimigos da religião organizada, eles nunca são especialmente racionais. De fato, seus pronunciamentos públicos são freqüentemente psicóticos ... O problema com tais tiranos não é que eles rejeitem o dogma da religião, mas que eles abraçam outros mitos mortais.”

Em outras palavras, ateus psicóticos não são, na realidade, ateus. Será que Harris aceitaria uma alegação dos cristãos de que os maus cristãos não são, na realidade, cristãos? O problema real não é que aqueles tiranos rejeitam o “dogma” da religião, mas que eles se lambuzam com a carnificina permitida pelo relativismo radical de todas as coisas. E eles são confortados pela “lei natural” que absorvem do darwinismo old-fashioned: que o mais forte deve sobreviver e o mais fraco perecer.

Nossos autores podem rejeitar o argumento de que o ateísmo está associado ao relativismo. No entanto, o argumento mais comum contra se confiar no ateísmo é de Dostoevsky: “Se não há Deus, tudo é permitido.” Não haverá nenhum Juiz das ações e das consciências; ao final, é cada um por si. Certamente, alguns ateus “de um caráter particular” e detentores de distinções acadêmicas, que foram criados com hábitos inculcados por culturas religiosas do passado, podem se dar ao luxo de viver, por duas ou três gerações, de maneira indistinguível da dos modestos cristãos e judeus. Esses indivíduos continuam honestos, compassivos, comprometidos com a igualdade de todos e firmes crentes no “progresso” e “irmandade”, tempos depois de terem repudiado a justificativa original para tal lista de virtudes. Mas, cedo ou tarde, uma geração pode aparecer que leve a sério a metafísica do ateísmo. Isso foi o destino de uma nação altamente culta da Europa de nosso tempo.

Lembremos do pronunciamento de despedida de George Washington:

"Permitamo-nos com cautela supor que a moralidade possa ser mantida sem a religião. Qualquer que seja a importância que se dê à influência da educação refinada nas mentes individuais, tanto a razão quanto a experiência nos proíbem de esperar que a moralidade nacional possa prevalecer, com a exclusão do princípio religioso."

Se a moralidade fosse deixada sob a responsabilidade da razão apenas, nunca chegaríamos a acordos, pois os filósofos veementemente – e interminavelmente – discordam uns dos outros e a grande maioria deles hesitaria na ausência de sinais morais claros. Ademais, em momentos de tensão, grandes intelectuais do nível de um Heidegger e vários precursores do pós-modernismo (notavelmente o desconstrucionista Paul de Man) demonstraram uma vergonhosa adaptação aos imperativos do nazismo ou do comunismo.

Dawkins tenta se desviar dessa falha na visão neo-darwinista do acaso e da seleção natural cega, enumerando quatro razões para o altruísmo, fundadas na biologia evolucionária:

"Primeira, há o caso especial de parentesco genético. Segunda, há a reciprocidade: o pagamento de favores recebidos, e os favores feitos em “antecipação” de pagamento ... Terceira, o benefício darwniano de adquirir uma reputação de generosidade e gentileza. E quarta, há o benefício particular adicional da generosidade pública como uma forma autêntica de propaganda."

A essas razões baseadas na natureza do egoísmo, os judeus e cristãos poderiam adicionar três ou quatro. Primeira, não amar o próximo é desapontar o Criador que deseja que sejamos Seus amigos. Segunda, seria uma falha em nossa imitação do Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos determinou que O seguíssemos. Terceira, a experiência confirma que o amor aos outros está de acordo com nossa natureza comunal, começando na família, mas irradiando através da política e da economia. (Adam Smith referia-se a essa lei superior como “simpatia”.) Quarta, não há dúvida de que todo mandamento cristão tem um fundamento na natureza, mas tende a tencionar a natureza ao seu limite. A fé cristã não rejeita, mas se fundamenta na natureza, adiciona coisas a ela, a leva a uma perfeição mais rica.

Finalmente, nossos três autores não demonstram capacidade de reflexão cuidadosa sobre o que os judeus e cristãos realmente têm a dizer sobre Deus. A própria concepção atéia deles a respeito de Deus é uma caricatura, um busto horroroso que qualquer um sentirá o dever de rejeitar. Dawkins ridiculariza um Deus onisciente que também seja livre. Se um Deus onisciente sabe agora de Suas ações no futuro, como isso deixa espaço para que Ele mude de idéia – e como isso O faz onipotente? Não está Ele preso num torno? Mas, claro, isso é o mesmo que imaginar Deus vivendo no tempo, tal com Dawkins vive no tempo. É não conseguir perceber a diferença entre um ponto de vista desde a eternidade, fora do tempo, e um ponto de vista desde dentro do tempo. Isso é também uma incapacidade de perceber a liberdade que a Causa Primeira, fora do tempo (simultânea a todo instante de tempo) pode permitir, dentro do tempo, aos papéis das causas segundas, das contingências e dos particulares.

A vontade de Deus não é anterior às decisões humanas. É simultânea a elas e, assim, permite que elas aconteçam. Quando os católicos celebram o sacrifício da Missa, por exemplo, imaginamos que nosso momento de participação nessa Missa – como em cada outro momento de nossas vidas – é, aos olhos de Deus, simultâneo com a sangrenta morte de Seu Filho no Calvário. Aos nossos olhos, parece uma “encenação”, mas aos olhos de Deus ambos os momentos são um único. Sem dúvida, para alguns isso é excessivamente místico, e sua filosofia subjacente excessivamente sofisticada, especialmente para aqueles de gostos literais e puramente empíricos. Nossos três autores, de qualquer forma, apresentam uma idéia muito primitiva de Deus. Se nós tivéssemos tal visão, seríamos também, quase certamente, ateus.

O mundo interior de alerta e autoquestionamento das pessoas religiosas parece ser um território inexplorado por nossos autores. Em torno deles estão milhões de pessoas que despendem muitos momentos a cada dia (e horas a cada semana) em comunhão com Deus. Apesar disso, dessa parte interior e silenciosa dessas vidas – e por que esse silêncio interior toca aqueles que o considera verdadeiro, e parece mais real do que qualquer coisa em suas vidas – nossos escritores parecem inconscientes. Certamente, se nossos amigos ateus fossem reconsiderar seus métodos, e aprofundar sua compreensão de termos como “experiência” e “empírico”, eles poderiam chegar próximo a se colocarem no lugar de seus muitos companheiros religiosos, que consideram o teísmo mais satisfatório intelectualmente – menos autocontraditório, menos alienante de sua própria natureza – do que o ateísmo.

A única forma de os seres humanos chegarem a compreender uns aos outros é pelo aprendizado de se colocar no lugar do outro. Se essa máxima de Habermas é verdadeira, podíamos desejar que nossos três autores tivessem feito mais para diminuir o grande fosso que separa o crente do incréu no nosso tempo presente. Mesmo assim, devemos ser gratos que nossos autores tenham aberto uma janela na alma dos ateus, de tal forma que podemos, o resto de nós, entender melhor o que é o mundo do ponto de vista deles – e mesmo nos ver, por breves momentos, como eles nos vêem.


Ver também "Ateus solitários da Aldeia Global" - Parte I, Parte II, Parte III e Parte IV

01/04/2007

Por que sou católico

G. K. Chesterton


Notas do tradutor:

1. Tenho sempre me defrontado com esta pergunta, feita por alguém: “Por que você é católico?” Como somos obrigados a dar satisfação sobre a fé que nos anima (os cristãos devem estar ‘‘sempre prontos a satisfazer a quem quer que lhes peça razões da esperança que os anima’’(1 Ped 3,15)), tenho sempre algumas respostas-padrão. Resolvi, contudo, traduzir este soberbo texto de Chesterton sobre suas razões para ter sido católico, que tomo como orientação para minhas próprias respostas.

2. Quem conseguir ler em inglês, não perca tempo com minha tradução. Em muitos sentidos, é impossível traduzir Chesterton. Ele é um mestre com as palavras e este pobre tradutor não dá contra disso em nosso idioma. O link para o artigo em inglês se encontra ao final da tradução.

3. É interessante ler este artigo em conjunto com outro: Por que acredito no cristianismo, já traduzido neste blog.

4. Claro, temos um Chesterton brasileiro. Ele se chama Gustavo Corção. Não deixe de lê-lo, sobretudo, Três alqueires e uma vaca, onde Corção fala de Chesterton.



A dificuldade em explicar “Por que eu sou Católico” é que há dez mil razões para isso, todas se resumindo a uma única: o catolicismo é verdadeiro. Eu poderia preencher todo o meu espaço com sentenças separadas, todas começando com as palavras, “É a única coisa que ...” Como, por exemplo, (1) É a única coisa que previne um pecado de se tornar um segredo. (2) É a única coisa em que o superior não pode ser superior; no sentido da arrogância e do desdém. (3) É a única coisa que liberta o homem da escravidão degradante de ser sempre criança. (4) É a única coisa que fala como se fosse a verdade; como se fosse um mensageiro real se recusando a alterar a verdadeira mensagem. (5) É o único tipo de cristianismo que realmente contém todo tipo de homem; mesmo o respeitável. (6) É a única grande tentativa de mudar o mundo desde dentro; usando a vontade e não as leis; etc.

Ou posso tratar o assunto de forma pessoal e descrever minha própria conversão; acontece que tenho uma forte impressão de que esse método faz a coisa parecer muito menor do que realmente é. Homens muito melhores, em muito maior número, se converteram a religiões muito piores. Preferiria tentar dizer, aqui, coisas a respeito da Igreja Católica que não se podem dizer mesmo sobre suas mais respeitáveis rivais. Em resumo, diria apenas que a Igreja Católica é católica. Preferiria tentar sugerir que ela não é somente maior que eu, mas maior que qualquer coisa no mundo; que ela é realmente maior que o mundo. Mas, como neste pequeno espaço, disponho apenas de uma pequena seção, abordarei sua função como guardiã da verdade.

Outro dia, um conhecido escritor, muito bem informado em outros assuntos, disse que a Igreja Católica é uma eterna inimiga das novas idéias. Provavelmente não ocorreu a ele que sua própria observação não é exatamente uma nova idéia. É uma daquelas noções que os católicos têm de refutar continuamente, porque é uma idéia muito antiga. Na realidade, aqueles que reclamam que o catolicismo não diz nada novo, raramente pensam que seja necessário dizer alguma coisa nova sobre o catolicismo. De fato, o estudo real da História mostrará que isso é curiosamente contrário aos fatos. Na medida em que as idéias são realmente idéias, e na medida em que tais idéias são novas, os católicos têm sofrido continuamente por apoiarem-nas quando elas são realmente novas; quando elas eram muito novas para encontrar alguém que as apoiasse. O católico foi não só o pioneiro na área, mas o único; e até hoje não houve ninguém que compreendesse o que se tinha descoberto lá.

Assim, por exemplo, quase duzentos anos antes da Declaração de Independência e da Revolução Francesa, numa era devotada ao orgulho e ao louvor aos príncipes, o Cardeal Bellarmine e Suarez, o Espanhol, formularam lucidamente toda a teoria da democracia real. Mas naquela era do Direito Divino, eles somente produziram a impressão de serem jesuítas sofisticados e sanguinários, se insinuando com adagas para assassinarem os reis. Então, novamente, os casuístas das escolas católicas disseram tudo o que pode ser dito e que constam de nossas peças e romances atuais, duzentos anos antes de eles serem escritos. Eles disseram que há sim problemas de conduta moral, mas eles tiveram a infelicidade de dizê-lo muito cedo, cedo de dois séculos. Num tempo de extraordinário fanatismo e de uma vituperação livre e fácil, eles foram simplesmente chamados de mentirosos e trapaceiros por terem sido psicólogos antes da psicologia se tornar moda. Seria fácil dar inúmeros outros exemplos, e citar o caso de idéias que são ainda muito novas para serem compreendidas. Há passagens da Encíclica do Papa Leão sobre o trabalho [conhecida como Rerum Novarum, publicada em 1891] que somente agora estão começando a ser usadas como sugestões para movimentos sociais muito mais novos do que o socialismo. E quando o Sr. Belloc escreveu a respeito do Estado Servil, ele estava apresentando uma teoria econômica tão original que quase ninguém ainda percebeu do que se trata. E então, quando os católicos apresentam objeções, seu protesto será facilmente explicado pelo conhecido fato de que católicos nunca se preocupam com idéias novas.

Contudo, o homem que fez essa observação sobre os católicos quis dizer algo; e é justo fazê-lo compreender muito mais claramente o que ele próprio disse. O que ele quis dizer é que, no mundo moderno, a Igreja Católica é, de fato, uma inimiga de muitas modas influentes; muitas delas ainda se dizem novas, apesar de algumas delas começarem a se tornar um pouco decadentes. Em outras palavras, na medida em que diz que a Igreja freqüentemente ataca o que o mundo, em cada era, apóia, ele está perfeitamente certo. A Igreja sempre se coloca contra a moda passageira do mundo; e ela tem experiência suficiente para saber quão rapidamente as modas passam. Mas para entender exatamente o que está envolvido, é necessário tomarmos um ponto de vista mais amplo e considerar a natureza última das idéias em questão, considerar, por assim dizer, a idéia da idéia.

Nove dentre dez do que chamamos novas idéias são simplesmente erros antigos. A Igreja Católica tem como uma de suas principais funções prevenir que os indivíduos comentam esses velhos erros; de cometê-los repetidamente, como eles fariam se deixados livres. A verdade sobre a atitude católica frente à heresia, ou como alguns diriam, frente à liberdade, pode ser mais bem expressa utilizando-se a metáfora de um mapa. A Igreja Católica possui uma espécie de mapa da mente que parece um labirinto, mas que é, de fato, um guia para o labirinto. Ele foi compilado a partir de um conhecimento que, mesmo se considerado humano, não tem nenhum paralelo humano.

Não há nenhum outro caso de uma instituição inteligente e contínua que tenha pensado sobre o pensamento por dois mil anos. Sua experiência cobre naturalmente quase todas as experiências; e especialmente quase todos os erros. O resultado é um mapa no qual todas as ruas sem saída e as estradas ruins estão claramente marcadas, todos os caminhos que se mostraram sem valor pela melhor de todas as evidências: a evidência daqueles que os percorreram.

Nesse mapa da mente, os erros são marcados como exceções. A maior parte dele consiste de playgrounds e alegres campos de caça, onde a mente pode ter tanta liberdade quanto queira; sem se esquecer de inúmeros campos de batalha intelectual em que a batalha está eternamente aberta e indefinida. Mas o mapa definitivamente se responsabiliza por fazer certas estradas se dirigirem ao nada ou à destruição, a um muro ou ao precipício. Assim, ele evita que os homens percam repetidamente seu tempo ou suas vidas em caminhos sabidamente fúteis ou desastrosos, e que podem atrair viajantes novamente no futuro. A Igreja se faz responsável por alertar seu povo contra eles; e disso a questão real depende. Ela dogmaticamente defende a humanidade de seus piores inimigos, daqueles grisalhos, horríveis e devoradores monstros dos velhos erros. Agora, todas essas falsas questões têm uma maneira de parecer novas em folha, especialmente para uma geração nova em folha. Suas primeiras afirmações soam inofensivas e plausíveis. Darei apenas dois exemplos. Soa inofensivo dizer, como muitos dos modernos dizem: “As ações só são erradas se são más para a sociedade.” Siga essa sugestão e, cedo ou tarde, você terá a desumanidade de uma colméia ou de uma cidade pagã, o estabelecimento da escravidão como o meio mais barato ou mais direto de produção, a tortura dos escravos pois, afinal, o indivíduo não é nada para o Estado, a declaração de que um homem inocente deve morrer pelo povo, como fizeram os assassinos de Cristo. Então, talvez, voltaremos às definições da Igreja Católica e descobriremos que a Igreja, ao mesmo tempo que diz que é nossa tarefa trabalhar para a sociedade, também diz outras coisas que proíbem a injustiça individual. Ou novamente, soa muito piedoso dizer, “Nosso conflito moral deve terminar com a vitória do espiritual sobre o material.” Siga essa sugestão e você terminará com a loucura dos maniqueus, dizendo que um suicídio é bom porque é um sacrifício, que a perversão sexual é boa porque não produz vida, que o demônio fez o sol e a lua porque eles são materiais. Então, você pode começar a adivinhar a razão de o cristianismo insistir que há espíritos maus e bons; e que a matéria também pode ser sagrada, como na Encarnação ou na Missa, no sacramento do casamento e na ressurreição da carne.

Não há nenhuma outra mente institucional no mundo que está pronta a evitar que as mentes errem. O policial chega tarde, quando ele tentar evitar que os homens cometam erros. O médico chega tarde, pois ele apenas chega para examinar o louco, não para aconselhar o homem são a como não enlouquecer. E todas as outras seitas e escolas são inadequadas a esse propósito. E isso não é porque elas possam não conter uma verdade, mas precisamente porque cada uma delas contém uma verdade; e estão contentes por conter uma verdade. Nenhuma delas pretende conter a verdade. A Igreja não está simplesmente armada contra as heresias do passado ou mesmo do presente, mas igualmente contra aquelas do futuro, que podem estar em exata oposição com as do presente. O catolicismo não é ritualismo; ele poderá estar lutando, no futuro, contra algum tipo de exagero ritualístico supersticioso e idólatra. O catolicismo não é ascetismo; ele, repetidamente no passado, reprimiu os exageros fanáticos e cruéis do ascetismo. O catolicismo não é mero misticismo; ele está agora mesmo defendendo a razão humana contra o mero misticismo dos pragmatistas. Assim, quando o mundo era puritano, no século XVII, a Igreja era acusada de exagerar a caridade a ponto da sofisticação, por fazer tudo fácil pela negligência confessional. Agora que o mundo não é puritano mas pagão, é a Igreja que está protestando contra a negligência da vestimenta e das maneiras pagãs. Ela está fazendo o que os puritanos desejariam fazer, quando isso fosse realmente desejável. Com toda a probabilidade, o melhor do protestantismo somente sobreviverá no catolicismo; e, nesse sentido, todos os católicos serão ainda puritanos quando todos os puritanos forem pagãos.

Assim, por exemplo, o catolicismo, num sentido pouco compreendido, fica fora de uma briga como aquela do darwinismo em Dayton. Ele fica fora porque permanece, em tudo, em torno dela, como uma casa que abarca duas peças de mobília que não combinam. Não é nada sectário dizer que ele está antes, depois e além de todas as coisas, em todas as direções. Ele é imparcial na briga entre fundamentalistas e a teoria da Origem das Espécies, porque ele se funda numa origem anterior àquela Origem; porque ele é mais fundamental que o Fundamentalismo. Ele sabe de onde veio a Bíblia. Ele também sabe aonde vão as teorias da Evolução. Ele sabe que houve muitos outros evangelhos além dos Quatro Evangelhos e que eles foram eliminados somente pela autoridade da Igreja Católica. Ele sabe que há muitas outras teorias da evolução além da de Darwin; e que a última será muito provavelmente eliminada pela ciência mais recente. Ele não aceita, convencionalmente, as conclusões da ciência, pela simples razão de que a ciência ainda não chegou a uma conclusão. Concluir é se calar; e o homem de ciência dificilmente se calará. Ele não acredita, convencionalmente, no que a Bíblia diz, pela simples razão de que a Bíblia não diz nada. Você não pode colocar um livro no banco das testemunhas e perguntar o que ele quer dizer. A própria controvérsia fundamentalista se destrói a si mesma. A Bíblia por si mesma não pode ser a base do acordo quando ela é a causa do desacordo; não pode ser a base comum dos cristãos quando alguns a tomam alegoricamente e outros literalmente. O católico se refere a algo que pode dizer alguma coisa, para a mente viva, consistente e contínua da qual tenho falado; a mais alta consciência do homem guiado por Deus.

Cresce a cada momento, para nós, a necessidade moral por tal mente imortal. Devemos ter alguma coisa que suportará os quatro cantos do mundo, enquanto fazemos nossos experimentos sociais ou construímos nossas Utopias. Por exemplo, devemos ter um acordo final, pelo menos em nome do truísmo da irmandade dos homens, que resista a alguma reação da brutalidade humana. Nada é mais provável, no momento presente, que a corrupção do governo representativo solte os ricos de todas as amarras e que eles pisoteiem todas as tradições com o mero orgulho pagão. Devemos ter todos os truísmos, em todos os lugares, reconhecidos como verdadeiros. Devemos evitar a mera reação e a temerosa repetição de velhos erros. Devemos fazer o mundo intelectual seguro para a democracia. Mas na condição da moderna anarquia mental, nem um nem outro ideal está seguro. Tal como os protestantes recorreram à Bíblia contra os padres e não perceberam que a Bíblia também podia ser questionada, assim também os republicanos recorreram ao povo contra os reis e não perceberam que o povo também podia ser desafiado. Não há fim para a dissolução das idéias, para a destruição de todos os testes da verdade, situação tornada possível desde que os homens abandonaram a tentativa de manter uma Verdade central e civilizada, de conter todas as verdades e identificar e refutar todos os erros. Desde então, cada grupo tem tomado uma verdade por vez e gastado tempo em torná-la uma mentira. Não temos tido nada, exceto movimentos; ou em outras palavras, monomanias. Mas a Igreja não é um movimento e sim um lugar de encontro, um lugar de encontro para todas as verdades do mundo.


Disponível em inglês em Why I am a Catholic